sexta-feira, 21 de maio de 2021

O ESPÍRITO E A TECNOLOGIA.

 

 

O ESPÍRITO E A TECNOLOGIA.


Caros irmãos,


Em um curso na FEB, ouvi de um instrutor de nome Arthur Nascimento, hoje já desencarnado, uma passagem interessante:


Uma das irmãs que trabalhavam lá com eles estava entristecida e foram perguntar a ela o que acontecia. Naquela época, as correspondências transitavam por navio ou avião e demoravam no mínimo 11 dias para chegar até a Europa (tinha até envelope de correio escrito "via aérea" para identificar como desejávamos enviar a carta).


A mãe dela morava em Portugal e essa irmã contou que tinha recebido notícias que informavam que a mãe estava adoecida, de forma preocupante.


Ao início dos trabalhos, apresentou-se um trabalhador espiritual e perguntou se ela queria notícias atualizadas sobre a condição de saúde da mãe. Ela ficou muito contente e afirmou que sim. Transcorrida a reunião e quando estava para terminar o trabalhador espiritual perguntou se iam encerrar sem dar as notícias e lógico que disseram que não ao que ele deu a sua reportagem, informando que a mãe da trabalhadora já estava de saúde recuperada e mencionou inclusive a roupa e detalhes de um lencinho que ela usava na cabeça. Após a troca de correspondência, tudo foi confirmado por carta.


Há pouco mais de três anos, também aqui em nossa Congregação, participei de uma prece para a mãe de uma conhecida que reside em Coimbra – Portugal, informando a ela como estava a mãe, que desencarnara há alguns meses.


Essas duas informações, dentre as incontáveis que acontecem no dia-a-dia servem para mostrar que nos dias de hoje, quando a humanidade terrena gasta (é o termo certo, longe de ser investimento) muito com pesquisas extraplanetárias para atingir o solo de Marte, da Lua, para instalar colônia, dentre toda a tecnologia conhecida (incluindo a ocultada) não consegue atingir a capacidade de um Espírito de grau mais ou menos elevado, que pode se deslocar pelo espaço a velocidade incrível, enxergar com mais detalhes que o melhor dos telescópios e microscópios, pensar e ler o pensamento das pessoas encarnadas e desencarnadas. 

 Isto demonstra a condição em que vivemos aqui neste planeta, aonde estamos, pela caridade divina, em plena tarefa de reajustamento.


Reajustamento é a palavra correta, para salvação. Que Deus é este que cria e lança as criaturas para sofrerem ? Seria uma criação imperfeita?

Evidente que não. Há mais informações que estamos para compilar e entender, ainda que relativamente.

 

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Quem disse que seria fácil ?

     Estamos hoje, 10 de maio de 2021, comemorando o dia das mães.

    Penso que nestas comemorações, fazemos uma viagem por nossas recordações e vamos até o período de nossa infância.

    Vamos falar sobre aqueles que estão com idade acima dos 40 anos.

    O advento da internet, aconteceu com a primeira transmissão às 22:30 hs do dia 29 de outubro de 1969 com uma mensagem enviada do laboratório de Kleinrock para o Stanford Research Institute (SRI), na Califórnia. Em 1994 iniciou a fase comercial.

    Então é fácil perceber que aqueles que nasceram a partir dos anos 90 e  já encontrando a internet funcionando, lidam com muita dificuldade para entender como era a vida dos que viviam  sem ela. 

    E o que falar dos telefones celulares ? A dificuldade em fotografar uma ocasião ou algum evento... 

    São muitos os adiantamentos da ciência, trazendo mais tecnologia, mas vamos ficar apenas com estes dois: internet e celulares, mas não vamos esquecer que os computadores pessoais estão embutidos aí.

    É improdutivo ficar lembrando das situações tal como combinar um encontro, apresentar uma proposta comercial, um resultado de exame médico, datilografar a mesma carta várias vezes, para dar um tratamento pessoal a quem ela é endereçada e não esquecer de colocar carbono, para ter a cópia que vai para o arquivo físico. 

    Após estes breves e vagos comentários, vamos ao que interessa:

    É verdade que muitos dentre nós estão colocados na condição da orfandade desde novos. É uma prova difícil por toda a existência terrena e a eles nossos pensamentos de solidariedade pelas ausências de entes queridos que já atravessaram o portal para a verdadeira vida, mas não fiquemos aflitos porque a vida não se extingue com a morte do corpo físico.

    A todos nossos irmãos que estão na condição da orfandade, independentemente da idade que tenham atingido, lembremos que Deus não separa aqueles que se amam.  Há muitos fenômenos com os quais convivemos que ainda não temos condição de entender e acreditem, o pensamento transita pelo espaço em velocidade superior à da luz, independentemente da distância. 

Apenas para desenhar hipotéticamente essa comunicação por pensamento, vamos imaginar uma família e que essa família tem um roteador só para ela em algum lugar do plano extrafísico e esse roteador está configurado para as almas, que compõem aquela família, formando uma rede doméstica, independentemente se elas estão encarnadas ou não.  Daí que eu, encarnado, do nada  tenho um pensamento com minha mãe, uma lembrança, seja o que for. A possibilidade de que seja um pensamento dela é muito grande porque somos  uma antena e então eu vou devolver a ela um pensamento feliz, usando a minha ligação com esse roteador. Aprendamos a usar com inteligência a saudade. Não vamos desperdiçar a oportunidade e dar espaço a pensamentos de irresignação.

      Em João, capítulo 3 versículos 1 a 5 Jesus diz a Nicodemos :

      "Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo." 

      E Jesus, no Evangelho de João, no capítulo XIV, versículos 1,2,3 :

        

"Que o vosso coração não se turbe. Crede em Deus, crede

também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai;

se assim não fosse, eu já vos teria dito, porque eu me vou

para vos preparar o lugar e depois que eu tenha ido e que

vos tenha preparado o lugar, eu voltarei e vos retomarei para

mim, a fim de que lá onde eu estiver ai estejais também."

       

     Confiemos, tenhamos fé e tomemos a nossa parte na obra da criação!

    O mergulho do Espírito na matéria acontece incontáveis vezes e tem a finalidade de evolução MORAL. 

    O corpo físico e o esquecimento das existências pregressas são ferramentas que Deus nos concede para que a caminhada seja mais segura, de maneira que a individualidade possa construir o caminho de suas próximas existências.

    A matéria ilude e as paixões acabam desviando e empanando a verdadeira finalidade da existência. Não é um passeio, não é para recreação, não é para desfrutar de prazeres... isso é próprio de quem não entendeu a preparação antes de encarnar.

    Mas existe uma outra ferramenta, muito poderosa, que é respeitada pelos guias e protetores... É o LIVRE ARBÍTRIO.  

    A partir da aquisição do pensamento contínuo e da razão, O livre arbítrio passa a ser a principal ferramenta da individualidade e é com o uso inteligente dessa faculdade que o ser vai atuar de forma decisiva no seu futuro espiritual. 

    Juntamente com essa ferramenta, há na consciência do indivíduo um campo aonde estão escritas as leis divinas, não se pode imaginar que o Criador vá deixar a criatura sem amparo, abandonada; nada disso! 

    A criatura, obra do Criador, é complexa.  

    As oportunidades são iguais para todos os seres, as condições podem ser diferentes porque a criação é imensa mas a caminhada é longa, a partir do princípio inteligente e aqui em nosso planeta, nos ensinam os Espíritos da Codificação, ele transita pelos reinos mineral, vegetal, animal e hominal, porém antes de adentrar no reino hominal passam por um outro reino, do qual pouco sabemos, que é o dos Elementais, e aí ensaiam para a vida hominal. O caminho é longo mesmo,  porque sabemos que do reino hominal, aqueles que cumprirem a vontade do Pai ascenderão ao plano angelical sobre o qual nossa reduzida e aprisionada mente ainda não tem capacidade de entender. 

    O Livro dos Espíritos, na questão 169, nos ensina que o progresso é quase infinito e que o número de encarnações não é  igual  para todos, exatamente devido ao bom e ao mau uso do livre arbítrio.

    Os Espíritos também nos ensinam que o mundo material poderia nunca ter existido que em nada afetaria o mundo espiritual, porque a verdadeira vida é a do Espírito e a matéria aprisiona o espírito e ao mesmo tempo é uma ferramenta de progresso mais rápido.   

    Jesus, quando perguntado por Pilatos:

  Sois o Rei dos Judeus ?

  Ele respondeu:

   "Meu Reino não é deste mundo.  Se meu reino fosse deste mundo, minhas gentes teriam combatido para me impedir de cair nas mãos dos judeus; mas meu reino não é aqui."   (Está no Evangelho de João - cap. XVIII versículos 33, 36 37)

    Jesus se referia a um outro plano, ao plano verdadeiro, que é tão difícil de ser compreendido pelo homem mergulhado na matéria,pois além de aprisionar, tem um outro componente ilusório, que é o prazer temporário das sensações que são trazidas exatamente por ações que passam dos limites daquelas leis que estão escritas na consciência da criatura.

  A verdade é dura, a criatura ao se defrontar com ela após o regresso ao plano extrafísico, quer alegar que não lembrava dessas leis e se deixou levar pela vida terrena, que é um desafio, já que aqui aonde estamos é um planeta apropriado para provas e expiações. Os débitos das individualidades são muitos e os mentores do projeto reencarnatório sempre procuram tornar o fardo mais leve, ainda que isto implique em mais encarnações. 

    Há casos em que a individualidade, que encarnou com projeto para viver, por exemplo, até os 75 anos, se compromete tanto em pouco tempo que começa a gerar débitos que implicam em trabalhos de mais várias encarnações e que a caridade divina antecipa o seu retorno a fim de que se prepare novamente. Há muitas moradas na Casa do Pai e a Justiça Divina sabe o que é melhor para a criatura, o que é mais apropriado ao seu progresso espiritual.            

    É também muito importante que a individualidade encarnada dê oportunidade àqueles irmãos que o acompanham, que lhe passam intuições de atitudes positivas e que escolha pelo aperfeiçoamento espiritual, deixando de lado tudo aquilo que for ligado à matéria; é uma atitude inteligente e que mantém as criaturas da família espiritual unidas, progredindo juntas.

    No regresso ao plano extrafísico, aí a individualidade vai ser levada pelo conjunto consciencial a se deparar com aquele conteúdo que depositou na sementeira, pois cada um de nós, deixou uma sementeira aonde vamos depositando nossas obras.

    Se cumprirmos a vontade do Pai, teremos tido sucesso;  se nos deixamos levar pelo lado material, sem exercer o amor incondicional, se alimentamos orgulho, egoísmo, desunião, certamente estaremos na condição de falidos.

    Haverá quem possa perguntar : isso nunca acaba ?  Será que não temos direito a ter prazer e ser felizes ? A estes a nossa resposta: acaba, sim, a ANGELITUDE É UMA FATALIDADE e cada uma das criaturas deve conquistar o progresso.  Se alguém pergunta se tem direito ao prazer é uma mostra da inferioridade, do apêgo à matéria. No item 20 do capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo, o Espírito François-Nicolas - Madeleine -Cardeal Morlot -em Paris - 1863, nos alertou que a verdadeira felicidade ainda não é para este mundo, muito embora tenhamos alguns momentos felizes . " Aquilo em que consiste a felicidade sobre a Terra é uma coisa tão efêmera para aquele que não age sabiamente que, por um ano, um mês, uma semana de completa satisfação, todo o resto se escoa  numa sequência de amarguras e decepções; e notai, meus caros filhos, que falo aqui dos felizes da Terra, daqueles que são invejados pelas multidões.

    Consequentemente, se a morada celeste está destinada às provas e à expiação, é preciso admitir que existem alhures moradas mais favoráveis onde o Espírito do homem, ainda aprisionado numa carne material, possui em sua plenitude os prazeres ligados à vida humana.  Por isso, Deus semeou no vosso turbilhão esses belos planetas superiores para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia quando estiverdes suficientemente purificados e aperfeiçoados.

    Todavia, não deduzais minhas palavras que a Terra esteja dedicada para sempre a uma destinação penitenciária; não, certamente! porque dos progressos realizados podeis deduzir facilmente os progressos futuros e dos melhoramentos sociais conquistados, novos e mais fecundos melhoramentos.  Tal é a tarefa imensa que deve realizar a nova doutrina que os Espíritos vos revelaram..." 

    Há um sentimento a ser entendido, diferente e ainda não atingido pela criatura, exatamente em consequência da sua condição de ser inferior na criação.  

    Quando falamos em SER inferior na CRIAÇÃO, não é no sentido ofensivo, mas para lembrar que não estamos no plano do absoluto e sim do relativo, porque há seres que ainda transitam em condições de inferioridade evolutiva em relação à que estamos atualmente, assim como estamos em condição de inferioridade aos que já progrediram um pouco mais (e são eles que  nos auxiliam no dia-a-dia).

     Mas porque comentei inicialmente sobre idades ? 

     Temos constatado que o ser humano é chegado a desfrutar dos progressos da ciência e acaba sendo envolvido exatamente pela matéria e isto o leva a afastar do verdadeiro objetivo da encarnação, que está bem claro na questão 132 do Livro dos Espíritos:

  132.    Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?
 

“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição.
Para uns, é expiação; para outros, missão. mas, para alcançarem
essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal:
nisso é que está a expiação.

Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus.
é assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.”

 

A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém,
na sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um
meio de progredir e de se aproximar dele. Deste modo, por uma admirável
lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.

     

    Tenham certeza que ninguém disse que seria fácil, mas fiquemos em 

    paz que estamos guiados pelo mestre Jesus.  

   Confiemos e sigamos.

 

domingo, 9 de maio de 2021

Lamentos do órfão - João de Deus

 

DE JOÃO DE DEUS

Poeta português, nascido em Bartolomeu de Messines, em

1830 e desencarnado em 1896.

Livro Parnaso de Além Túmulo.

psicografia de Chico Xavier



Lamentos do órfão

 

Minha mãezinha, alguém me disse,

Que tu te foste, triste sem mim;

Já não me embala tua meiguice,

E não podias partir assim.


Eu acredito que tenhas ido

Pedir a Deus, que possui a luz,

Que de mim faça, do teu querido,

Um dos seus anjos, outro Jesus.

Mas tanto tempo faz que partiste,

Que me fugiste sem me levar,

Que sofro e choro, saudoso e triste,

Sem esperanças de te encontrar.

Há quantos dias que te procuro,

Que te procuro chamando em vão!...

Tudo é silêncio tristonho e escuro,

Tudo é saudade no coração.

Outros meninos alegres vejo,

Numa alegria terna e louçã,

Que exclamam rindo dentro dum beijo:

Como eu te adoro, minha mamã!”

Sinto um anseio sublime e santo,

De nos meus braços, mãe, te beijar;

E abraço o espaço, beijo o meu pranto,

Somente a mágoa vem-me afagar.

Inquiro o vento: – “Quando verei

Minha mãezinha boa e querida?”

E o vento triste diz-me: – “Não sei! ...

Só noutra vida, só noutra vida!...”

Pergunto à fonte, pergunto à ave,

Quando regressas dos Céus supremos,

E me respondem em voz suave:


Nós não sabemos! nós não sabemos!...”

Pergunto à flor que engalana a aurora,

Quando é que voltas desse país,

E ela retruca, consoladora:

Depois da morte serás feliz.”

E digo ao sino na tarde calma:

Onde está ela, meu doce bem?”

Ele responde, grave, à minhalma:

Além na luz! Na luz do Além!.. .“

O mar e a noite me crucificam,

Multiplicando meus pobres ais,

Cheios de angústias, ambos replicam:

Tua mãezinha não volta mais.”

Somente a nuvem, quando eu imploro,

Diz-me que vens e diz que te vê;

E me conforta, do céu, se eu choro:

Eu vou chamá-la para você.”

Sempre te espero, mas, ai! não voltas,

Nem para dar-me consolação;

Ó mãe querida, que mágoas soltas

Andam cortando meu coração.

Tanta saudade, e, no entretanto,

Vejo-te linda nos sonhos meus;

Ajoelhada, banhada em pranto,

E de mãos postas aos pés de Deus.

Sempre a meus olhos, estás bonita


Qual uma rosa, como um jasmim!

Porém conheço que estás aflita,

Com o pensamento junto de mim.

Então, entrego-me ao meu desejo,

Tremo de anseio, calo, sorrio,

Sentindo o anélito do teu beijo...

Mas abro os olhos no ar vazio!

Vai-se-me o sonho... Quanta amargura,

Que sinto esparsa pelo caminho!

Que mágoa eterna! que desventura,

Para quem segue triste e sozinho.

Volta depressa! guardo-te flores,

Porque só vivo pensando em ti:

Celebraremos nossos amores,

Junto da fonte que canta e ri.

Já não suporto tantos cansaços!...

Se não voltares, pede a Jesus

Que te conceda pôr-me em teus braços,

Foge comigo para outra luz!...

 

Mensagem de Chico Xavier em Parnaso de Além Túmulo

 

Palavras minhas




Nasci em Pedro Leopoldo. Minas, em 1910. 

E  até aqui, julgo que os meus atos perante  a sociedade da minha terra são expressões

do pensamento de uma alma sincera e leal, que acima de tudo ama a verdade; e creio mesmo que todos os que me conhecem podem dar testemunho da minha vida repleta de árduas dificuldades
e mesmo de sofrimentos.




Filho de um lar muito pobre, órfão de mãe aos cinco anos, tenho  experimentado toda a classe de aborrecimentos na vida e não  venho ao campo da publicidade para fazer um nome, porque a dor
há muito já me convenceu da inutilidade das bagatelas que são ainda tão estimadas neste mundo.

E, se decidi escrever estas modestas palavras no limiar deste livro, é apenas com o intuito de elucidar o leitor, quanto à sua formação.


Começarei por dizer-lhe que sempre tive o mais pronunciado pendor para a literatura; constantemente, a melhor boa vontade animou-me para o estudo. Mas, estudar como?

Matriculando-me, quando contava oito anos, num grupo escolar, pude chegar até ao fim do curso primário, estudando apenas  uma pequena parte do dia e trabalhando numa fábrica de tecidos,
das quinze horas às duas da manhã; cheguei quase a adoecer com um regime tão rigoroso; porém, essa situação modificou-se em 1923, quando então consegui um emprego no comércio, com um
salário diminuto, onde o serviço dura das sete às vinte horas, mas onde o trabalho é menos rude, prolongando-se esta minha situação até os dias da atualidade.


Nunca pude aprender senão alguns rudimentos de aritmética, história e vernáculo, como o são as lições das escolas primárias. É  verdade que, em casa, sempre estudei o que pude, mas meu pai era completamente avesso à minha vocação para as letras e muitas  vezes tive o desprazer de ver os meus livros e revistas queimados.

Jamais tive autores prediletos; aprazem-me todas as leituras e mesmo nunca pude estudar estilos dos outros, por diferençar  muito pouco essas questões. Também o meio em que tenho vivido
foi sempre árido, para mim, neste ponto. Os meus familiares não estimulavam, como verdadeiramente não podem, os meus desejos de estudar, sempre a braços, como eu. com uma vida de múltiplos
trabalhos e obrigações e nunca se me ofereceu ocasião de conviver com os intelectuais da minha terra.


O meu ambiente, pois, foi sempre alheio à literatura; ambiente de pobreza, de desconforto, de penosos deveres, sobrecarregado de trabalhos para angariar o pão cotidiano, onde se não pode pensar em letras.

Assim têm-se passado os dias sem que eu tenha podido, até hoje, realizar as minhas esperanças.
Prosseguindo nas minhas explicações, devo esclarecer que minha família era católica e eu não podia escapar aos sentimentos dos meus. Fui pois criado com as teorias da igreja, freqüentando-a
mesmo com amor, desde os tempos de criança; quando ia às aulas de catecismo era para mim um prazer.

Até 1927, todos nós não admitíamos outras verdades além das proclamadas pelo Catolicismo; mas, eis que uma das minhas irmãs, em maio do ano referido, foi acometida de terrível obsessão; a medicina foi impotente para conceder-lhe uma pequenina melhora, sequer. Vários dias consecutivos foram, para nossa casa, pioras de amargos padecimentos morais. Foi quando decidimos solicitar o auxílio de um distinto amigo, espírita convicto, o Sr. José Hermínio Perácio, que caridosamente se prontificou a ajudar-nos com a sua boa vontade e o seu esforço. Verdadeiro discípulo do Evangelho, ofereceu-nos até a sua residência. bem distante da nossa, tanto à sua família, onde então, num ambiente totalmente
modificado, poderia ela estudar as bases da doutrina espírita, orientando-se quanto aos seus deveres, desenvolvendo, simultaneamente, as suas faculdades mediúnicas. Aí, sob os seus caridosos
cuidados e da sua excelentíssima esposa Dona Carmen Pena


Perácio, médium dotada de raras faculdades, minha irmã hauria, para nosso benefício, os ensinamentos sublimes da formosa doutrina dos mensageiros divinos; foi nesse ambiente onde imperavam
os sentimentos cristãos de dois corações profundamente generosos, como o são os daqueles confrades a que me referi, que a minha mãe, que regressara ao Além em 1915, deixando-nos mergulhados em imorredoura saudade, começou a ditar-nos os seus conselhos salutares, por intermédio da esposa do nosso amigo, entrando em pormenores da nossa vida íntima, que essa senhora desconhecia. Até a grafia era absolutamente igual à que a nossa genitora usava, quando na Terra.


Sobre esses fatos e essas provas irrefutáveis solidificamos a nossa fé, que se tornou inabalável. Em breve minha irmã regressava ao nosso lar cheia de saúde e feliz, integrada no conhecimento
da luz que deveria daí por diante nortear os nossos passos na vida.

Resolvemos, então, com ingentes sacrifícios, reunir um núcleo de crentes para estudo e difusão da doutrina, e foi nessas reuniões que me desenvolvi como médium escrevente, semimecânico,
sentindo-me muito feliz por se me apresentar essa oportunidade de progredir, datando daí o ingresso do meu humilde nome nos jornais espíritas, para onde comecei a escrever sob a inspiração dos bondosos mentores espirituais que nos assistiam.2

Daí a pouco, a nossa alegria aumentava, pois o nosso confrade José Hermínio Perácio, em companhia de sua esposa, deliberou fixar residência junto a nós e as nossas reuniões tiveram resultados
melhores, controladas pela sua senhora, alma nobilíssima, ornada das mais superiores qualidades morais e que, entre as suas mediunidades, conta com mais desenvolvimento a clariaudiência.

Nossas reuniões contavam, assim, grande número de assistentes, porém, a moral profunda que era ensinada, baseada nas páginas esplendorosas do Evangelho de Jesus, parece que pesava muito,
como acontece na opinião de grande maioria de almas da nossa época, quase sempre inclinadas para as futilidades mundanas, e, decorridos dois anos, os assistentes de nossas sessões de estudos
escassearam, chegando ao número de quatro ou cinco pessoas, o que perdura até hoje.


Não desanimamos, contudo, prosseguindo em nossas reuniões. Constituindo para nós uma fonte de consolações isolarmo-nos das coisas terrenas em nosso recanto de prece, para a comunhão com os nossos desvelados amigos do Além. Continuei recebendo as idéias dos mesmos amigos de sempre, nas reuniões, psicografando- as, e que eram continuamente fragmentos de prosa sobre os Evangelhos. Somente duas vezes recebi comunicações em versos simples.


Em agosto, porém, do corrente ano, apesar de muito a contragosto de minha parte, porque jamais nutri a pretensão de entrar em contacto com essas entidades elevadas, por conhecer as minhas imperfeições, comecei a receber a série de poesias que aqui vão publicadas, assinadas por nomes respeitáveis.

Serão das personalidades que as assinam? – é o que não posso afiançar, O que posso afirmar, categoricamente, é que, em consciência, não posso dizer que são minhas, porque não despendi nenhum
esforço intelectual ao grafá-las no papel. A sensação que sempre senti, ao escrevê-las, era a de que vigorosa mão impulsionava a minha. Doutras vezes, parecia-me ter em frente um volume
imaterial, onde eu as lia e copiava; e, doutras, que alguém mas ditava aos ouvidos, experimentando sempre no braço, ao psicografá- las, a sensação de fluidos elétricos que o envolvessem,
acontecendo o mesmo com o cérebro, que se me afigurava invadido por incalculável número de vibrações indefiníveis. Certas vezes, esse estado atingia o auge, e o interessante é que parecia-me
haver ficado sem o corpo, não sentindo, por momentos, as menores impressões físicas; é o que experimento, fisicamente, quanto ao fenômeno que se produz freqüentemente comigo.

Julgo do meu dever declarar que nunca evoquei quem quer que fosse; essas produções chegaram-me sempre espontaneamente, sem que eu ou meus companheiros de trabalhos as provocássemos
e jamais se pronunciou, em particular, o nome de qualquer dos comunicantes, em nossas preces. Passavam-se às vezes mais de dez dias, sem que se produzisse escrito algum, e dia houve em
que se receberam mais de três produções literárias de uma só vez.

Grande parte delas foram escritas fora das reuniões e tenho tido ocasião de observar que, quanto menor o número de assistentes, melhor o resultado obtido.


Muitas vezes, ao recebermos uma destas páginas, era necessário recorrermos a dicionários, para sabermos os respectivos sinônimos das palavras nela empregadas, porque tanto eu como os
meus companheiros as desconhecíamos em nossa ignorância, julgando minha obrigação, frisar aqui também, que, apesar de todo o meu bom desejo, jamais obtive outra coisa, na fenomenologia
espírita, a não ser esses escritos.3


Devo salientar o precioso concurso da bondosa médium Sra. Cármen P. Perácio, que através da sua maravilhosa clariaudiência me auxiliou muitíssimo, transmitindo-me as advertências e opiniões
dos nossos caros mentores espirituais e, ainda, o carinhoso interesse do distinto confrade Sr. M. Quintão, que tem sido de uma boa vontade admirável para comigo, não poupando esforços
para que este despretensioso volume viesse à luz da publicidade.

E aqui termino.


Terei feito compreender, a quem me lê, a verdade como de fato ela é? Creio que não. Em alguns despertarei sentimentos de piedade e, noutros, rizinhos ridiculizadores. Há de haver, porém,
alguém que encontre consolação nestas páginas humildes. Um desses que haja, entre mil dos primeiros, e dou-me por compensado do meu trabalho.




A todos eles, todavia, os meus saudares, com os meus agradecimentos intraduzíveis aos boníssimos mentores do Além, que inspiraram esta obra, que generosamente se dignaram não reparar as minhas incontáveis imperfeições, transmitindo, por intermédio de instrumento tão mesquinho, os seus salutares ensinamentos.

Pedro Leopoldo, dezembro de 1931.

Francisco Cândido Xavier

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Nas sessões espíritas; mas todas as pessoas de sua intimidade sabem que ele, desde a infância. confunde os habitantes dos dois mundos e muitas vezes pergunta ao amigo que esteja passeando com ele “Estás vendo ali um homem de barbas brancas, etc.?” Pela resposta do companheiro é que ele fica sabendo se está, diante de um habitante do nosso mundo ou de habitante do mundo espiritual. Também isso são fenômenos espíritas.

(Nota da Editora)


2 Só nos últimos dias de 1931, com a graça de Deus, desenvolveram-se em mim, de maneira clara e mais intensamente, a vidência, a audição e outras faculdades mediúnicas. (Nota do médium para a 4ª edição, em 1944.)


3 Ao escrever estas palavras, o Autor não se lembrou de que as suas relações constantes com Espíritos desencarnados, mantidas desde os 5 anos de idade, pertencem igualmente à fenomenologia espírita. Pensou em fenomenologia somente como prática consciente da mediunidade

sábado, 8 de maio de 2021

O Trabalho

 

DO LIVRO “AMOR E SABEDORIA DE EMMANUEL”


TRABALHO


Observa o trabalho dos outros, para que não te retires do dever de ajudar.


Recorda os recursos mais simples que a vida movimenta em favor de ti próprio…


A água que viaja centenas de léguas, deixando-se purificar, socorrendo-te à mesa…


O vegetal que cresce, diligente, incorporando as bênçãos da natureza, e que renuncia ao próprio desenvolvimento, a fim de atender-te à fome…


O animal que atravessa longos dias, no crescimento que lhe é próprio e que se submete ao sacrifício, no estábulo ou no matadouro, para que não te faltem agasalho e alegria, alimento e remédio…


A árvore que se ergue, generosa, e que atende a queda espetacular, garantindo-te abrigo e reconforto.


Pensa, ainda, nos milhões de braços que se unem na atividade constante do amor, a fim de que possas contar com o pão e a vestimenta, a casa e o leito em que te refugias…


Reflete nos milhares de mãos que se conjugam, prestimosas, cada dia, para que as lições do caminho te alcancem o entendimento, através da imprensa e do livro, da tribuna e da escola…


E, despertando para o trabalho em que se equilibra o Universo inteiro, não fujas à obrigação de ser útil.


Tudo vibra e tudo serve sob a lei da cooperação.


O verme tem o seu lugar na defesa do solo.


A flor guarda os seus títulos de benfeitora na formação da colheita.


O Sol envolve o mundo em seus raios, espalhando calor e luz.


Somente o homem, por vezes pessimista inveterado da sombra, quase sempre se entrega, desarvorado, às sugestões do desânimo, nutrindo o inferno da ignorância e da preguiça, ao redor de si mesmo, no Céu em que se encontra.


Recorda que Jesus, o Divino Mentor da Terra, continua trabalhando e, fazendo o melhor que possas, e tudo o que possas na construção do bem, junto Dele, encontrarás na exaltação da própria alma, a glória e a felicidade que fluem do serviço incessante e da paz imperecível.


Emmanuel.