segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A TRANSITORIEDADE DO MAL E DA DOR

 

CAPÍTULO VIII DO LIVRO   "A LEI DE DEUS"


VIII


A TRANSITORIEDADE DO MAL E DA DOR


Os loucos métodos do mundo e o verda­deiro caminho.



Já aprendemos que a finalidade da posse 

das coisas não é a de gozá-las, mas a 

de aprender a ar­te de possuí-las 

conforme a Lei, fazendo delas, não uma 

prisão que nos retém em baixo, mas um 

meio de experiência para evoluir.


Agora podemos compreender quão louca é 

método que o mundo usa. Ele corre

cegamente atrás das coisas para

apoderar-se delas, movido pelo seu

instinto de ambição, que julga levá-lo à

felicidade. Mas, não sabe que tudo está

regido por leis, que pa­ra conquistar e

manter a posse de riquezas e pode­

res,existem regras, e que, quem não as 

segue, não pode alcançar esses 

resultados. Não basta a cobiça de 

querer possuir tudo. Este é um impulso 

cego que nos faz cometer erros, é uma 

estratégia enganadora que nos leva para 

o ponto oposto ao que desejamos. Como 

se pode chegar à abundância usando o 

método da destruição? Na sua 

insaciabilidade de pos­suir sempre mais, 

o homem furta, agride o próximo, e, no 

caso maior das nações, faz as guerras. 

Quer sempre 

iludir-se, supondo que assim vai sair 

vencedor. Mas, depois, seja ele 

formalmente vencedor ou vencido, sai da 

luta com os ossos quebrados, empobreci-

do, esgotado. Não foi isso o que 

aconteceu na última guerra mundial? A 

lógica deste método é a mesma de quem, 

para construir um prédio, em lugar dos 

alicerces para sustentá-lo, no terreno 

que serve de base, colocasse bombas, 

deixando-as estourar. Que se pode 

construir com este sistema? De fato,es-­

tamos vendo o que o mundo com ele 

consegue rea­lizar. Para edificar é 

necessário construir e não des­truir. A 

destruição é o único resultado do 

desenca­deamento da cobiça cega e 

descontrolada.


O erro fundamental está no fato de se 

conceber a vida egoisticamente e não 

coletiva ou fraternalmen­te. É próprio 

dessa psicologia atrasada, natural dos 

planos inferiores de vida, o erro que 

leva o indivíduo a centralizar tudo em 

si mesmo, apegado ao próprio eu, para o 

qual desejaria que todo o universo

con­vergisse. Este é o princípio de 

todos os imperialis­mos, baseados na 

força. Mas esse procedimento er­rado não 

pode impedir que a vida seja um fenôme­no 

coletivo, em que todos os elementos se 

misturam numa mesma base comum, dentro 

das mesmas re­gras fundamentais. Nesse 

ambiente, quem julga seja vantajoso 

fazer somente seus negócios, sem inquie­

tar-se pelo dano alheio, fica 

automaticamente isola­do, e não pode 

viver senão cercado de armas para o 

ataque e a defesa. E, seguindo todos 

esse método, a Terra se transforma num 

campo de guerra, para to­dos, no qual o 

único trabalho que se faz é o de des­truir tudo. Isso, realmente, é o que está acontecendo em nosso mundo. E o que fazem as nações em gran­de escala, os indivíduos o fazem em pequena. Todos se estão agredindo e defendendo, cada um julgando alcançar sua vantagem. O resultado é um atrito, uma luta, uma destruição geral. Cada um semeia bombas no campo do vizinho. Mas, também, ao seu próprio campo chegam os estilhaços quando elas estouram. Na vida não se pode isolar o dano de ninguém. O da­no dos outros acaba, mais cedo ou mais tarde, sendo nosso também. Quem desconhece esse fato, depois terá de aceitar suas conseqüências.


Aqui poderia surgir uma pergunta: como pode a sabedoria da Lei permitir que aconteça tudo isso?


A sabedoria do mestre não quer dizer a sabedo­ria do aluno, que tem de conquistá-la com o seu es­forço. O homem tem ainda de aprender muitas coi­sas. O trabalho que lhe cabe fazer na sua atual fase de evolução e nível de vida, é exatamente o de expe­rimentar sofrimentos e dificuldades, até que aprenda a viver em harmonia com o bem. Ninguém é culpado por estar atrasado no caminho da evolução, mas cada um sofre o dano de não ser obediente à Lei. Só tem direito a desfrutar vantagens quem subiu a pla­nos de existência superiores.


Fato positivo de absoluta vontade da Lei é a evolu­ção do ser. O desenvolvimento da inteligência para orientar-se no caminho da vida é um dos trabalhos mais importantes para atingir esse escopo Ora, no baixo nível em que se encontra o homem, para de­senvolver a inteligência, são necessários os choques e os sofrimentos enfrentados por ele na Terra, como conseqüência da sua ignorância. É necessária a destruição, a dor, a guerra, a insegurança de tudo. É ne­cessária essa luta que, com prejuízo da própria vida, tem de ser vencida, custe o que custar. Golpes mais leves não seriam percebidos. E a Lei proporciona as suas provas na medida da sensibilidade dos indiví­duos e dá a suas aulas de acordo com a inteligência dos alunos. Pela mesma razão, os selvagens vivem num ambiente selvagem e as feras num mundo feito de ferocidade. Mas, todos estão cumprindo o mesmo trabalho de desenvolver a sua inteligência, cada um no seu nível, na forma adaptada ao conhe­cimento que já possui. É assim que, através das mais duras experiências, o ser vai ascendendo e, à medi­da que sobe, estas tomam-se mais leves. Isso porque, aumentando a sensibilidade e a inteligência, as experiências mais dolorosas não teriam sentido na lógica da Lei, pois seriam contraproducentes, esmagan­do em vez de educar. E, já dissemos, a Lei é sempre boa e construtiva.


Assim, o homem, experimentando os dolorosos efeitos dos seus erros, vai aprendendo a não os cometer mais, e vai desse modo construindo a sua sa­bedoria. E quando a tiver já construída, não cometerá mais erros. A planta má do sofrimento não po­derá mais nascer, porque não foi semeada. Tudo está claro e é lógico, ao mesmo tempo que é bom e justo. No quadro do universo tudo está certo, quan­do colocamos cada coisa no seu devido lugar. Mas, o que se encontra, sobretudo, em nosso mundo é ce­go desabafo de instintos, em vez de sábia orientação. Acima de tudo, porém, permanece a sabedoria da Lei, por intermédio da qual recebemos o que mere­cemos; não importando se cada um procura culpar o outro. O importante mesmo é que há um caminho de libertação da dor: o da evolução. E quando chegar a dor, se soubermos usá-la, atingiremos a libertação da própria dor.

A verdade de tudo isso está provada pelos fatos que vemos. Hoje, o homem, pelas grandes descober­tas que alcançou, encontra-se neste cruzamento: ou se decide a desenvolver a inteligência e a bondade, indispensáveis para delas fazer bom uso, ou destrui­rá tudo. Isto significa que, quando se atinge novo po­der e a posse de maiores recursos, a inteligência necessária para usá-los tem de crescer paralelamente, se não quisermos cair num desastre, cuja finalidade e precisamente a de tirar poderes das mãos daqueles que os não merecem. Esta é a prova que a humani­dade está hoje esperando. Se ela não souber vencê­-la, como se espera, perderá tudo. Um bom pai tira tudo das mãos do seu menino, se este começa a usar armas perigosas em seu prejuízo. Mas, pelo con­trário, este pai dá tudo ao seu filho, quando vê que ele se tornou capaz de fazer bom uso das infinitas coi­sas e poderes de que o universo está cheio. A conseqüência disso tudo é que nos planos inferiores, onde domina o estado de involuído com a ignorância cor­relativa, tudo fica mergulhado na luta, na violência, na destruição, na carência extrema, enquanto que nos planos superiores, onde domina o estado de evoluído com a correlativa sabedoria, tudo emerge e eleva-se na paz, no amor, na construção, na abundância. Re­petimos estes conceitos para que seja bem compreen­dido que a causa primeira dos nossos males advém do estado de involução em que nos encontramos; que para nos libertarmos deles só há um remédio: evoluir. Para isso é necessário nosso esforço, a fim de que as vantagens sejam merecidas, pois nada cai de graça do céu; e todas as dores permanecem, enquanto o ho­mem não tiver aprendido a não mais as provocar com o seu comportamento negativo.


Esta conversa parece dura, mas é justa e verda­deira. Encontrar justiça e verdade, ao invés de en­ganos, é vantagem. Não há dúvida também que na­da se perde de tudo o que tivermos feito com boa von­tade para subir. Como cada sofrimento encontra as suas causas em nossas obras erradas, do mesmo mo­do todo trabalho que quisermos realizar no sentido do bem não pode deixar de produzir, para nossa sa­tisfação, seus bons frutos. A Lei é justa e imparcial. É lógico: pela mesma razão que quem semeia o mal tem de colher o mal, quem semeia o bem tem de colher o bem. Está garantido, de maneira absoluta, que tudo isso se realiza. Tudo fica, através de uma téc­nica sutil de vibrações, gravado nas correntes dinâ­micas que fazem parte da Lei, que, como já dissemos, é também vontade e ação. E tudo poderá ser sempre corrigido por novos impulsos, mas nunca poderá ser anulado. Ali está escrita a nossa história de milênios, tendo cada um o seu registro que não se mistura com os dos outros. Ali tudo pode ser lido e a toda hora se podem fazer as contas de débito e de crédito, que marcam a nossa posição com relação à Lei, conforme nosso merecimento, seja no sentido do bem, como no do mal. Tudo na Lei é profundamente honesto, sem possibilidade de escapatórias ou burla. Também o mínimo esforço que quisermos realizar, receberá a sua proporcionada recompensa.


É assim que, lentamente, vamos reconstruir a nossa individualidade com as suas qualidades boas ou más, que representam o total de todas as opera­ções que se realizaram, sintetizadas neste seu último resultado, que é o que constitui a nossa personalida­de, com a sua história passada, seus instintos atuais e seu destino futuro. Assim, a Lei funciona com ab­soluta honestidade e respeito pela liberdade do ser, qual máquina perfeita.

Observando-nos a nós mesmos, podemos ler a história do nosso passado. Quem tiver olhos abertos para ler dentro de si, porque se acostumou ao autocontrole e à introspecção, pode, olhando para o fru­to, reconstruir a estrutura da árvore e das raízes. Isto quer dizer que, olhando para os seus instintos e qualidades atuais, pode reconstruir as séries de pensamentos e atos que, longamente repetidos, se toma­ram hábitos para constituir o que hoje é a sua per­sonalidade. Existe, pois, um meio pelo qual é possível, de maneira lógica e positiva, reconstruir nossa história passada. E se em nossa vida atual chega o sofrimento, isto, na lógica da Lei, tem de possuir um significado e um objetivo. O significado é que esta dor tem como origem as más qualidades por nós ad­quiridas, e o seu objetivo é dado pela sua própria função: corrigir os nossos defeitos.


É através desse caminho que se vai aperfeiçoando a mecânica da reconstrução do nosso eu. O caminho é duro, mas todo esforço é bem pago. O pa­trão que tudo dirige é honesto. Ele exige, conforme sua justiça. A Lei é dura, mas nela não há lugar pa­ra enganos. Assim, se é triste olhar para nosso feio passado e observar nosso presente infeliz, podemos com alegria olhar também para nosso futuro. Já sa­bemos, e sem sombra de dúvida, que a evolução nos leva das trevas para a luz. Então, se no passado hou­ve trevas, no futuro haverá luz. A evolução é uma corrente que nos impulsiona para essa luz. Basta só paciência para esperar que venham tempos melho­res, bem como boa vontade e obediência à Lei para que eles amadureçam, em benefício nosso.


Assim, quando tivermos aprendido a lição do desapego, quanta riqueza poderá chegar! Aprendida a lição da renúncia, quanta abundância! Aprendida a lição da humildade1 quanto poder! Quando tivermos adquirido a virtude da paciência no sofrimento, quan­ta felicidade! Quando tivermos adquirido a virtude da bondade, quanto amor poderemos receber! E, fi­nalmente, depois de ter conseguido tanto, quanto re­pouso! Não estamos fantasiando coisas absurdas. Te­mos visto como tudo isso está escrito na lógica da Lei de Deus. Este é também o significado do Sermão da Montanha. Estas são as verdades que Cristo nos en­sinou.


"Bem-aventurados os humildes de espírito, por­que deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados... Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, por­que serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aven­turados os limpos de coração... Bem-aventurados os pacificadores... Bem-aventurados os que têm sido perseguidos pela justiça... Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus...


Os comentadores deste discurso nunca, por acaso, se perguntaram qual podia ser a razão profunda do emborcamento de todos os valores humanos? E já se dispuseram alguma vez a meditar no porquê disso? O motivo de tudo não se pode descobrir senão em fun­ção da Lei que rege o funcionamento do universo. É necessário ter primeiramente entendido o significado do fenômeno da evolução, as causas que o geraram e o seu telefinalismo ou objetivo final a atingir, isto e, o seu ponto de partida e de chegada. Então se po­de compreender, como aqui estamos explicando, que o mal e a dor, na perfeição da obra de Deus, são defei­tos que não podem ser admitidos senão como imper­feição relativa e transitória, como qualidades passa­geiras próprias da criatura, ao longo do caminho de sua evolução. Isso quer dizer que o mal e a dor exis­tem só para ser corrigidos, transformados em bem e felicidade. Eis que, à tristeza de verificar tantas coi­sas horríveis no presente, sucede a alegria de saber que, se quisermos, podemos realizar no futuro muitas coisas maravilhosas. Eis ainda que, ao pessimismo de quem fica vendo só o caso particular do momen­to, sucede o otimismo de quem alcança e abrange, numa visão de conjunto, o processo todo da evolução da vida até sua última etapa. Seria um absurdo blasfemo admitir que fosse permitido ao mal e à dor man­char, de forma definitiva, a obra de Deus, vencendo Sua infinita sabedoria e bondade.