quarta-feira, 17 de julho de 2019

Justiça Divina


Justiça Divina.
  
Um assunto que deveria interessar a todos os que estão embarcados nesta nave que transita pelo Universo.

Já vimos que de grande, só mesmo o nosso orgulho, nossa vaidade, cultivada e alimentada pela ignorância, característica de seres ainda necessitados de adiantamento moral.


Entretanto, ainda que no estado de ignorância relativa, já nos foi dito que somos centelhas divinas, há latência de dons divinos em cada um dos filhos do Pai. E ÊLE quer que cada um de nós assuma seu verdadeiro lugar e somente pelo aprendizado e pela dor que se atinge essa condição.


Léon Denis, no capítulo IX (Evolução e Finalidade da Alma" de "O Problema do Ser, do Destino e da Dor", ratifica, que o ser humano contém os germens da sua evolução, mas é muito importante que cada uma dessas criaturas saiba como manter sob contrôle essas forças contidas na alma.  
Há mecanismos das Leis de Deus que se apresentam a cada situação, os problemas que surgem sempre já estão resolvidos, nós é que tentamos alterá-los para as nossas conveniências.  Um exemplo com o qual temos bastante contato é o das defesas do organismo, o ser humano saudável tem as suas defesas sempre organizadas e quando elas por algum motivo diminuem veem as doenças, trazidas pelo crescimento das bactérias existentes em nossa organização física e que as defesas naturais trazem dominadas; uma vez que estas defesas se enfraquecem as bactérias ganham espaço.  Assim é que acontece com nossa moral. O Bem convive com o mal e cabe a nós, individualmente e coletivamente manter a prevalência do bem sobre o mal, que é nada mais que a ausência do primeiro. E num espaço onde o bem não é exercitado, o mal se fortifica.

 vamos ler um trecho do que Léon Denis  nos ensina:



" A alma contém, na estada virtual, todos os germens dos seus desenvolvimentos futuros. E destinada a conhecer, adquirir e possuir tudo.
Como, pois, poderia ela conseguir tudo isso numa única existência? A vida é curta e longe está a perfeição! Poderia a alma, numa vida única, desenvolver o seu entendimento, esclarecer a razão, fortificar a consciência, assimilar todos os elementos da sabedoria, da santidade, do gênio? Para realizar os seus fins, tem de percorrer, no tempo e no espaço, um campo sem limites. É passando por
inúmeras transformações, no fim de milhares de séculos, que o mineral grosseiro se converte em diamante puro, refratando mil cintilações. Sucede o mesmo com a alma humana. 
O objetivo da evolução, a razão de ser da vida não é a felicidade terrestre, como muitos erradamente creem, mas o aperfeiçoamento de cada um de nós, e esse aperfeiçoamento devemos realizá-lo por meio do trabalho, do esforço, de todas as alternativas da alegria e da dor, até que nos tenhamos desenvolvido completamente e elevado ao estado celeste. Se há na Terra menos
alegria do que sofrimento, é que este é o instrumento por excelência da
educação e do progresso, um estimulante para o ser, que, sem ele, ficaria retardado nas vias da sensualidade. A dor, física e moral, forma a nossa experiência. A sabedoria é o prêmio.
Pouco a pouco a alma se eleva e, conforme vai subindo, nela se vai acumulando uma soma sempre crescente de saber e virtude; sente-se mais estreitamente ligada aos seus semelhantes; comunica mais intimamente com o
seu meio social e planetário. Elevando-se cada vez mais, não tarda a ligar-se por
laços pujantes às sociedades do Espaço e depois ao Ser Universal." 



Trago para meus irmãos, publicações feitas no site www.crbbm.org sobre o assunto "Justiça Divina".  É apenas uma fração do que existe, mas já é um primeiro passo nos atualizarmos com este conteúdo.





REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO: O JUÍZO DE DEUS

Foto preto e branco de uma balançaQue céu e inferno não existem a Doutrina Espírita - Revelação da Revelação - já o ensina desde o tempo de Kardec, inclusive com a publicação de obra específica do próprio Codificador sobre o tema, "O Céu e o Inferno", em 1865. Mas, levando em conta esse ensino, e desmitificada a morte e a chamada "vida eterna", apenas como o outro lado e aspecto da vida que prossegue sempre, em todos os planos do universo, como se dá o "juízo de Deus" - o balanço de cada existência -, no plano espiritual?
A vida no plano material é a hora da ação, da provação, do teste, da expiação, da missão, do movimento e da extroversão, enfim. Além do túmulo, é natural e necessário que a energia do Espírito se dirija ao aspecto complementar e oposto dessa fase de aprendizado, exatamente a de reflexão, de análise, de exame íntimo e introspectivo dos avanços obtidos.

Quando se fala em "juízo divino" a imagem que nos ocorre à mente é toda antropomórfica, na forma de um tribunal humano, com juiz, advogados de defesa e acusação... A revelação espírita nos ensina, no entanto, que não é assim que se dá esse processo. Como será, então? No sábado,  22/06/19, um interessante estudo de nossa irmã Paula Reis sobre esse tema, em uma de nossas reuniões, a partir do Capítulo XII do 4o. Tomo da Obra de Roustaing, "Os Quatro Evangelhos", especialmente dos versículos 44 a 50.

E, tamanho interesse despertou o conteúdo apresentado, que decidimos reproduzír alguns de seus destaques, enriquecido como mais algumas transcrições de três diferentes experiências do gênero, em três valiosas obras da literatura espírita: "Voltei", do irmão Jacob (pseudônimo de Fred Figner), e "E A Vida Continua", esses dois primeiros recebidos psicograficamente por Francisco Cândido Xavier, e, finalmente, "Memórias de um suicida", de Camilo Botelho (pseudônimo do escritor português Camilo Castelo Branco), psicografada pelas mãos abençoadas da nossa igualmente admirável Yvone do Amaral Pereira. Esperamos que nossos irmãos apreciem... são três diferentes encontros consigo mesmo e com a própria consciência na "hora da verdade", que para todos nós soará...


*
A MORAL QUE JESUS PREGOU NÃO É SUA, MAS DE DEUS
JESUS, QUE É A LUZ, VEIO PARA SALVAR O MUNDO
O HOMEM SE JULGA A SI MESMO, E SUA CONSCIÊNCIA É QUEM PRONUNCIA A SENTENÇA

V.44 Ora, Jesus exclamou: O que em mim crê não é em mim que crê, mas naquele que me enviou.
– 45. E o que me vê a mim vê aquele que me enviou.
 – 46. Eu, que sou a luz, vim ao mundo para os que em mim crêem não fiquem nas trevas.
– 47. Se alguém ouve as minhas palavras e não as guarda, eu não o julgo; pois que não vim para julgar o mundo, mas para o salvar.
– 48. Aquele que me despreza e não recebe as minhas palavras tem por juiz a palavra mesma que hei pregado; será ela que o julgará no último dia.
– 49. Porque, não é por mim mesmo que tenho falado; meu Pai que me enviou, é quem me prescreveu, por seu mandamento, o que devo dizer e como hei de falar.
– 50. E eu sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que digo, digo-o conforme meu pai mo ordenou.
Fotomontagem de gato com sombra de leão 

"Jesus não veio para julgar o mundo, mas para o salvar, pois que veio para ensinar aos homens como devem viver e morrer, tendo em vista o progresso do Espírito. Veio para regenerar a humanidade, ensinando e exemplificando-lhe todas as virtudes; traçando para todos os homens, quaisquer que sejam, Judeus ou Gentios, a estrada que, abstração feita de todos os cultos exteriores, os conduzirá a fraternidade e, por esta, à unidade; obedecendo à lei de amor; praticando, portanto, a justiça e a caridade. [...]
O homem é julgado por si mesmo, pelos seus atos. “No último dia” do seu corpo, o julgamento que a sua consciência profere, mas que ele quase nunca quer ouvir, se lhe tornará claro e preciso. E, para a consciência do homem, o critério desse julgamento oferece-o a moral pura que Jesus pregou e na qual, como ele próprio o disse, estão toda a lei e os profetas.

Deus espera que pouco a pouco se aproximem os filhos que dele se afastaram. E todos acabarão certamente por ir a ele, pois que a lei do progresso, imutável como o próprio Deus de quem emana, é da essência mesma de tudo o que é. E o Espírito está submetido a esta lei, quaisquer que sejam as oscilações, os desvios, os desvairamentos do seu livre-arbítrio.

O julgamento de Deus, porém, não existe como ato, como sentença formulada e aplicada em consequência de julgamentos parciais, proferidos com relação a cada culpado, após acalorados debates sobre seus crimes, faltas e delitos como o julgamento humano.

O julgamento e sua aplicação estão na lei de atração espiritual, lei imutável e eterna como o próprio Deus de quem emana e que, conforme o pendor de cada um, determina as relações entre os Espíritos, por efeito da influência atrativa dos fluidos, que a si mesmos se atraem uns aos outros, por analogia de espécies, de natureza. É essa a lei, que como sabeis, por meio dos fluidos magnéticos, religa todos os mundos do Universo, une todos os Espíritos, encarnados ou não, constitui o laço universal que os prende a todos, fazendo que formem um único ser, e os auxilia a subirem para Deus, conjugando-lhes as forças, determinando que os superiores trabalhem sem descanso pelo progresso dos inferiores. O Espírito é quem livremente aplica a si mesmo essa lei, com a consciência, que Deus lhe outorgou, do bem e do mal, e ao julgamento da qual ele se acha inelutavelmente submetido. O Espírito tem o livre-arbítrio. Cabe a ele corrigir e reparar os transviamentos desse livre-arbítrio. É ao próprio Espírito que compete abrir para si o caminho que leva ao progresso e avançar por ele. Se o anima o firme propósito de renunciar ao mal e de entrar na senda do bem, atrai a si as boas influências e se põe em relações com os bons Espíritos, encarnados e errantes, principalmente com estes, os quais, animados de idênticos pendores, dos mesmos sentimentos, o ajudam a progredir. Sob a inspiração e proteção dos bons Espíritos, ele se adianta e o julgamento de Deus não o atinge. Se, ao contrário, se compraz no mal e não atende as vozes amigas que o chamam para afastá-lo daí e fazê-lo enveredar pela senda do bem, o Espírito atrai a si as más influências e entra, inconscientemente, em relações com Espíritos maus, encarnados e errantes, com estes sobretudo, animados dos mesmos pendores e sentimentos que ele. Permanece então estacionário, porquanto o Espírito não retrograda, e o juízo de Deus o atinge. O juízo de Deus é a ausência de progresso. É a lei imutável do sofrimento, que cedo ou tarde, atinge o culpado, provocando-lhe o remorso. Imutável, e portanto, certa, inevitável, é, para o Espírito culpado, essa lei, como o são a consciência, que ele tem, do bem e do mal e, em face dessa consciência, a lei de perfectibilidade, ambas as quais de Deus emanam. É o tempo que se escoa sem trazer ao Espírito melhora alguma, sem lhe satisfazer às aspirações. E o Espírito nem sempre aspira ao progresso, visto que também tende para o crime, para a preguiça, para a maldade, para a luxúria, a intemperança, o orgulho, a inveja, o egoísmo, a avareza. Pois bem: desde que seus desejos não são satisfeitos, aí tendes a condenação que ele a si mesmo inflige, como consequência dos seus pendores. O juízo de Deus é, finalmente, a luta sem resultado em que o Espírito permanece, enquanto não toma o propósito firme de renunciar ao mal e de entrar na senda do bem. Porque, não podendo, na sua condição de culpado, caminhar para Deus, o Espírito se vê retido, pela influência atrativa dos fluidos que assimila, entre Espíritos inferiores, nas esferas de expiação, e constrangido a renovar suas provas, até que estas o induzam a querer progredir, e a sofrer outras, até que haja realizado o progresso que isenta o ser espiritual de reencarnar nessas esferas.

O “juízo” de Deus é um termo que precisa ser mantido, por ser o único capaz de lembrar ao Espírito do homem a ação incessante da divindade sobre tudo o que existe.

O julgamento é o resultado das obras humanas, sua consequência inevitável. Nada há que não produza frutos, não o esqueçais. Tudo está em saber colhê-los a tempo. Jesus apenas aplica a lei.

A repressão dos Espíritos culpados não é um julgamento seguido de condenação, mas tão-somente um meio paternal de os reconduzir à senda do bem, de os salvar de si mesmos, forçando-os a que entrem em expiação, a fim de que se julguem e se condenem a si mesmos. Neste sentido é que como intermediário entre Deus e vós, Jesus recebeu do pai o poder de julgar, isto é: de presidir ao desenvolvimento e ao progresso dos homens, de os ajudar, por todos os meios, a se adiantarem, conformemente às faculdades e necessidades de cada um. [...]

O juízo é a retribuição de acordo com as obras. O Homem o provoca pelos seus pensamentos e pendores e o recebe, por efeito de suas palavras e atos, conformemente às leis imutáveis e eternas da justiça divina, que a sua consciência aplica após a morte. Essas leis, para os pendores viciosos, contrários à lei divina, bem como para os atos culposos, são as leis imutáveis, inevitáveis do sofrimento, da expiação, da reencarnação, meio único de reparação, de purificação e de progresso, caminho único para a perfeição".

O "JUÍZO DE DEUS" EM "MEMÓRIAS DE UM SUICIDA"

Capa do livro Memórias de um Suicida"Colocaram o ex-professor de línguas à frente do aparelho luminoso que despertara nossa atenção à chegada, ao qual ligaram-no por um diadema preso a tênues fios que se diriam cíntilas imponderáveis de luz. Enquanto Alceste o ligava, Romeu informava-o, em tom assaz grave, de que conviria voltasse a alguns anos passados de sua vida, coordenando os pensamentos a rigor, na seqüência das recordações, e partindo do momento exato em que a resolução trágica se apossara das suas faculdades. Para que tal conseguisse, auxiliava-o revigorando sua mente com emanações generosas que de suas próprias forças extraía.
Belarmino obedeceu, passivo e dócil a uma autoridade para que não possuía forças capazes de desagradar. E, recordando, reviveu os sofrimentos oriundos da tuberculose que o atingira, as lutas sustentadas consigo mesmo ante a idéia do suicídio, a tristeza inconsolável, a veraz agonia que se apoderara de suas faculdades em litígio entre o desejo de viver, o medo da moléstia impiedosa que avassalava sua organização física, supliciando- o sem tréguas, e a urgência do suicídio para, no seu doentio modo de pensar, mais suavemente atingir a finalidade a que a doença o arrastaria sob atrozes sofrimentos. A proporção que se aproximava o desfecho, porém, o filósofo comtista esquivava-se, recalcitrando à ordem recebida. Suores gelados como lhe banhavam a fronte ampla de pensador, onde o terror mais e mais se acentuava, estampando expressões de desespero a cada novo arranco das dolorosas reminiscências...

Entretanto, o que mais surpreendia era que, na tela fosforescente à qual se ligava, iam-se reproduzindo as cenas evocadas pelo paciente, fato empolgante que a ele próprio, como à assistência, facultava a possibilidade de ver, de presenciar todo o amaro drama que precedeu o seu ato desesperador e as minúcias emocionantes e lamentáveis do execrável momento! A este seguiam-se as tormentosas situações de além-túmulo que lhe foram conseqüentes, o drama abominável que o surpreendera, as confusas sensações que durante tanto tempo o mantiveram enlouquecido.

Enquanto o primeiro operador auxiliava o paciente a extrair as recordações próprias, o segundo comentava-as explicando os acontecimentos em torno do suicídio, antes e depois de consumado, qual emérito professor a elucidar ignaros em matéria indispensável. Fazia-o mostrando os fenômenos decorrentes do desprendimento do ser inteligente do seu casulo de limo corporal, violentado pelo desastroso gesto contra si mesmo praticado. Assistimos assim a surpreendente, inglória odisséia vivida pelo Espírito expulso da existência carnal sob sua própria responsabilidade, a esbater-se como louco à revelia da Lei que violou, presa dos tentáculos monstruosos de seqüências inevitáveis, criadas pela infração a um acúmulo determinante e harmonioso de leis naturais, sábias, invariáveis, eternas!"

O "JUÍZO DE DEUS" EM "VOLTEI",
DE IRMÃO JACOB (FRED FIGNER)

Capa do livro Voltei"Desejando preparar-me convenientemente, a fim de servir, passei a visitar, sozinho ou acompanhado de outros colegas, as mais diversas associações de Espíritos endurecidos e sofredores.

O Irmão Andrade, Marta e outros amigos que me prestavam contínua assistência, atentando agora para as minhas necessidades de reajustamento, deixaram-me sob o exclusivo cuidado da escola de iluminação, que passei a frequentar carinhosamente. Cada lição era nova página de sabedoria reveladora, concitando-me ao desejável aprimoramento.

Procurava, pois, nas demonstrações práticas, despertar minhas energias superiores, com a juvenil atenção do universitário dedicado aos livros, interessado em organizar conscienciosamente o próprio futuro.

Era preciso buscar humildade no autoconhecimento, através das acusações merecidas ou imerecidas? Não me faltaria coragem para faze-lo. Sempre que os intervalos naturais dos estudos e tarefas do instituto iluminativo me favoreciam, dirigia-me incontinenti para as zonas de Espíritos transviados, exercitando a minha capacidade de suportação.

Da boca de inúmeros infelizes e ignorantes, ouvi longas recordações demais atos. Criticavam-me acerbamente, discutiam-me propósitos e intenções. Antigas faltas de épocas recuadas, que eu supunha esquecidas, eram trazidas à tona dos remoques verbais. Erros da mocidade, omissões da idade madura, gestos eventuais de aspereza, pequenas promessas não cumpridas, problemas de sentimento não liquidados, tudo, enfim, era resolvido pelos inimigos do bem, dos quais me aproximei nas melhores disposições de entendimento fraterno.

Consoante as lições novas, armazenava semelhante material, com o cuidado do homem prevenido que guarda lanternas adequadas para as horas escuras. Em muitas ocasiões, afastei-me do campo de luta, em lágrimas, considerando as alegações que me eram atiradas em rosto. Mas... Que fazer? Esse, sem dúvida, era o melhor caminho para identificar os próprios defeitos e extirpa-los.

Há companheiros que se não resignam a esse gênero de esforço; no entanto, para ganhar tempo observei, desde o primeiro instante, que nesse processo de esclarecimento é possível abreviar a própria renovação para o bem e limitar grandes lutas. (Cap. Reajustamento)

O "JUIZO DE DEUS" EM "E A VIDA CONTINUA", DE ANDRÉ LUIZ

Capa do livro E a Vida Continua"Estariam no Mundo Espiritual ou na Terra mesmo, na Terra que lhes era familiar, em algum sítio desconhecido, onde se lhes falava do espírito libertado com alguma finalidade terapêutica? — pensavam os dois. E chegavam quase a admitir que talvez tivessem estado loucos, achando-se agora em recuperação.

Acalentando semelhantes dúvidas, Evelina acompanhou, docilmente, o médico, e, chegados a uma sala, mobilada com distinção e singeleza, assentou-se na poltrona que ele lhe indicou, explicando, atencioso:
— Esteja tranquila. Nosso Instituto se consagra àproteção e ao tratamento de seus tutelados. Primeiro, a cobertura socorrista, depois, o reajustamento, se necessário. Em razão disso, teremos tão-só um entendimento fraternal. Nada de cerimônias. Conversaremos simplesmente e todos os seus informes serão gravados para estudos posteriores. A bem dizer, funciono aqui quase que apenas na condição de introdutor dos clientes, de vez que os nossos analisados possuem vasta coleção de amigos na retaguarda, amigos que lhes examinarão as palavras e reações, de modo a saber em que sentido e até que ponto lhes prestarão o auxílio de que se mostrem carecedores.
Diante de Evelina admirada, a um gesto do mentor grande espelho se fêz visível, junto à poltrona, dando a idéia de que a peça fora ligada ao sistema elétrico, por disposições especiais.

— Nossa palestra será filmada. Simples recurso para que os seus contactos com a nossa casa sejam seguidos com segurança, no capítulo da assistência de que não prescindirá em seus primeiros tempos de vida espiritual. Tranquilize-se, compreendendo, porém, que todas as suas perguntas e respostas se revestem da maior importância para seu beneficio. Por suas indagações, a autoridade do Instituto identificará a sua posição no conhecimento e, por suas respostas, saberá o montante de suas necessidades. Conversemos.
Perante aquele olhar, brando e enérgico ao mesmo tempo, reconheceu-se Evelina qual criança de letras primárias, ante examinador experiente, e, concluindo que não lhe seria licito recusar a prova, perguntou com respeitosa coragem:
Instrutor Ribas, conquanto o senhor tenha feito referências a meus «primeiros tempos de vida espiritual», é verdade que somos Espíritos desencarnados, pessoas que não mais habitam a Terra?

— Perfeitamente, embora a irmã não consiga ainda certificar-se disso. — Porque semelhante inadaptação?

— Falta de preparo na vida física. De modo geral, a sua posição de surpresa é comum à maioria das criaturas terrestres, em virtude da ausência de integração real com as experiências religiosas a que se afeiçoam.

— Se estamos efetivamente mortos, acredita o senhor que eu, na condição de católica, devo apresentar ou deveria apresentar um índice mais completo de comunhão com a verdade espiritual que não estou conseguindo entender?

— Claramente.

— Como assim?

— Se a irmã, durante a sua existência no corpo denso, pensasse firmemente nos ensinos de Jesus, o Divino Mestre que se reergueu do túmulo para a demonstração da vida eterna, se meditasse na essência dos ofícios religiosos de sua fé, todos eles dirigidos a Deus e, depois de Deus, aos mortos sublimes, como sejam Nosso Senhor Jesus-Cristo, sua Augusta Mãe e aos Espíritos heróicos que veneramos por santos da vida cristã, decerto não experimentaria o assombro que, até agora, lhe insensibiliza os centros de força, apesar da elevação e da delicadeza de suas aspirações. Viu-se Evelina, de repente, transportada pelas molas mágicas da imaginação, ao seu velho templo religioso... Recordou as preces, os cânticos, as novenas e os rituais litúrgicos de que partilhara, como se únicamente ali, naquele gabinete de análise espiritual, pudesse penetrar-lhes o sentido. Como não se inclinara a interpretá-los, antes, por invocações ao Mundo Espiritual? como não lhes percebera, até aquela hora, a função de canais de comunicação com as Forças Divinas?...
Em pensamento, aspirava a rever-se em São Paulo, caminhar para o recinto de sua devoção religiosa e saudar na própria crença o ponto mais alto da vida, aquele, através do qual, lograva entregar-se à proteção do Todo- Misericordioso, com as suas dores e alegrias, aflições e ânsias mais íntimas... Lembrou-se de Jesus, fôsse nas esculturas ou nos painéis, nas pregações e conversações, como sendo um Espírito Divino a bater-lhe, debalde, às portas do coração, tentando ensinar-lhe a viver e a compreender...
E, ao refletir no Mestre de paciência infinita, a cuja magnanimidade recorria em todas as dificuldades e tribulações, sem se dar ao trabalho de perquirir-lhe as lições e acompanhar-lhe os exemplos, entrou em crise de lágrimas, qual se a fé cristã, excelsa e piedosa, se lhe transfigurasse em juiz nos recessos da alma, exprobrando-lhe o comportamento.
— Oh! meu Deus!... — inferia em pranto — porque precisei morrer para compreender? porquê, Senhor? porquê?..." (Cap. 10)