CAPÍTULO VIII DO LIVRO "A LEI DE DEUS"
VIII
A TRANSITORIEDADE DO MAL E DA DOR
Os loucos métodos do mundo e o verdadeiro caminho.
Já aprendemos que a finalidade da posse
das coisas não é a de gozá-las, mas a
de aprender a arte de possuí-las
conforme a Lei, fazendo delas, não uma
prisão que nos retém em baixo, mas um
meio de experiência para evoluir.
Agora podemos compreender quão louca é
o método que o mundo usa. Ele corre
cegamente atrás das coisas para
apoderar-se delas, movido pelo seu
instinto de ambição, que julga levá-lo à
felicidade. Mas, não sabe que tudo está
regido por leis, que para conquistar e
manter a posse de riquezas e pode
res,existem regras, e que, quem não as
segue, não pode alcançar esses
resultados. Não basta a cobiça de
querer possuir tudo. Este é um impulso
cego que nos faz cometer erros, é uma
estratégia enganadora que nos leva para
o ponto oposto ao que desejamos. Como
se pode chegar à abundância usando o
método da destruição? Na sua
insaciabilidade de possuir sempre mais,
o homem furta, agride o próximo, e, no
caso maior das nações, faz as guerras.
Quer sempre
iludir-se, supondo que assim vai sair
vencedor. Mas, depois, seja ele
formalmente vencedor ou vencido, sai da
luta com os ossos quebrados, empobreci-
do, esgotado. Não foi isso o que
aconteceu na última guerra mundial? A
lógica deste método é a mesma de quem,
para construir um prédio, em lugar dos
alicerces para sustentá-lo, no terreno
que serve de base, colocasse bombas,
deixando-as estourar. Que se pode
construir com este sistema? De fato,es-
tamos vendo o que o mundo com ele
consegue realizar. Para edificar é
necessário construir e não destruir. A
destruição é o único resultado do
desencadeamento da cobiça cega e
descontrolada.
O erro fundamental está no fato de se
conceber a vida egoisticamente e não
coletiva ou fraternalmente. É próprio
dessa psicologia atrasada, natural dos
planos inferiores de vida, o erro que
leva o indivíduo a centralizar tudo em
si mesmo, apegado ao próprio eu, para o
qual desejaria que todo o universo
convergisse. Este é o princípio de
todos os imperialismos, baseados na
força. Mas esse procedimento errado não
pode impedir que a vida seja um fenômeno
coletivo, em que todos os elementos se
misturam numa mesma base comum, dentro
das mesmas regras fundamentais. Nesse
ambiente, quem julga seja vantajoso
fazer somente seus negócios, sem inquie
tar-se pelo dano alheio, fica
automaticamente isolado, e não pode
viver senão cercado de armas para o
ataque e a defesa. E, seguindo todos
esse método, a Terra se transforma num
campo de guerra, para todos, no qual o
único trabalho que se faz é o de destruir tudo. Isso, realmente, é o que está acontecendo em nosso mundo. E o que fazem as nações em grande escala, os indivíduos o fazem em pequena. Todos se estão agredindo e defendendo, cada um julgando alcançar sua vantagem. O resultado é um atrito, uma luta, uma destruição geral. Cada um semeia bombas no campo do vizinho. Mas, também, ao seu próprio campo chegam os estilhaços quando elas estouram. Na vida não se pode isolar o dano de ninguém. O dano dos outros acaba, mais cedo ou mais tarde, sendo nosso também. Quem desconhece esse fato, depois terá de aceitar suas conseqüências.
Aqui poderia surgir uma pergunta: como pode a sabedoria da Lei permitir que aconteça tudo isso?
A sabedoria do mestre não quer dizer a sabedoria do aluno, que tem de conquistá-la com o seu esforço. O homem tem ainda de aprender muitas coisas. O trabalho que lhe cabe fazer na sua atual fase de evolução e nível de vida, é exatamente o de experimentar sofrimentos e dificuldades, até que aprenda a viver em harmonia com o bem. Ninguém é culpado por estar atrasado no caminho da evolução, mas cada um sofre o dano de não ser obediente à Lei. Só tem direito a desfrutar vantagens quem subiu a planos de existência superiores.
Fato positivo de absoluta vontade da Lei é a evolução do ser. O desenvolvimento da inteligência para orientar-se no caminho da vida é um dos trabalhos mais importantes para atingir esse escopo Ora, no baixo nível em que se encontra o homem, para desenvolver a inteligência, são necessários os choques e os sofrimentos enfrentados por ele na Terra, como conseqüência da sua ignorância. É necessária a destruição, a dor, a guerra, a insegurança de tudo. É necessária essa luta que, com prejuízo da própria vida, tem de ser vencida, custe o que custar. Golpes mais leves não seriam percebidos. E a Lei proporciona as suas provas na medida da sensibilidade dos indivíduos e dá a suas aulas de acordo com a inteligência dos alunos. Pela mesma razão, os selvagens vivem num ambiente selvagem e as feras num mundo feito de ferocidade. Mas, todos estão cumprindo o mesmo trabalho de desenvolver a sua inteligência, cada um no seu nível, na forma adaptada ao conhecimento que já possui. É assim que, através das mais duras experiências, o ser vai ascendendo e, à medida que sobe, estas tomam-se mais leves. Isso porque, aumentando a sensibilidade e a inteligência, as experiências mais dolorosas não teriam sentido na lógica da Lei, pois seriam contraproducentes, esmagando em vez de educar. E, já dissemos, a Lei é sempre boa e construtiva.
Assim, o homem, experimentando os dolorosos efeitos dos seus erros, vai aprendendo a não os cometer mais, e vai desse modo construindo a sua sabedoria. E quando a tiver já construída, não cometerá mais erros. A planta má do sofrimento não poderá mais nascer, porque não foi semeada. Tudo está claro e é lógico, ao mesmo tempo que é bom e justo. No quadro do universo tudo está certo, quando colocamos cada coisa no seu devido lugar. Mas, o que se encontra, sobretudo, em nosso mundo é cego desabafo de instintos, em vez de sábia orientação. Acima de tudo, porém, permanece a sabedoria da Lei, por intermédio da qual recebemos o que merecemos; não importando se cada um procura culpar o outro. O importante mesmo é que há um caminho de libertação da dor: o da evolução. E quando chegar a dor, se soubermos usá-la, atingiremos a libertação da própria dor.
A verdade de tudo isso está provada pelos fatos que vemos. Hoje, o homem, pelas grandes descobertas que alcançou, encontra-se neste cruzamento: ou se decide a desenvolver a inteligência e a bondade, indispensáveis para delas fazer bom uso, ou destruirá tudo. Isto significa que, quando se atinge novo poder e a posse de maiores recursos, a inteligência necessária para usá-los tem de crescer paralelamente, se não quisermos cair num desastre, cuja finalidade e precisamente a de tirar poderes das mãos daqueles que os não merecem. Esta é a prova que a humanidade está hoje esperando. Se ela não souber vencê-la, como se espera, perderá tudo. Um bom pai tira tudo das mãos do seu menino, se este começa a usar armas perigosas em seu prejuízo. Mas, pelo contrário, este pai dá tudo ao seu filho, quando vê que ele se tornou capaz de fazer bom uso das infinitas coisas e poderes de que o universo está cheio. A conseqüência disso tudo é que nos planos inferiores, onde domina o estado de involuído com a ignorância correlativa, tudo fica mergulhado na luta, na violência, na destruição, na carência extrema, enquanto que nos planos superiores, onde domina o estado de evoluído com a correlativa sabedoria, tudo emerge e eleva-se na paz, no amor, na construção, na abundância. Repetimos estes conceitos para que seja bem compreendido que a causa primeira dos nossos males advém do estado de involução em que nos encontramos; que para nos libertarmos deles só há um remédio: evoluir. Para isso é necessário nosso esforço, a fim de que as vantagens sejam merecidas, pois nada cai de graça do céu; e todas as dores permanecem, enquanto o homem não tiver aprendido a não mais as provocar com o seu comportamento negativo.
Esta conversa parece dura, mas é justa e verdadeira. Encontrar justiça e verdade, ao invés de enganos, é vantagem. Não há dúvida também que nada se perde de tudo o que tivermos feito com boa vontade para subir. Como cada sofrimento encontra as suas causas em nossas obras erradas, do mesmo modo todo trabalho que quisermos realizar no sentido do bem não pode deixar de produzir, para nossa satisfação, seus bons frutos. A Lei é justa e imparcial. É lógico: pela mesma razão que quem semeia o mal tem de colher o mal, quem semeia o bem tem de colher o bem. Está garantido, de maneira absoluta, que tudo isso se realiza. Tudo fica, através de uma técnica sutil de vibrações, gravado nas correntes dinâmicas que fazem parte da Lei, que, como já dissemos, é também vontade e ação. E tudo poderá ser sempre corrigido por novos impulsos, mas nunca poderá ser anulado. Ali está escrita a nossa história de milênios, tendo cada um o seu registro que não se mistura com os dos outros. Ali tudo pode ser lido e a toda hora se podem fazer as contas de débito e de crédito, que marcam a nossa posição com relação à Lei, conforme nosso merecimento, seja no sentido do bem, como no do mal. Tudo na Lei é profundamente honesto, sem possibilidade de escapatórias ou burla. Também o mínimo esforço que quisermos realizar, receberá a sua proporcionada recompensa.
É assim que, lentamente, vamos reconstruir a nossa individualidade com as suas qualidades boas ou más, que representam o total de todas as operações que se realizaram, sintetizadas neste seu último resultado, que é o que constitui a nossa personalidade, com a sua história passada, seus instintos atuais e seu destino futuro. Assim, a Lei funciona com absoluta honestidade e respeito pela liberdade do ser, qual máquina perfeita.
Observando-nos a nós mesmos, podemos ler a história do nosso passado. Quem tiver olhos abertos para ler dentro de si, porque se acostumou ao autocontrole e à introspecção, pode, olhando para o fruto, reconstruir a estrutura da árvore e das raízes. Isto quer dizer que, olhando para os seus instintos e qualidades atuais, pode reconstruir as séries de pensamentos e atos que, longamente repetidos, se tomaram hábitos para constituir o que hoje é a sua personalidade. Existe, pois, um meio pelo qual é possível, de maneira lógica e positiva, reconstruir nossa história passada. E se em nossa vida atual chega o sofrimento, isto, na lógica da Lei, tem de possuir um significado e um objetivo. O significado é que esta dor tem como origem as más qualidades por nós adquiridas, e o seu objetivo é dado pela sua própria função: corrigir os nossos defeitos.
É através desse caminho que se vai aperfeiçoando a mecânica da reconstrução do nosso eu. O caminho é duro, mas todo esforço é bem pago. O patrão que tudo dirige é honesto. Ele exige, conforme sua justiça. A Lei é dura, mas nela não há lugar para enganos. Assim, se é triste olhar para nosso feio passado e observar nosso presente infeliz, podemos com alegria olhar também para nosso futuro. Já sabemos, e sem sombra de dúvida, que a evolução nos leva das trevas para a luz. Então, se no passado houve trevas, no futuro haverá luz. A evolução é uma corrente que nos impulsiona para essa luz. Basta só paciência para esperar que venham tempos melhores, bem como boa vontade e obediência à Lei para que eles amadureçam, em benefício nosso.
Assim, quando tivermos aprendido a lição do desapego, quanta riqueza poderá chegar! Aprendida a lição da renúncia, quanta abundância! Aprendida a lição da humildade1 quanto poder! Quando tivermos adquirido a virtude da paciência no sofrimento, quanta felicidade! Quando tivermos adquirido a virtude da bondade, quanto amor poderemos receber! E, finalmente, depois de ter conseguido tanto, quanto repouso! Não estamos fantasiando coisas absurdas. Temos visto como tudo isso está escrito na lógica da Lei de Deus. Este é também o significado do Sermão da Montanha. Estas são as verdades que Cristo nos ensinou.
"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados... Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração... Bem-aventurados os pacificadores... Bem-aventurados os que têm sido perseguidos pela justiça... Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus...
Os comentadores deste discurso nunca, por acaso, se perguntaram qual podia ser a razão profunda do emborcamento de todos os valores humanos? E já se dispuseram alguma vez a meditar no porquê disso? O motivo de tudo não se pode descobrir senão em função da Lei que rege o funcionamento do universo. É necessário ter primeiramente entendido o significado do fenômeno da evolução, as causas que o geraram e o seu telefinalismo ou objetivo final a atingir, isto e, o seu ponto de partida e de chegada. Então se pode compreender, como aqui estamos explicando, que o mal e a dor, na perfeição da obra de Deus, são defeitos que não podem ser admitidos senão como imperfeição relativa e transitória, como qualidades passageiras próprias da criatura, ao longo do caminho de sua evolução. Isso quer dizer que o mal e a dor existem só para ser corrigidos, transformados em bem e felicidade. Eis que, à tristeza de verificar tantas coisas horríveis no presente, sucede a alegria de saber que, se quisermos, podemos realizar no futuro muitas coisas maravilhosas. Eis ainda que, ao pessimismo de quem fica vendo só o caso particular do momento, sucede o otimismo de quem alcança e abrange, numa visão de conjunto, o processo todo da evolução da vida até sua última etapa. Seria um absurdo blasfemo admitir que fosse permitido ao mal e à dor manchar, de forma definitiva, a obra de Deus, vencendo Sua infinita sabedoria e bondade.