quarta-feira, 2 de agosto de 2023

MENSAGEM DO PERDÃO

 Pietro Ubaldi GRANDES MENSAGENS

III - MENSAGEM DO PERDÃO - Sua Voz

Dia do “Perdão da Porciúncula” de São Francisco 2 de Agosto de 1932
Filho meu, minha voz não despreza tuas pequeninas coisas de cada dia, mas delas se eleva para as grandes coisas de todos os tempos.
Ama o trabalho, inclusive o trabalho material.

Coisa elevada e santa, o trabalho, presentemente, foi transformado em febre. De que não se tem abusado entre vós? Que coisa ainda não foi desvirtuada pelo homem? Em tudo vos excedeis e, por isso, ignorais o labor equilibrado, que, buscando o necessário ao corpo e, ao mesmo tempo, contentando o espírito, encerra tão elevado conteúdo moral. No entanto transformastes esse dom divino, com o qual poderíeis plasmar o mundo à vossa imagem, em tomento insaciável de posse. Substituístes a beleza do ato criador, completo em si mesmo, pela cobiça, que nunca descansa. Quantos esforços empregados para vos envenenar a vida!
Ama o trabalho, mas com espírito novo; ama-o, não pelo que ele é propriamente, mas sim como um ato de adoração a Deus; ama-o como manifestação de tua alma, nunca como febre de riqueza ou domínio. Não prendas tua alma aos seus resultados, que pertencem à matéria e, portanto, estão sujeitos à caducidade; ama, porém, o ato, somente o ato de trabalhar. Não sejam a posse e o triunfo a tua recompensa, mas sim a satisfação íntima de haveres cumprido cada dia o teu dever, colaborando assim no funcionamento do grande organismo coletivo.
Esta é a única recompensa verdadeira, indestrutível, solidamente tua; as demais depressa se dissipam e se perdem. Ainda que nenhum resultado positivo obtivesses, uma recompensa ficaria contigo para sempre: a paz do coração, paz que o mundo perdeu por se prender às coisas concretas, julgando-as seguras.

Desapega-te de tudo, inclusive do fruto de teu trabalho, se queres entrar na posse da paz. Ocupa-te das coisas da Terra, mas apenas o suficiente para aprenderes a desapegar-te delas.
Toda construção deve localizar-se no teu espírito, deve ser construção de qualidades e disposições da personalidade, e não edificação na matéria, que é um remoinho de areia onde nenhum sinal pode ser conservado.

Tudo quanto quiserdes que esteja unido a vós eternamente deve ser unido por qualidades e merecimento; deve ser enlaçado, não por vossa força exterior ou por vínculos das convenções sociais ou ainda por liames da matéria, mas sim pela sutil força da Lei, movimentada por vós.

Só nesse sentido se pode realmente possuir; de outro modo, não obtereis senão a tristeza que advém da ilusão e a consciência posterior da inutilidade de vossos esforços.
Outro grande problema que vos diz respeito é o amor. Elevai-vos em amor, como deveis elevar-vos em todas as coisas, se quereis encontrar profundas alegrias. Martelai vossa alma, num íntimo trabalho de cada dia, que vos leva à conquista de amores sempre mais extensos, únicos que têm a resistência das coisas eternas.
Sabes que o amor se eleva do humano ao divino e que, nessa ascensão, ele não se destrói, mas se fortalece, aperfeiçoando e multiplicando-se. Segue- me e, então, poderás entoar o cântico do amor:

“Meu corpo tem fome, e eu canto; meu corpo sofre, e eu canto; minha vida é deserta, e eu canto; não há carícias para mim, porém todas as criaturas vêm a mim. Meu irmão de mim se aproxima como inimigo, para me prejudicar, e eu lhe abro os braços em sinal de amor. Eu vos bendigo a todos vós que me trazei dor, porque com ela me trazeis a purificação, que me abre as portas do Céu. Minha dor é um cântico que me faz subir. Louvado sejas, ó Senhor, pelo que é a maior maravilha da vida. Que as pobres intenções malignas de meu próximo sejam para mim a Tua bênção”.

Estes meus ensinamentos são dirigidos mais à vossa intuição do que ao vosso intelecto. O que vos tenho dito tem um sentido mais amplo. A felicidade dos outros é vossa única felicidade verdadeira e firme. Isto significa a extinção dos egoísmos num amplexo universal de altruísmo. Tais conceitos podem ser de fácil compreensão, mas é difícil senti-los. Não procuro vossa razão, que discute, busco antes essa visão interior que opera em vós, que sente por imediata concepção, que enxerga com absoluta clareza e que se entrega lealmente à ação.
Peço-vos o ímpeto que somente nasce do calor da fé e que nunca vem pelos tortuosos caminhos do raciocínio. Não desejo erudição, pesquisas e vitórias do intelecto; quero, antes, que vejais num ato sintético de fé, que vivais imediatamente vossa visão, que personifiqueis a ideia avistada, que resplendais em vós mesmos seu esplendor. Somente então a ideia viverá na Terra e, personificado em vós, existirá um momento da concepção divina.
Não estou apelando para vossos conhecimentos nem para vosso intelecto, que não são patrimônios de todos, mas venho até junto de vós por caminhos inabituais e em vós penetro como um raio que, descendo às profundezas, dissipa as trevas, cintila e vos arrasta através de novas vias, com forças novas, que levantarão o mundo como num turbilhão.
Falarei também, para ser entendido, a linguagem fria e cortante da razão e da ciência, porém usarei, acima de tudo, a linguagem ardente e direta da fé. Minha palavra será ora o brado de comando, ora a ternura de um beijo de mãe.

Para ser por todos compreendida, minha palavra percorrerá extremos de sabedoria e de singeleza, de força e de bondade. Será pranto de amargura e remoinho de paixão; será nostálgico lamento, suspirando por uma grande pátria distante, mas será também ímpeto de ação para vos reconduzir até ela. Minha palavra, por vezes, rolará como regato sussurrante em verde campina, a vos trazer o frescor das coisas puras; outras vezes trovejará como os elementos enfurecidos na fúria da tempestade.

Ao seio de cada alma quero descer e me adaptar, a fim de ser compreendido. Para cada uma delas, devo encontrar a palavra que a penetre no mais íntimo, que a abale, que a inflame e que a arroje para o alto, onde eu estou, conduzindo-a até junto de mim, onde a espero.
Almas, almas eu peço. Para conquistá-las, vim das profundezas do infinito, onde não existe espaço nem tempo; vim oferecer-vos meu abraço; vim de novo dizer-vos a palavra da ressurreição, para vos elevar até mim, para vos indicar um caminho mais elevado, onde encontrareis as alegrias puras.

De tal modo vos identificastes com a vida física, que já não podeis sentir senão uma vida limitada, como a do vosso corpo. Pobre vida, rápida e cheia de incertezas, enclausurada nas limitações de vossos pobres sentidos. Pobre vida, encerrada num ataúde, na sepultura que é o corpo, ao qual tanto vos agarrais. Minha voz encerrará todos os extremos de vossas diferentes psicologias. Escutai-me!

Não vos ensino a gozar das coisas terrenas, porque são ilusórias; indico-vos as alegrias do céu, porque somente estas são verdadeiras. Minha verdade não é a fácil verdade do mundo; não vos prometo alegrias sem esforços, mas minha promessa não vos ilude. Meu caminho é caminho de dor, porém eu vos digo que somente ele vos conduzirá à libertação e à redenção. Minha estrada é de luta e de espinhos, mas vos fará ressurgir em mim, que vos saciarei para sempre. Não vos digo: “Gozai, gozai”, como o mundo vos fala. O mundo, porém, vos engana, eu não vos enganaria nunca.

Minha verdade é áspera e nua, contudo é a verdade. Peço o vosso esforço, mas dou a felicidade. Digo-vos: “Sofrei”, mas junto de vós estarei no momento da dor; com piedade maternal, velarei por vós; medindo todo o vosso esforço, proporcionarei as provas segundo vossa capacidade; finalmente, farei o que o mundo não faz: enxugarei vossas lágrimas.
O mundo parece espargir rosas, mas, na verdade, distribui espinhos; eu vos ofereço espinhos, porém vos ajudarei a colher rosas.

Segui-me, pois o exemplo já vos dei. Levantai-vos, ó homens, é chegado o momento. Não venho para trazer guerra, mas sim paz; não venho trazer dissensão às vossas ideias nem às vossas crenças, mas sim fecundá-las com meu espírito e unificá-las na minha luz.
Não venho para destruir, e sim para edificar. O que é inútil morrerá por si mesmo, sem que eu vos dê exemplo de agressividade.

Desejaríeis sempre agredir, até mesmo em nome de Deus. Por discussões e lutas contra vossos próprios irmãos ansiais com grande avidez, sempre prontos a profanar assim minha palavra de pura bondade. Repito-vos: “Amai-vos uns aos outros”. Não discutais, mas dai o exemplo de virtude na dor; amai vosso próximo, aprendendo a estar sempre prontos para prestar um auxílio em qualquer parte onde haja um padecimento a aliviar, uma carícia a oferecer. Vossas eruditas investigações tornaram tão ásperas vossas almas, que não vos permitiram avançar um só passo para o céu.

Não venho para agredir, mas sim ajudar; não para dividir, mas sim unir; não para demolir, mas sim edificar. Minha palavra busca a bondade, antes que a sabedoria. Minha voz a todos se dirige. Ela é ampla como o universo, solene como o infinito. Descerá aos vossos corações, às vezes com a doçura de um carinho, outras vezes arrastadora como o tufão.

◘◘◘

Do alto e de muito longe venho até vós. Não podeis perceber quão longo é o caminho que nós, puro pensamento, devemos percorrer, a fim de superar a imensa distância espiritual que nos separa de vós, imersos na terra lodosa. Vossas distâncias psicológicas são maiores e mais difíceis de serem vencidas que as distâncias de espaço e tempo. Por isso, às vezes, chego fatigado. Minha fadiga, porém, não provém do cansaço físico, mas sim do desalento que me nasce de vossa incompreensão. No entanto minha palavra tem a doçura da eternidade e do infinito, possuindo uma amplitude de tonalidade como jamais possuiu a voz humana, razão pela qual deveríeis reconhecer-me.

Venho a vós cheio de amor e de bondade, no entanto me repelis. Eu, que vejo os limites da história de vosso planeta; que, num rápido olhar, vejo sem esforço toda a laboriosa ascensão desta humanidade, da qual sou pai; eu me faço pequenino hoje, limitando-me e encerrando-me num átimo de vosso momento histórico, para que possais compreender-me.
Se vos falasse com minha voz potente, não me entenderíeis. Meu olhar contempla a Terra quando o homem ainda não a habitava, e a vê também no futuro distante, morta, a navegar no espaço, como um ataúde de todas as vossas grandezas. Vejo vosso sol moribundo, depois morto e, em seguida, chamado a uma nova vida. Vejo, além desse átomo que é o vosso planeta, uma poeira de astros a revolutearem sem cessar pelos espaços infinitos, todos eles transportando consigo humanidades que lutam, sofrem, vencem e se elevam. Tudo vejo e tudo leio nos vossos corações, assim como nos corações de todos os seres.
Além do vosso universo físico, vejo um maior universo moral, onde as almas, na sua laboriosa ascensão, cumprindo seu diuturno esforço de purificação para o Alto, cantam o mais glorioso hino à Divindade. Esplendorosa luz existe no centro moral do universo, luz esta que atrai todos os seres por uma força de gravitação moral mais poderosa do que aquela que mantém associadas no espaço as grandes massas planetárias e estelares. Tudo vejo, mas nada falo, para não vos perturbar. Tudo vejo, e minha mão possante firma o destino dos mundos. Poderia mudar o curso dos astros, mas nós, que somos lei, ordem e equilíbrio, não aprovamos violações. Empunho o destino dos povos e, no entanto, venho humildemente até vós, para entre vós colher o perfume que se desprenda de uma alma simples. Esse é meu único conforto quando desço ao vosso mundo, às camadas profundas e obscuras da matéria densa, formadas de coisas baixas e repugnantes. Tal perfume parece perder-se na vossa atmosfera, carregada de emanações perniciosas, como que vencido pelas forças envolventes do mal. No entanto eu o percebo, elegendo-o, e o recolho como uma joia humilde e gentil, desabrochada na lama, para guardá-lo em meu coração, onde ele repousará. É o único carinho que encontro em vosso mundo, o único hino puro e singelo que me faz descansar. Assim como a criancinha repousa aos cânticos de sua mãe, que lhe parecem os mais belos, também me acalento, invadido por infinita doçura, no seio dessas vozes humildes, dispersas em vosso mundo.
Essa é a única trégua em meio ao trabalho de vos iluminar e guiar, ó homens rebeldes, que acreditais dominar, mas sois dominados; que pensais subir, mas, na verdade, desceis. Eu poderia, contudo, atemorizar-vos por meio de prodígios, aterrorizar-vos com cataclismos. Seria isto, no entanto, capaz de vos convencer? Sobre vós, que sois maus, minha mão se levanta como uma bênção, nunca para vinganças.

Escutai com atenção esta grande palavra. Eu desejo que o equilíbrio, violado pela vossa maldade, seja restabelecido pelos caminhos do amor, e não pelo castigo. Compreendeis a grande diferença?

Eis as razões da minha intervenção, fazendo-me presente entre vós.
Trata-se da Lei, e a Lei quer o equilíbrio. Vós a desrespeitastes com vossas culpas, ultrajando assim a Divindade. O equilíbrio “deve” restabelecer-se; a reação “deve” verificar-se; o efeito “deve” acompanhar a causa por vós livremente buscada.

Deus vos quer livres, já o sabeis. Pois bem, eu venho para que o equilíbrio se restabeleça pelos caminhos do amor e da compreensão; para vos incitar, com palavras de fogo, ao entendimento; para vos estimular a retomar livremente a via da redenção. Venho enfim vos ensinar a fazer de vossa liberdade um uso que vos eleve e salve, e não que vos rebaixe e condene. Venho tornar-vos conscientes dessa lei que vos guia e da maneira de restaurardes a ordem violada, a fim de que essa violação não venha a recair sobre vós, como tremendo choque de retorno, que destruirá vossa civilização.

Venho para vos salvar, para salvar o que de melhor possuís, o que fatigosamente os séculos têm acumulado, ao preço de muitas dores e de muito sangue.
Entre vós e a necessidade férrea da Lei, que volve inexoravelmente ao equilíbrio, interponho hoje o meu amor e a minha luz, como já interpus a minha dor e o meu martírio!
Homens, tremei! É supremo o momento. É por motivos supremos que do Alto desço até vós. Escutai-me: o mundo será dividido entre aqueles que me compreendem e me seguem e aqueles que não me compreendem e não me seguem. Ai destes últimos! Os primeiros encontrarão asilo seguro em meu coração e serão salvos; sobre os outros a Lei, não mais compensada pelo meu amor, descerá inelutavelmente, e eles serão arrastados por um vendaval sem nome para trevas indescritíveis.

Não vos iludais, reconhecei a minha voz. Reconhecei-a pela sua imensa tonalidade, pela sua bondade sem fronteiras. Algum homem, porventura, já falou assim? Falo-vos de coisas singelas e elevadas, de coisas boas e terríveis. Sou a síntese de todas as verdades.
Não me oponhais barreiras em vossas almas, mas escutai, ponderai e deixai que este raio de luz, vindo de Deus, desça à vossa consciência e a ilumine. Eu vo-lo rogo, humilhando-me em vossa presença. Humildemente, para vossa salvação, eu vos suplico: escutai a minha voz!
Que sobre vós desça a paz! Que a paz, não mais conhecida por vós, chegue até vossas almas! Entre vós e a divina justiça está minha oração: “Deus, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

Pobres seres, perdidos na escuridão das paixões; pobres seres, que tomais por luz verdadeira o ouropel fascinador das coisas falsas da Terra! Pobres seres, maus e perversos! No entanto sois meus filhos e, por amor de vós, subiria de novo à cruz, para vos salvar. Pobres seres que, numa vitória efêmera na matéria, chamada por vós de civilização, haveis perdido completamente o único repouso do coração: a minha paz.

Escutai-me. Falo-vos com amor, imenso amor. Fui por vós insultado e crucificado, e vos perdoei; perdoo-vos ainda e ainda vos amo. Trago-vos a paz. Até junto de vós retorno para vos falar de uma ciência que a vossa não conhece; para vos pronunciar a palavra que nenhum homem sabe falar, palavra que vos saciará para sempre. Escutai-me!
Minha voz conduzirá vosso coração a tal êxtase, que nenhuma vitória material nem qualquer grandeza do mundo jamais vos poderá dar.

Como um clarão intuitivo, minha luz espargirá sobre vós uma compreensão a que os laboriosos processos de vossa razão jamais chegarão. A razão, filha do raciocínio, discute e calcula, mas eu sou o clarão que em vós se acende e pode, num átimo, transformar-vos em heróis. Aceitai, suplico-vos, este supremo dom que vos ofereço e pelo qual vim de tão longe até junto de vós; aceitai esta dádiva esplêndida, que é a minha paz. É a bem-aventurança do Céu que vos trago de mãos cheias; é a felicidade que coisa alguma terrena jamais vos poderá dar. Reconhecei a minha paz! Para recebê-la, deveis abrir todas as portas de vossa alma! Saciai-vos e inebriai-vos com ela! É um dom imenso que vos trago do seio de Deus; é uma graça com a qual o meu imenso amor recompensa a vossa ingratidão.
Até vós eu venho, trazendo os mais lindos dons, para derramar sobre vossas almas a verdadeira felicidade. Venho para suavizar a justiça divina. Fiz longa e fatigante viagem, do meu céu radioso às vossas trevas. Vim espontaneamente, pelo amor que vos consagro. Não renoveis as torturas do Getsêmani, as angústias da incompreensão humana, os tormentos de um imenso amor repelido.

Quem sou eu, perguntais-me.

Sou o calor do sol matinal que vela o desabotoar da florzinha, desapercebida por todos; sou o equilíbrio que, na variação alternada dos elementos, garante a vida para todos. Sou o pranto da alma quebrantada, em que desabrocha a primeira visão do divino; sou o equilíbrio que, nas mudanças dos acontecimentos morais, promete a todos salvação; sou o rei do mundo físico de vossa ciência; sou o rei do mundo moral que não vedes.
Sempre me procurais em toda a parte, no entanto sempre mais profundamente vos escapo – de fibra em fibra, de molécula em molécula – nas vossas mesas de anatomia, em vossos laboratórios. Vós me procurais, dilacerando e dissecando a pobre matéria, mas eu sou espírito, que anima todas as coisas. Podereis encontrar-me, porém não com os olhos e os instrumentos materiais, mas tão somente com os olhos e os instrumentos do espírito.
Sou o sorriso da criança e a carícia materna; sou o gemido daquele que corre, implorando salvação; sou o calor do primeiro raio de sol da primavera, que traz a vida; sou o vendaval que traz a morte; sou a beleza evanescente do momento que foge; sou a eterna harmonia do universo.

Sou amor, sou força, sou ideia. Sou espírito, que tudo vivifica e está sempre presente. Sou a lei que governa o organismo do universo com maravilhoso equilíbrio. Sou a força irresistível que impulsiona todos os seres para a ascensão. Sou o cântico imenso que a criação entoa ao Criador.

Tudo sou e tudo compreendo, até o mal, porquanto o envolvo e o limito aos fins do bem. Meu dedo escreve, na eternidade e no infinito, a história de miríades de mundos e vidas, traçando o caminho ascensional dos seres que para mim se voltam, seres que atraio com meu amor e que recolherei na minha luz.

Muitos mundos já vi antes do vosso e muitos verei depois dele. Vossas grandes visões apocalípticas, para mim, são pequeninas encrespaduras nas dimensões do tempo. Virei, entre raios de tempestade, para dobrar os orgulhosos e elevar os humildes. Virei vitorioso na minha glória e no meu poder, triunfando sobre o mal, que será rechaçado para as trevas.
Tremei então, pois, quando eu já não for o amor que perdoa e vos protege, serei o turbilhão que tempestua; serei o desencadear dos elementos sem peias; serei a Lei, que, não mais dominada pela minha vontade e trazendo consigo a ruína, inexoravelmente explodirá sobre vós.

Tudo é conexo no universo: causas físicas e efeitos morais, causas morais e efeitos físicos. Um organismo aglutinador vos envolve. Nele estais presos em cada ato vosso.
Minha poderosa mão firma o destino dos mundos, no entanto sabe descer até à mais humilde criancinha, para lhe suster carinhosamente o pranto. Essa é minha verdadeira grandeza.

Ó vós que me admirais, tímidos, no ímpeto da tempestade, admirai-me, antes, no poder que tenho de fazer-me humilde para vós, no saber descer do meu elevado reino à vossa treva; admirai-me nessa força imensa que possuo de constranger meu poder a uma fraqueza que me torna semelhante a vós.

Não vos peço para compreenderdes meu poder, que me situa longe de vós; rogo-vos para compreenderdes o meu amor, que me assemelha a vós e me coloca ao vosso lado. Meu poder poderá desalentar-vos e atemorizar-vos, dando-vos de mim uma ideia não justa, de um senhor vingativo e despótico. Não quero vossa obediência por temor. Agora deve despontar uma nova aurora de consciência e de amor. Deveis elevar-vos a uma lei mais alta, e eu retorno hoje para anunciar-vos a boa nova. Não sou um senhor vingativo e tirânico, como me supuseram outrora, por necessidade, os povos antigos; sou o vosso amigo, e é com palavras de bondade que me dirijo ao vosso coração e à vossa razão.

Não mais deveis temer, mas sim compreender. Vossa razão infantil já acordou, e nela venho lançar minha luz. Sou síntese de verdade, e em toda a parte ela surgirá, atingindo a luz da vossa inteligência.

Não trago combates, mas paz. Não trago divisões de consciência, mas sim união de pensamentos e de espíritos.

A humanidade terrestre aproxima-se de sua unificação, numa nova consciência espiritual. Não vos insulteis, portanto, e sim compreendei-vos uns aos outros. Que cada um concorra com o seu grãozinho para a grande fé, e que esta vos torne todos irmãos.
Unam-se estreitamente a religião, que é revelação minha, a ciência, que é o vosso esforço, e todas as vossas intuições pessoais numa grande síntese, e seja esta uma síntese de verdade.
Porque eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.