XV
EM
BUSCA DA FELICIDADE
* capítulo XV do livro “ A Lei de Deus”
Como
a Lei nos faz atingir a abençoada posição dos bem-aventurados do
Sermão da Montanha, relatado no Evangelho.
Se
quisermos resumir em duas palavras o assunto que foi
desenvolvido até agora nestes capítulos, poderíamos dizer que
falamos da Lei. Temos falado dela, porque ela representa o ponto
central da nossa vida e o caminho da nossa salvação. A Lei exprime
o pensamento e a vontade de Deus e constitui a regra fundamental
da nossa conduta.
Mas,
qual é o seu conteúdo? - poder-se-ia perguntar
O conteúdo da Lei, pelo menos no que se refere às
normas que regem a conduta humana, é bem conhecido no mundo e não
nos cabe repeti-lo. Ele já foi sintetizado nos Dez Mandamentos de
Moisés, exemplificado no Evangelho, explicado pelas religiões
e pelos princípios morais aceitos pelo homem. Há milênios o mundo
repete estas verdades. A nossa tarefa não é a de fazer um
tratado a mais de moral ou de religião. Não é deles ou de
pregações que temos falta, mas da sua aplicação na vida prática.
Nossa
tarefa foi só a de demonstrar, também aos que não acreditam nas
religiões, que a Lei está presente e funciona de verdade,
trazendo consigo sérias conseqüências práticas as quais não se
pode fugir, sejam de utilidade ou de prejuízo. Quem tiver entendido
nossas palestras saberá agora o que lhe acontecerá se a sua
conduta não for aquela que a Lei estabelece. Não temos falado de
infernos longínquos, nem de vinganças de Deus, absurdas porque Ele
não pode ser mau, mas só da Sua bondade e justiça, o que convence
muito mais. Temos falado com palavras de lógica aos homens
práticos, de fatos concretos que cada um com seus próprios
meios pode verificar em nosso mundo, fatos cujo sentido só
assim é possível explicar e compreender. Agora podemos claramente
entender as razões pelas quais nos convém seguir o caminho da
honestidade, e quão louco é o mundo que provoca o seu próprio
prejuízo, seguindo o caminho oposto. Quem compreendeu tudo isso,
torna-se muito mais responsável pelas conseqüências dos seus atos,
porque agora sabe que, quando chegar a reação da Lei em forma de
dor, é porque nele mesma está a causa, e essa dor foi ele quem a
semeou com seus erros. Então só lhe resta resignar-se e iniciar o
trabalho de autocorreção.
Mencionamos
anteriormente o Sermão da Montanha,
de Cristo. Este Sermão sintetiza em poucas palavras aquilo em
que a Lei quer que nos tornemos, chamando de bem-aventurados os que
atingirem aquele nível superior de vida ao qual o Sermão se refere.
Por estas palavras do Evangelho, a Lei nos diz o que nos aguarda se
obedecermos a ela, adquirindo as qualidades dos mais evoluídos,
isto é, sermos humildes de espírito, pacientes nos sofrimentos,
mansos, justos, misericordiosos, limpos de coração,
pacificadores etc. Eis as palavras de Cristo, no Discurso da
Montanha:
“Bem-aventurados
os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. —
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. —
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos. — Bem-aventurados os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia. — Bem-aventurados os limpos de coração,
porque verão a Deus. — Bem-aventurados os pacificadores,
porque serão chamados filhos de
Deus. — Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da
justiça, porque deles é o reino dos céus... Alegrai-vos e exultai,
porque é grande o vosso galardão nos céus. . .”1
Esta
é a posição dos bem-aventurados, daqueles que obedecem à Lei.
Mas, esta não é a nossa posição atual no nível humano, cujas
“virtudes” de força e astúcia são completamente
diferentes. Procuremos, então, parafrasear este trecho do
Evangelho, repetindo-o numa forma diferente, para ver quais são as
reações com que a Lei nos impulsiona para que nos tornemos os
bem-aventurados de que fala o Sermão da Montanha. Este
apresenta um aspecto superior da Lei, mas agora a veremos neste
mesmo assunto sob outro aspecto, ou seja, como Ela funciona a
este respeito no nível humano (que na realidade não é o dos
bem-aventurados), mostrando os meios pelos quais a Lei nos estimula a
atingir aquela abençoada posição de bem-aventurados. Assim, os
homens práticos do nosso mundo, que possam pensar que o Sermão
da Montanha exprime uma filosofia de sonho, verão que, por caminhos
diferentes, mais duros, proporcionados à dureza do homem, ele esta
igualmente se realizando em nosso baixo nível de vida.
Vejamos, assim,
qual é a posição, não dos bem-aventurados do Evangelho que vivem
a Lei, mas do homem comum do mundo que, ainda não vivendo a Lei, é
impulsionado a vivê-la. Eis, então, como se poderia repetir
o Sermão da Montanha, relacionado com este outro ponto de
referência:
"Bem-aventurados
os soberbos, porque eles terão de sofrer tantas humilhações até
aprender a lição de humildade e assim, deles será o reino dos
céus. — Bem-aventurados os que gozam demais, só pensando em si e
para além dos limites razoáveis, porque terão de sofrer
necessidade e abandono, até aprender a regra da justa medida e
do amor ao próximo e, então, serão consolados. — Bem-aventurados
os prepotentes, os ferozes, os guerreiros, porque tanto serão
esmagados pela prepotência, ferocidade e agressão dos outros
que se tornarão mansos e, então, herdarão a terra. —
Bem-aventurados os que sustentam e praticam a injustiça, porque
tanta injustiça terão de receber que compreenderão quão duro é
ter de estar submetidos a ela e, então, por terem aprendido sua
custa a ambicionar a justiça, desta serão fartos. —
Bem-aventurados os desapiedados, porque não encontrarão
misericórdia e, por demais a invocarem para si sem recebê-la,
compreenderão a necessidade da bondade e do perdão, alcançando,
então, misericórdia. — Bem-aventurados os que não são limpos de
coração, porque ficarão tão submersos na ignorância e na
maldade, com os conseqüentes erros e dores, que purificarão
seu entendimento, e assim compreenderão a Lei e verão a Deus. —
Bem-aventurados os que gostam de brigas e de disputas, porque pelo
fato de não conseguirem encontrar paz, almejá-la-ão e
procurá-la-ão em toda a parte, até que se tornarão pacificadores,
e então serão chamados filhos de Deus — Bem-aventurados os
que perseguem com injustiça os justos, porque tanto serão
perseguidos pela sua própria injustiça, que aprenderão a ser
justos, e então deles será o reino dos céus... Alegrai-vos e
exultai, todos vós que quereis rebelar-vos contra a Lei, porque
grande é o sofrimento que vos espera e assim tereis de aprender
a lição da obediência, pela qual ganhareis um
grande galardão nos céus”.
Eis
como o Evangelho dos Céus, - assim se poderia chamar o de
Cristo, - tem de se traduzir na Terra, para que seja possível
realizar-se aqui. Eis como o Evangelho vai tornar-se realidade viva
também para os surdos e os rebeldes. Eis como a Lei se mantém
em ação e se realiza plenamente também em nosso mundo. Seria
absurdo que a ignorância e à má vontade do homem fosse deixado o
poder de paralisar a Lei e, com isso Sua obra de salvação. Eis como
Deus, para nosso bem, nos torna bem-aventurados, mesmo se não o
quisermos. Ele quer, custe o que custar, nossa salvação. Por isso,
quando for indispensável, usa
também o chicote da dor, porque Ele sabe que um dia a
abençoaremos, quando, por este caminho, nos tivermos tornado
bem-aventurados.
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O
Evangelho aplicado A Terra (aos involuídos)
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1)
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino
dos céus.
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1)
Bem-aventurados os soberbos, porque eles terão de sofrer tantas
humilhações até aprender a lição de humildade e assim, deles
será o reino dos céus.
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2)
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
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2)
Bem-aventurados os prepotentes, os ferozes, os guerreiros, porque
tanto serão esmagados pela prepotência, ferocidade e agressão
dos outros que se tornarão mansos e, então, herdarão a terra.
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3)
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos.
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3)
Bem-aventurados os que sustentam e praticam a injustiça, porque
tanta injustiça terão de receber que compreenderão quão duro é
ter de estar submetidos a ela e, então, por terem aprendido sua
custa a ambicionar a justiça, desta serão fartos.
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4)
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia.
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4)
Bem-aventurados os desapiedados, porque não encontrarão
misericórdia e, por demais a invocarem para si sem recebê-la,
compreenderão a necessidade da bondade e do perdão, alcançando,
então, misericórdia.
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5)
Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
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5)
Bem-aventurados os que não são limpos de coração, porque
ficarão tão submersos na ignorância e na maldade, com os
conseqüentes erros e dores, que purificarão seu entendimento, e
assim compreenderão a Lei e verão a Deus.
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6)
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de
Deus.
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6)
Bem-aventurados os que gostam de brigas e de disputas, porque pelo
fato de não conseguirem encontrar paz, almejá-la-ão e
procurá-la-ão em toda a parte, até que se tornarão
pacificadores, e então serão chamados filhos de Deus.
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7)
Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus.
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7)
Bem-aventurados os que perseguem com injustiça os justos, porque
tanto serão perseguidos pela sua própria injustiça, que
aprenderão a ser justos, e então deles será o reino dos céus.
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8)
Bem-aventurados os que choram porque serão consolados.
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8)
Bem-aventurados os que gozam demais, só pensando em si e para
além dos limites razoáveis, porque terão de sofrer necessidade
e abandono, até aprender a regra da justa medida e do amor ao
próximo e, então, serão consolados.
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Alegrai-vos
e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus.
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Alegrai-vos
e exultai, todos vós que quereis rebelar-vos contra a Lei, porque
grande é o sofrimento que vos espera e assim tereis de aprender a
lição da obediência, pela qual ganhareis um grande galardão
nos céus.
|
A
grande maravilha da Lei é que ela responde a cada um conforme sua
natureza. Ela responde aos nossos movimentos com a mesma exatidão
com que um espelho reflete nossa imagem. Se nossa imagem no espelho é
feia, a culpa não é do espelho, mas de nós que somos feios. Se
formos bonitos, a imagem será bonita. Da mesma forma, o tratamento
que recebemos da Lei depende do que somos e fazemos Se somos
bons e obedientes, ela responderá com bondade. Mas,
se somos maus e rebeldes, ela nos
ensinará o que temos de aprender, com o azorrague da dor. Cada
um pode escolher seu método. Dentro da Lei, porém, todos ternos de
viver. O que dela receberemos, em troca das nossas ações,
depende da posição em que nos situamos diante da própria Lei.
O
Evangelho é pregação para os homens de boa vontade, dispostos a se
tornarem anjos. Já vimos qual o papel que o Evangelho tem de
representar quando não queremos tornar-nos anjos, mas permanecer
demônios. Cada um, olhando para dentro de si, pode saber a qual dos
dois grupos pertence e, por conseguinte, o tratamento que receberá
por parte da Lei. Por isso, os bons, se e verdade que podem ser
esmagados pelo mundo, nada têm a temer de Deus; ao passo que os
maus, se podem por um momento vencer no mundo, muito têm a temer por
parte da justiça de Deus, que os constrangerá a pagar até o último
ceitil. É muito mais seguro e vantajoso ficar do lado de Deus do que
do lado do mundo. Que valem e podem os recursos do mundo em
comparação com os de Deus? Que poderá e quererá fazer o
mundo para nos defender, quando a ele nos escravizamos? E que poderá
e quererá fazer Deus para nos defender, quando Lhe
pertencemos?
Eis
que vemos brilhar, no fundo do grande quadro da Lei que estamos
descrevendo, a resplandecente apoteose final dos bons, não importa
se desprezados e condenados pelos poderosos do mundo, apoteose
em que se realizarão as palavras de Cristo —
"as forças do mal não prevalecerão".
Por
quanto tempo continuará o homem sem compreender tudo isso?
Quantos erros terá ainda de cometer e quantas dores terá de sofrer,
antes de abrir os olhos para ver á
substância da vida? O homem continuará a rebelar-se contra a Lei,
a fechar-se no seu egoísmo, a
conceber a vida só individualmente, enquanto a Lei arrasta o mundo
para a fase orgânica, em que os elementos das grandes
coletividades colaboram fraternalmente. Quantas lutas serão ainda
necessárias para se chegar à compreensão recíproca e assim
coordenar os esforços de todos para comuns finalidades de bem?
Quantas experiências dolorosas serão ainda necessárias para se
aprender a não provocar as reações da Lei? Estamos acostumados
às leis humanas que, por serem feitas muitas vezes pela classe
dirigente para seu próprio interesse, parecem estar cumprindo a
tarefa de nos ensinar, antes de tudo, a arte de nos evadirmos delas.
Isso porque há luta entre quem manda e quem tem de obedecer. Mas,
bem diferente é o caso da Lei de Deus. Esta não é feita para o
interesse d'Ele, mas para o nosso. Então, procurar evadir-nos dessa
Lei não é realizar nosso bem, indo contra quem manda, mas é
abdicar de nossa vantagem e não obter senão nosso prejuízo. Isso
porque o domínio da Lei não se baseia na imposição de quem manda
contra quem tem de obedecer, mas na justiça, no amor e na livre
obediência de quem compreendeu. Quanto tempo continuará o homem
rebelando-se contra a ordem da Lei e fugindo, assim, da sua própria
felicidade?
As
forças da vida são movimentadas pela Lei, de maneira que a
compreensão terá de chegar. Houve tempo em que o homem acreditou
com certeza absoluta na imobilidade da Terra e na imutabilidade
da matéria. Mas, agora entende que a imobilidade e a imutabilidade
aparentes são um estado de velocidade constante, que nos parece
sem movimento, porque nós só
percebemos o movimento quando há
mudança de velocidade, o que se
chama de aceleração. Da tremenda
corrida que, juntos com o nosso planeta, estamos realizando, ou que
se verifica no interior do átomo, não percebemos coisa alguma.
Da
mesma forma, o homem acredita que está vivendo no caos,
julgando que somente sua vontade tem valor, e a ele cabe impor a
ordem, a ordem dele. Isto o faz rebelde, num universo regido pela
ordem da Lei, revolta que o conduz ao sofrimento, em virtude do
choque contínuo com Ela. O homem fica apegado às pequenas
coisas do seu mundo, acredita com absoluta certeza na verdade das
ilusões deste, porque isto é a que percebe, e não vê que está
vivendo no seio de uma ordem e de uma harmonia maravilhosas.
Cego
para tudo isso, cego para o imenso trabalho que todos os seres e
tudo o que existe estão cumprindo para regressar a Deus na
ascese da evolução, o homem, que trabalhosamente procura
estabelecer alguma. Ele corre atrás das glórias humanas e não toma
conhecimento da sua glória maior, - a de ser criatura filha de Deus.
Procura as riquezas do mundo e se esquece das infindas riquezas
ao alcance de suas mãos, e que Deus lhe entregará tão logo ele
aprenda a usá-las bem. Ele vai procurando desesperadamente a
felicidade e não sabe que justamente para ela foi criado.
Como
pode o verme que fatigosamente se arrasta no chão compreender
que nos espaços a velocidade é gratuita, e que corpos imensos
a possuem sem limites e sem esforço? Da mesma maneira, como pode o
homem que trabalhosamente procura estabelecer uma ordem no seu
planeta, campo de lutas desencadeadas, compreender que o universo é
um imenso organismo de ordem e regido pela inteligência de Deus?
Quando
o homem, vítima do seu atraso, resolverá avançar para a
conquista de novos continentes do espírito que o esperam? Quando
conseguirá ele, preso na
sua forma mental, quebrar as paredes dessa sua prisão? Quando
quererá resolver de uma vez para sempre todos os seus problemas,
evoluindo? Tudo depende de nossa boa vontade e de nosso esforço.
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