domingo, 16 de agosto de 2020

Homens são Espíritos que estão na matéria - cada um no seu momento

 Meus irmãos,

Este é um pequeno estudo que trago do capítulo I do livro “A Gênese”, da Codificação Espírita.

Há alguns dias lí sobre o relato de um caso sobre um irmão nosso, encarnado que tinha vidência. Ele notou que um desencarnado frequentemente estava próximo dele e acostumou-se à sua presença e proximidade.

As condições permitiram e ele adquiriu um carro e passou a usá-lo para ir ao trabalho, passeios etc. As conversas entre os dois eram constantes pois quase sempre o desencarnado o acompanhava no carro.

Acreditando que o desencarnado tinha uma  visão maior, ele costumava a tomar sua opinião até mesmo no trânsito e um dia, na estrada, tinha uma ponte que só cabia um veículo por vez e a estrada era de sentido duplo e vendo que tinha um caminhão no sentido contrário, ele perguntou  ao  desencarnado: será que dá pra ir? E o outro  respondeu que dava. Mas a realidade era outra, o caminhão também entrou na ponte e a velocidade dos dois não permitia pararem e o desencarnado falou:

É.. acho que não vai dar!

Então, este capítulo tem ensinamentos que nos esclarecem sobre este assunto e se por acaso nosso irmão o conhecesse, procederia de maneira diferente, porque os Espíritos seguem tal qual estão, muitos deles passam por provações enquanto encarnados e readquirem aos poucos a  consciência, saídos de uma condição em que tinham os sentidos empanados por uma condição cármica ou de missão junto a familiares encarnados que dele necessitavam para desenvolver alguma carência moral, porém uma boa parte deles está mesmo em trabalho de aprendizado e,

portanto, não possui saber que domine todas as habilidades ou conhecimentos para poder aconselhar e também devemos ter em mente que nossos irmãos desencarnados mais adiantados nos mostram o caminho para que

caminhemos por nossos próprios passos porque se fosse diferente estariam na condição de usuários de nossas organizações físicas e modificando totalmente a finalidade da encarnação, conforme nos esclareceram os Espíritos da Codificação nas questões 132 e 133  do Livro dos Espíritos.

DO CAPÍTULO I DE “A GÊNESE”

CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA

57. - Uma das questões mais importantes, entre as propostas no começo deste capítulo, é a seguinte:

Que autoridade tem a revelação espírita, uma vez que emana de seres de limitadas luzes e não infalíveis?

A objeção seria ponderosa, se essa revelação consistisse apenas no ensino dos Espíritos, se deles exclusivamente a devêssemos receber e houvéssemos de aceitá-la de olhos fechados.

Perde, porém, todo valor, desde que o homem concorra para a revelação com o seu raciocínio e o seu critério; desde que os Espíritos se limitam a pô-lo no caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos.

Ora, as manifestações, nas suas inumeráveis modalidades, são fatos que o homem estuda para lhes deduzir a lei, auxiliado nesse trabalho por Espíritos de todas as categorias, que, de tal modo, são mais colaboradores seus do que reveladores, no sentido usual do termo.

Ele lhes submete os dizeres ao cadinho da lógica e do bom senso: desta maneira se beneficia dos conhecimentos especiais de que os Espíritos dispõem pela posição em que se acham, sem abdicar o uso da própria razão.

Sendo os Espíritos unicamente as almas dos homens, comunicando-nos com eles não saímos fora da Humanidade, circunstância capital a considerar-se.

Os homens de gênio, que foram fachos da Humanidade, vieram do mundo dos Espíritos e para lá voltaram, ao deixarem a Terra. 

Dado que os Espíritos podem comunicar-se com os homens, esses mesmos gênios podem dar-lhes instruções sob a forma espiritual, como o fizeram sob a forma corpórea. Podem instruir-nos, depois de terem morrido, tal qual faziam quando vivos; apenas, são invisíveis, em vez de serem visíveis; essa a única diferença. Não devem ser menores do que eram a experiência e o saber que possuem e, se a palavra deles, como homens, tinha autoridade, não na pode ter menos, somente por estarem no mundo dos Espíritos.

58. - Mas, nem só os Espíritos superiores se manifestam; fazem-no igualmente os de todas as categorias e preciso era que assim acontecesse, para nos iniciarmos no que respeita ao verdadeiro caráter do mundo espiritual, apresentando-se-nos este por todas as suas faces. Daí resulta serem mais íntimas as relações entre o mundo visível e o mundo invisível e mais evidente a conexidade entre os dois. Vemos assim mais claramente donde procedemos e para onde iremos. Esse o objeto essencial das manifestações. Todos os Espíritos, pois, qualquer que seja o grau de elevação em que se encontrem, alguma coisa nos ensinam; cabe-nos, porém, a nós, visto que eles são mais ou menos esclarecidos, discernir o que há de bom ou de mau no que nos digam e tirar, do ensino que nos dêem, o proveito possível. Ora, todos, quaisquer que sejam, nos podem ensinar ou revelar coisas que ignoramos e que sem eles nunca saberíamos.

59. - Os grandes Espíritos encarnados são, sem contradita, individualidades poderosas, mas de ação restrita e de lenta propagação.

Viesse um só dentre eles, embora fosse Elias ou Moisés, Sócrates ou Platão, revelar, nos tempos modernos, aos homens, as condições do mundo espiritual, quem provaria a veracidade das suas asserções, nesta época de cepticismo?

 Não o tomariam por sonhador ou utopista?  

Mesmo que fosse verdade absoluta o que dissesse, séculos se escoariam antes que as massas humanas lhe aceitassem as idéias. Deus, em sua sabedoria, não quis que assim acontecesse; quis que o ensino fosse  dado pelos próprios Espíritos, não por encarnados, a fim de que aqueles convencessem da sua existência a estes últimos e quis que isso ocorresse por toda a Terra simultaneamente, quer para que o ensino se propagasse com maior rapidez, quer para que, coincidindo em toda parte, constituísse uma prova da verdade, tendo assim cada um o meio de convencer-se a si  próprio.

60. - Os Espíritos não se manifestam para libertar do estudo e das pesquisas o homem, nem para lhe transmitirem, inteiramente pronta, nenhuma ciência. Com relação ao que o homem pode achar por si mesmo, eles o deixam entregue às suas próprias forças. Isso sabem-no hoje perfeitamente os espíritas.

De há muito, a experiência há  demonstrado ser errôneo atribuir-se aos Espíritos todo o saber e toda a sabedoria e supor-se que baste a quem quer que seja dirigir-se ao primeiro Espírito que se apresente para conhecer todas as coisas. Saídos da Humanidade, eles constituem uma de suas faces. Assim como na  Terra, no plano invisível também os há superiores e vulgares; muitos, pois, que, científica e filosoficamente, sabem menos do que certos homens; eles dizem o que sabem, nem mais, nem menos. Do mesmo modo que os homens, os Espíritos mais  adiantados  podem instruir-nos sobre maior porção de coisas, dar-nos opiniões mais judiciosas, do que os atrasados.

Pedir o homem conselhos aos Espíritos não é entrar em entendimento com potências sobrenaturais; é tratar com seus iguais, com aqueles mesmos a quem ele se dirigiria neste mundo; a seus parentes, seus amigos, ou a indivíduos mais esclarecidos do que ele. Disto é que importa se convençam todos e é o que ignoram os que, não tendo estudado o Espiritismo, fazem ideia completamente falsa da natureza do mundo dos Espíritos e das relações com o além-túmulo.

61. - Qual, então, a utilidade dessas manifestações, ou, se o preferirem, dessa revelação, uma vez que os Espíritos não sabem mais do que nós, ou não nos dizem tudo o que sabem?

Primeiramente, como já o declaramos, eles se abstém de nos dar o que podemos adquirir pelo trabalho; em segundo lugar, há coisas cuja revelação não lhes é permitida, porque o grau do nosso adiantamento não as comporta.

Afora isto, as condições da nova existência em que se acham lhes dilatam o círculo das percepções: eles vêem o que não viam na Terra; libertos dos entraves da matéria, isentos dos cuidados da vida corpórea, apreciam as coisas de um ponto de vista mais elevado e, portanto, mais são; a perspicácia de que gozam abrange mais vasto horizonte; compreendem seus erros, retificam suas idéias e se desembaraçam dos prejuízos humanos.

É nisto que consiste a superioridade dos Espíritos com relação à humanidade corpórea e dai vem a possibilidade de serem seus conselhos, segundo o grau de adiantamento que alcançaram, mais judiciosos e desinteressados do que os dos encarnados. O meio em que se encontram lhes permite, ao demais, iniciar-nos nas coisas, que ignoramos, relativas à vida futura e que não podemos aprender no meio em que estamos. Até ao presente, o homem apenas formulara hipóteses sobre o seu porvir; tal a razão por que suas crenças a esse respeito se fracionaram em tão numerosos e divergentes sistemas, desde o nadismo até as concepções fantásticas do inferno e do paraíso. Hoje, são as testemunhas oculares, os próprios atores da vida de além-túmulo que nos vêm dizer em que se tornaram e só eles o podiam fazer.

Suas manifestações,   conseguintemente, serviram para dar-nos a conhecer o mundo invisível que nos rodeia e do qual nem suspeitávamos e só esse conhecimento seria de capital importância, dado mesmo que nada mais pudessem os Espíritos ensinar-nos.

Se fordes a um país que ainda não conheçais, recusareis as informações que vos dê o mais humilde campônio que encontrardes?

Deixareis de interrogá-lo sobre o estado dos caminhos, simplesmente por ser ele um camponês?

Certamente não esperareis obter, por seu intermédio, esclarecimentos de grande alcance, mas, de acordo com o que ele é na sua esfera, poderá, sobre alguns pontos, informar-vos melhor do que um sábio, que não conheça o pais.

Tirareis das suas indicações deduções que ele  próprio não tiraria, sem que por isso deixe de ser um instrumento útil às vossas observações, embora apenas servisse para vos informar acerca dos costumes dos camponeses. Outro tanto se dá no que concerne às nossas relações com os Espíritos, entre os quais o menos qualificado pode servir para nos ensinar alguma coisa.

62. - Uma comparação vulgar tornará ainda melhor compreensível a situação.

Parte para destino longínquo um navio carregado de emigrantes. Leva homens de todas as condições, parentes e amigos dos que ficam. Vem-se a saber que esse navio naufragou. Nenhum vestígio resta dele, nenhuma noticia chega sobre a sua sorte.

Acredita-se que todos os passageiros pereceram e o luto penetra em todas as suas

famílias. Entretanto, a equipagem inteira, sem faltar um único homem, foi ter a uma ilha desconhecida, abundante e fértil, onde todos passam a viver ditosos, sob um céu clemente.

Ninguém, todavia, sabe disso. Ora, um belo dia, outro navio aporta a essa terra e lá encontra sãos e salvos os náufragos. A feliz nova se espalha com a rapidez do relâmpago.

Exclamam todos: «Não estão perdidos os nossos amigos!» E rendem graças a Deus. Não podem ver-se uns aos outros, mas correspondem-se; permutam demonstrações  de afeto e, assim, a alegria substitui a tristeza.

Tal a imagem da vida terrena e da vida de além-túmulo, antes e depois da revelação moderna. A última, semelhante ao segundo navio, nos traz a boa nova a sobrevivência dos que nos são caros e a certeza de que a eles nos reuniremos um dia. Deixa de existir a dúvida sobre a sorte deles e a nossa. O desanimo se desfaz diante da esperança.

Mas, outros resultados fecundam essa revelação. Achando madura a Humanidade para penetrar o mistério do seu destino e contemplar, a sangue- frio, novas maravilhas, permitiu Deus fosse erguido o véu que ocultava o mundo invisível ao mundo visível.

Nada têm de extra-humanas as manifestações; é a humanidade espiritual que vem conversar com a humanidade corporal e dizer-lhe:

«Nós existimos, logo o nada não existe; eis o que somos e o que sereis; o futuro vos pertence, como a nós. Caminhais nas trevas,

vimos clarear-vos o caminho e traçar-vos o roteiro; andais ao acaso, vimos apontar-vos a meta. A vida terrena era, para vós, tudo, porque nada víeis além dela; vimos dizer-vos, mostrando a vida espiritual: a vida terrestre nada é. A vossa visão se detinha no túmulo, nós vos desvendamos, para lá deste, um esplêndido horizonte. Não sabíeis por que sofreis na Terra; agora, no sofrimento, vedes a justiça de Deus.

O bem nenhum fruto aparente produzia para o futuro. Doravante, ele terá uma finalidade e constituirá uma necessidade; a fraternidade, que não passava de bela teoria, assenta agora numa lei da Natureza. Sob o domínio da crença de que tudo acaba com a vida, a imensidade é o vazio, o egoísmo reina soberano entre vós e

a vossa palavra de ordem é: Cada um por si.

Com a certeza do porvir, os espaços infinitos se povoam ao infinito, em parte alguma há o vazio e a solidão; a solidariedade liga todos os  seres, aquém e além da tumba. É o reino da caridade, sob a divisa: Um por todos e todos por um. Enfim, ao termo da vida, dizíeis eterno adeus aos que vos são caros; agora, dir-lhes-eis: Até breve!»

Tais, em resumo, os resultados da revelação nova, que veio encher o vácuo que a incredulidade cavara, levantar os ânimos abatidos pela dúvida ou pela perspectiva do  nada e imprimir a todas as coisas uma razão de ser.

Carecerá de importância esse resultado, apenas porque os Espíritos não vêm resolver os problemas da Ciência, dar saber aos ignorantes e aos preguiçosos os meios de se enriquecerem sem trabalho? Nem só, entretanto, à vida futura dizem respeito os frutos que o homem deve colher dela. Ele os saboreará na Terra, pela  transformação que estas novas crenças hão de necessariamente

operar no seu caráter, nos seus gostos, nas suas tendências e, por conseguinte, nos hábitos e nas relações sociais. Pondo fim ao reino do egoísmo, do orgulho e da

incredulidade, elas preparam o do bem, que é o reino de Deus, anunciado pelo Cristo. (1)

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(1) A anteposição do artigo à palavra Cristo (do grego Cristos, ungido), empregada em sentido absoluto, é mais correta, atento que essa  palavra não é o nome do Messias de Nazaré, mas uma qualidade tomada substantivamente.

Dir-se-á, pois: Jesus era Cristo; era o Cristo; era o Cristo anunciado; a morte do Cristo e não de Cristo, ao passo que se diz: a morte de Jesus e não do Jesus. Em Jesus-Cristo, as duas palavras reunidas formam um só nome próprio. É pela mesma razão que se diz: o  Buda; Gautama conquistou a dignidade de Buda por suas virtudes e austeridades. Diz-se:

a vida do Buda, do mesmo modo que: o exército do Faraó e não de Faraó; Henrique IV era rei; o titulo de rei; a morte do rei e não de rei.