terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Bezerra (Max) esclarece sobre obras de Antonio Luiz Sayão e Roustaing

Artigo de Bezerra de Menezes, sob o pseudônimo MAX,
publicado na "Gazeta de Notícias", em 23 de março de 1897.


ESPIRITISMO
ESTUDOS FILOSÓFICOS
Na “Gazeta de Notícias” de 22 do corrente mês lemos
 o seguinte (*):
(*) Esta carta só foi realmente estampada, no referido
 jornal carioca, Da data de 23 de março de 1897,
 à pág. 2, quinta coluna  da esquerda para a
direita. (Nota da FEB h 9ª edição.)

“Meu caro Max. — A nossa incipiência tem encontrado
sempre conforto na Vossa palavra inspirada e respeitada
mesmo pelos ortodoxos da fé; desde, pois, que
assumistes uma tal autoridade, a vossa opinião, sem
que a  embarace a vossa reconhecida modéstia, é
segura orientação  para os que entretém Grupos Espíritas;
e, nestas circunstãncias, relevareis que vos peçamos
um conselho:
podemos tomar os dois livros  publicados pelo Dr.
Sayão como normas a seguir no nosso Grupo?

 — Um discípulo.


Bem se vê que o consultante é realmente um  incipiente,
pois que eleva nossa individualidade a umas alturas
que estamos  muito longe de atingir; entretanto, por
corresponder à sua confiança, dir-lhe-emos, com toda a
lealdade e sinceridade, o que pensamos sobre os  livros
do Dr. Sayão.


O Espiritismo não é, como julgam os padres ser, a revelação
messiânica, a última palavra sobre as verdades que Deus,
em seu amor  pela Humanidade, fez baixar do céu à Terra.

Enquanto o homem não chegar ao último grau da perfeição
Intelectual, de penetrar todas as leis da criação, a revelação
não chegará a seu termo, pois que ela é progressivamente
mais ampla, na medida do  desenvolvimento da faculdade
compreensiva do homem.

O Espiritismo, pois, tendo dado mais do que as anteriores
revelações, muito terá ainda que dar, porque muito terá
ainda que progredir  a Humanidade terrestre.

Allan Kardec, Espírito preposto por Jesus para reunir,
em um corpo de doutrinas, ensinos confiados, pelo mesmo
Jesus, ao Espírito  da Verdade, constituído por uma legião
de Altíssimos Espíritos, só apanhou  o que estes deram
 — e estes só deram o que era compatível com a  

compreensão atual do homem terreal.

Mas o homem, como já foi dito, não cessa de desenvolver  a sua
faculdade compreensiva e, pois, os principais fundamentos
da revelação  espírita, compreendidos nas obras fundamentais
de Allan Kardec, tendem constantemente a se alargar em extensão
e compreensão, como ele mesmo veio alargar os princípios
fundamentais do ensino ou revelação messiânica — e como este
veio alargar os da revelação mosaica.

A Allan Kardec sobrevivem outros missionários da verdade
eterna, que, sem destruir a obra feita, porque esta é firmada na lei
e a lei é imutável, darão mais luz, para mais largo conhecimento das
faces mais obscuras daquela verdade.

Eis aí que já apareceu Roustaing, o mais moderno missionário

da lei, que em muitos pontos vai além de Allan Kardec, porque é
inspirado como este, mas teve por missão dizer o que este não 
podia, em razão  do atraso da Humanidade.

Não divergem no que é essencial, mas sim nos modos de

compreender a verdade, porque esta, sendo absoluta, aparece-nos
sob mil fases relativas — relativas ao nosso grau de adiantamento
Intelectual e moral,  que um não pode dispensar o outro, como 
as asas de um pássaro não se podem dispensar, para o fim de se
elevar  às alturas.

Roustaing confirma o que ensina Allan Kardec, porém adianta
mais que este, pela razão que já foi exposta acima.

É, pois, um livro precioso e sagrado o de Roustaing; mas o autor, não
possuindo, como homem, a vantagem que faz sobressair o trabalho de
Kardec, de clareza e concisão, torna-o bem pouco acessível às
Inteligências de certo grau para baixo.

Seria obra de meritório valor dar à sua exposição de princípios
relevantíssimos a concísão e a clareza que sobram no mestre e que
lhe faltam bem sensivelmente.

Foi esta, no fundo, a obra de Sayão.

Em ligeiros traços resumiu, sem lesar, longas exposições - e em
linguagem didática clareou e pôs ao alcance de todas as inteligências
o que era obscuro à maior parte.

O livro de Sayão é um resumo de Roustaing, com as vantagens

de Allan Kardec.

É, portanto, correto e adiantado, sob o ponto de vista doutrinário

 - e é claro e conciso sob o ponto de vista do método.

Por outra: contém as idéias de Roustaing e o método incomparável

de Allan Kardec.

Quem compreende a progressividade da revelação não pode recusar
preito a Roustaing — e quem quiser colher, em Roustaing, os frutos
preciosos de sua inspiração, muito lucrará estudando o livro 

(os livros) de Sayão.

É chave de ouro, que ninguém deve desprezar - e que, além de ser tal,

encerra observações e práticas que, por si só, recomendariam 
o hercúleo esforço do Anteu do Espiritismo no Brasil.

Ao caro Irmão em crenças, a quem agradecemos, mais uma vez,

à honra que nos dispensou, com tanta gentileza, diremos,
em conclusão:
podeis tomar os dois livros publicados pelo Dr. Sayão como

normas a seguir em vosso Grupo.

Neles encontrareis o que há de mais adiantado em Espiritismo,

colhido na seara bendita, com a alma cheia de amor, humildade
e fé, as virtudes que mostram a coroa do discípulo de Jesus,
votado  à obra do Mestre Divino, com o coração cheio de energias e 
de caridade evangélica.

Descansai a mente sobre esta obra preciosa, em que transluzem

os clarões da verdade, como repousou a cabeça, no seio de Jesus,
o discípulo amado.

E damos graças a Deus por nos ter permitido encontrar, por entre

as névoas de nossa peregrinação terrestre, o raio de luz 
- o farol - o santelmo que nos encaminha ao porto da salvação.

MAX. "


Nota da Editora à 9ª edição: MAX, pseudônimo do Dr. Bezerra de
Menezes, publicou esta crítica na Gazeta de Notícia de terça-feira,
6 de abril de 1897, pág. 3. quarta coluna da esquerda para a direita.
Max escreveu nesse jornal, em 1896 e 1897, a coluna Espírita,
no - Estudos Filosóficos, que saíra em O País” de 1887 a 1894.

Nenhum comentário:

Postar um comentário