Há trabalhos que só nos resta agradecer aos seus autores. Abaixo, reproduzo um sobre o tema Autismo, que continua a requerer da medicina em geral maior determinação, principalmente agora com as informações que são capazes de ser obtidas do DNA.
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Autismo, Neurônios-espelho e Marcas Espirituais
Trabalho apresentado no MEDINESP, Congresso Médico-Espírita Nacional e
Internacional, realizado em junho de 2007, São Paulo, SP. (Carlos Eduardo
Sobreira Maciel – carlos.amemg@hotmail.com
)
0 – Introdução:
Estamos há 150 anos buscando uma integração cérebro-mente –espírito e ao
analisarmos a história das descobertas e avanços científicos percebemos que ela
é permeada por acidentes e coincidências inacreditáveis, o que nos revela que
não estamos sós nesta jornada.
No que se refere ao autismo, temos bons exemplos disto: dois homens em
lugares distintos, numa mesma época, sem se comunicarem, dão o mesmo nome à
doença e 50 anos depois as células doentes do autismo são descobertas
acidentalmente…
I – História:
Na década de 40, dois médicos, o psiquiatra americano Leo Kanner e o
pediatra austríaco Hans Asperger, descobriram o distúrbio de desenvolvimento
que afeta milhares de crianças em todo o mundo. Foi uma descoberta isolada –
nenhum dos dois sabia o que o outro pesquisava, e ambos deram o mesmo nome à
síndrome: Autismo. Foi considerada uma “coincidência inacreditável”, mas fica
claro que houve uma intervenção do plano espiritual ao nos convidar para dar
mais atenção àquelas crianças e ampara-las no seu sofrimento.
A palavra autismo vem do grego autos, que significa “de si mesmo”.
O nome é perfeito. O traço mais flagrante da doença é o isolamento do mundo
exterior, com a conseqüente perda de interação social. Em vez de dedicar-se à
exploração do mundo exterior, como acontece normalmente, a criança autista
permanece dentro das fronteiras de seu próprio universo pessoal.
II – Conceito, quadro clínico e epidemiologia:
Segundo a OMS, o autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento,
definido pela presença de desenvolvimento anormal que se manifesta antes da
idade de 3 anos e pelo funcionamento anormal em três áreas: interação social,
comunicação e comportamento restrito e repetitivo.
O comprometimento da interação social é observado na falta de empatia, na
falta de resposta às emoções de outras pessoas e no retraimento social.
Já o comprometimento da comunicação é percebido na falta de uso social da
linguagem, na falta de linguagem não-verbal, na pobreza de expressão verbal e
no comprometimento em jogos de imitação.
O autista também apresenta um comportamento restrito e repetitivo, o que
pode ser observado através de estereotipias motoras e preocupações
estereotipadas com datas, horários e itinerários.
Podem também existir sintomas inespecíficos como fobias, auto-agressão,
ataques de birra e distúrbios alimentares.
Há deficiência mental em cerca de ¾ dos casos, embora todos os níveis de
Q.I. possam ocorrer em associação com o autismo. Às vezes há capacidade
prodigiosa para funções como memorização, cálculo e música.
Segundo recentes publicações da Revista Brasileira de Psiquiatria,
publicação da ABP, alguns autores sugerem que o diagnóstico já pode ser
estabelecido por volta dos 18 meses de idade. Outras informações epidemiológicas
mostram que há de 1a 5 casos em cada 10.000 crianças e que a doença ocorre em
meninos 2 a 3 vezes
mais do que em meninas.
III – Causas:
A maioria dos casos de autismo tem causa desconhecida. Alguns casos são
presumivelmente decorrentes de alguma condição médica das quais infecções
intra-uterinas (como a rubéola congênita), doenças genéticas (como a síndrome
do x frágil) e ingestão de álcool durante a gravidez (provocando a síndrome
fetal alcoólica) estão entre as mais comuns.
IV – Neurônios-espelho:
Descobertas científicas recentes apontam para um defeito nos
neurônios-espelho como causa do autismo. Estes neurônios são um subconjunto de
células que refletem no cérebro do observador os atos realizados por outro
indivíduo (se eu pego um objeto, alguns neurônios são ativados em meu cérebro;
se eu observo o indivíduo pegando o objeto, os mesmos neurônios são ativados em
meu cérebro como se eu estivesse pegando o objeto).
Os neurônios-espelho foram descobertos, acidentalmente, no início da década
de 90 por pesquisadores italianos da Universidade de Parma, que estudavam um
determinado tipo de neurônio motor de macacos. Este neurônio disparava quando o
macaquinho pegava uma fruta e para surpresa de todos, disparou também quando
ele observou um dos pesquisadores pegar a fruta, como se ele mesmo estivesse
pegando-a para comer.
Uma série de experimentos realizados posteriormente demonstrou a existência
destes neurônios no cérebro humano. Portanto podemos dizer que através dos
neurônios-espelho, nós podemos compreender “visceralmente” um ato observado.
Nós sentimos a experiência vivida por outro em nossas mentes. Mas não é só esta
a função destes neurônios.
Diversos estudos realizados nas Universidades da Califórnia e College de
Londres e no centro de Pesquisa Jülich, na Alemanha, demonstraram as funções de
reconhecimento de intenções dos atos, de emoções vividas por outra pessoa
(então se uma pessoa te diz: “eu sei o que você está sentindo”, talvez ela não
saiba o quanto esta frase é verdadeira) e o importante papel de aprendizado por
imitação de novas habilidades, como a linguagem por exemplo.
A partir do final da década de 90, pesquisadores da Universidade da
Califórnia se empenharam em determinar uma possível conexão entre
neurônios-espelho e autismo, já que ficou demonstrada a associação entre essas
células e empatia, percepção dos atos e intenções alheios e aprendizado da
linguagem, funções deficientes nos autistas.
V – O sistema espelho “quebrado”:
E realmente, estudos realizados na Universidade de Saint Andrews, na
Escócia, Universidade de tecnologia de Helsinque, na Finlândia, além dos
estudos na Universidade da Califórnia, provaram que a atividade dos
neurônios-espelho dos autistas é reduzida em diversas áreas cerebrais:
- No córtex cingulado anterior e insular, o que pode explicar a ausência de
empatia;
- No córtex pré-motor, o que pode explicar a sua dificuldade de perceber
atos alheios;
- E no giro angular, explicando problemas na linguagem.
VI – Marcas espirituais – patogênese remota:
Apesar dos avanços científicos, o autismo permanece um mistério, um desafio,
um enigma que só se revelará mais claramente ao nosso entendimento a partir da
introdução da realidade espiritual.
Já se sabe que disfunções neurológicas (como as disfunções dos
neurônios-espelho) produzem repercussões de natureza autística, mas
continuaremos com a pergunta maior: que causas produzem as disfunções
neurológicas? Se a responsabilidade for atribuída aos genes, a pergunta se
desloca e se reformula assim: que causas produzem desarranjos nos complexos
encaixes genéticos?
Segundo a literatura médico-espírita e orientações mediúnicas recebidas no
GEEP da Associação, o autismo como outros graves distúrbios mentais (psicoses
por ex.) resulta de graves desvios de comportamento no passado, de choques
frontais com as leis que regem o universo. Então, o que antecede à
predisposição genética e às disfunções neurológicas são as graves faltas
pretéritas.
Entre o passado de faltas e as presentes alterações genéticas, neurológicas
e mentais do autismo encontramos uma ponte que liga estes dois momentos
distintos. Esta ponte é o próprio processo de reencarnação. Aqui se encontra a
formação do autismo. Há duas possibilidades ou vias de ligação:
1a O reencarnante com profundas lesões perispirituais produzindo
alterações neurológicas e a conseqüente formação do autismo.
2a O reencarnante rejeita a reencarnação levando à formação do
autismo.
Na 1a possibilidade, a consciência do reencarnante marcada pela
culpa, acarretou severos danos no perispírito e conseqüentes lesões no SNC. Há
uma incapacidade de organizar um corpo sadio na atual encarnação. Neste caso a
entidade espiritual fica aprisionada no corpo deficiente, sem conseguir
estabelecer comunicação. Esta possibilidade ou via de formação do autismo é
defendida por alguns estudiosos que acreditam que certos autistas, constituem
angustiantes tentativas de se entender com o mundo externo. Há casos de
autistas que alcançaram certa melhora e relataram que muitas vezes entendiam o
que as pessoas lhe diziam, mas não sabiam como responder verbalmente.
Recorriam, por isto, aos gritos e ao agitar das mãos, único mecanismo de
comunicação que dispunham.
Na outra possibilidade, via ou ponte de ligação entre passado de faltas e
autismo, temos o indivíduo com a consciência marcada pela culpa, temendo colher
os frutos em uma nova existência compulsória, rejeitando a reencarnação,
provocando autismo. No livro “Loucura e
obsessão”, de Manoel Philomeno de Miranda, temos a confirmação da hipótese de
rejeição à reencarnação. Nos capítulos 7 e 18, o Dr. Bezerra de Menezes
explica que o indivíduo com a consciência culpada é reconduzido à reencarnação
e acaba buscando o encarceramento orgânico para fugir sem resgatar as graves
faltas do passado. Trata-se de um vigoroso processo de auto-obsessão, por
abandono consciente da vida. Conclui dizendo que muitos espíritos buscam na
alienação mental, através do autismo, fugir às suas vítimas e apagar as
lembranças que o atormentam.
VII - Marcas espirituais – os sintomas:
Considerando a possibilidade de rejeição à reencarnação podemos fazer uma
nova leitura dos sintomas autísticos. Começando pelo isolamento, sinal de que o
autista não admite invasões em seu mundo; como porém, a participação mínima do
lado de cá da vida é inevitável, sua manifestação se reduz a alguns movimentos
repetitivos como agitar as mãos, girar indefinidamente um prato ou a roda de um
brinquedo, qualquer coisa enfim, que mantenha a mente ocupada com rotinas
irrelevantes que o livrem do convívio entre as pessoas.
Uma explicação possível para o sintoma autista de girar sobre si mesmo,
seria a produção de tonteira através da rotação, provocando um passageiro
desdobramento entre perispírito e corpo físico, livrando a criança,
momentaneamente, da prisão celular.
As crianças autistas muitas vezes manifestam rejeição a alguma parte do
corpo, através de auto-agressão. Isso pode ser um sinal de rejeição à própria
personalidade.
Quanto à relação ambígua consigo mesma, manifestada pela troca dos pronomes
pessoais (referindo-se a si mesma como “tu” e ao outro como “eu”), podemos
pensar na possibilidade de obsessão espiritual, já que com os desacertos do
passado, muitos são os desafetos.
Uma análise mais profunda da disfunção da linguagem, pode ser feita a partir
da hipótese proposta por Hermínio Miranda em seus livros “A alquimia da mente” e “Autismo,
uma leitura espiritual”. Segundo o autor, normalmente ao reencarnar, o
espírito se instala à direita do cérebro e por 2 ou 3 anos passa para o
hemisfério esquerdo a programação da personalidade daquela encarnação. Neste
período é formado o mecanismo da linguagem. No caso do autismo o espírito
permanece –autísticamente- no lado direito, área não-verbal do cérebro, sem
participar deste processo. É natural que este ser que vem compulsoriamente, sem
interesses em envolver-se com as pessoas e o mundo, torne o seu sistema de
comunicação com o ambiente, o mais rudimentar e precário possível. Encontramos
informações que reforçam esta hipótese:
-1a sabe-se que o corpo caloso, estrutura que liga os dois hemisférios
cerebrais, não desempenha durante os primeiros 2 ou 3 anos de vida, a função de
separar faculdades dos dois hemisférios.
-2a a partir do segundo ou terceiro ano de vida é que o
hemisfério esquerdo assume a linguagem.
-3a o autismo eclode até o terceiro ano de vida quando se percebe
uma interrupção do desenvolvimento da linguagem.
Parece então que até os 2-3 anos as crianças vão se comunicando através dos
2 hemisférios, e a partir de então só se comunica quem tiver implantado no
h.esquerdo esta função, o que não acontece com o autista.
VIII – Tratamentos:
O autismo é um quadro de extrema complexidade que exige abordagens
multidisciplinares, visando a questão educacional e da socialização, assim como
o tratamento médico.
O tratamento médico é realizado com medicamentos para reduzir sintomas como
agitação e agressividade.
É importante dizer que pesquisas têm sido dirigidas no sentido de se
encontrar medicamentos que estimulem a liberação de neurotransmissores
específicos ou reproduzam os seus efeitos. Neurotransmissores que sejam
responsáveis pelo funcionamento químico dos neurônios-espelho.
Do ponto de vista do espírito, por mais paradoxal que possa parecer, o
remédio para o autismo é o próprio autismo como forma de drenagem
perispiritual.
IX – Prognóstico:
Alguns pacientes autistas conseguem alcançar um certo nível de autonomia. A
literatura mostra que alguns fatores estão ligados a um melhor prognóstico:
1- Significativa destreza verbal adquirida antes de instalada a doença.
2- Diagnóstico precoce e concentração de esforços tão cedo quanto possível.
Tratamento e terapia devem ser iniciados quando a anormalidade é observada na
criança pela 1a vez.
X – Conclusão:
Na certeza de que a diferença mais importante entre nós e nossos pacientes
está em um pouco mais de boa vontade de nossa parte, e isto foi dito mais de
uma vez pelo nossos mentores, cito mais uma vez o sr Hermínio Miranda para
concluir este trabalho.
É necessário construir uma ponte para ligar o mundo externo ao mundo íntimo
do paciente. É importante que não nos comportemos de forma autística, nos
fechando nos nossos mundos de clichês, cheios de padrões, desinteressados em
andar metade do caminho, na direção do paciente.
Uma possibilidade é tentar interpretar os seus sinais não-verbais. É bem
verdade que não há muitas palavras no dicionário deles, mas a linguagem
universal do amor também é não-verbal. Para se expressar através dela, há os
gestos, a vibração sutil da emoção, da solidariedade, da paciência, da
aceitação da pessoa como ela é, não como queremos que ela seja.
Se estivéssemos no lugar deles, como gostaríamos de ser tratados? É
presumível que eles estejam fazendo tudo que lhes seja possível, dentro de suas
limitações. Com um pouco de boa vontade de nossa parte, talvez concordem em
tocar a mão que lhe estejamos oferecendo a fim de saltarem o abismo que nos
separa!
XI – Referências bibliográficas:
1- Revista Scientific American
2- Revista Brasileira de Psiquiatria
3- CID 10
4- Autismo, uma leitura espiritual – Herminio Miranda
5- Alquimia da Mente – Herminio Miranda
6- Orientações mediúnicas, Grupo de Estudos de Espiritismo e Psiquiatria da
AMEMG
Assista Sergio Thiessen no Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=YRaEdeRr3qA
Leia também:
Autismo
na Visão Espírita - por Victor Passos
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