III
MENSAGEM DO PERDÃO
Pietro
Ubaldi
(2
de agosto de 1932, dia do “Perdão da Porciúncula” de São Francisco)
Filho
meu, minha voz não despreza tuas pequeninas coisas de cada dia, mas delas se
eleva para as grandes coisas de todos os tempos.
Ama
o trabalho, inclusive o trabalho material. Coisa elevada e santa, o trabalho,
presentemente, foi transformado em febre. De que não se tem abusado entre vós?
Que coisa ainda não foi desvirtuada pelo homem? Em tudo vos excedeis e, por
isso, ignorais o labor equilibrado, que tão elevado conteúdo moral encerra: se
busca o necessário ao corpo, ao mesmo tempo contenta o espírito. E, no entanto,
transformastes esse dom divino, com o qual poderíeis plasmar o mundo à vossa
imagem, em tormento insaciável de posse. Substituístes a beleza do ato criador,
completo em si mesmo, pela cobiça que nunca descansa. Quantos esforços
empregados para envenenar-vos a vida!
Ama
o trabalho, mas com espírito novo; ama-o, não pelo que ele é propriamente,
porém, como um ato de adoração a Deus, como manifestação de tua alma, nunca
como febre de riqueza ou domínio. Não prendas tua alma aos seus resultados, que
pertencem à matéria e, portanto, sujeitos à caducidade; ama, porém, o ato,
somente o ato de trabalhar. Não seja a posse, o triunfo, a tua recompensa, mas
sim, a satisfação íntima de haveres cumprido, cada dia, o teu dever,
colaborando assim no funcionamento do grande organismo coletivo.
Esta
é a única recompensa verdadeira, indestrutível, solidamente tua; as demais
depressa se dissipam e se perdem. Ainda que nenhum resultado positivo
obtivesses, uma recompensa ficaria contigo para sempre: a paz do coração, paz
que o mundo perdeu por prender-se às coisas concretas, julgando-as seguras.
Desapega-te
de tudo, inclusive do fruto de teu trabalho, se queres entrar na posse da paz.
Ocupa-te das coisas da Terra, mas apenas o suficiente para aprenderes a
desapegar-te delas.
Toda
construção deve localizar-se no teu espírito, deve ser construção de qualidades
e disposições da personalidade, e não edificação na matéria, que é um remoinho
de areia que nenhum sinal pode conservar.
Tudo
o que quiserdes vos seja unido eternamente deve ser unido por qualidades e
merecimento, deve ser enlaçado pela força sutil da Lei, por vós movimentada,
nunca por vossa força exterior, ou por vínculos das convenções sociais ou ainda
por liames da matéria. Só nesse sentido se pode realmente possuir: de outro
modo, não obtereis senão a tristeza depois da ilusão e a consciência posterior
da inutilidade de vossos esforços.
Outro
grande problema, que voz diz respeito, é o amor. Elevai-vos em amor, como
deveis elevar-vos em todas as coisas, se quereis encontrar profundas alegrias.
Martelai vossa alma, num íntimo trabalho de cada dia, que vos leva à conquista
de amores sempre mais extensos, únicos que têm a resistência das coisas
terrenas.
Sabes
que o amor se eleva do humano ao divino e que nessa ascensão ele não se
destrói, mas se fortalece, aperfeiçoando e multiplicando-se. Segue-me e, então,
poderás entoar o cântico do amor:
“Meu
corpo tem fome e eu canto; meu corpo sofre e eu canto; minha vida é deserta e
eu canto; não há carícias para mim, porém todas as criaturas vêm à mim. Meu
irmão de mim se aproxima como inimigo, para prejudicar-me, e eu lhe abro os
braços em sinal de amor. Eu vos bendigo a todos vós que me trazei dor, porque
com ela me trazeis a purificação, que me abre as portas do Céu. Minha dor é um
cântico que me faz subir. louvado sejas, ó Senhor, pelo que é a maior maravilha
da vida; que as pobres intenções malignas de meu próximo sejam para mim a Tua
Bênção”.
Estes
meus ensinamentos são dirigidos mais à vossa intuição que ao vosso intelecto.
Tem um sentido mais amplo o que vos tenho dito: a felicidade dos outros é vossa
única felicidade, verdadeira e firme. Significa extinção dos egoísmos num
amplexo universal de altruísmo. Tudo isso pode ser de fácil compreensão, mas é
difícil senti-lo. Não procuro vossa razão que discute, antes busco essa visão
interior que em vós opera, que sente por imediata concepção, que enxerga com
absoluta clareza e lealmente se entrega à ação.
Peço-vos
o ímpeto que somente nasce do calor da fé e que nunca vem pelos tortuosos
caminhos do raciocínio. Não desejo erudição, pesquisas e vitórias do intelecto;
quero, antes, que vejais, num ato sintético de fé e que imediatamente vivais
vossa visão, e personifiqueis a idéia avistada, e resplendais vós mesmos, em
seu esplendor. Somente então a idéia viverá na Terra e personificado em vós
existirá um momento da concepção divina.
Não
estou apelando para vossos conhecimentos nem para vosso intelecto, que não são
patrimônios de todos, mas venho até junto de vós por caminhos inabituais e em
vós penetro como um raio que desce às profundezas e dissipa as trevas, que
cintila e vos arrasta através de novas vias, com forças novas, que levantarão o
mundo como num turbilhão.
Também
falarei, para ser entendido, a linguagem fria e cortante da razão e da ciência,
porém usarei, acima de tudo, da linguagem ardente e direta da fé. Minha palavra
será ora o brado de comando, ora a ternura de um beijo de mãe.
Para
ser por todos compreendida, minha palavra percorrerá os extremos de sabedoria e
de singeleza, de força e de bondade. Será pranto de amargura e remoinho de
paixão; será nostálgico lamento, suspirando por uma grande pátria distante,
como será também ímpeto de ação para até ela conduzir-vos. Minha palavra
rolará, por vezes, como regato susurrante em verde campina, a trazer-vos o
frescor das coisas puras; outras vezes trovejará com os elementos enfurecidos
na fúria da tempestade.
Ao
seio de cada alma quero descer e adaptar-me a fim de ser compreendido; para
cada uma devo encontrar uma palavra que a penetre no mais íntimo, que a abale,
que a inflame e a arroje para o alto, onde eu estou, que até junto de mim a
conduza, onde eu a espero.
Almas,
almas eu peço. para conquistá-las vim das profundezas do infinito, onde não
existe espaço nem tempo, vim oferecer-vos meu abraço, vim de novo dizer-vos a
palavra da ressurreição, para elevar-vos até mim, para indicar-vos um caminho mais
elevado onde encontrareis as alegrias puras.
Vós
vos identificastes de tal modo com a vida física que já não podeis sentir senão
uma vida limitada como a do vosso corpo. Pobre vida, rápida e cheia de
incertezas, enclausurada nas limitações de vossos pobres sentidos. Pobre vida,
encerrada num ataúde, na sepultura que é o corpo a que tanto vos agarrais.
Minha voz encerrará todos os extremos de vossas diferentes psicologias.
Escutai-me!
Não
vos ensino a gozar das coisas terrenas, porque são ilusórias; indico-vos as
alegrias do céu, porque somente estas são verdadeiras. Minha verdade não é a
fácil verdade do mundo; não vos prometo alegrias sem esforços, mas minha
promessa não vos ilude. Meu caminho é caminho de dor, porém, eu vos digo que
somente ele vos conduzirá à liberação e à redenção. Minha estrada é de luta e
de espinhos, mas vos fará ressurgir em mim, que vos saciarei para sempre. Não
vos digo: “Gozai , gozai”, como o mundo vos fala. O mundo, porém, vos engana,
eu não vos enganaria nunca.
Minha
verdade é áspera e nua, contudo é a verdade. Peço o vosso esforço, mas dou a
felicidade. Digo-vos: “Sofrei”, mas junto de vós estarei no momento da dor; com
piedade maternal, velarei por vós; medindo todo o vosso esforço, proporcionarei
as provas segundo vossa capacidade; finalmente, farei o que o mundo não faz:
enxugarei vossas lágrimas.
O
mundo parece espargir rosas, mas na verdade distribui espinhos; eu vos ofereço
espinhos, porém vos ajudarei a colher rosas.
Segui-me,
que o exemplo já vos dei. Levantai-vos, ó homens: é chegado o momento. Não
venho para trazer guerra, mas, sim, paz. Não venho trazer dissensão às vossas
idéias nem às vossas crenças: venho fecundá-las com meu espírito, unificá-las
na minha luz.
Não
venho para destruir e sim para edificar. O que é inútil morrerá por si mesmo,
sem que eu vos dê exemplo de agressividade.
Desejaríeis
sempre agredir, até mesmo em nome de Deus. Com que grande avidez ansiais por
discussões e lutas contra vossos próprios irmãos, prontos a profanar, assim,
minha pura palavra de bondade. Repito-vos: “Amai-vos uns aos outros”. Não
discutais, mas dai o exemplo de virtude na dor, amai vosso próximo; aprendei a
estar sempre prontos para prestar um auxílio, em qualquer parte onde haja um
padecimento a aliviar, uma carícia a oferecer. Vossas eruditas investigações
tornaram tão ásperas vossas almas que não vos permitiram avançar um só passo
para o Céu.
Não
venho para agredir, mas para ajudar; não para dividir, mas unir; não demolir,
mas edificar. Minha palavra busca a bondade, antes que a sabedoria. Minha voz a
todos se dirige. Ela é ampla como o universo, solene como o infinito. Descerá
aos vossos corações, às vezes com a doçura de um carinho, outras vezes
arrastadora como o tufão.
*
* *
Do
alto e de muito longe venho até vós. Não podeis perceber quão longo é o caminho
que nós, puro pensamento, devemos percorrer a fim de superar a imensa distância
espiritual que nos separa de vós, imersos na terra lodosa. Vossas distâncias
psicológicas são maiores e mais difíceis de serem vencidas que as distâncias de
espaço e tempo. Por isso, às vezes, chego fatigado. Minha fadiga, porém, não é
cansaço físico: provém apenas do desalento que me nasce de vossa incompreensão.
E, no entanto, minha palavra tem a doçura da eternidade e do infinito. Tem a
tonalidade tão ampla como jamais possuiu a voz humana: deveríeis, por isso,
reconhecer-me.
Venho
a vós cheio de amor e de bondade, e me repelis. Eu, que vejo os limites da
história de vosso planeta; eu, que num rápido olhar, vejo sem esforço toda a
laboriosa ascensão desta humanidade cujo pai sou; eu me faço pequenino hoje,
limito-me e me encerro num átimo de vosso momento histórico para que possais
compreender-me.
Se
vos falasse com minha voz potente, não me entenderíeis. Meu olhar contempla a
Terra, quando o homem ainda não a habitava e também a vê no futuro distante,
morta, a navegar no espaço como um ataúde de todas as vossas grandezas. Vejo
vosso sol moribundo, depois morto e em seguida chamado a uma nova vida. Vejo,
além desse átomo que é o vosso planeta, uma poeira de astros a revolutearem sem
cessar pelos espaços infinitos, e todos eles transportando consigo humanidades
que lutam, sofrem, vencem e se elevam. tudo vejo, tudo leio nos vossos corações
como nos corações de todos os seres.
Além
do vosso universo físico, vejo um maior universo moral, onde as almas, na sua
laboriosa ascensão, cumprindo seu diuturno esforço de purificação para o Alto,
cantam o mais glorioso hino à Divindade. Esplendorosa luz existe no centro
moral do universo, luz que atrai todos os seres por uma força de gravitação
moral mais poderosa do que aquela que mantém associadas no espaço as grandes
massas planetárias e estelares. tudo vejo, mas nada falo para não vos
perturbar. tudo vejo e minha mão possante firma o destino dos mundos. Poderia
mudar o curso dos astros, mas nós somos lei, ordem e equilíbrio e não aprovamos
violações. Empunho o destino dos povos e, no entanto, venho humildemente até
vós, para entre vós colher o perfume que se desprenda de uma alma simples. Esse
é meu único conforto, quando desço ao vosso mundo, às camadas profundas e
obscuras de matéria densa, formadas de coisas baixas e repugnantes. Aquele
perfume parece perder-se na vossa atmosfera carregada de emanações perniciosas,
como que vencido pelas forças envolventes do mal. Eu o percebo, no entanto,
elegendo-o, e recolho como se guarda uma jóia humilde e gentil, desabrochada na
lama, e a guardo em meu coração, onde ela repousará. É o único carinho que
encontro em vosso mundo, o único hino, puro e singelo, que me faz descansar.
Como a criancinha repousa aos cânticos de sua mãe, que lhe parecem os mais
belos, assim me acalento, invadido por infinita doçura, no seio dessas vozes
humildes dispersas em vosso mundo.
Essa
é a única trégua em meio ao trabalho de iluminar e guiar-vos, ó homens
rebeldes, que acreditais dominar e sois dominados, que pensais subir, mas, na
verdade, desceis. Eu poderia, contudo, atemorizar-vos por de prodígios,
aterrorizar-vos com cataclismos. Convencer-vos-ia, no entanto? Minha mão se
levanta sobre vós, que sois maus, como uma bênção, nunca para vinganças.
Escutai
com atenção esta grande palavra: desejo que o equilíbrio, violado pela vossa
maldade, se restabeleça pelos caminhos do amor e não pelo castigo. Compreendeis
a grande diferença?
Eis
as razões da minha intervenção, da minha presença entre vós.
A
Lei quer o equilíbrio. É a Lei. Vós a desrespeitastes com vossas culpas,
ultrajando assim a Divindade. O equilíbrio "deve" restabelecer-se, a
reação "deve" verificar-se, o efeito "deve" acompanhar a
causa, por vós livremente buscada.
Deus
vos quer livres, já o sabeis. Pois bem, eu venho para que o equilíbrio se
restabeleça pelos caminhos do amor e da compreensão; venho para incitar-vos,
com palavras de fogo, ao entendimento, estimular-vos a retomar livremente a via
da redenção; finalmente, venho ensinar-vos a fazer de vossa liberdade um uso
que vos eleve e salve, e não que vos rebaixe e condene. Venho tornar-vos
conscientes dessa Lei que vos guia e da maneira de restaurardes a ordem
violada, a fim de que essa violação não venha a recair sobre vós, como tremendo
choque de retorno que destruirá vossa civilização.
Venho
para salvar-vos, para salvar o que de melhor possuís, o que fatigosamente os
séculos têm acumulado, ao preço de muitas dores e de muito sangue.
Entre
a necessidade férrea da Lei que, inexoravelmente, volve ao equilíbrio,
interponho hoje o meu amor e a minha luz, como já interpus a minha dor e o meu
martírio!
Homens,
tremei! É supremo o momento. É por motivos supremos que do Alto desço até vós.
Escutai-me: o mundo será dividido entre aqueles que me compreendem e me seguem
e aqueles que não me compreendem e não me seguem. Ai destes últimos! Os
primeiros encontrarão asilo seguro em meu coração e serão salvos; sobre os
outros a Lei, não mais compensada pelo meu amor, descerá inelutavelmente e eles
serão arrastados por um vendaval sem nome para trevas indescritíveis.
Não
vos iludais: reconhecei a minha voz. Reconhecei-a pela sua imensa tonalidade,
pela sua bondade sem fronteiras. Algum homem, porventura, já falou assim?
falo-vos de coisas singelas e elevadas, de coisas boas e terríveis. Sou a
síntese de todas as Verdades.
Não
me oponhais barreiras de vossas almas, mas escutai, ponderai, deixai que este
raio de luz que vem de Deus desça à vossa consciência e a ilumine. Eu vô-lo
rogo, humilhando-me em vossa presença; humildemente, para vossa salvação, eu
vos suplico: escutai a minha voz!
Que
sobre vós desça a paz. A paz! A paz que não mais conheceis venha sobre vossas
almas! Entre vós e a divina justiça está minha oração: “Deus, perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem”.
Pobres
seres perdidos na escuridão das paixões; pobres seres que tomais por luz
verdadeira o ouropel fascinador das coisas falsas da Terra! Pobres seres, maus
e perversos! E, no entanto, sois meus filhos e por amor de vós de novo subiria
à cruz para vos salvar. Pobres seres que, numa vitória efêmera de matéria, que
chamais civilização, haveis perdido completamente o único repouso do coração –
a minha paz.
Escutai-me.
Falo-vos com amor, imenso amor. Fui por vós insultado e crucificado, e vos
perdoei; perdôo-vos ainda e ainda vos amo. Trago-vos a paz. Até junto de vós
retorno para falar-vos de uma ciência que a vossa não conhece, para
pronunciar-vos a palavra que nenhum homem sabe falar, palavra que vos saciará
para sempre. Escutai-me.
Minha
voz conduzirá vosso coração a um êxtase que nenhuma vitória material, que
nenhuma grandeza do mundo jamais vos poderá dar.
Como
um clarão intuitivo, minha luz espargirá sobre vós uma compreensão a que os
laboriosos processos de vossa razão não chegarão jamais. A razão, filha do
raciocínio, discute e calcula, mas eu sou o clarão que em vós se acende e pode,
num átimo, transformar-vos em heróis. Aceitai, suplico-vos, este supremo dom
que vos ofereço e pelo qual vim de tão longe até junto de vós: aceitai esta
dádiva esplêndida, que é a minha paz. É a bem-aventurança do céu, que vos trago
de mãos cheias; é a felicidade que coisa alguma terrena jamais vos poderá dar.
Reconhecei a minha paz! Para recebê-la, abri todas as portas de vossa alma!
Dela saciai-vos, com ela inebriai-vos! É um dom imenso que vos trago do seio de
Deus, é uma graça com que o meu imenso Amor recompensa a vossa ingratidão.
Até
vós eu venho, trazendo os mais lindos dons, para derramar sobre vossas almas a
verdadeira felicidade. Venho para suavizar a Justiça Divina. Fiz longa e
fatigante viagem, do meu Céu radioso às vossas trevas. Vim espontaneamente,
pelo amor que vos consagro. Não renoveis as torturas do Getsêmani, as angústias
da incompreensão humana, os tormentos de um imenso amor repelido.
Quem
sou eu? - perguntais-me.
Sou
o calor do sol matinal que vela o desabotoar da florzinha que ninguém vê; sou o
equilíbrio que, na variação alternadora dos elementos, a todos garante a vida.
Sou o pranto da alma quebrantada, em que desabrocha a primeira visão do divino.
Sou o equilíbrio que, nas mudanças dos acontecimentos morais, a todos promete
salvação. Sou o rei do mundo físico de vossa ciência; sou o rei do mundo moral
que não vedes.
Sempre
me procurais, em toda a parte. Sempre mais profundamente vos escapo, de fibra
em fibra, nas vossas mesas de anatomia, de molécula em molécula nos vossos
laboratórios. Vós me procurais, dilacerando e dissecando a pobre matéria: mas
eu sou espírito e animo todas as coisas. Não com os olhos e os instrumentos
materiais, mas somente com os olhos e os instrumentos do espírito podereis
encontrar-me.
Sou
o sorriso da criança e a carícia materna; sou o gemido daquele que corre implorando
salvação; sou o calor do primeiro raio de sol da primavera, que traz a vida e
sou o vendaval que traz a morte; sou a beleza evanescente do momento que foge;
sou a eterna harmonia do universo.
Sou
Amor, sou Força, sou Idéia, sou Espírito que tudo vivifica e está sempre
presente. Sou a lei que governa o organismo do universo com maravilhoso
equilíbrio. Sou a Força irresistível que impulsiona todos os seres para a
ascensão. Sou o cântico imenso que a criação entoa ao Criador.
Tudo
sou e tudo compreendo, até o mal, porquanto o envolvo e o limito aos fins do
bem. Meu dedo escreve, na eternidade e no infinito, a história de miríades de
mundos e vidas, traçando o caminho ascensional dos seres que para mim se
voltam, seres que atraio com meu Amor e que recolherei na minha luz.
Muitos
mundos já vi antes do vosso, muitos verei depois dele. Vossas grandes visões
apocalípticas para mim são pequeninas encrespaduras nas dimensões do tempo.
Virei, entre raios de tempestade, para dobrar os orgulhosos e elevar os humildes.
Virei vitorioso na minha glória e no meu poder, triunfante do mal, que será
rechaçado para as trevas.
Tremei,
porque quando eu já não for o Amor que perdoa e vos protege, serei o turbilhão
que tempestua, serei o desencadear dos elementos sem peias, serei a Lei que,
não mais dominada pela minha vontade, trazendo consigo a ruína, inexoravelmente
explodirá sobre vós.
Tudo
é conexo no universo; causas físicas e efeitos morais, causas morais e efeitos
físicos. Um organismo compressor vos envolve e nele estais presos em cada ato
vosso.
Minha
poderosa mão firma o destino dos mundos e, no entanto, sabe descer até a mais
humilde criancinha para lhe suster, carinhosamente, o pranto. Essa é minha
verdadeira grandeza.
Ó
vós que me admirais, tímidos, no ímpeto da tempestade, admirai-me, antes, no
poder que tenho de fazer-me humilde para vós, no saber descer do meu elevado
reino à vossa treva; admirai-me nessa força imensa que possuo de constranger
meu poder a uma fraqueza que me torna semelhante a vós.
Não
vos peço que compreendais meu poder, que me situa longe de vós; rogo-vos que
compreendais o meu amor que me assemelha a vós e me coloca ao vosso lado. Meu
poder poderá desalentar-vos e atemorizar-vos, dando-vos de mim uma idéia não
justa, a de um senhor vingativo e despótico. Não quero vossa obediência por
temor. Agora deve despontar uma nova aurora de consciência e de amor. Deveis
elevar-vos a uma lei mais alta e eu retorno hoje para anunciar-vos a boa nova.
Não sou um senhor vingativo e tirânico, como outrora, por necessidade, me
supuseram os povos antigos; sou o vosso amigo e é com palavras de bondade que
me dirijo ao vosso coração e à vossa razão.
Não
mais deveis temer, mas, sim, compreender. Vossa razão infantil já acordou e
nela venho lançar minha luz. Sou síntese de verdade e em toda a parte ela
surgirá, atingindo a luz da vossa inteligência.
Não
trago combates, mas paz. Não trago divisões de consciência e, sim, união de
pensamentos e de espíritos.
A
humanidade terrestre aproxima-se de sua unificação, numa nova consciência
espiritual. Não vos insulteis, pois; antes, compreendei-vos uns aos outros. Que
cada um concorra com o seu grãozinho para a grande fé e que esta vos torne
todos irmãos.
Que
a religião, que é revelação minha, e a ciência, que é o vosso esforço e todas
as vossas intuições pessoais se unam estreitamente numa grande Síntese, e seja
esta uma síntese de verdade.
Porque
eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Emmanuel, na pena de Chico Xavier,
ResponderExcluirA GRANDE SÍNTESE - MENSAGEM DE EMMANUEL
Quando todos os valores da civilização do Ocidente desfalecem numa decadência dolorosa, é justo que saudemos uma luz como esta, que se desprende da grande voz silenciosa de A Grande Síntese.
Na mesma Itália, que vulgarizou o sacerdócio romano, eliminando as mais belas florações do sentimento cristão no mundo, em virtude do mecanismo convencional da igreja católica, aparelhos existem da grande verdade, restaurando o messianismo, no caminho sublime das revelações grandiosas da fé.
A palavra do Cristo projeta nesta hora as suas irradiações enérgicas e suaves, movimentando todo um exército poderoso de mensageiros seus, dentro da oficina da evolução universal. O momento é psicológico. As nossas afirmativas abstraem do tempo e do espaço, em contraposição às vossas inquietudes; mas, o século que passa deve assinalar-se por maravilhosas renovações da vida terrestre.
As contribuições exigidas serão bem pesadas. Todavia, uma alvorada radiosa sucederá às angústias deste crepúsculo.
Aqui fala á Sua Voz divina e doce, austera e compassiva. No aparelhamento destas teses, que muitas vezes transcendem o idealismo contemporâneo, há o reflexo soberano da sua magnanimidade, da sua misericórdia e da sua sabedoria. Todos os departamentos da atividade humana são lembrados na sua exposição de inconcebível maravilha!
É que, sendo de origem humana a razão, a intuição é de origem divina, preludiando todas as realizações da Humanidade. A grande lição desta obra é que o Senhor não despreza o vosso racionalismo científico, não obstante a roupagem enganadora do seu negativismo impenitente.
Na sua misericordiosa sabedoria, Ele aproveita todos os vossos esforços, ainda os mais inferiores e misérrimos. Toma-vos de encontro ao seu coração augusto e compassivo, unge-vos com o Seu amor sem limites, renovando os Seus ensinamentos do Mar da Galiléia.
Vede, pois, que todos os vossos progressos e todos os vossos surtos evolutivos estão previstos no Evangelho. Todas as vossas ciências e valores, no quadro das civilizações passadas e no mecanismo das que hão de vir, estão consubstanciados na sua palavra divina e redentora.
A Grande Síntese é o Evangelho da Ciência, renovando todas as capacidades da religião e da filosofia, reunindo-as à revelação espiritual e restaurando o messianismo do Cristo, em todos os institutos da evolução terrestre.
Curvemo-nos diante da misericórdia do Mestre e agradeçamos de coração genuflexo a sua bondade. Acerquemo-nos deste altar da esperança e da sabedoria, onde a ciência e a fé se irmanam para Deus.
E, enquanto o mundo velho se prepara para as grandes provações coletivas, meditemos no campo infinito das revelações da Providência Divina, colocando acima de todas as preocupações transitórias, as glórias sublimes e imperecíveis do Espírito imortal.
Pedro Leopoldo, Outubro de 1938
(Mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier).