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Sem necessidade de
comentários, por ser de extrema clareza, trago este texto do livro
CONSTELAÇÃO FAMILIAR, de autoria espiritual de Joanna de Ângelis.
Prefácio
CONSTELAÇÃO
FAMILIAR
A família é a base
fundamental sobre a qual se ergue o imenso edifício da sociedade.
No pequeno grupo
doméstico inicia-se a experiência da fraternidade universal,
ensaiando-se os passos para os nobres cometimentos em favor da
construção da sociedade equilibrada.
Em razão disso,
toda vez que a família se entibia ou se enfraquece a sociedade
experimenta conflitos, abalada nas suas estruturas.
Vive-se, na Terra,
destes dias, injustificável agressão à constelação familiar,
defluente dos transtornos e insatisfações que tomam as mentes e os
corações juvenis.
Aturdidos, ante os
tormentos que vêm assaltando os adultos, alguns, irresponsáveis,
outros, imaturos em
relação aos compromissos graves do lar, que se deixam arrastar
pelas utopias do prazer, em detrimento das bênçãos do dever em
relação à família, desgarram-se, e, sem rumo, atiram-se nos
resvaladouros da alucinação, desesperados,
investindo contra o
instituto doméstico.
A aparente falência
das uniões consagradas pelo matrimônio, assim como a de todas
aquelas que frutesceram em descendentes, não é da família, mas da
desestruturação da ética e da moral, vitimadas pelas mudanças
impostas pelos denominados novos
tempos, nos quais,
escravizando-se às paixões dissolventes, os indivíduos optam pela
ansiosa conquista das coisas e dos fetiches da tecnologia que os
distraem e entorpecem.
A decadência dos
dogmas arbitrários e dos estatutos punitivos estabelecidos por
algumas doutrinas religiosas do passado, que vêm sucumbindo ante os
camartelos da evolução cientifica e experimental, tem facultado
maior espaço para a ampliação do
materialismo
existencialista, centrando no corpo toda a realidade da vida, e
através do seu uso a única oportunidade de desfrutar os gozos, que
logo se consomem ante a presença da morte.
Em assim sendo a
realidade humana, a pressa pela fruição de todas as sensações
possíveis apresenta-se na condição de meta que deve ser alcançada
a qualquer preço, para não se perder a oportunidade de viver bem,
quando o ideal seria bem-viver.
O irrefragável
passar do tempo, cada dia com maior celeridade, em face das complexas
engrenagens existenciais e da busca para a manutenção da vida,
oferece uma visão incorreta em torno da sua dimensão. Aqueles que
se debatem na ambição e se esfalfam pelo ter, pelo poder, pelo
desfrutar, vêem-no rápido demais para atender
a todas as suas
necessidades.
Aqueloutros, que se
encontram em conflitos, irrealizados, enfermos, acreditam que ele não
transcorre como deveria, e sim morosa, dolorosamente...
Como efeito, os
jovens atiram-se nos emaranhados processos de busca do deleite sem
qualquer freio,
enquanto os adultos apresentam os primeiros sinais de cansaço,
tentando renovar programas em favor de novas satisfações, ao tempo
em que os velhos, ante tantas facilidades que não fruíram antes, em
razão dos preconceitos e dos limites impostos na época,
deprimem-se, lamentando o que consideram haver perdido...
Nesse báratro, a
família torna-se um campo de lutas ásperas entre os princípios de
equilíbrio que a devem constituir e as facilidades que proporcionam
correspondência em relação aos desvarios propostos por pensadores
de ocasião e pelas aberrações divulgadas através da mídia
extravagante.
A denominada luta de
gerações, na qual os reais valores da dignificação humana são
ultrajados pelas proposições modernistas do hoje, do aqui e do
agora, favorece a debandada do lar pelos jovens, incapazes ainda de
orientar a existência, de enfrentar os desafios, de viver em
equilíbrio.
lnexperientes e
deseducados, animados mais à astúcia do que à inteligência e à
razão, tornam-se vítimas fáceis das armadilhas que encontram pela
frente, sem as perceber...
Faltando o lar
seguro, buscam organizar tribos e reagem a tudo que os vincule à
estrutura familiar, dando lugar a novos hábitos e a costumes
próprios, matando as imagens ancestrais e construindo a própria
identidade, agressiva e arrogante, estranha e especial, em nome da
liberdade de pensamento e de ação, que o tempo
demonstra frágil e
sem sustentação a longo prazo.
Os pioneiros e
militantes dos movimentos rebeldes dos anos sessenta, hoje
envelhecidos, arrependidos uns, enfermos outros, dependentes da
drogadição ainda outros tantos, sem nos referirmos aos que foram
devorados pelos vícios, pelas enfermidades, que transformaram o
sonho em sofrimento, revêem os programas
fantasiosos e
alucinantes daquela época tomados pela amargura e pelo cansaço...
lncontáveis deles,
incapazes de construir família, mudaram de parceiros conforme os
ventos da sensação e da moda, produziram frutos amargos, na
condição de filhos mais rebeldes e mais insatisfeitos do que eles
próprios, com as exceções compreensíveis, terminando a caminhada
terrestre hoje desacompanhados, pessimistas e tristes.
A família, no
entanto, vem sobrevivendo estoicamente aos golpes que lhe têm sido
desferidos, os códigos de ética, lentamente vêm sendo revividos,
aumentando o número de matrimônios, enquanto diminui o de
divórcios, em respeito à monogamia, a mais elevada expressão do
afeto, no processo da evolução antropossociopsicológica, à
fidelidade e ao respeito pelo outro...
O ser humano é
estruturalmente constituído para viver em família, a fim de
desenvolver os sublimes conteúdos psíquicos que lhe jazem
adormecidos, aguardando os estímulos da convivência no lar, para
liberá-Ios e sublimar-se.
Quando procria com
responsabilidade atinge um dos momentos clímax da existência,
especialmente quando se torna consciente do significado da
progenitura.
Em forma de instinto
que confere aos animais o cuidado com a prole e o seu amparo, no ser
humano essa energia atinge a faixa de sentimento superior, que induz
ao zelo e à proteção, chegando mesmo ao sacrifício em favor da
sua preservação. Quando ocorre
o contrário,
trata-se de uma patologia, um transtorno de natureza psicológica ou
psiquiátrica.
Há, em todas as
formas de vida, essa energia divina que, no ser humano, apresenta-se
em forma de consciência, de discernimento, de razão, de amor, de
sabedoria.
Na família, esse
nobre sentimento encontra campo fértil para desenvolver-se,
felicitando os seres frágeis que reiniciam a jornada, bem como
aqueles que lhes constituem a segurança.
Por essas e muitas
outras razões, a constelação familiar jamais desaparecerá da
sociedade terrestre, dando lugar ao enfermiço egoísmo, pelo
contrário, superando-o com beleza espiritual.
Acompanhando o
processo de evolução que se opera no planeta abençoado, que nos
serve de colo de mãe para o crescimento na direção do Genitor
Divino, reflexionamos por largo período em torno da família e
reunimos, no presente livro, trinta temas que
dizem respeito à
afetividade, ao mecanismo de desenvolvimento espiritual e moral do
ser humano, como singela contribuição em favor da constelação
doméstica.
Reconhecemos a
singeleza das abordagens, a falta de informações que ainda não
tenham sido apresentadas por outros estudiosos das questões
abordadas, porém, considerando a valiosa contribuição do
Espiritismo para o desenvolvimento ético-moral do espírito,
oferecemos nossa modesta cooperação como um pouco do fermento, que
pode fazer crescer a massa que se transformará em pão mantenedor da
vida.
Agradecendo ao
Senhor Jesus pela oportunidade que nos concede de servir na sua
seara, somos sua servidora humílima.
Salvador, noite de
Natal de 2007
Joanna de Ângelis
(*) Com a presente
Obra, homenageamos o Sesquicentenário da Revista Espírita (Revue
Spirite), publicada pelo egrégio Codificador do Espiritismo, Allan
Kardec, em Paris, França, no dia 1° de janeiro de 1858.