domingo, 8 de março de 2020

REENCARNAÇÃO - A LIÇÃO A NICODEMOS.

Seria desejável, aos olhos do imediatista, que as coisas acontecessem prontamente, mas não é possível que assim aconteça.



Jesus, o guia da humanidade já estava convencido que o progresso moral deve ser lento e abranger a toda a criação, incluindo encarnados e desencarnados, de modo que sejam perenes e sólidas as bases, porque o edifício a ser construído é imenso.



Sendo assim, neste capítulo do livro A BOA NOVA, o qual recomendo seja adquirido e lido com muita atenção e por várias vezes, temos além da REENCARNAÇÃO, ou seja, da pluralidade das existências, onde a INDIVIDUALIDADE assume incontáveis personalidades em um corpo material, podem ser compreendidos  outros ensinamentos - além da humildade -, que o leitor atento poderá perceber. 




"DO CAPÍTULO 1  DE  A GÊNESE: 
Item 50. - A terceira revelação, vinda numa época de emancipação e madureza intelectual, em que a inteligência, já desenvolvida, não se resigna a representar papel passivo; em que o homem nada aceita às cegas, mas quer ver aonde o conduzem, quer saber o porquê e o como de cada coisa - tinha ela que ser ao mesmo tempo o produto de um ensino e o fruto do trabalho, da pesquisa e do livre exame. 




Os Espíritos não ensinam senão justamente o que é mister para guiá-lo no caminho da verdade, mas abstêm-se de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cuidado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da RAZÃO, deixando mesmo, muitas vezes, que adquira experiência à sua custa. Fornecem-lhe o princípio, os materiais; cabe-lhe a ele aproveitá-los e pô-los em obra."






A LIÇÃO DE NICODEMUS

(Autoria Irmão X - Humberto de Campos)




Em face dos novos ensinamentos de Jesus, todos os fariseus do templo se tornavam de inexcedíveis cuidados, pelo seu extremado apego aos textos antigos. 




O Mestre, porém, nunca perdeu ensejo de esclarecer as situações reais difíceis com a luz da verdade que a sua palavra divina trazia ao pensamento do mundo.
Grande número de doutores não conseguia ocultar o seu
descontentamento, porque, não obstante suas atividades
derrotistas, continuavam as ações generosas de Jesus, beneficiando os aflitos e os sofredores. Discutiam-se os novos princípios no grande templo de Jerusalém, nas suas praças públicas e nas sinagogas.
 Os mais humildes e pobres viam no Messias o emissário de Deus, cujas mãos repartiam em abundancia os bens da paz e da consolação. As personalidades importantes temiam-no.
É que o profeta não se deixava seduzir pelas grandes promessas que
lhe faziam com referência ao seu futuro material. Jamais temperava a sua palavra de verdade com as conveniências do comodismo da época.



Apesar de magnânimo para com todas as faltas alheias, combatia o mal com tão intenso ardor, que para logo se fazia objeto de hostilidade para todas as intenções inconfessáveis.
Mormente, em Jerusalém que, com o seu cosmopolitismo, era um expressivo retrato do mundo, as idéias do Senhor acendiam as mais apaixonadas discussões. Eram populares que se entregavam à apologia franca da doutrina de Jesus, servos que o sentiam com todo o calor do coração reconhecido, sacerdotes que o combatiam
abertamente, convencionalistas que não o toleravam, indivíduos abastados que se insurgiam contra os seus ensinos.



Todavia, sem embargo das dissensões naturais que precedem o estabelecimento definitivo das idéias novas, alguns espíritos acompanhavam o Messias, tomados de vivo interesse pelos seus elevados princípios. Entre estes, figurava Nicodemos, fariseu notável pelo coração bem formado e pelos dotes da inteligência. Assim, uma noite, ao cabo de grandes preocupações e longos raciocínios, procurou a Jesus, em particular, seduzido pela
magnanimidade de suas ações e pela grandeza de sua doutrina salvadora.

O Messias estava acompanhado apenas de dois dos seus discípulos e recebeu a visita com a sua bondade costumeira.
Após a saudação habitual e revelando as suas ânsias de conhecimento, depois de fundas meditações, Nicodemos dirigiu-se respeitoso:



1 – Mestre, bem sabemos que vindes de Deus, pois somente com a luz da assistência divina poderíeis realizar o que tendes efetuado, mostrando o sinal do céu em vossas mãos. Tenho empregado minha existência em interpretar a lei, mas desejava receber a vossa palavra sobre os recursos de que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus!



O Mestre sorriu bondosamente e esclareceu:
2 – Primeiro que tudo, Nicodemos,  não basta que tenhas vivido a interpretar a lei. Antes de raciocinar sobre as suas disposições, deverias ter-lhe sentido os textos. Mas, em verdade devo dizer-te que ninguém conhecerá o reino do céu, sem nascer de novo.



1 – Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? – interrogou o fariseu altamente surpreendido –
Poderá, porventura, regressar ao ventre de sua mãe?



2 O Messias fixou nele os olhos calmos, consciente da gravidade do assunto em foco e acrescentou :



3 – Em verdade, reafirma-te ser indispensável que o homem nasça e renasça, para conhecer plenamente a luz do reino!...
4 – Entretanto, como pode isso ser?
– Perguntou Nicodemos, perturbado.
5 – És mestre em Israel e ignoras estas coisas?
3 – inquiriu Jesus, como surpreendido – É natural que cada um
cimente testifique daquilo que saiba; porém precisamos considerar que tu ensinas. Apesar disso, não aceitas os nossos testemunhos. Se falando eu de coisas terrenas sentes dificuldade em compreendê-las com os teus raciocínios sobre a lei, como poderás aceitar as minhas
afirmativas quando eu disser das coisas celestiais? Seria loucura destinar os alimentos apropriados a um velho para o organismo frágil de uma criança.



Extremamente confundido, retirou-se o fariseu, ficando André e Tiago empenhados em obter do Messias o necessário esclarecimento, acerca daquela lição nova.



*** 



Jerusalém quase dormia sob o véu espesso da noite alta. Silêncio profundo se fizera sobre a paisagem.
Jesus no entanto, e aqueles dois discípulos continuavam presos à conversação particular que haviam entabulado. Os dois desejavam ardentemente penetrar o sentido oculto das palavras do Mestre. Como seria possível aquele renascimento?
Não obstante os seus conhecimentos, também partilhavam da perplexidade que levara Nicodemos a se      retirar fundamente surpreendido.



1. – Por que tamanha admiração, em face destas verdades? – perguntou-lhe Jesus, bondosamente 
– As árvores não renascem depois de podadas? Com respeito aos homens, o processo é diferente, mas o espírito de renovação é sempre o mesmo. O corpo é uma veste. O homem é seu dono.
Toda roupagem material acaba rota, porém, o homem, Que é filho de Deus, encontra sempre em seu amor os elementos necessários à mudança do vestuário.
 A morte do corpo é essa mudança indispensável, porque a alma caminhará sempre, através de outras experiências, até que consiga a imprescindível provisão de luz para a estrada definitiva no reino de Deus, com toda a  perfeição conquistada, ao longo dos rudes
caminhos.



2. André sentiu que uma nova compreensão lhe felicitava o
espírito simples e perguntou :
2 – Mestre, já que o corpo é como a roupa material das almas, por que não somos todos iguais no mundo?
Vejo belos jovens, junto de aleijados e paralíticos...
3 – Acaso não tenho ensinado – disse Jesus – que tem de chorar todo aquele que se transforma em instrumento de escândalo? Cada alma conduz consigo mesma o inferno ou o  céu que edificou no âmago da consciência. Seria justo conceder-se uma segunda veste mais perfeita e mais bela ao espírito rebelde que estragou a primeira? Que diríamos da sabedoria de Nosso Pai, se facultasse as possibilidades mais preciosas aos que às utilizaram na véspera para o roubo, o assassínio, a destruição? Os que abusaram da túnica da riqueza vestirão depois as dos fâmulos e escravos mais humildes, como as mãos que feriram podem vir a ser cortadas.
– Senhor, compreendo agora o mecanismo do resgate. – Murmurou
Tiago, externando a alegria do seu entendimento. – Mas, observo que, desse modo, o mundo precisará sempre do clima do escândalo e do sofrimento, desde que o devedor, para saldar seu débito, não poderá fazê-lo sem que outro lhe tome o lugar com a mesma dívida.
O Mestre apreendeu a amplitude da objeção e esclareceu os discípulos, perguntando :



1 – Dentro da lei de Moisés, como se verifica o processo da redenção? 
Tiago meditou um instante e respondeu:
2 – Também na lei está escrito que o homem pagará “olho por olho, dente por dente”.
1 – Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos. –
-Replicou Jesus com generoso sorriso.
1. – Como todos os homens, aliás, tens raciocinado, mas não tens sentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da lei é uma determinação de amor.
Acima do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”, está o “amar a Deus sobre todas as coisas, de todo coração e de todo entendimento”.Como poderá alguém amar ao Pai, aborrecendo-lhe a obra? Contudo, não estranho a exigüidade de visão espiritual com que examinaste o texto dos profetas. Todas as criaturas hão feito o mesmo.Investigando as revelações do céu com o egoísmo que lhes é próprio, organizaram a justiça como o edifício mais alto do idealismo humano. E, entretanto, coloco o amor acima da justiça do mundo e tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados. Se nos prendemos à lei de Talião, somos obrigados a reconhecer que onde existe um assassino haverá, mais tarde, um homem que necessita ser assassinado ; com a lei do amor, porém, compreendemos que o verdugo e a vítima são dois irmãos, filhos de um mesmo Pai. Basta que ambos sigam isso para que a fraternidade divina afaste os fantasmas do escândalo e do sofrimento.



 *** 



Ante as elucidações do Mestre, os dois discípulos estavam
maravilhados. Aquela lição profunda esclarecia-os para sempre. Tiago, então, aproximou-se e sugeriu a Jesus que proclamasse aquelas verdades novas na pregação do dia seguinte. O Mestre dirigiu-lhe um olhar de admiração e interrogou :



 – Será que não compreendeste?
Pois, se um doutor da lei saiu daqui sem que eu lhe pudesse explicar toda a verdade, como queres que proceda de modo contrario, para com a compreensão simplista do espírito
popular? Alguém constrói uma casa iniciando pelo teto o trabalho? Além disso, mandarei mais tarde o Consolador, afim de esclarecer e dilatar os meus ensinos.

Eminentemente impressionados, André e Tiago calaram as derradeiras interrogações. Aquela palestra particular, entre o Senhor e os discípulos, permaneceria guardada na sombra leve da noite em Jerusalém ; mas, a lição a Nicodemos estava dada. A lei da reencarnação estava proclamada para sempre, no Evangelho do Reino .