sexta-feira, 25 de março de 2016

O Sermão da Montanha


         





XV

EM BUSCA DA FELICIDADE
                        * capítulo XV do livro “ A Lei de Deus”

Como a Lei nos faz atingir a abençoada posição dos bem-aventurados do Sermão da Montanha, relatado no Evangelho.


Se quisermos resumir em duas palavras o assun­to que foi desenvolvido até agora nestes capítulos, poderíamos dizer que falamos da Lei. Temos falado dela, porque ela representa o ponto central da nossa vida e o caminho da nossa salvação. A Lei exprime o pensamento e a vontade de Deus e constitui a re­gra fundamental da nossa conduta.

Mas, qual é o seu conteúdo? - poder-se-ia perguntar O conteúdo da Lei, pelo menos no que se re­fere às normas que regem a conduta humana, é bem conhecido no mundo e não nos cabe repeti-lo. Ele já foi sintetizado nos Dez Mandamentos de Moisés, exemplificado no Evangelho, explicado pelas reli­giões e pelos princípios morais aceitos pelo homem. Há milênios o mundo repete estas verdades. A nos­sa tarefa não é a de fazer um tratado a mais de mo­ral ou de religião. Não é deles ou de pregações que temos falta, mas da sua aplicação na vida prática.

Nossa tarefa foi só a de demonstrar, também aos que não acreditam nas religiões, que a Lei está pre­sente e funciona de verdade, trazendo consigo sérias conseqüências práticas as quais não se pode fugir, sejam de utilidade ou de prejuízo. Quem tiver enten­dido nossas palestras saberá agora o que lhe acon­tecerá se a sua conduta não for aquela que a Lei estabelece. Não temos falado de infernos longínquos, nem de vinganças de Deus, absurdas porque Ele não pode ser mau, mas só da Sua bondade e justiça, o que convence muito mais. Temos falado com pala­vras de lógica aos homens práticos, de fatos concre­tos que cada um com seus próprios meios pode veri­ficar em nosso mundo, fatos cujo sentido só assim é possível explicar e compreender. Agora podemos claramente entender as razões pelas quais nos con­vém seguir o caminho da honestidade, e quão louco é o mundo que provoca o seu próprio prejuízo, seguindo o caminho oposto. Quem compreendeu tudo isso, torna-se muito mais responsável pelas conseqüências dos seus atos, porque agora sabe que, quando chegar a reação da Lei em forma de dor, é porque nele mesma está a causa, e essa dor foi ele quem a semeou com seus erros. Então só lhe resta resignar-se e iniciar o trabalho de autocorreção.

Mencionamos anteriormente o Sermão da Monta­nha, de Cristo. Este Sermão sintetiza em poucas pa­lavras aquilo em que a Lei quer que nos tornemos, chamando de bem-aventurados os que atingirem aquele nível superior de vida ao qual o Sermão se refere. Por estas palavras do Evangelho, a Lei nos diz o que nos aguarda se obedecermos a ela, adqui­rindo as qualidades dos mais evoluídos, isto é, sermos humildes de espírito, pacientes nos sofrimentos, man­sos, justos, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores etc. Eis as palavras de Cristo, no Discurso da Montanha:

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. — Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. — Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. — Bem-aventurados os misericordiosos, por­que alcançarão misericórdia. — Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. — Bem­-aventurados os pacificadores, porque serão chama­dos filhos de Deus. — Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus... Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus. . .”1

Esta é a posição dos bem-aventurados, daqueles que obedecem à Lei. Mas, esta não é a nossa posição atual no nível humano, cujas “virtudes” de for­ça e astúcia são completamente diferentes. Procure­mos, então, parafrasear este trecho do Evangelho, repetindo-o numa forma diferente, para ver quais são as reações com que a Lei nos impulsiona para que nos tornemos os bem-aventurados de que fala o Ser­mão da Montanha. Este apresenta um aspecto supe­rior da Lei, mas agora a veremos neste mesmo assun­to sob outro aspecto, ou seja, como Ela funciona a este respeito no nível humano (que na realidade não é o dos bem-aventurados), mostrando os meios pelos quais a Lei nos estimula a atingir aquela abençoada posição de bem-aventurados. Assim, os homens prá­ticos do nosso mundo, que possam pensar que o Ser­mão da Montanha exprime uma filosofia de sonho, verão que, por caminhos diferentes, mais duros, proporcionados à dureza do homem, ele esta igualmen­te se realizando em nosso baixo nível de vida. Veja­mos, assim, qual é a posição, não dos bem-aventurados do Evangelho que vivem a Lei, mas do homem comum do mundo que, ainda não vivendo a Lei, é im­pulsionado a vivê-la. Eis, então, como se poderia re­petir o Sermão da Montanha, relacionado com este outro ponto de referência:

"Bem-aventurados os soberbos, porque eles terão de sofrer tantas humilhações até aprender a lição de humildade e assim, deles será o reino dos céus. — Bem-aventurados os que gozam demais, só pensando em si e para além dos limites razoáveis, porque terão de sofrer necessidade e abandono, até aprender a re­gra da justa medida e do amor ao próximo e, então, serão consolados. — Bem-aventurados os prepotentes, os ferozes, os guerreiros, porque tanto serão esmaga­dos pela prepotência, ferocidade e agressão dos ou­tros que se tornarão mansos e, então, herdarão a terra. — Bem-aventurados os que sustentam e praticam a injustiça, porque tanta injustiça terão de receber que compreenderão quão duro é ter de estar subme­tidos a ela e, então, por terem aprendido sua custa a ambicionar a justiça, desta serão fartos. — Bem-aven­turados os desapiedados, porque não encontrarão misericórdia e, por demais a invocarem para si sem recebê-la, compreenderão a necessidade da bondade e do perdão, alcançando, então, misericórdia. — Bem-aventurados os que não são limpos de coração, porque ficarão tão submersos na ignorância e na maldade, com os conseqüentes erros e dores, que purifica­rão seu entendimento, e assim compreenderão a Lei e verão a Deus. — Bem-aventurados os que gostam de brigas e de disputas, porque pelo fato de não conse­guirem encontrar paz, almejá-la-ão e procurá-la-ão em toda a parte, até que se tornarão pacificadores, e en­tão serão chamados filhos de Deus — Bem-aventurados os que perseguem com injustiça os justos, porque tanto serão perseguidos pela sua própria injus­tiça, que aprenderão a ser justos, e então deles será o reino dos céus... Alegrai-vos e exultai, todos vós que quereis rebelar-vos contra a Lei, porque grande é o sofrimento que vos espera e assim tereis de apren­der a lição da obediência, pela qual ganhareis um grande galardão nos céus”.

Eis como o Evangelho dos Céus, - assim se po­deria chamar o de Cristo, - tem de se traduzir na Terra, para que seja possível realizar-se aqui. Eis como o Evangelho vai tornar-se realidade viva tam­bém para os surdos e os rebeldes. Eis como a Lei se mantém em ação e se realiza plenamente também em nosso mundo. Seria absurdo que a ignorância e à má vontade do homem fosse deixado o poder de paralisar a Lei e, com isso Sua obra de salvação. Eis como Deus, para nosso bem, nos torna bem-aventurados, mesmo se não o quisermos. Ele quer, custe o que custar, nossa salvação. Por isso, quando for indispensável, usa também o chicote da dor, por­que Ele sabe que um dia a abençoaremos, quando, por este caminho, nos tivermos tornado bem-aventu­rados.


  1. O Evangelho aplicado ao sistema (aos evoluídos)

O Evangelho aplicado A Terra (aos involuídos)
1) Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

1) Bem-aventurados os soberbos, porque eles terão de sofrer tantas humilhações até aprender a lição de humildade e assim, deles será o reino dos céus.

2) Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

2) Bem-aventurados os prepotentes, os ferozes, os guerreiros, porque tanto serão esmagados pela prepotência, ferocidade e agressão dos outros que se tornarão mansos e, então, herdarão a terra.

3) Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.

3) Bem-aventurados os que sustentam e praticam a injustiça, porque tanta injustiça terão de receber que compreenderão quão duro é ter de estar submetidos a ela e, então, por terem aprendido sua custa a ambicionar a justiça, desta serão fartos.

4) Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

4) Bem-aventurados os desapiedados, porque não encontrarão misericórdia e, por demais a invocarem para si sem recebê-la, compreenderão a necessidade da bondade e do perdão, alcançando, então, misericórdia.

5) Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.

5) Bem-aventurados os que não são limpos de coração, porque ficarão tão submersos na ignorância e na maldade, com os conseqüentes erros e dores, que purificarão seu entendimento, e assim compreenderão a Lei e verão a Deus.

6) Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.

6) Bem-aventurados os que gostam de brigas e de disputas, porque pelo fato de não conseguirem encontrar paz, almejá-la-ão e procurá-la-ão em toda a parte, até que se tornarão pacificadores, e então serão chamados filhos de Deus.

7) Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

7) Bem-aventurados os que perseguem com injustiça os justos, porque tanto serão perseguidos pela sua própria injustiça, que aprenderão a ser justos, e então deles será o reino dos céus.

8) Bem-aventurados os que choram porque serão consolados.

8) Bem-aventurados os que gozam demais, só pensando em si e para além dos limites razoáveis, porque terão de sofrer necessidade e abandono, até aprender a regra da justa medida e do amor ao próximo e, então, serão consolados.

Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus.

Alegrai-vos e exultai, todos vós que quereis rebelar-vos contra a Lei, porque grande é o sofrimento que vos espera e assim tereis de aprender a lição da obediência, pela qual ganhareis um grande galardão nos céus.



A grande maravilha da Lei é que ela responde a cada um conforme sua natureza. Ela responde aos nossos movimentos com a mesma exatidão com que um espelho reflete nossa imagem. Se nossa imagem no espelho é feia, a culpa não é do espelho, mas de nós que somos feios. Se formos bonitos, a imagem será bonita. Da mesma forma, o tratamento que re­cebemos da Lei depende do que somos e fazemos Se somos bons e obedientes, ela responderá com bon­dade. Mas, se somos maus e rebeldes, ela nos ensi­nará o que temos de aprender, com o azorrague da dor. Cada um pode escolher seu método. Dentro da Lei, porém, todos ternos de viver. O que dela recebere­mos, em troca das nossas ações, depende da posição em que nos situamos diante da própria Lei.

O Evangelho é pregação para os homens de boa vontade, dispostos a se tornarem anjos. Já vimos qual o papel que o Evangelho tem de representar quando não queremos tornar-nos anjos, mas perma­necer demônios. Cada um, olhando para dentro de si, pode saber a qual dos dois grupos pertence e, por conseguinte, o tratamento que receberá por parte da Lei. Por isso, os bons, se e verdade que podem ser esmagados pelo mundo, nada têm a temer de Deus; ao passo que os maus, se podem por um momento vencer no mundo, muito têm a temer por parte da justiça de Deus, que os constrangerá a pagar até o último ceitil. É muito mais seguro e vantajoso ficar do lado de Deus do que do lado do mundo. Que valem e podem os recursos do mundo em comparação com os de Deus? Que po­derá e quererá fazer o mundo para nos defender, quando a ele nos escravizamos? E que poderá e que­rerá fazer Deus para nos defender, quando Lhe per­tencemos?

Eis que vemos brilhar, no fundo do grande qua­dro da Lei que estamos descrevendo, a resplandecente apoteose final dos bons, não importa se des­prezados e condenados pelos poderosos do mundo, apoteose em que se realizarão as palavras de Cristo — "as forças do mal não prevalecerão".

Por quanto tempo continuará o homem sem com­preender tudo isso? Quantos erros terá ainda de cometer e quantas dores terá de sofrer, antes de abrir os olhos para ver á substância da vida? O homem continuará a rebelar-se contra a Lei, a fechar-se no seu egoísmo, a conceber a vida só individualmente, enquanto a Lei arrasta o mundo para a fase orgâni­ca, em que os elementos das grandes coletividades colaboram fraternalmente. Quantas lutas serão ainda necessárias para se chegar à compreensão recí­proca e assim coordenar os esforços de todos para comuns finalidades de bem? Quantas experiências dolorosas serão ainda necessárias para se aprender a não provocar as reações da Lei? Estamos acostu­mados às leis humanas que, por serem feitas muitas vezes pela classe dirigente para seu próprio interes­se, parecem estar cumprindo a tarefa de nos ensinar, antes de tudo, a arte de nos evadirmos delas. Isso porque há luta entre quem manda e quem tem de obedecer. Mas, bem diferente é o caso da Lei de Deus. Esta não é feita para o interesse d'Ele, mas para o nosso. Então, procurar evadir-nos dessa Lei não é realizar nosso bem, indo contra quem manda, mas é abdicar de nossa vantagem e não obter senão nosso prejuízo. Isso porque o domínio da Lei não se baseia na imposição de quem manda contra quem tem de obedecer, mas na justiça, no amor e na livre obediência de quem compreendeu. Quanto tempo continuará o homem rebelando-se contra a ordem da Lei e fugindo, assim, da sua própria felicidade?

As forças da vida são movimentadas pela Lei, de maneira que a compreensão terá de chegar. Houve tempo em que o homem acreditou com certeza abso­luta na imobilidade da Terra e na imutabilidade da matéria. Mas, agora entende que a imobilidade e a imutabilidade aparentes são um estado de velocida­de constante, que nos parece sem movimento, porque nós só percebemos o movimento quando há mu­dança de velocidade, o que se chama de acelera­ção. Da tremenda corrida que, juntos com o nosso planeta, estamos realizando, ou que se verifica no interior do átomo, não percebemos coisa alguma.

Da mesma forma, o homem acredita que está vi­vendo no caos, julgando que somente sua vontade tem valor, e a ele cabe impor a ordem, a ordem dele. Isto o faz rebelde, num universo regido pela ordem da Lei, revolta que o conduz ao sofrimento, em virtu­de do choque contínuo com Ela. O homem fica ape­gado às pequenas coisas do seu mundo, acredita com absoluta certeza na verdade das ilusões deste, porque isto é a que percebe, e não vê que está viven­do no seio de uma ordem e de uma harmonia ma­ravilhosas.

Cego para tudo isso, cego para o imenso traba­lho que todos os seres e tudo o que existe estão cum­prindo para regressar a Deus na ascese da evolução, o homem, que trabalhosamente procura estabelecer alguma. Ele corre atrás das glórias humanas e não toma conhecimento da sua glória maior, - a de ser criatura filha de Deus. Procura as riquezas do mun­do e se esquece das infindas riquezas ao alcance de suas mãos, e que Deus lhe entregará tão logo ele aprenda a usá-las bem. Ele vai procurando desesperadamente a felicidade e não sabe que justamente para ela foi criado.

Como pode o verme que fatigosamente se arras­ta no chão compreender que nos espaços a velocida­de é gratuita, e que corpos imensos a possuem sem limites e sem esforço? Da mesma maneira, como pode o homem que trabalhosamente procura estabelecer uma ordem no seu planeta, campo de lutas desencadeadas, compreender que o universo é um imenso organismo de ordem e regido pela inteligência de Deus?
Quando o homem, vítima do seu atraso, resolve­rá avançar para a conquista de novos continentes do espírito que o esperam? Quando conseguirá ele, pre­so na sua forma mental, quebrar as paredes dessa sua prisão? Quando quererá resolver de uma vez para sempre todos os seus problemas, evoluindo? Tudo depende de nossa boa vontade e de nosso esforço.


1 Evangelho de Mateus, caps. 5, 6, 7 (Sermão da Montanha) (N. da E.).




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