Oferecer a outra face.
O vencido, no planeta Terra, é o vencedor nos reino dos céus, ou moradas do Pai, como preferirem. A Lei do Perdão é possível.
91. A LEI
SOCIAL DO EVANGELHO
Do livro "A Grande Síntese"
Permanecemos,
até agora, nos campos subumano e humano das mais baixas criações biológicas,
para focalizar melhor os pormenores de vossa fase. Mas, subamos mais. Como pelo
indivíduo se alcança o nível do super-homem, também a evolução coletiva atinge
a lei social do Evangelho. Hoje, inversão completa dos sistemas humanos,
absurdo aparentemente irrealizável, mas meta suprema, realidade do amanhã. Aí
todos os problemas da convivência estarão radicalmente resolvidos com um
conceito simples: “ama teu próximo como a ti mesmo”. É a perfeição, é a lei de
quem chegou e o sonho de quem está a caminho para chegar. Mas o caminho é longo
e difícil, se o vemos, em sua realidade de áspero esforço, para conquistar
e realizar-se, porque é verdadeiramente
lento, mais do que um fácil sonho para quem ignora as resistências da vida. No
evangelho, todas as divergências se harmonizam, sopitam-se os estridores numa
paz substancial, num equilíbrio mais estável, que aprofunda suas raízes no
coração do homem. Esta a meta da evolução coletiva, o reino do super-homem, a
ética universal, em que a humanidade encontra a coordenação de suas energias: o
Evangelho, que colocamos no ápice da evolução das leis da vida.
A
distância que separa vossa atual vida desse vértice é imensa. Cada ato e
pensamento vossos estão permeados de luta e vos faz pensar que o Evangelho está
distante; mas justamente porque é luta, é caminho de conquista. Dessa maneira, é demolição da
própria luta e aproximação progressiva do Evangelho. Este é um nível diferente,
significa um total deslocamento do ponto de vista das coisas. Os próprios fatos
humanos, observados de planos diferentes, assumem valores diferentes. É a visão
longínqua e global da alma que conquistou a bondade e o conhecimento. Essas
normas, correspondendo a uma amplitude de ângulo visual muito mais amplo,
parecem-vos irrealizáveis. Ao Evangelho só se pode chegar por sucessivas
aproximações. Ele fica inacessível por sua elevação, se for representado de
súbito ao homem atual que, por certo, não o compreende e não o pratica. Mas
olhai para mais longe, na essência da vida; penetrai mais fundo na ciência;
segui em frente e o Evangelho surgirá por si mesmo.
Vosso
mundo é o que se vê da terra; O evangelho é o mundo olhado do céu. O absurdo
reside em vossa involução. No Evangelho movem-se as forças do infinito; a
justiça é automática e perfeita, substancial, e a coordenação social é
alcançada, o homem move-se em paz com a harmonia do universo. Não há mais
necessidade de ser forte, basta ser justo. Força, luta, egoísmo se devoram a si
mesmos, no diuturno esforço das ascensões humanas. Aí vos movereis, finalmente,
no seio da grande Lei e as reações da dor serão reabsorvidas; o mal será
ultra-passado. É o reino do homem transformado em anjo e santo.
Então,
é possível a lei do perdão, porque o espírito sente e movimenta outras forças,
diferentes das de vossos pobres braços. Essas forças acodem em defesa do justo,
mesmo se inerme. É a lei da justiça, que fala em vossa consciência, que se
exprime mediante os movimentos da alma humana. Então, aquele que parece vencido
pela vida, torna-se um gigante. Lei simples, mas substancial, que constrói o
homem, governa-lhe os atos em suas motivações e resolve tudo, onde vossos
sistemas confusos de controle e de sanções nada resolvem. No Evangelho, o
caminho das virtudes está todo traçado; sua lógica sublime leva a uma seleção
de super-homens, enquanto a lógica de sua luta cotidiana conduz a uma seleção
de prepotentes. Os princípios do Evangelho organizam o mundo e criam as civilizações;
os princípios que viveis desagregam tudo e desperdiçam-se em atritos inúteis;
por onde passa o Evangelho e seu amor, nasce uma flor; por onde passais vós,
morrem todas as flores e nasce um espinho. O Evangelho é lei paradisíaca
transplantada no inferno terrestre; só os anjos no exílio sabem viver, aí
embaixo, a lei divina ditada pelo Cristo sobre a Cruz.
Em
vosso mundo, quem renuncia à agressão e à sua defesa e oferece a outra face;
quem renuncia a enfiar as garras na carne alheia para tirar vantagens para si e
não quer, por princípio, colher à força todas as alegrias infinitas da vida,
fica oprimido, é um vencido fora da lei, um expulso, um desvalorizado que se
anula. Este, olhado pelo reino da força, é inerme, indefeso, ridículo. No
entanto, nessa derrota, nessa fraqueza aparente, reside o mistério de uma força
maior, que chega trovejando de longe, despertando nas profundezas da alma o
pressentimento de realizações mais amplas. O vencedor, no exato momento da
vitória, tem a sensação de uma derrota. O vencido olha do alto, como um
vencedor; é mesmo vencedor, porque descobriu e viveu formas mais altas de vida.
O
homem emudece e desorienta-se diante desse estranho ser, sem armas, proclama
uma lei nova, espetacular, e parece ser de outro mundo. O homem sente que, se
tem razão em seu ambiente, existe outro mundo, onde tudo se inverte: o vencido
na Terra, lá pode ser um vencedor; e o vencedor na Terra, um vencido. Um abismo
o separa desse ser superior; o homem agride e ele perdoa; é um justo e sabe
sofrer. Está aí para mostrar-vos com sua própria vida o objetivo atingido, para
indicar-vos o caminho, a fim de o acompanhardes à realização da mais alta e
fecunda lei social: o amor evangélico.