domingo, 9 de maio de 2021

Lamentos do órfão - João de Deus

 

DE JOÃO DE DEUS

Poeta português, nascido em Bartolomeu de Messines, em

1830 e desencarnado em 1896.

Livro Parnaso de Além Túmulo.

psicografia de Chico Xavier



Lamentos do órfão

 

Minha mãezinha, alguém me disse,

Que tu te foste, triste sem mim;

Já não me embala tua meiguice,

E não podias partir assim.


Eu acredito que tenhas ido

Pedir a Deus, que possui a luz,

Que de mim faça, do teu querido,

Um dos seus anjos, outro Jesus.

Mas tanto tempo faz que partiste,

Que me fugiste sem me levar,

Que sofro e choro, saudoso e triste,

Sem esperanças de te encontrar.

Há quantos dias que te procuro,

Que te procuro chamando em vão!...

Tudo é silêncio tristonho e escuro,

Tudo é saudade no coração.

Outros meninos alegres vejo,

Numa alegria terna e louçã,

Que exclamam rindo dentro dum beijo:

Como eu te adoro, minha mamã!”

Sinto um anseio sublime e santo,

De nos meus braços, mãe, te beijar;

E abraço o espaço, beijo o meu pranto,

Somente a mágoa vem-me afagar.

Inquiro o vento: – “Quando verei

Minha mãezinha boa e querida?”

E o vento triste diz-me: – “Não sei! ...

Só noutra vida, só noutra vida!...”

Pergunto à fonte, pergunto à ave,

Quando regressas dos Céus supremos,

E me respondem em voz suave:


Nós não sabemos! nós não sabemos!...”

Pergunto à flor que engalana a aurora,

Quando é que voltas desse país,

E ela retruca, consoladora:

Depois da morte serás feliz.”

E digo ao sino na tarde calma:

Onde está ela, meu doce bem?”

Ele responde, grave, à minhalma:

Além na luz! Na luz do Além!.. .“

O mar e a noite me crucificam,

Multiplicando meus pobres ais,

Cheios de angústias, ambos replicam:

Tua mãezinha não volta mais.”

Somente a nuvem, quando eu imploro,

Diz-me que vens e diz que te vê;

E me conforta, do céu, se eu choro:

Eu vou chamá-la para você.”

Sempre te espero, mas, ai! não voltas,

Nem para dar-me consolação;

Ó mãe querida, que mágoas soltas

Andam cortando meu coração.

Tanta saudade, e, no entretanto,

Vejo-te linda nos sonhos meus;

Ajoelhada, banhada em pranto,

E de mãos postas aos pés de Deus.

Sempre a meus olhos, estás bonita


Qual uma rosa, como um jasmim!

Porém conheço que estás aflita,

Com o pensamento junto de mim.

Então, entrego-me ao meu desejo,

Tremo de anseio, calo, sorrio,

Sentindo o anélito do teu beijo...

Mas abro os olhos no ar vazio!

Vai-se-me o sonho... Quanta amargura,

Que sinto esparsa pelo caminho!

Que mágoa eterna! que desventura,

Para quem segue triste e sozinho.

Volta depressa! guardo-te flores,

Porque só vivo pensando em ti:

Celebraremos nossos amores,

Junto da fonte que canta e ri.

Já não suporto tantos cansaços!...

Se não voltares, pede a Jesus

Que te conceda pôr-me em teus braços,

Foge comigo para outra luz!...

 

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