terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Kardec e Ubaldi - Vamos estudar



Transcrito do Site https://www.crbbm.org/arquivo.html 


KARDEC E PIETRO UBALDI

Nossa Doutrina é eminentemente progressiva, conforme preconizado amplamente pelo seu Codificador, Allan Kardec. Temos em nosso DNA uma aversão natural à ortodoxia, ao congelamento do pensamento em função das tradições que desconsideram a lei natural do progresso.
Nossos valores, no entanto, são eternos, posto que fincados na solidez rochosa dos princípios cristãos. Precisam apenas ser lembrados, continuamente, às novas gerações de espíritas, para que sua chama nunca se apague.
Dentre esses valores, dois parecem-nos de extrema atualidade, nesse tempo de "patrulhas ideológicas" e debates acalorados:
a) LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA - o espírita sabe que deve respeitar, por princípio, todas as formas de pensamento, mesmo as que lhe contraditam as ideias e o modo de ser, como decorrência natural do "fazer ao próximo o que gostarias que lhe fizessem";
b) MODERAÇÃO - o segundo, tão complementar ao primeiro que lhe serve de perfeito contraponto, como a outra face da mesma moeda, salienta a importância da boa fundamentação de suas próprias opiniões, por parte dos espíritas, para que por esse modo de façam respeitar em qualquer debate, marcadamente pela seriedade, sobriedade e consistência de suas manifestações.
"Seja o vosso falar sim, sim, não, não" - ensinou-nos o Cristo (Mt. 5:37).
Kardec reitera essas recomendações e dá delas o exemplo ao longo de toda a sua trajetória e em todos os seus textos, tanto na Codificação quanto na Revista Espírita:
"Respeitamos vossa opinião, respeitai a nossa. Eis tudo quanto vos pedimos". ("Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas - Allan Kardec - Introdução)
"Já vos disse, senhor, não tenho a pretensão de vos fazer adotar a minha opinião; respeito a vossa, se é sincera, como desejo que respeiteis a minha". (O que é o Espiritismo - Allan Kardec, – O Crítico, pág. 53 da 37a ed. FEB)
"Àquele que nos procura como irmão, nós o acolhemos como tal; ao que nos repele, deixamo-lo em paz. [...] O Espiritismo não se impõe, porque, como vo-lo disse — respeita a liberdade de consciência; [...] Ele expõe seus princípios aos olhos de todos, de modo a cada um poder formar opinião segura. (O que é o Espiritismo - Allan Kardec, – O Padre, pág. 124 da 37a ed. FEB)
Julgar o que não se conhece é falta de lógica" (Revista Espírita, 1858, Fev - Pág.100 da Ed. FEB)
Imprudente é se inscreverem em falso contra as coisas que não compreendem”. (Revista Espírita, 1858, Out - Pág. 420 da Ed. FEB)
"E de lógica elementar que o crítico conheça, não superficialmente, mas, a fundo, aquilo de que fala, sem o que, sua opinião não tem valor". (O que é o Espiritismo - Allan Kardec, – O Crítico, pág. 55 da 37a ed. FEB)

Ocorre-nos a lembrança desses pontos a propósito de uma publicação recente do confrade Rafael Van Erven Ludolf, do valoroso Grupo Espírita Servidores de Jesus, de Niterói, trazendo para as redes sociais um texto magnifíco, de autoria do nosso inesquecível CARLOS TORRES PASTORINO (vide sua biografia em nossa página Sal da Terra), um dos maiores estudiosos dos Evangelhos que este país já teve e que serve até hoje de prefácio para o volume "O Sistema", de Pietro Ubaldi.
O texto de Pastorino é um exemplo perfeito do cuidado que devemos ter com a emissão de nossas opiniões, e do valor crescente que elas terão, a qualquer tempo, quando bem fundamentadas, consolidadas através de um estudo sério e prolongado sobre o que se pretende comentar.
Segue abaixo, portanto, reproduzido integralmente, e cremos que dispensa comentários adicionais, de nossa parte, pela elegância, clareza e firmeza com que demonstra, tão bem, a relação de continuidade e complementariedade existente entre as obras de Kardec e Ubaldi, tão conhecidas daqueles que as estudam longa e sistematicamente.
Aos nossos amigos do Servidores de Jesus, a nossa gratidão, pela lembrança de tão genuíno exemplo destes dois valores, que nos são tão caros, e que não podemos perder...

IMPRESSÃO

Terminada a tradução da obra, O Sistema, de Pietro Ubaldi, feita com a alegria imensa do garimpeiro que vai descobrindo em cada nova linha uma pepita de ouro do mais puro, não me contenho em rascunhar a impressão que me ficou dessa leitura meditada, do estudo dessa revelação nova trazida a nós em plena segunda metade do século XX. Desde a infância, o estudo desses problemas, através das obras da Teologia Católica, primeiramente, e mais tarde através das publicações oficiais do Espiritismo, do Protestantismo, da Teosofia, do Esoterismo, da Antroposofia, dos Rosa-Cruzes, das obras mais antigas da Índia, do Egito e da China, o estudo de tudo isto deu-me uma impressão de incerteza e de tateamento, ou então de afirmativas sem bases no campo racional. Não há, em todas essas doutrinas, respeitabilíssimas sem dúvida, porque representam o labor da mente concreta que busca o conhecimento através de suas próprias forças – não há uma unidade completa que una tudo numa única visão de conjunto.
Por isso, através da leitura estudada e meditada da obra de Ubaldi, cheguei à conclusão de que o universo é de fato um todo único, cujo centro é Deus. E, completando a maravilhosa e inspirada A Grande Síntese com o volume Deus e Universo, vislumbrei certos aspectos novos. No entanto, o segundo volume citado está demais conciso e alto, não me permitindo à parca inteligência, a compreensão total da grandiosidade ali exposta. Neste volume, entretanto, a explicação é cabal e acessível a todas as inteligências, mesmo as medianas, como a de quem está escrevendo, e as provas são de tal forma completas e irrespondíveis, que pouco haverá que acrescentar a isso, nessa época. Talvez mais tarde se possa dizer algo mais. Mas, no momento, não vemos o que acrescentar ao que aqui se encontra.
O Sistema é um livro ótimo, lógico e claro. Trata-se, em minha insignificante opinião, de completo curso ou tratado de Teologia cosmogônica, uma Teologia Nova, que vem cortar pela raiz todas as elucubrações puramente humanas, esclarecendo os pontos obscuros, revelando todos os mistérios incompreensíveis e inaceitáveis à mente hodierna. As teologias antigas, que pararam no tempo e no espaço, por se terem tornado dogmáticas e não mais admitirem pesquisas, reagirão, sem dúvida, a esta intromissão em seu terreno. Mas a humanidade está em evolução perene, e não seria compreensível que a parte mais nobre e elevada da humanidade, que é o pensamento e a sabedoria, parassem nos séculos remotos, enquanto a parte inferior, material, estivesse, como está, progredindo a passos gigantescos.
Neste Tratado Teológico, encontramos um Deus perfeitamente aceitável por Sua grandeza, ao invés daquele Deus mesquinho que trazia sempre bombons na mão direita para premiar e um chicote na esquerda para castigar, como qualquer capataz irritadiço e vulgar. Revela-nos uma finalidade à existência, ao invés de um paraíso de ociosidade inútil e egoísta, em que as criaturas ficarão por toda a eternidade gozando ao ver seus entes queridos sofrendo horrorosamente um inferno infindável.
A teoria da queda e da reabilitação dos espíritos é tão lógica que temos a impressão que ela guiará o mundo espiritualizado de amanhã, esclarecendo os pontos obscuros e dando direção à evolução da humanidade, que hoje se debate em problemas sem solução. É um Tratado de Teologia nova e ao mesmo tempo um Tratado de Filosofia Universalista Unitária, que nos apresenta, como um todo único, um só corpo cuja cabeça é Cristo. A segurança de raciocínio jamais abandona o autor a especulações vazias, mas o leva a provas sólidas, em matéria difícil e complexa. É a única teoria que conhecemos, que pode satisfazer o intelecto, a razão e mesmo o coração, porque explica logicamente tudo o que se passa neste mundo. Filosofia, física, química, biologia, sociologia, moral, tudo é examinado conscienciosamente, com minúcias que esgotam o assunto, com inflexibilidade irrespondível, com segurança e acerto.
A parte mais alta do livro O Sistema é constituída pelo capítulo XX, quando o autor nos dá a terceira interpretação da visão. Esta é de uma clareza deslumbrante. Inegavelmente trata-se, nesta obra, de uma revelação descida do Alto, que nos vem trazer luz acerca de problemas que a mente humana, por si só não poderia resolver.
Perguntam-me alguns confrades, como posso aceitar a teoria de Pietro Ubaldi, sendo, como sou, espírita adepto de Allan Kardec. Confesso não ver nenhuma contradição entre as duas teorias.
 
Para quem lê Kardec superficialmente, detendo-se nas palavras impressas, a teoria de Pietro Ubaldi pode parecer "herética". Mas aos que lêem o mestre penetrando as entrelinhas das respostas dos espíritos, tão sábias e profundas, nada lhes parece de contráditório.
Em primeiro lugar, Allan Kardec tentou penetrar nesse terreno. Todavia os espíritos não lhe deram a resposta ansiada. Podemos encontrar no Livro dos Espíritos a pergunta 39: "Podemos conhecer o modo de formação dos mundos"? E a resposta dos espíritos: "Tudo o que a esse respeito se pode dizer e podeis compreender é que os mundos se formam pela condensação da matéria disseminada no espaço". Não é o que diz Pietro Ubaldi, no capítulo XX? A origem dos universos foi uma "contração", em que o espírito ficou aprisionado dentro da matéria.
Em segundo lugar, o próprio Kardec afirma não ter dito a última palavra, mas apenas a primeira. E que todas as teorias por ele trazidas deveriam ser desenvolvidas à proporção que a ciência progredisse.
Em terceiro lugar, Allan Kardec preocupa-se com o problema da evolução, a partir da matéria primitiva, sem cogitar do que havia ocorrido antes. Ou seja, começa do mesmo modo em que a Bíblia e do mesmo ponto em que A Grande Síntese iniciaram o estudo: a subida evolutiva dos seres encarnados. Evidentemente, partiram todos da "matéria", ou seja, dos átomos, cuja concentração formou os universos. Nesse ponto – o infinito negativo, o ponto de chegada da involução, a concentração máxima do espírito – era evidente que "todos os espíritos eram simples e ignorantes" (pergunta 115). Entretanto, é evidente a confusão da palavra "espírito", no sentido de "princípio espiritual" com o sentido de espírito humano. Mas as próprias respostas dos espíritos e Allan Kardec classificam a origem, pesquisada agora por Pietro Ubaldi, como "mistério": "a origem deles é mistério" (Pergunta 81). E pouco antes: "Quanto ao modo pelo qual nos criou e em que momento o fez, nada sabemos" (Pergunta 78).
Dentro do próprio Livro dos Espíritos, contudo, encontramos em esboço muito rápido e leves pinceladas, a confirmação da teoria ubaldiana. Pergunta Kardec: "Donde vieram para a Terra os seres vivos"? Resposta: "A Terra lhes continha os germes, que aguardavam momento favorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se congregaram (teoria das "unidades coletivas"), desde que cessou a atuação da força que os mantinha afastados" (Pergunta 44). Não é o que diz Pietro Ubaldi?
Mas, acima de tudo, está de pé a resposta à pergunta 540, no fim: "É assim que tudo serve, tudo se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!"
Nada mais cremos seja precioso para provar que a teoria exposta por Pietro Ubaldi, em sua revelação, nada tem de contraditório com a doutrina codificada por Allan Kardec. Antes, vem completá-la e explicá-la, levantando o véu daquele mistério que, há um século, os espíritos julgaram oportuno deixar ainda envolvendo a origem da vida. E isto porque os homens daquela época "ainda não podiam entender" essa origem, pois a ciência não havia demonstrado que matéria é apenas a condensação da energia, e esta a descida das vibrações do espírito. A frase final da resposta à pergunta nº 83 nos revela bem que Allan Kardec, incontestável mestre codificador, não pôde receber dos espíritos uma doutrina completa, porque o ambiente terrestre ainda não estava preparado. 
Lemos aí: "É tudo o que podemos, por agora, dizer". Então, há mais coisas a dizer, mas não podiam ser ditas, tal como ocorreu quando Jesus disse a seus apóstolos: "Muitas coisas vos tenho a dizer, mas não as podeis suportar agora" (João, 16:12). Por que então condenaremos a teoria de Pietro Ubaldi, se ela sem contradizer nem Kardec, nem Jesus, vem trazer-nos luz a respeito de coisas que nem um nem outro nas haviam revelado? O fato concreto, sob nossa vista, é que a teoria exposta mediante revelação e inspiração por Pietro Ubaldi satisfaz integralmente a todas as indagações científicas, psíquicas, filosóficas, teológicas e espirituais que possamos fazer-nos. Assim sendo, temos que lealmente aceitá-la, até prova em contrário; mas prova que traga argumentos e fatos, experimentações e demonstrações, e não apenas citações do "magister dixit". Hoje o método científico tem de prevalecer para satisfazer tanto à mente concreta quanto à abstrata, tanto à razão quanto à intuição, tanto à inteligência quanto à sensibilidade.
A obra é de suma importância e finca no mundo um marco que dificilmente será removido. Poderá ser mais bem explicado e desenvolvido seu ponto de vista, poderá mesmo ser modificado em seus aspectos secundários. Mas o âmago do problema foi equacionado brilhantemente, e daí poderemos partir para posteriores e maiores pesquisas e buscas. Compete agora ao homem de amanhã essa parte. Mas este já encontrará uma base onde se apoiar, um alicerce sobre o qual poderá erguer novos edifícios. E era isto, justamente, o que faltava à humanidade de hoje, que nada podia edificar em terrenos movediços de mistérios, sobre abismos sem fundo de desconhecimentos confessados. Tudo, dentro da relatividade humana, foi explicado em termos científicos e lógicos. Foi-nos mostrado, com dificuldade por causa da pobreza da linguagem humana, o que a mente do homem perquiria há milênios, e que nos fora dito várias vezes, mas sempre com palavras ocultas, cheias de subentendimentos, que a mente comum não conseguia penetrar.
Para a filosofia e a teologia, este volume constitui um dos mais importantes tratados que já apareceram publicados na face da Terra. É uma luz nova que se levanta no horizonte, um novo sol que vem iluminar as mentes e aquecer os corações, sequiosos de sabedoria e de amor. Porque nele se revelam, em Sua plenitude infinita, a Sabedoria e o Amor de Deus, como centro de tudo, como Seu pensamento a constituir atmosfera psíquica "em que vivemos, nos movemos e existimos (…) porque Dele também somos gerados" (Atos, 17:28)
Carlos Torres Pastorino - Rio, 5 de Julho de 1957


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Genética Espiritual - por Emmanuel


Publicada no livro "Esperança e Luz" 
Psicografia de Chico Xavier.

Genética Espiritual

É lamentável o dogmatismo estreito das escolas científicas da Terra que teimam em não reconhecer, no seu patrimônio, uma série de conhecimentos instáveis, mesmo porque humanos, saturados da relatividade a que se subordinam todos os fenômenos do planeta. Esclarecidas pelas verdades do Espiritismo, a biologia, a química, a física, e a medicina, no futuro, renovarão as suas concepções, investigando o complicado problema das origens, considerando-se, todavia, que a humanidade somente poderá intensificar as suas aquisições evolutivas, quando buscar desenvolver a sua visão espiritual, dentro da ascensão moral na virtude e no conhecimento. 


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Vós outros, os encarnados, sois os primeiros a observar as maravilhas já descobertas, entretanto, bem sabeis que o homem material terá sempre um limite para as suas perquirições do invisível. *** Esse limite reside na estrutura do seu olho, cuja potencialidade visual está em correspondência direta com a sua capacidade de conhecimento. Esse “homem material” já conseguiu muito e é louvável todo o seu esforço, na elucidação de todos os problemas da vida. *** No capitulo da biologia, a teoria dos “genes” tem a sua importância no drama biológico e a hereditariedade física tem o seu incontestável ascendente no seio das espécies da natureza. Ai está, contudo, um campo imenso, onde os estudiosos materialistas somente poderão se socorrer das hipóteses inverossímeis, caso persistam em se conservar longe das verdades imutáveis do Espírito. 

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A ciência poderá equilibrar os elementos da gênese profunda dos seres, mas esbarrará sempre com a claridade espiritual que se irradia de todos esses movimentos, ordenados dentro de certa matemática, estranha aos homens e independente de sua colaboração. *** A ciência terrestre, afinal, poderá especializar as suas atividades, surpreendendo novos compêndios e catalogando novos valores nos seus centros de estudo, mas não será realizado um trabalho mais sério, em benefício da alma humana, sem espiritualizar o homem. É esse “homem espiritual” do porvir que poderá alçar vôos mais altos, porquanto não terá a sua visão adstrita às reduzidas possibilidades do olho humano. Seu campo de ação será vastíssimo, abrangendo o infinito, de cuja grandeza insondável participará naturalmente, pelos caminhos evolutivos.


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Os cientistas do mundo deveriam estar atentos para com os imperativos dessa “genética espiritual”, cujas lições e cujas sínteses se encontram aí no orbe totalmente no problema da educação individual e na cultura dos sentimentos.

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Sem o estudo desses “genes espirituais” que constituirão as células da nova organização social do futuro, no elevado plano moral das criaturas, os estudiosos e os seus compêndios não sairão das discussões esterilizadoras, no abismo das hipóteses em que se submergiram. A nossa preocupação atual caracteriza-se no esforço de formarmos o maior número de corações para a grande causa. Os espiritistas sinceros são os colaboradores da nossa tarefa humilde e simples, cujo êxito requer o máximo de boa vontade. Coloquemos mão à obra e, enquanto os nossos irmãos estudam e analisam as células orgânicas, procurando estabelecer o equilíbrio e determinar a distribuição dos “genes” pelos corpos, organizaremos a nova genética dos seres, trabalhando pela edificação do “homem espiritual” do futuro, quando então a palavra do Divino Mestre apresentará uma claridade nova para todos os corações.

Emmanuel
(Página recebida em 02 de fevereiro de 1938, em Pedro Leopoldo, Minas)