sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vampirismo, homossexualidade, incubus e sucubus




Capítulo 8 
O Vampirismo

A obsessão é uma infestação da alma, semelhante à infecção do corpo carnal, produzida por vírus e bactérias.

A alma é o espírito enquanto encarnado. Morto o corpo, a alma se liberta e reassume a sua condição livre de espírito.
Dessa maneira, no Espiritismo não existe a chamada alma do outro mundo.

O espírito encarnado torna-se alma de um corpo.

Dizia o Padre Vieira, nos seus sermões:
"Quereis ver o que é a alma? Olhai um corpo sem alma".

Tinha razão o grande pregador. Sai a alma do corpo e só temos o cadáver. Mas enquanto se acha no corpo, encarnada, a alma está sujeita à infestação produzida por espíritos inferiores.

O Dr. Karl Wikland abriu em Nova York, há mais de trinta anos, uma clínica especial para obsessões. Sua esposa era médium e lhe servia ao mesmo tempo de enfermeira e pneumoscópio. Observava os clientes pela vidência e dava o diagnóstico ao marido. O Dr. Wikland publicou um livro curioso, intitulado 30 Anos entre os Mortos, no qual relatou os casos surpreendentes da sua clínica. Todos sofriam de infestação, ou seja, de vários tipos de obsessão por espíritos.

Kardec classificou a obsessão em três categorias:
obsessão simples,
subjugação e
fascinação.

- O primeiro tipo se caracteriza por perturbações mentais e alterações de comportamento, sem muita gravidade.

- O segundo, pelo domínio do corpo, produzindo-lhe os chamados tiques nervosos e sujeitando-o a atitudes ridículas em público.

 - O terceiro consiste no domínio hipnótico de corpo e alma, através de um processo de fascinação que deforma a personalidade. É uma escala simples, como Kardec gostava de fazer para não complicar as coisas. O importante, para Kardec, não era dar nome aos fatos, mas encontrar o meio de resolvê-los.

Nos relatos publicados na Revista Espírita Kardec nos oferece uma visão assustadora dos processos obsessivos no seu tempo, há mais de um século.

O Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, médico e senador do Império, e posteriormente o Dr. Inácio Ferreira, diretor clínico do Hospital Espírita de Uberaba. publicaram importantes trabalhos sobre os processos obsessivos no Brasil.
Essas obras,
A Loucura sob Novo Prisma, de Bezerra, e
Novos Rumos à Medicina, de Inácio Ferreira.

Infelizmente, o nosso meio médico-espírita não foi muito além disso. O crescimento assustador dos casos de obsessão fez surgir, só no Estado de São Paulo, mais de trinta Hospitais Psiquiátricos Espíritas, hoje reunidos numa Federação, e mais de vinte nos demais Estados. Mas ainda não temos uma Psiquiatria Espírita cientificamente estruturada. A massa das ocorrências obsessivas continua sobrecarregando os Centros e Grupos Espíritas, nos quais colaboram alguns médicos abnegados.

A Medicina oficial se mostra hostil e aproveita-se dos organismos estatais para fazer pressão contra as práticas mediúnicas, chegando ao cúmulo de proibir trabalhos de desobsessão nos próprios hospitais espíritas.

O desenvolvimento da Parapsicologia, que poderia contribuir para dar um pouco de claridade a esse quadro sombrio, foi tumultuado entre nós pela baderna sectária de padres gananciosos e ignorantes, que conseguiram desinteressar as áreas universitárias, temerosas de tratar do assunto.

Um médico e intelectual paulista de renome chegou a publicar artigos contra a criação de hospitais espíritas, batendo na velha tecla reacionária da sua pianola de superstições.

Afirmou, com toda a sua sapiência, que os espíritas fabricam loucos e depois, levados pela dor de consciência, fundam hospitais para loucos. Não podia compreender que os hospitais espíritas são frutos do abandono em que se encontra a imensa massa de obsedados, entregues à violenta terapêutica de tóxicos e choques elétricos. Na maioria absoluta estão entregues a si mesmos, no delírio ambulatório dos Centros Espíritas, sem recursos e perseguidos, e dos consultórios psiquiátricos materialistas.

Nesse panorama desolador proliferam os terreiros do sincretismo com suas defumações à pólvora, seus exorcismos leigos e sua terapêutica de herbanários, apoiada nos ritos selvagens do sangue de galinhas pretas e gatos pretos. Pelo menos em defesa desses animais inocentes, é necessário que o nosso meio espírita reaja, pondo um pouco de lado os inócuos processos de uma reforma íntima artificial e ilusória, para lutar contra a falta absoluta de assistência terapêutica adequada aos casos de obsessão.
O que vai por aí de clínicas parapsicológicas papa-notas ameaça-nos de um dilúvio de charlatanice.

São os espíritas, que conhecem de perto essa situação e as suas ameaças, os que devem esquecer um pouco os seus piedosos anseios de santificação individual, para lutar corajosamente em favor dos obsedados diariamente lançados às feras.

No capítulo trágico da obsessão em massa temos o tópico especial do vampirismo.
Desde a mais alta Antigüidade os casos de obsessão e loucura foram conhecidos e tratados a pancadas para expulsão dos demônios causadores.
Na Idade Média, como disse Conan Doyle, houve uma invasão de bárbaros, que os clérigos combatiam com afogamento das vítimas nos rios e lagos e a queima dos hereges vivos em praça pública, sobre montes de lenha a que se ateava o fogo da purificação.

Nos conventos e mosteiros houve a infestação dos  súcubos e íncubos,
 demônios libertinos que se apossavam das vítimas, homens e mulheres, para relações sexuais delirantes. A eclosão da Renascença, após o milênio de torturas e matanças, aliviou o planeta com a renovação da cultura mítico-erótica, em que as flores roxas da mandrágora atraíam os vampiros do sexo condenado.

Em nossos dias assistimos a um explodir de recalques e frustrações nas águas sujas da pornografia e da criminalidade erótica.
Voltam os vampiros, em bandos famintos, ansiosos pelo sangue das novas vítimas.

No meio espírita surgem livros mediúnicos de advertência, como Sexo e Destino, na psicografia de Chico Xavier, e livros de elaboração humana, mas baseados em experiências mediúnicas, como Sexo Depois da Morte, do Dr. Ranieri.
São revelações chocantes, mas necessárias, de um aspecto aterrador do problema mediúnico. Não atestam contra a Mediunidade, mas tentam despertar os incautos quanto aos perigos do mediunismo selvagem.
São muitos os casos de sexualidade mórbida, exasperada pela atividade dos vampiros. Esta denominação é dada aos espíritos inferiores que se deixaram arrastar nos delírios da sensualidade e continuam nessa situação após a morte.

A Psiquiatria materialista, impotente diante da enxurrada, incapaz de perceber a ação parasitária dos vampiros, desiste da cura dos desequilíbrios sexuais e cai vergonhosamente na aceitação desses casos como normais, estimulando as vítimas no desgaste desesperado de suas energias vitais, em favor do vampirismo. Não obstante, mesmo ignorando as causas profundas do fenômeno ameaçador, poderia ela contribuir para o socorro a essas criaturas, através de teorias equilibradas sobre os desvios sexuais. Ao invés de dar-lhes a falsa cidadania da normalidade, podiam os psiquiatras da libertinagem recorrer às teorias da dignidade humana, que se não são espirituais, pelo menos defendem os direitos do espírito. Mas preferem deixar-se envolver, que é mais fácil e mais rendoso, tornando-se os camelôs ilustres da homossexualidade, os protetores e incentivadores pseudocientíficos da depravação.

A existência de certas formas de vampirismo, como a sexual, que viola princípios morais e religiosos, foi pouco tratada no Espiritismo em virtude do escândalo que provocava, podendo até mesmo causar perturbações a criaturas simples ou excessivamente sensíveis. Não obstante, foi sempre conhecida dos estudiosos e pesquisadores e incluída no rol das obsessões. Trata-se realmente de um tipo de obsessão no campo das viciações sensoriais.

A denominação de vampirismo decorre de sua principal característica, que é a sucção de energias vitais da vítima pelos obsessores.

É uma modalidade grave de obsessão que pode reduzir o obsedado à inutilidade, afetando-lhe o cérebro e o sistema nervoso, tirando-lhe toda disposição para atividades sérias.

Nos Centros e Grupos espíritas bem orientados, esses casos são tratados de maneira especial, em pequenas reuniões privativas, com médiuns que disponham de condições para enfrentar o problema. Como no caso das obsessões alcoólicas, toxicômanas e outras do mesmo gênero, é necessário o máximo cuidado na seleção das pessoas que vão tratar do assunto e o maior sigilo a respeito, a fim de evitar-se o prejuízo dos comentários negativos, que influem fatalmente sobre o caso, provocando agravamentos inesperados da situação das vítimas.

A maioria dos casos do chamado homossexualismo adquirido, senão todos, provêm de atuação obsessiva de entidades animalescas, entregues a instintos inferiores. Mas a responsabilidade não é só dessas entidades, é também das vítimas que, de uma forma ou de outra, se deixaram dominar pelos primeiros impulsos obsessivos ou até mesmo provocaram a aproximação das entidades.

A experiência de vários casos dessa natureza revela-nos ainda os motivos de provação, decorrentes de atrocidades praticadas no passado pelas vítimas atuais, que são agora colocadas na mesma posição em que colocaram criaturas inocentes em encarnações anteriores.

 A lei de causa e efeito, determinando o karma da terminologia indiana, colhe suas vítimas geralmente no período da adolescência, quando essas ocorrências são mais favorecidas pela crise de transição da idade. Mas também há casos ocorridos na idade madura e na velhice, dependentes, ao que parece, de crises típicas desses períodos. Nos casos chamados de perversão constitucional a presença dos obsessores não está excluída, pois eles são fatalmente atraídos e ligam-se às vítimas excitando-lhes as sensações e agravando-lhes a perturbação. Em todos esses casos o auxílio de práticas espíritas específicas dá sempre resultados. E se houver boa-vontade da parte das vítimas os casos serão resolvidos, por mais prolongado que se torne o tratamento. Em casos difíceis e complexos, como esses, é necessária uma boa dose de compreensão e paciência da parte dos que os tratam e uma estimulação constante das vítimas na busca da normalidade.

Os desvios sexuais têm procedências diversas.

Suas raízes genésicas podem vir de profundidades insondáveis.

A própria filogênese do sexo, que começa aparentemente no reino mineral, passando ao vegetal e ao animal, para depois chegar no homem, apresentando enorme variação de formas, inclusive a autogênese dos vírus e das células e a bissexualidade dos hermafroditas, justifica o aparecimento de desvios sexuais congênitos. Mais próximos de nós nas linhas de hereditariedade germinal estão os ritos da virilidade de antigas civilizações, entre as quais a Grécia e a Roma arcaicas, onde em várias épocas esses ritos vigoraram de maneira obrigatória, como em Esparta, onde os efebos, adolescentes, deviam receber a virilidade transmitida por homens adultos e viris através da prática homossexual, fornecem elementos possíveis de explicação para o fenômeno. Além da hereditariedade filogenética, há o problema das sensações que se gravam, de maneira mais ou menos intensa, nas estruturas supersensíveis do perispírito, projetando-se em formas dinâmicas na memória profunda ou inconsciente. Essas formas sensoriais podem aflorar na afetividade atual, atraídas por sensações afins, no processo do associacionismo sensorial. Tudo isso, entretanto, não elimina a tendência à normalidade da espécie, principalmente num sistema básico como a da reprodução.

Dessa maneira, os indivíduos afetados por essas deformações sensoriais encontram no seu próprio organismo atual e na sua consciência os fatores de resistência necessários ao restabelecimento do seu equilíbrio genésico.

A ação paralela do vampirismo, que agrava as manifestações de desequilíbrio, recebe das práticas de desobsessão o reforço de que necessitam para correção de seu desequilíbrio.
A Psiquiatria materialista, que desconhece os processos dinâmicos do espírito, pode considerar esses casos como irremediáveis e recorrer ao processo escuso de normalizar o anormal. Mas o Espiritismo nos fornece os recursos do esclarecimento científico e racional do problema.

Enganam-se as entidades espirituais e os estudiosos humanos de Espiritismo quando atribuem a responsabilidade dos desvios sexuais à reencarnação, aludindo ao problema das mudanças de posição sexual de uma encarnação para outra.

Sabemos hoje com segurança que a sexualidade é um sistema de polaridade não adstrito à forma específica do aparelho sexual.

Na verdade, a sexualidade é a fonte única dos dois sexos, o masculino e o feminino.
Para a mudança de sexo na reencarnação, em face da necessidade de experiências novas no plano evolutivo, basta a inversão da polaridade na adaptação do espírito ao novo corpo material.

 Essas inversões se processam no perispírito, como ensina Kardec, pois é este e não o corpo o controlador de todo o funcionamento orgânico e fisiológico do corpo material.

Seria estranho que, num caso de importância básica para a evolução humana na Terra, essas mudanças não estivessem sujeitas a rigoroso controle das inteligências responsáveis.
O que parece evidente nesses casos é a predominância de elementos da sensibilidade feminina na reencarnação masculina e vice-versa, como nova aquisição do espírito que deve consolidar-se em nova vida. A concepção de Balzac em Spirite, uma das mais belas obras da sua série de romances filosóficos e mais aceitável, embora ainda não verídica: Spirite é um ser superior que reúne em sua personalidade, na fusão das almas gêmeas, as duas personalidades da dupla polaridade - a masculina e a feminina. Mas essa fusão, essa reunião da parelha humana num indivíduo único, aparece como a síntese dialética das duas metades opostas e complementares, para a integração da unidade biológica da espécie. A unificação biológica, no esquema evolutivo, não pode implicar desajustes e desequilíbrios que perturbem as conquistas superiores da evolução psicoafetiva.
Por outro lado, é muito mais lógico e de acordo com a lógica de toda a estrutura legal do Universo, montada num equilíbrio perfeito de minúcias teleológicas. Não se pode esquecer o princípio da finalidade lógica do Todo Universal, para explicar de maneira ilógica um fato específico do processo lógico universal. O que às vezes nos parece um erro da Natureza nada mais é que um momento de ajustamento de conquistas da evolução para o aprimoramento da espécie. Nesse sentido, as tendências anormais aparecem como conseqüências de faltas ou crimes dos indivíduos que as sofrem, sempre com a finalidade de as superar na encarnação presente, jamais de entregar-se a elas. A objeção psiquiátrica e psicológica de que a repressão produz recalques, frustrações, traumas e outras conseqüências desastrosas para o indivíduo provém da visão parcial do problema no campo materialista. Todas as vitórias do homem no sentido de seu ajustamento às condições normais da espécie são recompensadas com a tranqüilidade proporcionada pelo ajuste, eliminando a inquietação do desajuste. Um ser bem integrado em sua espécie corresponde à ordem natural da realidade e às exigências de transcendência de sua própria existência.

O vampirismo cessa no momento em que o obsedado se dispõe a reintegrar-se em si mesmo, na posse de sua personalidade, não aceitando sugestões e infiltrações de vontade estranha em sua vontade pessoal e soberana. Sim, porque em nosso foro íntimo todos os direitos são nossos. A supremacia da nossa jurisdição pessoal sobre nós mesmos é garantida pelos poderes superiores do espírito desde o instante em que tomamos consciência do nosso valor espiritual e do nosso destino humano. O ajustamento aos planos inferiores, proposto como solução do caso, é ilógico e atenta contra os objetivos superiores da vida. Não vivemos para refocilar nas esterqueiras da espécie, mas para libertar-nos dela. Cabe aos espíritas, que conhecem a outra face da existência, medir a distância qualitativa entre o entregar-se às forças negativas do passado, como escravos de uma situação miserável entre os homens, e o ato de empossar-se nos seus direitos de criatura humana em evolução, avançando na direção dos anseios superiores da sua consciência humana. E cabe aos médiuns auxiliar os que estão ameaçados de ser devorados pela esfinge por não terem decifrado os seus enigmas.
No tratado mediúnico dos problemas humanos os médiuns são instrumentos vivos e conscientes da batalha contra o vampirismo de todas as tendências. A idéia simbólica da Mitologia, de que os deuses aspiravam as emanações das coisas que não mais podiam comer ou beber é a imagem exata da vampirização das criaturas encarnadas pelas entidades desencarnadas inferiores, espíritos ainda em estágio evolutivo primário, que buscam suprir a ausência do seu corpo carnal com a exploração impiedosa e vil dos corpos alheios. Quem repele essa exploração aviltante não age apenas em causa própria, mas na defesa do futuro dos espíritos vampirescos e na sustentação da dignidade humana.

Mas a verdade é que o vampirismo é uma parceria sinistra. Daí a necessidade de se doutrinar primeiro o obsedado, despertando-lhe a consciência das suas responsabilidades, para que ele feche a porta da sua vontade às insinuações dos obsessores.

Um jovem de pouco mais de vinte anos procurou-nos para expor o seu caso. Começou dizendo em lágrimas, de mãos trêmulas: "Sou um desgraçado que goza mais do que muitos rapazes felizes. Toda noite sou procurado em meu leito por uma deidade loira e belíssima, extremamente amorosa, que se entrega a mim. É uma criatura espiritual, bem sei, e não quero aceitá-la, mas não posso repeli-la. Após, ela desaparece como nos contos de fadas e eu me levanto e grito por ela em tamanho desespero que acordo os vizinhos. Todos pensam que sou um sonâmbulo ou um louco. Ajude-me, por piedade!". O caso vinha de longe, desde os seus 16 anos. A jovem lhe aparecera pela primeira vez como sua filha de outra encarnação. Essa referência filial era um embuste, destinado a aumentar as sensações com o excitante do pecado. Seis anos depois o reencontro por acaso.
Fugira envergonhado pela confissão e com medo de que o libertássemos da obsessão.

Mas já parecia um velho, cada vez mais trêmulo e de cabelos precocemente grisalhos. Prometeu ir ao Centro que lhe indicamos, mas não foi.

Tornou a desaparecer e nunca mais tivemos notícias dele. O vampirismo o exauria e deve tê-lo levado à morte precoce. Os casos desta espécie são mais freqüentes do que geralmente supomos, mas permanecem em sigilo. A situação de ambivalência da vítima auxilia o vampirismo destruidor. A Idade Média se foi mas esses casos medievais continuam às portas da Era Cósmica. Mais dois casos conseguimos solucionar em trabalhos de desobsessão em que os pacientes compareciam e as entidades se manifestavam. Mas se o obsedado não se quer curar, nada se pode fazer. A cura está em suas mãos, não nas nossas. O livre-arbítrio do obsessor e do obsedado não será violado. Kardec relata um caso em que conseguiu salvar a vítima em sessões em que ele não comparecia, mas o obsessor se manifestava. Eram sessões diárias, realizadas com absoluta pontualidade por um pequeno grupo coeso.

Outro caso foi de um bancário, já de trinta anos, que nos procurou e escreveu ao Chico Xavier. Pedia socorro e ameaçava suicidar-se. Não obstante alegava que era um caso de disfunção no campo estritamente biológico e não queria submeter-se a trabalhos espíritas. Tratava-se de homossexualismo masculino. Chico Xavier nos respondeu dizendo que só nos restava orar pelo obsedado e sua vítima.
A vítima era o espírito vampiresco...

Não podemos nos esquecer, em casos desses, de que o livre-arbítrio é indispensável à evolução do espírito Cabe a ele procurar com afinco a cura, se realmente desejar, e então terá toda a assistência espiritual de que necessita.

Basta um dos parceiros querer de verdade para que o caso possa ser superado.
Este é um dos momentos cruciais em que a responsabilidade individual no processo evolutivo se mostra soberana. Um homem de 40 anos, pobre e envelhecido, chorava ao dizer-nos que não podia esquecer o parceiro jovem que o abandonara. "Choro de vergonha – dizia – mas se ele voltar eu ficarei feliz." Apesar dessa teimosia, curou-se após dez anos de luta solitária, orando dia e noite, segundo nos explicou mais tarde. Sua mãe o auxiliava com aparições periódicas, sem nada dizer, mas de olhos cheios de lágrimas. Graças a essa ajuda materna conseguiu despertar a sua vontade anestesiada e livrar-se das tentações vampirescas. Tornou-se espírita e casou-se. Hoje freqüenta regularmente um Centro Espírita em São Paulo e se interessa especialmente pelos casos de vampirismo. Quer pagar com o seu auxílio aos outros o benefício imenso que recebeu. Ninguém sabe nada do seu passado infeliz e todos o consideram e estimam. Não foi esse o caso de Madalena, que Jesus socorreu e transformou na primeira testemunha da sua ressurreição?

A Mediunidade – luz divina no campo da Comunicação – tão desprezada, aviltada e caluniada pelos que não a conhecem, segue humilde na Terra as pegadas de Jesus, semeando bênçãos nos caminhos de urzes e espinheiros impiedosos do mundo dos homens. Graças a ela as mães sofredoras, que deixaram filhos no mundo em resgates dolorosos, conseguem socorrê-los e libertá-los de provas esmagadoras, que os homens, em geral, só sabem aumentar e agravar.
Os médiuns precisam conhecer esses episódios emocionantes, para compreenderem o esplendor secreto de sua missão e a utilidade superior e humilde do mediunato que lhes foi concedido.

Chegou a hora em que esses fatos secretos devem ser proclamados de cima dos telhados, segundo a previsão de Jesus registrada nos Evangelhos. Mais do que nunca se comprova o adágio: "Ajuda-te e o Céu te ajudará".

Por J. Herculano Pires

segunda-feira, 19 de maio de 2014

As Cartas de Lavater


Correspondência inédita de Laváter
PREÂMBULO


No castelo grão-ducal de Pawlowsk, situado a vinte e quatro milhas de Petersburgo, onde o Imperador Paulo da Rússia passou os anos mais felizes da sua vida e que se tornou depois à residência favorita da Imperatriz Maria, sua augusta viúva, verdadeira benfeitora da Humanidade que sofre, acha-se uma seleta biblioteca, fundada por esses imperantes, na qual, entre muitos tesouros científicos e literários, encontra-se também um maço de cartas autógrafas de Laváter, que ficaram desconhecidas dos biógrafos do célebre fisiognomonista.

Essas cartas são datadas de 1798 e procedentes de Zurique. Dezesseis anos antes, em Zurique e em Schaffhouse, Laváter teve ocasião de ser apresentado ao Conde e à Condessa do Norte (é este o título sob o qual o Grão-Duque da Rússia e sua esposa viajavam então pela Europa), e, de 1796 a 1800, ele dirigiu à Imperatriz Maria algumas cartas sobre os traços fisionômicos, e bem assim algumas outras sobre o futuro reservado à alma depois da morte.

Nessas cartas Laváter estabelece que a alma, depois de deixar o corpo, pode inspirar idéias a qualquer pessoa que esteja apta para receber-lhe à luz, e assim fazer-se comunicar por escrito a algum amigo que houvesse deixado na Terra, a fim de lhe dar suas instruções.

Essas cartas inéditas de Laváter foram descobertas apôs uma revisão que o Doutor Minzloff, diretor da biblioteca imperial de Petersburgo, ali fez. Com a autorização do proprietário atual do castelo de Pawlowsk, sua alteza imperial o Grão-Duque Constantino, e sob os auspícios do Barão de Korff, atualmente conselheiro do império e antigo diretor-chefe da biblioteca desse castelo, que lhe deve os seus mais notáveis melhoramentos, essas cartas foram em 1858 publicadas em Petersburgo, sob o título: Johann-Kaspar Lavater's briefe, an die kaisserin Maria Feodorawna gemahlin kaisser Paul I Von Russland (cartas de João Gaspar Laváter à Imperatriz Maria Féodorawna, esposa do Imperador Paulo I da Rússia). Essa obra foi editada à custa da biblioteca imperial e oferecida em homenagem à Universidade de Iena, por ocasião do terceiro centenário da sua fundação.

A correspondência oferece um duplo interesse, por causa da alta posição das personagens às quais foi dirigida, e pela especialidade do assunto. As idéias expressas por Laváter sobre o estado da alma depois da morte aproximam-se muito das que foram emitidas pelos teósofos do seu tempo, seita essa que era abraçada por grande número de homens esclarecidos; sua concordância com a doutrina espírita moderna é um fato digno de nota.

Essas cartas provam que a crença nas relações entre o mundo material e o mundo espiritual germinava na Europa desde o fim do século XVIII, e que não somente esse célebre filósofo alemão estava convencido dessas relações, mas também (os próprios termos da sua correspondência não permitem duvidar) que tais idéias fossem partilhadas pelo imperador e pela imperatriz, pois, expondo-as, Laváter não fazia mais do que atender ao desejo que eles haviam manifestado.
Seja qual for à opinião que se forme sobre essa correspondência, ela não deixa de ser muito interessante, mesmo somente do ponto de vista histórico.

As cartas vão simultaneamente acompanhadas de notas, inseridas por nós como explicação complementar às idéias nelas emitidas, e que, aliás, estão em concordância com a doutrina espírita, que apareceu ou foi compilada muito depois dessa época.

PRIMEIRA CARTA

Sobre o estado da alma depois da morte
IDÉIAS GERAIS
Muito veneranda Maria, da Rússia.
Dignai-vos permitir-me a liberdade de não vos dar o título de Majestade, que vos é devido pelo mundo, mas que não se harmoniza com a santidade do assunto sobre o qual desejastes ouvir-me, a fim de eu poder escrever-vos com franqueza e sinceridade.

Desejais conhecer algumas das minhas idéias sobre o estado das almas depois da morte.

Apesar do pouco que é dado ao mais douto conhecer de tal assunto, apesar de nenhum dos que têm partido para essa região (1) ignota, ter jamais voltado, o homem pensador, o discípulo dAquele que desceu até nós, pode, entretanto, dizer quanto é necessário para termos coragem, tranqüilidade e podermos refletir.

Desta vez limitar-me-ei a idéias gerais.

Penso que deve existir grande diferença entre o estado, a maneira de sentir e de pensar de uma alma separada do seu corpo material, e o estado em que se achava quando a ele ligada. Essa diferença deve ser tal, pelo menos, qual a que existe entre uma criança recém-nascida e o feto ainda no seio materno. (2 )
Ligados estamos à matéria, e é pelos órgãos desta que a alma recebe as percepções e o entendimento.

A diferença na construção dos telescópios, dos microscópios e dos óculos comuns, faz que os objetos, que por meio deles vemos, nos apareçam sob formas diferentes.

Nossos sentidos são os telescópios, os microscópios e os óculos necessários à nossa vida material.
Penso que o mundo visível deve ser perfeitamente penetrável para a alma separada do corpo, assim como ele o é durante o sono, ou por outra, o mundo em que a alma estava durante sua existência corpórea, deve aparecer-lhe sob outro aspecto, quando ela se desmaterializa. Se, durante algum tempo, a alma pudesse estar sem corpo, o mundo material não existiria para ela. Se, porém, imediatamente depois de haver deixado o corpo, ela se reveste de um corpo espiritual (3), extraído do seu corpo material (o que me parece muito verossímil), o novo corpo dar-lhe-á, forçosamente, uma diferente percepção das coisas.
Se, como pode suceder às almas impuras, o novo corpo permanecesse durante algum tempo imperfeito e pouco desenvolvido, todo o Universo apareceria à alma em estado confuso e turvo, como se fosse através de um nevoeiro. (4)

Se, porém, o corpo espiritual, o condutor, o intermediário de suas novas impressões, for ou vier a ser mais aperfeiçoado ou mais bem organizado, o mundo da alma lhe aparecerá mais belo e regular, de acordo sempre com a natureza ou as qualidades de seus novos órgãos e com o grau de sua perfeição.
Os órgãos se simplificam, adquirem entre si harmonia e são mais apropriados à natureza, caráter, necessidades e forças da alma, à medida que esta se concentra, se enriquece e se purifica no mundo material, visando um único objetivo e obrando num determinado sentido.

A alma aperfeiçoa em sua existência material as qualidades do corpo espiritual, veículo este com que continuará a existir depois da morte do corpo material, e pelo qual conceberá, sentirá e obrará em sua nova existência. (5 )

Esse novo corpo, apropriado à sua natureza íntima, fará a alma mais pura e amante, mais viva e apta às belas sensações, impressões, contemplações, ações e gozos.
Tudo o que se pode, e tudo o que alias não se pode ainda dizer sobre o estado da alma depois da morte, será sempre fundado neste axioma permanente e geral: o homem colhe o que houver plantado. (6)

Difícil seria encontrar um princípio mais simples, mais claro, mais abundante e próprio para ser aplicado a todos os casos possíveis.
Existe uma lei geral da Natureza, estreitamente ligada e mesmo identificada com o princípio que acabo de mencionar, relativamente ao estado da alma depois da morte, uma lei que rege todos os mundos e todas as condições possíveis, tanto no mundo visível, como invisível, a saber: - tudo o que se assemelha tende a reunir-se, tudo o que é idêntico se atrai reciprocamente, desde que não haja obstáculos que se oponham a essa união. Toda a doutrina sobre o estado da alma depois da morte baseia-se neste princípio: - tudo o que vulgarmente chamamos juízo prévio, compensação, felicidade suprema, condenação, pode ser explicado deste modo: - se tiveres semeado o bem em ti mesmo e nos outros, fora de ti, pertencerás à sociedade daqueles que, como tu, semearam o bem em si e fora de si; gozarás a estima daqueles a quem te assemelhaste na maneira de fazer o bem.

Cada alma, separada do seu corpo, livre das prisões da matéria, se apresenta a si própria tal como é na realidade. (7)

Todas as ilusões, todas as seduções que a impediam de ver e reconhecer suas forças, suas fraquezas ou suas faltas desaparecerão nesse novo estado. Assim, ela manifestará irresistível tendência a dirigir-se para as almas que lhe estão em afinidade e a afastar-se das que lhe são dessemelhantes. Seu peso intrínseco, como que obedecendo à lei de gravitação, atrai-la-á aos abismos insondáveis (ao menos isso assim lhe parece), ou, segundo o seu grau de força, lança-la-á, qual chispa por sua ligeireza, aos ares e ela passará rapidamente às regiões luminosas, fluídicas, etéreas.

A alma, por seu senso íntimo, conhece o seu próprio peso e é este, ou seu estado de progresso, que a impele para diante, para trás ou para os lados, e seu caráter moral ou religioso é que lhe inspira certas tendências particulares.

O bom Espírito elevar-se-á para os bons; será atraído para eles em virtude da necessidade que sente do bem.

O perverso ou mal será forçosamente empurrado (8) para os perversos ou maus. A descida precipitada das almas grosseiras, imorais e irreligiosas para as que se lhes assemelham, será tão rápida e inevitável como a queda do junco num abismo onde nada o detém.

Basta por hoje.
Zurique, 14 de agosto de 1796.

João Gaspar Laváter

(Com a permissão de Deus, escrever-vos-ei sobre este assunto, de oito em oito dias.)


SEGUNDA CARTA

As necessidades experimentadas pelo Espírito durante o seu desterro no corpo material, ele continua a senti-Ias depois de o abandonar. (9)
A felicidade para ele consistirá na satisfação dessas necessidades; a condenação resulta da impossibilidade de satisfazer seus apetites carnais no mundo espiritual, onde então se acha.
Tais necessidades constituem-lhe uma condenação, pois somente ficaria satisfeita se pudesse saciá-las.
Eu quisera poder dizer a toda a gente: analisa o caráter de tuas necessidades, dá-lhes o verdadeiro nome, e depois pergunta a ti mesmo: serão tais vícios admissíveis no mundo espiritual? Podem achar em tal mundo sua legítima satisfação? E, caso possam ser aí saciados, serão eles, porventura, daqueles que o Espírito imortal não sinta profunda vergonha em confessar honrosamente que os tem e deseja satisfazê-los à face dos outros seres espirituais e imortais como ele?
A necessidade de satisfazer aspirações espirituais de outras almas imortais, de procurar os puros gozos da existência, de inspirar a certeza da continuação da vida depois da morte, de cooperar, por esse meio, no grande plano da sabedoria e do amor supremos, o progresso adquirido por essa nobre atividade, tão digna como o desejo desinteressado do bem, permitem às almas a aptidão e o direito de serem recebidas nos grupos ou círculos de Espíritos os mais elevados, os mais puros, os mais santos.
Quando tivermos, ó veneranda senhora, a íntima persuasão de que a necessidade mais natural que pode nascer numa alma imortal é a de aproximar-se cada vez mais de Deus e de assemelhar-se ao Pai de todas as criaturas, quando essa necessidade predominar em nós, oh! então nenhum receio deveremos nutrir a respeito do nosso futuro, ao ficarmos despojados do corpo, essa espessa muralha que nos oculta o Criador.
Esse corpo material que nos separa dEle, será decomposto e o véu que nos tolhia a vista do mais Santo dos santos, será rasgado. o ser adorável, a quem amávamos sobre todas as coisas, terá então, com suas esplendorosas graças, livre entrada em nossa alma, sedenta dEle, e que então o receberá com alegria e amor.
Desde que o amor de Deus seja o maior de nossa alma, esta, por obra dos esforços empregados para se aproximar e se assemelhar a Ele em seu amor vivificante da Humanidade, essa alma, desembaraçada do seu corpo, passando sucessivamente por muitos graus para aperfeiçoar-se cada vez mais, subirá com assombrosa velocidade até ao objeto de sua mais profunda veneração e de seu amor ilimitado, até ao inesgotável manancial, único que poderá satisfazer todas as necessidades e aspirações.
Nenhuma vista débil, enferma ou coberta de névoa, poderá fixar-se no Sol; do mesmo modo, nenhum Espírito impuro envolto na névoa formada por uma vida exclusivamente material, poderá, embora libertado do corpo, suportar a vista do mais puro sol dos Espíritos em sua esplendorosa luz, não poderá ver esse foco de que partem raios de luz e de sentimentos infinitos, que penetram todos os recessos da criação.
Quem melhor do que vós, senhora, sabe que os bons são atraídos para os bons? Que só as almas elevadas sabem gozar da presença de outras almas delicadas?
Quem for conhecedor da vida e dos homens, esse que muitas vezes se tem encontrado na sociedade com aduladores pouco recatados, com efeminados e pessoas sem caráter, pressurosas sempre em fazer sobressair à palavra mais insignificante, a menor alusão, para mendigarem favores, quem conhecer os hipócritas que buscam cuidadosamente penetrar o pensamento dos outros para interpretá-los em sentido contrário ao verdadeiro; esse homem superior, digo, deve saber como e quanto essas almas vis e escravas se sentem subitamente feridas e trespassadas por uma simples palavra pronunciada com firmeza e dignidade, e como ficam elas confundidas ante um. olhar severo que lhes faça sentir que são conhecidas e julgadas pelo seu justo valor.
Quão penoso lhes é então suportar a presença de um homem honrado!
Nenhuma alma vil e hipócrita pode sentir-se bem ao contacto de uma alma nobre e enérgica, que lhe penetrou os sentimentos.
A alma impura, que deixou o corpo, deve, por sua natureza íntima, como que atuada por força oculta e invencível, fugir à presença de todo ser puro e luminoso, a fim de lhe ocultar, tanto quanto for possível, as imperfeições que não pode esconder a si e às suas iguais.
Ainda que não estivesse escrito: "ninguém poderá ver o Senhor sem estar purificado", esta idéia permanece na ordem natural das coisas.
Uma alma impura está naturalmente colocada em condições de não poder entreter relações com uma alma pura, e mesmo de não poder ter simpatia por ela.
Uma alma que teme a luz não pode, pela mesma razão, ser atraída para o manancial da luz. A claridade sem mescla de trevas deve abrasá-la como um fogo devorador.
E quais são, senhora, as almas a que chamamos impuras? Creio que são aquelas em quem nunca despontou o desejo de purificar-se, de corrigir-se, de aperfeiçoar-se. Creio que são aquelas que jamais se curvaram ao elevado princípio do desinteresse, aquelas que se constituíram o centro único de todos os seus desejos e de todas as suas idéias, aquelas que se consideram o objetivo de tudo o que existe e que somente procuram o meio de satisfazer suas paixões e seus sentidos, aquelas, enfim, em quem dominam o orgulho, o egoísmo, o amor-próprio, o interesse pessoal e querem, ao mesmo tempo, servir a dois senhores que se contradizem.
Semelhantes almas devem encontrar-se, depois da sua separação do corpo, segundo me parece, no miserando estado de uma horrível contemplação de si mesmas, ou, o que vale o mesmo, sentem reciprocamente um profundo desprezo por si, e serão arrastadas por uma força irresistível para a esmagadora sociedade de outras almas egoístas. (10)
O egoísmo, pois, é que produz a impureza da alma e acarreta o sofrimento.
O egoísmo é combatido por alguma coisa de puro e divino que existe na alma: - o sentimento moral.
Sem esse sentimento, o homem seria incapaz de qualquer gozo moral, da estima ou do desprezo de si mesmo, da esperança ou do temor da vida futura. Essa luz divina é que lhe faz insuportável toda a obscuridade que existe em si, e eis aí a razão pela qual as almas delicadas, que possuem o senso moral, sofrem cruelmente, quando o egoísmo se apodera delas e as domina.
Da concordância e da harmonia que se estabelece no homem, entre ele mesmo e sua lei íntima, dependem sua pureza, sua aptidão para receber a luz, sua ventura, seu céu e seu Deus, que então lhe aparece assemelhando-se a ele próprio.
Aquele que sabe amar, Deus aparece como o supremo amor sob mil formas amantes (11), e seu grau de felicidade ou de aptidão para fazer ditosos aos outros, são proporcionais ao princípio de amor que ele sente.
Aquele que ama sem interesse, vive em harmonia com o manancial de todo o amor, e com todos os que nele bebem.
Procuremos, pois, senhora, conservar em nós o amor em toda a sua pureza, e seremos sempre atraídos para as almas amorosas.
Purifiquemo-nos progressivamente das máculas do egoísmo, porque, quando tenhamos de abandonar este mundo, devolvendo a terra nosso invólucro mortal, nossa alma tomará seu vôo com a velocidade do raio, até alcançar o modelo de todos os que amam e unir-se a ele com inefável alegria.
Nenhum de nós pode saber qual será a sorte da alma depois da morte do corpo; entretanto, estou plenamente convencido de que, depois de rotos os laços da matéria, o amor purificado deve necessariamente dar ao nosso Espírito uma existência feliz, um gozo contínuo de Deus e um poder ilimitado para fazer ditosos todos os que são aptos para a felicidade.
Oh! quão incomparável é a liberdade moral do Espírito despojado do corpo! Com que ligeireza o Espírito do bem, rodeado de clara luz, efetua a sua ascensão! A ciência e o poder de comunicar com os outros são seu patrimônio! Que luz emite de si! Que vida se irradia de todo o seu ser!
As mais límpidas claridades aparecem de todos os lados, a fim de satisfazerem suas necessidades mais puras e elevadas! Legiões numerosas de bons Espíritos o recebem em seu seio. Vozes harmoniosas, radiantes de amor e de alegria lhe dizem: Espírito de nosso Espírito, coração de nosso coração, amor saído da fonte de todo o amor, alma do bem, tu nos pertences e nós somos teus! Cada um de nós te pertence, e tu pertences a cada um de nós. Deus é amor e está conosco. Somos cheios da Divindade e o amor encontra sua felicidade na felicidade de todos.
Desejo ardentemente, venerada senhora, que vós e vosso nobre e generoso esposo, o imperador, tão inclinados um e outro ao bem, possais, do mesmo modo que eu, nunca ser estranhos ao amor que é Deus, e homem ao mesmo tempo, e que seja concedido nos purificarmos por nossas obras, nossas orações e nossos sofrimentos, acercando-nos mais e mais dAquele que se deixou elevar na cruz do Gólgota.

Zurique, 18 de agosto de 1798.
João Gaspar Laváter
(Brevemente recebereis minha terceira carta.)

TERCEIRA CARTA

Veneranda senhora.
Despojado do corpo, cada Espírito será afetado pelo mundo exterior de um modo correspondente ao seu estado de adiantamento, isto é, tudo lhe aparecerá tal qual ele é em si mesmo.
Tudo parecerá bom à alma boa, o mal só existirá para as almas perversas. Os bons Espíritos se acercarão das almas bondosas, os maus atrairão a si as naturezas ruins. Cada alma se refletirá nas que se lhe assemelham.
O bom Espírito torna-se melhor e será recebido no circulo dos seres que lhe são superiores. O santo far-se-á mais santo, pela simples contemplação de
Espíritos mais puros e santos do que ele. O Espírito amante aumentará ainda em amor.
Do mesmo modo, o perverso far-se-á ainda pior (12), pelo simples contacto de outros seres inclinados ao mal.
Se, mesmo na Terra, nada há mais contagioso do que a virtude e o vício, que o amor e o ódio; da mesma forma, além-túmulo, toda perfeição moral ou religiosa, todo sentimento imoral ou irreligioso devem, necessariamente, fazer-se mais e mais atraentes.
Vós, virtuosa senhora, sereis toda amor no círculo das almas benévolas. Quanto a mim, o que me sobrar de egoísmo, de amor-próprio, de falta de energia para tornar conhecido o reino e os desígnios de Deus, será abafado pelo sentimento do amor, se este em mim predominar, e assim me purificarei cada vez mais pela presença e contacto de Espíritos puros e amorosos.
Purificando-nos pelo instinto do amor, que desde a vida terrena vai exercendo sua ação, purificando-nos ainda mais pelo contacto e pela irradiação de Espíritos puros e elevados, nos prepararemos gradualmente para suportar à vista direta do perfeito Amor, que não nos deslumbrará então, nem impedirá de o gozarmos em toda a sua plenitude.
Mas, como poderia um simples mortal fazer uma idéia da contemplação desse amor personificado? E tu, caridade inesgotável! como poderias aproximar-te de quem bebe em ti o amor, sem que por esse fato ficássemos aniquilados ou deslumbrados?
Creio que, a princípio, o amor se manifestará invisivelmente ou sob uma forma desconhecida.
Não é assim que tem sempre sucedido? Quem mais invisivelmente amou do que Jesus? Quem melhor do que ele sabia representar a individualidade incompreensível do desconhecido? Quem poderia saber tomar formas melhor apropriadas? E ele podia fazer-se conhecer melhor do que ninguém, ou mesmo, mais do que nenhum outro Espírito imortal!
Ele, o adorado de todos os céus, veio sob a forma de modesto trabalhador, e conservou-se, até à morte, na individualidade de um nazareno. Logo após a ressurreição, Jesus se revelou primeiramente sob uma forma desconhecida, e, só depois de algum tempo, é que se mostrou de um modo mais evidente. Creio que ele conservará sempre esse modo de ação, tão análogo à sua natureza, à sua sabedoria, ao seu amor. Foi assim que o Cristo fez sua aparição a Maria Madalena, sob a forma de um jardineiro, no momento em que ela o buscava e desesperava de o encontrar. A princípio, ela só vê o jardineiro, para reconhecer depois, sob esta forma, o amoroso Jesus. Foi assim que ele se apresentou também a dois de seus discípulos que caminhavam a seu lado e se sentiam influenciados por ele. Muito tempo caminharam juntos, sentindo os corações se lhes abrasarem em doce chama, o que denunciava a presença de um ser puro e elevado; só o reconheceram no momento de partir o pão, e quando, na mesma noite, tornaram a vê-lo em Jerusalém (13). O mesmo aconteceu nas margens do lago Tiberíade, quando, irradiando em sua deslumbrante glória, apareceu a Paulo. Como são sublimes e comoventes todas as ações do Senhor, todas as suas palavras e todas as suas revelações!
Tudo segue marcha incessante que, impelindo todas as coisas para diante, faz que nos aproximemos de um objetivo que, alias, não é o final. Cristo é o herói, é o centro, a principal personagem, tão depressa visível nesse drama imenso de Deus, admiravelmente simples e complicado ao mesmo tempo, que não terá jamais fim, embora pareça mil vezes terminado. Ele parece desconhecido na existência de cada um dos seus adoradores. Mas, como poderia esse manancial de amor recusar aparecer ao ente que o ama, justamente na ocasião em que mais necessidades tem dele? Tu, ó Cristo! és mais humano que os homens! Tu aparecerás aos homens pelo modo mais caridoso! Oh! sim, tu aparecerás à alma bondosa a quem escrevo e também te manifestarás a mim e te tornarás conhecido. Ver-te-emos uma infinidade de vezes, sempre diferente e sempre o mesmo, e, à medida que nossa alma melhorar, te veremos sempre mais formoso, porém nunca pela última vez.
Elevemos os nossos pensamentos com esta idéia consoladora, que procurarei, com o auxílio de Deus, esclarecer mais amplamente em minha próxima carta, e torná-la compreensível por meio da comunicação de um defunto.

Zurique, 14 de setembro de 1798.
João Gaspar Laváter

QUARTA CARTA


Em minha última mensagem, venerável senhora, prometi enviar-vos a carta que um defunto escreveu a um amigo, habitante da Terra, e essa carta, melhor do que eu poderá agora esclarecer as minhas idéias sobre o estado de um cristão depois da morte do corpo. Tomo, portanto, a liberdade de vo-la enviar.
Julgai-a sob o ponto de vista que vos indiquei e tende a bondade de fixar vossa atenção mais sobre o seu assunto principal, do que sobre as minúcias particulares, embora tenha eu poderosas razões para supor que essas minúcias encerram verdades.
Para melhor inteligência das matérias que me proponho expor, julgo ser necessário fazer-vos notar que tenho quase a certeza de que, apesar da existência de uma lei geral, eterna e imutável, de castigo e felicidade, cada Espírito, segundo seu caráter, não só moral e religioso, mas também pessoal e oficial, terá de sofrer penas depois da morte do corpo, ou gozará de felicidades apropriadas às suas qualidades.
A lei geral se individualizará para cada um em particular, isto é, produzirá em cada ser um efeito diferente e pessoal, assim como a luz que, atravessando um vidro de cor, côncavo ou convexo, se espalha em diversos raios com a cor e a direção desse vidro.
Eu desejaria ver aceito como princípio isto embora todos os Espíritos, felizes ou não, estejam sob a ação da lei das afinidades, é, contudo presumível que o seu caráter substancial, pessoal ou individual, lhes dê um gozo ou sofrimento essencialmente diversos de um para outro Espírito.
Cada qual sofre de um modo especial, diferente do sofrimento dos outros, ou experimenta gozos que nenhum outro pode sentir. (14)
Essa idéia, que julgo verdadeira, serve de fundamento às seguintes comunicações, dadas por Espíritos desencarnados a seus amigos da Terra.
Folgaria que compreendêsseis, senhora, como cada homem, pela formação do seu caráter pessoal e pelo aperfeiçoamento da sua individualidade, pode preparar-se para gozos especiais e para uma felicidade particularmente sua.
Como essa felicidade, apropriada a cada indivíduo, é a que todos os homens procuram ou olvidam, embora todos tenham a possibilidade de a alcançar e gozar, tomo a liberdade, veneranda senhora, de vos rogar com insistência que vos digneis analisar atentamente esta idéia, pois certamente não a julgareis inútil à vossa edificação e elevação para Deus.
Deus se colocou e igualmente dispôs o Universo no coração de cada ser humano.
Todo homem é um espelho particular do Universo e do seu Criador. Empreguemos, pois, todo o nosso esforço em conservar esse espelho tão puro quanto possível, para que Deus possa ver-se refletido na sua bela criação.

Zurique, 14 de setembro de 1798.
João Gaspar Laváter


Carta de um defunto a seu amigo, habitante da Terra, sobre o estado dos Espíritos desencarnados.


Foi afinal permitido, querido amigo, satisfazer, ainda que só em parte, o desejo que eu tinha e também partilhavas, de comunicar-te alguma coisa sobre o meu estado atual.
Desta vez só poderei dar-te alguns pormenores, e, depois, tudo dependerá do uso que fizeres de minhas comunicações.
Sei que muito grande é o desejo que nutres de saber notícias minhas e, em geral, do estado dos Espíritos desencarnados; mas, não é menor a minha vontade de dar-te a conhecer tudo quanto for possível neste sentido. (15)
O poder de amar, compatível ao ser humano no mundo material, avoluma-se de um modo extraordinário quando ele passa a viver no mundo espiritual. Com o amor, aumenta-se proporcionalmente o desejo de transmitir, às pessoas que conheceu na Terra, tudo o que lhe é permitido.
Começo por explicar, meu bem-amado, qual o meio por que me é dado escrever-te sem tocar o papel, sem conduzir a pena, ou mesmo, como posso falar-te numa língua que aí não compreendia. (16) Basta isto para fazeres uma idéia aproximada do nosso estado presente.
Imagina que o meu estado atual, em relação àquele que tinha na Terra, é pouco mais ou menos como o da borboleta que, depois de abandonar o casulo da lagarta, fica voejando nos ares. Sou, portanto, essa lagarta transformada, emancipada, depois de passar por duas fases. E, assim, voamos algumas vezes, porém nem sempre, ao derredor das cabeças dos homens.
Uma luz invisível aos mortais, conquanto visível a alguns, brilha e irradia-se docemente do cérebro de todo homem bom, amante e religioso. A auréola que imaginaste para os santos é essencialmente verdadeira e racional. Essa luz torna feliz todo ser humano que a possuir, pois ela se combina com a nossa em laços de simpatia, e segundo o grau de claridade que lhe for correspondente.
Nenhum Espírito impuro pode ou ousa aproximar-se dessa luz santa. Por meio dela, pode-se perscrutar facilmente as almas, a fim de serem lidas ou vistas em toda a sua realidade. Assim, cada pensamento que parte dos seres humanos é para nós uma palavra e às vezes um completo discurso.
Respondemos aos seus pensamentos, porém eles ignoram que somos nós que estamos falando. Sopramos idéias que, sem o nosso concurso, eles não poderiam conceber, embora lhes fossem inatas à disposição e a aptidão para recebê-las.
O homem digno de receber a luz torna-se deste modo um instrumento útil para o Espírito simpático que a deseja comunicar.
Encontrei um Espírito, ou antes, um homem acessível à luz, do qual me pude aproximar, e é por seu órgão que me dirijo a ti (17). Sem sua mediação, impossível seria entender-me contigo verbalmente, palpavelmente, ou mesmo por escrito. Recebes por este modo uma carta anônima da parte de um homem que não conheces, porém que alimenta em si grande tendência para as coisas ocultas e espirituais. Pouso sobre a fronte dele, da mesma forma que o mais divino de todos os Espíritos pousou sobre a fronte do mais divino de todos os homens, no ato do seu batismo; suscito idéias e ele as descreve sob a minha inspiração, sob a minha direção, por efeito de minha irradiação (18). Por ligeiros toques, faço vibrar as cordas de sua alma, de um modo conforme com a sua individualidade e com a minha. As minhas idéias tornam-se suas, e, assim, ele se considera ditoso em escrever o que eu desejo, sente-se mais livre, mais animado, mais rico de idéias, julga viver e pairar num elemento mais alegre e claro anda como um amigo pela mão de outro amigo, e deste modo é que te foi dado receber uma carta minha. Quem a escreve se considera livre e realmente o é, pois nenhuma violência sofre, são como dois amigos que, de braço dado, se assistem reciprocamente.
Deves sentir que meu espírito se encontra em relação direta com o teu, concebes o que te digo e compreendes os meus mais íntimos pensamentos. Basta por esta vez.
O dia em que inspirei esta carta se c entre vós.
Dê 15 de setembro de 1798.


QUINTA CARTA

Muito veneranda senhora.

Temos nova carta chegada do mundo invisível. Para o futuro, se Deus o permitir, as comunicações serão mais freqüentes.
Esta carta contém uma pequeníssima parte daquilo que se pode dizer a um mortal sobre a aparição e visão do Senhor, que se apresenta simultaneamente e sob milhões de formas, a miríades de seres que povoam os mundos, multiplicando-se infinitamente ante suas inumeráveis criaturas, ou individualizando-se oportunamente ante cada uma delas em particular.
A vós, senhora, ao vosso espírito de luz, ele se mostrará um dia, como se apresentou a Maria Madalena no jardim do sepulcro.
De sua boca divina ouvireis chamar por vosso nome: Maria! - Rabi! respondereis imediatamente, penetrada do mesmo sentimento de suprema felicidade, qual o teve Madalena, e então, cheia de admiração, como o apóstolo Tomé, dir-lhe-eis: Meu Senhor e meu Deus!
Apressemo-nos em atravessar a noite das trevas para chegarmos à luz - passemos por esses desertos para entrarmos na terra prometida - suportemos as dores desta existência para aparecermos na verdadeira vida.

Que Deus seja com o vosso espírito.
Zurique, 13 de novembro de 1798.

João Gaspar Laváter

Carta de um Espírito bem-aventurado a seu amigo, da Terra, sobre a primeira visão do Senhor

Querido amigo.

Das mil coisas a respeito das quais desejara falar-te, apenas me ocuparei por esta vez de uma única, que te interessará mais do que todas as outras.
Para isso foi mister licença especial, pois os Espíritos nada podem fazer sem permissão. (19)
Vivem exclusivamente na vontade do Pai Celestial, que transmite suas ordens a milhões de seres como se fossem um só, e responde instantaneamente a uma infinidade de matérias, aos milhões inumeráveis de criaturas que se dirigem a Ele.
Como te farei compreender o modo pelo qual cheguei a ver o Senhor?
Oh! foi muito diferente daqueles que vós os mortais podeis imaginar.
Depois de muitas aparições, instruções, explicações e gozos, que me foram concedidos por graça do Senhor, atravessei uma região bem-aventurada ou éden, em companhia de outros Espíritos que já se haviam elevado pouco mais ou menos ao mesmo grau de perfeição que eu.
Ao lado uns dos outros, em doce e agradável harmonia, formando como que uma leve nuvenzinha, gozávamos o mesmo sentimento de atração, a mesma propensão para um alvo elevadíssimo e passeávamos por aquele sítio encantador. Ligávamo-nos cada vez mais uns aos outros, e, à medida que nos adiantávamos, nos sentíamos mais íntimos, mais livres, mais alegres, mais aptos para gozar, e dizíamos: Oh! como é bom e misericordioso Aquele que nos criou! Aleluia ao Criador! O Amor é que nos criou! Aleluia ao Amor!
Animados por tais sentimentos, seguimos nosso vôo e paramos ao pé de uma fonte. Ali, sentimos que alguém anunciava a sua presença como que pelo roçar de uma leve brisa: era um ser angélico e nele havia alguma coisa imponente que atraiu nossa atenção. Uma luz deslumbrante, até certo ponto semelhante à dos Espíritos bem-aventurados, nos inundou. Este é também dos nossos, pensamos simultaneamente e como por intuição. Então desapareceu a luz e no mesmo instante nos pareceu que estávamos privados de alguma coisa.
Que ser tão belo, dissemos, que donaire majestoso e ao mesmo tempo em que graça tão infantil! Que doçura e que majestade!
Enquanto assim falávamos, uma forma graciosa, emergindo de deliciosa ramagem, apareceu-nos de repente e dirigiu-nos afetuosa saudação.
Nenhuma semelhança havia entre a precedente aparição e o recém-vindo, pois este tinha alguma coisa de superiormente elevado e, ao mesmo tempo, inexplicável.
- Sede bem-vindos, irmãos! - disse ele, e então respondemos: - Bem-vindo sejas tu, bendito do Senhor! O céu se reflete em tua face e dos teus olhos se irradia o amor de Deus.
- Quem sois? - perguntou o desconhecido. '- Somos alegres adoradores do Amor todo-poderoso - respondemos.
- Quem é o Amor todo-poderoso? - redargüiu ele com sua inimitável graça.
- Não conheces então o Amor todo-poderoso? - lhe repliquei eu por todos.
- Conheço-o, em verdade - disse o desconhecido com voz cada vez mais melíflua.
- Ah! se dignos fôssemos de vê-lo, de ouvir sua voz! Mas não nos consideramos bastante purificados para contemplar diretamente a mais santa pureza!
A estas palavras, ouvimos atrás de nós soar uma voz que nos disse: "Estais purificados e lavados de toda a mácula. Estais declarados justos por Jesus-Cristo e pelo espírito de Deus vivo!" Uma felicidade inexplicável se apossou de nós e no mesmo instante desejamos volver para o sítio donde vinha aquela voz, a fim de adorarmos de joelhos o nosso invisível interlocutor.
Que sucedeu! Cada um de nós ouviu instantaneamente um nome que nunca ouvíramos pronunciar, e cada um compreendeu e reconheceu que era seu nome que fora designado pela voz do desconhecido.
Espontaneamente, com a velocidade do raio, todos, como um só, nos voltamos para o adorável interlocutor, e, então, ele assim nos falou com indizível graça: “Encontrastes o que procuráveis. Quem me vê, vê o Amor todo-poderoso. Conheço os meus e os meus me conhecem. Dou às minhas ovelhas a vida eterna e elas não perecerão na eternidade. Ninguém poderá arrancá-las das minhas mãos e das mãos de meu Pai, pois Ele e eu somos um”.
Como explicar-te, por palavras, a doce, suprema felicidade de que nos sentimos possuídos quando ele, que a cada momento se fazia mais luminoso, mais gracioso e mais sublime, estendeu-nos seus braços e pronunciou estas palavras, que soarão eternamente para nós, sem que haja poder algum capaz de apagá-las de nossos ouvidos e de nossos corações: "Vinde, eleitos de meu Pai; tomai posse do reino que vos foi designado desde o princípio dos séculos."
Depois abraçou-nos simultaneamente e desapareceu.
Ficamos silenciosos e sentimo-nos estreitamente unidos por toda a eternidade, fundimo-nos suavemente na verdadeira felicidade. O Ser Infinito veio unificar-se conosco e, ao mesmo tempo, tornou-se nosso todo, nosso céu, nossa vida em sua mais real expressão. Mil novas vidas pareciam animar-nos. Nossa existência anterior desvaneceu-se; estávamos como que nascendo para uma vida nova, prelibando a imortalidade, isto é, havia em nós uma superabundância de vida e de forças que traziam consigo o selo da imortalidade. Por fim recobramos a voz. Ah! se eu pudesse comunicar-te, mesmo que fosse somente diminuta, parte da nossa entusiástica adoração!
Deus existe! Nós existimos! Por si, só Ele é tudo! Seu ser é vida e amor! O que vê, vive e ama, é inundado dos eflúvios da imortalidade e do amor que são emitidos de sua divina face.
Vimos-te, ó todo-poderoso Amor! Tu te manifestaste aos nossos olhos sob a forma humana, tu, Deus dos deuses, e, entretanto, não foste Homem nem Deus, tu Homem-Deus! Só te revelaste como amor, e te mostraste todo-poderoso somente como amor! Tu nos sustentas por tua onipotência para impedir que a força de teu amor, embora suavizado, nos absorva!
És tu a quem glorificam os céus, tu, oceano de bem-aventurança e onipotência, tu, que encarnado entre os homens vieste regenerá-los e que, derramando teu sangue, suspenso da cruz, te revelaste humano?
Oh! sim, és tu! glória de todos os seres! Ser, diante de quem se inclinam todas as naturezas que desaparecem à tua vista para serem chamadas a viver em ti!
Da tua irradiação desperta-se a vida em todos os mundos, do teu peito desprende-se o amor! Tudo isto, querido amigo, é apenas uma pequeníssima migalha, caída da farta messe das inefáveis felicidades com que me alimentei então. Aproveita essas minhas comunicações e bem depressa outras te serão dadas. Ama e serás amado, pois só o amor pode fazer a felicidade. Oh! Querido amigo é pelo amor somente que me posso aproximar de ti, comunicar contigo e mais depressa conduzir-te ao manancial da vida.
Deus e o Céu vivem no amor, como vivem na face e no coração de Jesus-Cristo.
Segundo a vossa cronologia terrestre, escrevo esta a 13 de novembro de 1798.
Makariosenagape (20)

SEXTA CARTA


Venerável senhora.
Mais uma carta acaba de chegar do mundo invisível.
Oxalá possa esta, como as precedentes, produzir em vossa alma salutar efeito.
Aspiremos, sem cessar, a uma intima comunicação com o amor mais puro que se tem manifestado ao homem e está glorificado em Jesus, o nazareno.
Nossa felicidade futura está em nossas mãos, desde que nos é concedida à graça de compreender que só o amor nos pode dar suprema ventura, e que somente a fé no amor divino faz nascer em nossos corações o sentimento que nos torna felizes eternamente: fé que desenvolve, purifica e completa a nossa aptidão para amar.
Muitas teses me faltam desenvolver. Procurarei, pois, acelerar a que já comecei a expor-vos e considerar-me-ei ditoso se puder ocupar agradável e utilmente alguns momentos da vossa preciosa existência.


Zurique, 16 de dezembro de 1798.
João Gaspar Laváter

Carta de um defunto a seu amigo, sobre as relações que existem entre os Espíritos e os seres que foram por eles amados na Terra.

Meu querido.
Estimulado por nobre curiosidade de saber, vi mil coisas que muito folgaria de fazer-te conhecidas; entretanto, apenas posso falar-te de uma, porque mais do que isso não depende de mim, absolutamente.
Minha vontade, já te disse, depende dAquele que é a suprema sabedoria. Minhas relações contigo têm por único fundamento o amor.
A divina sabedoria e o amor dos homens, enchendo-nos, a mim e a meus mil vezes associados, duma felicidade que continuamente se torna mais elevada e mais extasiaste, nos faz assim entrar em relações convosco, relações agradáveis para nós, conquanto nem sempre bastante puras e santas.
Não sei como fazer-te compreender esta grande verdade, que provavelmente te causará estranheza, apesar da sua evidência, pois a nossa própria felicidade depende, algumas vezes, relativamente, compreende-se, do estado daqueles que deixamos na Terra e com os quais entramos em relações diretas.
Seus sentimentos religiosos nos atraem, sua impiedade nos afasta. Regozijamo-nos em suas puras e nobres alegrias, isto é, em suas alegrias espirituais e desinteressadas. Seu amor contribui para a nossa felicidade, assim como também sentimos, senão pesar, ao menos uma diminuição de gozo, se eles se deixam degradar por sua sensualidade, seu egoísmo, suas paixões animais, ou pela incerteza dos seus desejos.
Atende bem, meu amigo, ao que quero dizer com a palavra degradar. Todo pensamento elevado faz brotar do homem amoroso um raio de luz, que não é visto nem compreendido senão por naturezas iguais. Cada espécie de amor tem um raio de luz que lhe é peculiar. Esse raio forma a auréola dos santos e os torna mais resplandecentes e agradáveis à vista. Dessa qualidade e dessa amenidade depende o grau da nossa própria felicidade e da ventura que sentimos em existir. Com o desaparecimento do amor desvanece-se a luz e, com ela, todo o elemento de ventura.
Quem se torna estranho ao amor, degrada-se no sentido mais positivo e literal da palavra; torna-se mais material e, por conseguinte, mais inferior, mais terrestre, e as trevas da noite o cobrem com seu véu. A vida, ou, o que é o mesmo para nós, o amor, produz a luz, a pureza luminosa, a identidade e a magnificência de cada ser. Somente essas qualidades tornam possíveis as nossas relações intimas com o homem. Como só a luz é que pode atrair a luz, a sua falta nas almas degradadas nos impossibilita de atuar sobre elas. A vida de cada mortal, a sua verdadeira vida, está na razão direta do seu amor. Da luz nos homens nasce a nossa comunhão com eles, e vice-versa.
Nosso elemento é a luz (21), cujo segredo nenhum mortal conhece. Atraímos e somos atraídos por ela.
Este vestuário, este órgão, este veículo, este instrumento em que reside à força primitiva produtora de tudo, a luz, em uma palavra, constitui para nós o laço característico de todas as naturezas. Despendemos luz na medida do nosso amor. Conhecemo-nos pelo grau da sua claridade e somos atraídos por todas as naturezas amorosas e irradiantes como nós.
Por efeito de um movimento imperceptível, dando certa direção à nossa luz, podemos fazer nascer idéias mais humanas nas naturezas que nos são simpáticas, suscitar ações e sentimentos mais nobres e elevados; não podemos, porém, forçar e dominar alguém, ou, mesmo, fazer imposições aos homens, cuja vontade é em tudo independente da nossa.
Para nós, o livre-arbítrio dos homens é sagrado. (22)
É absolutamente impossível comunicarmos a nossa luz pura a um homem baldo de sensibilidade, pois este não possui sentido ou órgão apto para recebê-la.
Do grau de sensibilidade que se possui depende - oh! permiti repeti-lo em cada uma das minhas cartas - a aptidão para receber a luz, a simpatia por todas as naturezas luminosas e pelo seu protótipo original.
Os seres que tiverem ausência de luz não podem abeirar-se do manancial da luz, ao passo que milhares de naturezas luminosas podem ser atraídas por uma única natureza que lhes seja semelhante. O homem-Jesus, resplandecente de luz e de amor, era o ponto luminoso que incessantemente atraía legiões de anjos.
As naturezas degradadas, egoístas, atraem Espíritos degradados, grosseiros, privados de luz e malévolos, que mais e mais as envenenam; enquanto que as almas bondosas se fazem cada vez mais puras e mais amantes pelo contacto dos bons Espíritos. Jacó, dormindo, cheio de piedosos sentimentos, vê aproximarem-se-lhe legiões de anjos do Senhor, ao passo que Judas Iscariotes dá ao chefe dos Espíritos impuros o direito e, direi mesmo, o poder de penetrar na baixa atmosfera da sua alma traidora.
Os Espíritos do bem abundam onde se acham almas amorosas e os Espíritos das trevas pululam onde há grupos de almas impuras.
O meu bem-amado medita sobre o que acabo de dizer-te. Encontrarás a confirmação disso nos livros sagrados, que encerram verdades até hoje desconhecidas e numerosas instruções da mais alta importância sobre as relações que existem entre os mortos e os vivos, entre o mundo material e o espiritual. (23 )
Somente de ti depende o colocares-te sob a influência dos Espíritos bons ou afastá-los para longe. Podes conservá-los ao pé de ti ou forçá-los a abandonar-te. De ti depende, pois, fazeres-me mais, ou menos ditoso. Deves agora compreender que todo Espírito bom é mais ditoso quando encontra outro tão bom, pelo menos, como ele, pois todo ser feliz e puro é menos ditoso quando reconhece diminuição ou indiferença no amor daquele a quem ama. O amor abre o coração ao amor, e a ausência deste sentimento torna mais difícil, e às vezes impossível, o acesso de toda comunicação íntima. Se desejas, portanto, fazer que eu goze mais felicidade, torna-te cada dia melhor. Deste modo, conseguirás fazer-te mais simpático e agradável a todos os Espíritos radiantes e imortais. Eles correrão ao teu encontro, sua luz unir-se-á à tua e a tua à deles, sua presença te tornará mais puro, radiante e vivaz, e, o que te parecerá mais difícil de crer, mas nem por isso deixa de ser positivo, eles próprios por efeito da tua luz, da luz que irradia de ti, se tornarão mais luminosos, mais vivazes, mais ditosos da existência e mais amorosos por efeito do teu amor.
Existem, querido amigo, relações imperecíveis entre os mundos visível e invisível, uma comunhão constante entre os habitantes da Terra e os habitantes do céu, uma ação recíproca e benéfica de cada um desses mundos sobre o outro.
Meditando e analisando com atenção estes ensinos, reconhecerás, cada vez mais, sua exatidão, sua utilidade e seu benefício.
Não olvides, meu irmão, que o vosso mundo é visível para nós e que o nosso é invisível para vós. Não olvides que, em nosso mundo, os Espíritos bons verão com alegria a tua fé no amor puro e desinteressado. Estamos juntos de vós quando nos supondes muito longe. Jamais se acha sozinho o homem de bem. A luz do amor penetra todos os mundos e vai até às trevas do mundo material, porém os Espíritos bons e luminosos se acham sempre nas proximidades do amor e da luz. São muito verdadeiras estas palavras de Jesus-Cristo: "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí serei com eles."
Também é indubitavelmente verdade que afligimos, por nosso egoísmo, o espírito de Deus, e que, por nosso sincero amor, lhe damos satisfação, como se depreende do profundo sentido destas palavras: "O que ligares na Terra será ligado no céu, e o que desligares na Terra, será desligado no céu."
Desligais por egoísmo e ligais por caridade, isto é, pelo amor. Coisa alguma é tão compreendida no céu como o amor dos que se amam na Terra, pois o que atrai as Espíritos bem-aventurados é o amor dos seus irmãos encarnados.
Vós outros, chamados mortais, podeis, pelo amor, fazer o céu descer a Terra, podeis entrar conosco, os bem-aventurados, numa comunhão infinitamente mais íntima do que sereis capazes de imaginar, desde que vossas almas se abram à nossa influência.
Estou freqüentemente contigo, meu amigo, e tenho muito prazer em achar-me na tua esfera de luz. Consente, pois, que eu diga ainda algumas palavras intimas.
Quando te enfadas, no momento em que, dominado de tal sentimento, pensas nos que amas e nos que sofrem, a luz que se irradia de ti se obscurece e, então, sou forçado a afastar-me (24). Nenhum Espírito bom pode suportar as trevas da cólera. Ainda há pouco tive de abandonar-te por esse motivo.
Perdi-te, por assim dizer, da minha vista e dirigi-me a outro amigo, para quem me atraiu a luz do amor. Orava este a Deus, derramando lágrimas por uma família que acabava de cair na miséria, e à qual não podia levar socorro algum. Oh! Quão luminoso ele me pareceu então! Parecia inundado de claridade deslumbrante.
Nosso Senhor aproximou-se-lhe e um raio do seu espírito caiu sobre ele.
Que ventura para mim poder banhar-me nessa auréola e, embebido nessa luz, inspirar-lhe a esperança de próximo socorro!
Sob esta impressão pude insinuar uma voz no fundo da sua alma que dizia assim: "Nada temas! crê! gozarás o prazer de aliviar a desgraça daqueles por quem acabas de rogar a Deus."
Levantou-se contente e, no mesmo instante, senti-me atraído para outro ser bondoso que igualmente orava.
Este era a alma de uma virgem que fazia por este modo a sua prece: "Senhor, mostra-me o meio de fazer o bem, segundo tua vontade."
Descobri o meio de inspirar-lhe a seguinte idéia: "Não faria eu o bem, enviando a esse homem caritativo, que conheço, algum dinheiro para ele empregar, hoje mesmo, em proveito de alguma família pobre?"
Fixou-se nesta idéia com infantil alegria, acolheu-a como recebida de algum anjo do céu. Esta alma piedosa e caritativa tomou uma boa quantia e enviou-a com uma cartinha afetuosa àquele que eu havia antes encontrado orando, o que fez que este derramasse lágrimas de contentamento e de profundo reconhecimento para com Deus. Saiu imediatamente e eu o segui, haurindo indefinível felicidade em sua luz. Chegou à porta da desolada família e ouviu a esposa dizer ao piedoso marido: "Terá Deus piedade de nós? - Sim, minha amiga; Deus terá piedade de nós, como nós temos tido dos outros."
A estas palavras, o que levava o socorro abriu a porta e, sufocado pela comoção, pôde apenas pronunciar esta frase: "Sim, Ele terá piedade de vós, como vós tendes tido dos outros."
Eis aí uma prova da misericórdia de Deus. O Senhor vê os justos e ouve suas súplicas.
Com que viva luz brilharam então essas pessoas, quando, lida a cartinha, todas levantaram os olhos e os braços para o céu!
Legiões e legiões de Espíritos corriam apressadamente de toda parte.
Oh! como nos alegramos! como nos abraçamos! como nos fizemos mais perfeitos e melhores!
Tu te acalmaste depois e, então, pude volver a ti. Acabavas de praticar três ações que me davam o direito de aproximar-me de ti e de alegrar-me contigo. Derramaste lágrimas de vergonha, estavas arrependido da tua ira, tinhas refletido e procurado em ti mesmo os meios de dominar-te, pediste sinceramente perdão a quem, em teu arrebatamento, havias ofendido, e procuravas os meios de indenizá-lo do mal que fizeste. Esta preocupação restituiu a calma ao teu coração, a alegria aos teus olhos, a luz ao teu corpo.
Por esses exemplos podes julgar se estamos bem instruídos do que fazem os nossos amigos, da Terra, enquanto nos interessamos pelo seu adiantamento moral; deves também compreender a solidariedade que existe entre o mundo visível e o invisível, e até que ponto depende de vós promover as nossas alegrias ou aflições.
Ah! meu amigo se pudesses compenetrar-te bem desta verdade, se reconhecesses que o amor puro e nobre encontra em si mesmo a sua recompensa, que o melhor prazer e mais santo é o gozo de Deus, é o produto do sentimento depurado, então te esforçarias em purificar-te de tudo o que é egoísmo.
Doravante não te escreverei sem tocar neste ponto. Nada tem mérito sem o amor. Só o amor possui uma vista clara, reta, penetrante, para discernir o que merece estudado e o que é eminentemente verdadeiro, divino, imperecível.
Em cada ser mortal ou imortal, animado de um amor puro, vemos com inexplicável alegria refletir-se o mesmo Deus, assim como vemos brilhar o Sol em cada gota dágua pura.
Todos os que amam, na Terra e no céu, se fundem num só pelo sentimento. Do grau do amor em cada um depende a nossa felicidade interna e externa. Teu amor é, pois, o que regula tuas relações com os Espíritos, tua comunhão com eles, a influência que podem exercer sobre ti e a sua ligação íntima com o teu espírito.
No momento em que te escrevo, um sentimento de previsão, que nunca me engana, me dá a conhecer que no futuro te encontrarás em excelente posição moral, pois meditas uma obra de caridade.
Cada uma de vossas ações e de vossos pensamentos leva consigo um sinal particular, compreendido e apreciado instantaneamente por todos os Espíritos desencarnados.

Que Deus te ajude!
Escrevo esta a 16 de dezembro de 1798.

Estas seis cartas estão reconhecidas como autênticas e são as únicas que foram encontradas sobre este assunto. Pode-se dizer que nelas está estampada a doutrina espírita, embora de um modo muito resumido. É bem possível que Laváter houvesse escrito muitas outras cartas sobre a vida futura, porém, se existem, ainda são desconhecidas ou não vieram à publicidade.
Que o investigador sincero encontre aqui bons elementos para fazer um estudo mais profundo nas obras em que Allan Kardec coordenou os princípios básicos de tão salutar, consoladora e verdadeira doutrina, tal é o nosso desejo.

Material extraído do livro “O Porque da Vida”, de Léon Denis