Extase sexual
Do
livro Forças sexuais da alma.
Jorge
Andréa –(FEB)
Capitulo
V
ÊXTASE
SEXUAL: CHAMAMENTO REENCARNATÓRIO, MATERNIDADE, CONSTRUÇÃO DA ALMA
Pelos
conceitos emitidos até o momento podemos aquilatar da importância
da energética sexual nos respaldos da própria vida. Energia
criativa, por excelência, tem tido por parte da ciência avaliações
bastante superficiais. Entretanto, lembramos que Freud percebeu
alguns de seus ângulos mais profundos, como, também, alguns de seus
desvios; seus estudos atingiram exclusivamente a zona física, não
conseguindo penetrar a grande fonte em que a vida se esteia.
Apesar
de tudo, mesmo com as avaliações psicológicas mais superficiais
que são as mais comuns, ficamos diante de um imenso quadro ainda por
ser equacionado e definido. As manifestações sexuais da zona
física, ligadas à zona do psiquismo consciente, já nos fornece um
manancial bastante expressivo de análises. Se tentarmos traduzir o
êxtase sexual, manifestação magnética desenvolvida pelo encontro
dos dois polos (masculino e feminino), ficamos reduzidos na
avaliação, devido aos ainda limitados campos perceptivos de nossa
intelectualidade. Será que o êxtase sexual teria a finalidade de
atender aos sentidos e assegurar a reprodução? Será que
funcionaria como exclusivo mecanismo de conservação da espécie?
Será que a descarga energética propiciada pelo êxtase sexual
visaria, com exclusividade, um "bem-estar bioquímico"? Ou
será que o êxtase sexual construiria algo mais além da finalidade
evolutiva?
Acreditamos
que o êxtase sexual, esta grande reação da vida, além de atender
a necessidade procriativa, seria um mecanismo de profundas trocas
energéticas entre dois seres. As polaridades sexuais necessitam do
intercâmbio para complemento mútuo. As forças sexuais da
organização física encontram-se ora na posição masculina, ora na
feminina, com finalidade de se juntarem pelo desenvolvimento
evolutivo. Seriam polos em constante atração um pelo outro, a fim
de se construírem energeticamente. Tudo se iria fazendo de modo que,
pelas vivências reencarnatórias, tanto o setor masculino quanto o
feminino fossem adquirindo independência pela ampliação das
aptidões.
O
homem no início da sua evolução vive pelos sentidos materiais. A
pouco e pouco, as fontes profundas do espírito vão-se deixando
mostrar diante das forças sexuais em evidência. Quanto mais
evoluídos os seres, mais conscientes do processo espiritual em
atividade; isto é, quando o amor se desenvolve com profundidade
espiritual, o vórtice do êxtase sexual permitiria uma construção
específica, entre o homem e a mulher, onde as suas respectivas
fontes seriam locupletadas e abastecidas. Quando o relacionamento
entre o homem e a mulher representa apenas um encontro superficial e
de simples descargas de energias, o resultado ficará na superfície,
na zona física, sem atingir as forças profundas da alma, porque as
suas finalidades foram superficiais e sem a construção espiritual
que o amor sério e harmônico pode propiciar.
Compreender
um mecanismo desse quilate e entender a sua finalidade não será
somente consequência de intelectualidade e cultura, mas,
possivelmente, o resultado de um processo maturativo alcançado por
evolução.
Em
"A GRANDE SÍNTESE", no capítulo As vias da evolução
humana, informa-nos Pietro Ubaldi: "Os instintos inferiores, as
paixões tempestuosas, são o antagonista na grande luta interior. As
grandes renúncias — pobreza, castidade, obediência — são os
decisivos embates dos quais a animalidade sai desfalecida, mas que,
convém lembrar, só poderão ter valor quando se souber ao mesmo
tempo reconstruir, substituindo aqueles instintos e paixões por mais
altas qualidades: amores, domínios e paixões mais espirituais; de
outro modo, o ser perder-se-á no vácuo de uma infrutífera asfixia.
Se ao ser se impõe uma morte no nível animalidade, deveis
oferecer-lhe um renascimento no nível espiritualidade. As paixões
são grandes forças que não deveis tentar destruir, mas utilizá-las
e elevá-las, porque na evolução tudo procede por continuidade."
Pelo
que hoje conhecemos do mecanismo das energias, das suas atrações e
repulsões, das suas emissões e recepções, não podemos deixar de
computar o imenso valor construtivo da dinâmica sexual. Claro que
estamos a referir os casos harmônicos, ajustados, bem-intencionados
e sem desequilíbrios de qualquer natureza, entre dois seres de sexos
diferentes. Desse entrosamento grandioso, por ser, por excelência,
benéfico e construtivo, haveria muito mais do que uma atração
mútua com finalidade de abastecimento. As emissões de energias, que
o êxtase sexual oferece, poderiam muito bem ser um campo atrativo
para os Espíritos necessitados de reencarnação. Não queremos
dizer que os vórtices do êxtase sexual representem uma porta aberta
ao mergulho espiritual nas armilas carnais, mas, sim, um campo
específico de irradiações, como se fora um foco atrativo a
convidar almas afins que estivessem em sintonia com os pais para,
dentro de estruturas dinâmicas apropriadas, envolverem-se no
complexo fenômeno da reencarnação.
Quando
o êxtase sexual não pudesse responder pelo processo reencarnatório,
como só acontecer em muitos casos pelo esgotamento procriativo
feminino, ou lesões físicas que prejudiquem o processo, buscaria
despertar nos cônjuges a abertura de outros campos mentais, de um
amor mais purificado pelo degrau alcançado, onde a fraternidade
teria lugar de destaque. E aqueles que, por motivos vários não
tivessem o encontro sexual físico, mas apresentassem condições
espirituais bem desenvolvidas na própria alma, conduziriam essas
energias criativas para o bem, para as virtudes, para a educação
dos filhos da vida e outros movimentos fraternos, a fim de drenarem
os seus potenciais acumulados. As forças do bem desenvolvidas entre
os seres representam benesses a enaltecer, continuamente, o amor
autêntico que se encontra acima de qualquer exteriorização, porém
sustentando os imperecíveis valores que dignificam a vida.
André
Luiz, no capítulo sobre sexo, em seu livro "NO MUNDO MAIOR",
dá-nos a seguinte referência: "Convictos desta realidade
universal, não podemos esquecer que nenhuma exteriorização do
instinto sexual na Terra, qualquer que seja a sua forma de expressão,
será destruída, senão transmudada no estado de sublimação. As
manifestações dos próprios irracionais participam do mesmo impulso
ascensional. Nos povos primitivos, a eclosão sexual primava pela
posse absoluta. A personalidade integralmente ativa do homem dominava
a personalidade totalmente passiva da mulher.
"O
trabalho paciente dos milênios transformou, todavia, essas relações.
A mulher-mãe e o homem--pai deram acesso a novos sopros de renovação
do Espírito. Com bases nas experiências sexuais, a tribo
converteu-se na família, a taba metamorfoseou-se no lar, a defesa
armada cedeu ao direito, a floresta selvagem transformou-se na
lavoura pacífica, a heterogeneidade dos impulsos nas imensas
extensões de território abriu campo à comunhão dos ideais na
pátria progressista, a barbárie ergueu-se em civilização, os
processos rudes da atração transubstanciaram-se nos anseios
artísticos que dignificam o ser, o grito elevou-se ao cântico; e,
estimulada pela força criadora do sexo, a coletividade humana
avança, vagarosamente embora, para o supremo alvo do divino amor. Da
espontânea manifestação brutal dos sentidos menos elevados a alma
transita para gloriosa iniciação.
"Desejo,
posse, simpatia, carinho, devotamente, renúncia, sacrifício,
constituem aspectos dessa jornada sublimadora. Por vezes, a criatura
demora-se anos, séculos, existências diversas de uma estação a
outra. Raras individualidades conseguem manter-se no posto da
simpatia, com o equilíbrio indispensável. Muito poucas atravessam a
província da posse sem duelos cruéis com os monstros do egoísmo e
do ciúme, aos quais se entregam desvairadamente. Reduzido número
percorre os departamentos do carinho
sem
se algemar, por largo trecho, aos gnomos do exclusivismo. E, às
vezes, só após milênios de provas cruciantes e purificadoras,
consegue a alma alcançar o zênite luminoso do sacrifício para a
suprema libertação, no rumo de novos ciclos de unificação com a
Divindade.
"O
êxtase do santo foi, um dia, mero impulso, como o diamante lapidado
— gota celeste eleita para refletir a claridade divina — viveu na
aluvião, ignorado entre seixos brutos. Claro está que, assim como
se submete o diamante ao disco do lapidário, para atingir o pedestal
da beleza, assim também o instinto sexual, para coroar-se com as
glórias do êxtase, há que dobrar-se aos imperativos da
responsabilidade, às exigências da disciplina, aos ditames da
renúncia."
É
pela difusão de energias criativas, onde o manancial sexual de
profundidade encontra-se acoplado e fazendo parte de sua estrutura,
que o ser tem oportunidade de manifestar o êxtase de doação e de
entender o valor construtivo das realizações na esfera do espírito.
Doar energias, de modo fraterno, positivo e sem preocupações da
oferta, a possibilitar a abertura dos campos da vida numa recepção
de vitalidade constante e renovações perenes. Quanto mais
oferecermos um trabalho íntegro com doações de amor, nos campos
positivos do bem, mais seremos reabastecidos por envolventes
energias, tanto mais construtivas quanto mais efetivas forem as
doações.
Pela
conceituação em pauta, podemos avaliar da importância das atitudes
que o ser humano necessita desenvolver para sua construção
espiritual. Devemos anotar, também, as respostas negativas em face
dos desequilíbrios desenvolvidos. A vida é ordem e harmonia. Viver
em desarmonia é semear a desordem e o caos, com as reações-respostas
que as ações desencadearam. Enquanto estivermos no charco só
veremos turvações e respiraremos os gases resultantes das
decomposições; quanto mais buscarmos as fontes cristalinas, mais
perceberemos a pureza e a beleza da luz, embora, na luta, o
sacrifício possa construir o lírio com toda a sua sutileza, perfume
e beleza, cujas raízes encontram-se implantadas na lama. "O
cativeiro nos tormentos do sexo não é problema que possa ser
solucionado por literatos ou médicos a agir no campo exterior: é
questão da alma, que demanda processo individual de cura, e sobre
esta só o Espírito resolverá no tribunal da própria consciência.
É inegável que todo auxílio externo é valioso e respeitável, mas
cumpre-nos reconhecer que os escravos das perturbações do campo
sensorial só por si mesmos serão liberados, isto é, pela dilatação
do entendimento, pela compreensão dos sofrimentos alheios e das
dificuldades próprias, pela aplicação, enfim, do 'amai-vos uns aos
outros' assim na doutrinação, como no imo da alma, com as melhores
energias do cérebro e com os melhores sentimentos do coração"
(André Luiz).
Uma
das grandes construções de que o ser pode participar é a do
processo procriativo, pela oferta de um corpo ao Espírito
necessitado de experiências e realizações. Imaginemos a
importância de nossa participação nesse grande movimento da vida e
quanto teremos que responder quando agredimos o processo procriativo
com a nossa desvairada interferência. O nosso livre-arbítrio, a
interferir no processo procriativo, deverá ser sempre equilibrado e
amparado pelos motivos ajustados e bem equacionados da ciência.
É
o caso de se perguntar: será preferível um Espírito reencarnar num
lar pobre com as habituais dificuldades de subsistência, absorvendo
nos escolhos e tropeços pela vida forças e hábitos de lutas onde
os pais participem com integralidade, ou ficar o Espírito aturdido e
acoplado à mãe que lhe fechou os canais, criando, nesta simbiose,
neuroses e psicoses de variados matizes? Os Espíritos quando vêm
para a reencarnação, na maioria das vezes, muito antes do processo
de gestação evidenciar-se, de há muito já estão em sintonia com
o cadinho materno.
Sabemos,
e temos como certo, que a ciência com os seus métodos se vai
aperfeiçoando e haverá, sem sombras de dúvidas, de futuro, uma
sociedade mais bem arregimentada. Porém, nas fases transitórias, a
fim de que a organização social alcance outros degraus éticos e de
moral elevada, haverá distúrbios e desentendimentos, representando
a procura do autêntico caminho. Nessas fases, a dor é a bandeira
desfraldada a ser colhida por todo aquele que se encontre em dívidas
presentes ou pregressas, na tonalidade que tenha a capacidade de
suportar e relacionado ao grau de responsabilidade com o qual esteja
comprometido.
Com
o abuso na aplicação dos anticoncepcionais, a maternidade recebe um
forte golpe pelas restrições de mecanismos altamente valorosos para
a evolução individual e coletiva. Sem contarmos o aborto delituoso,
a constituir crime dos mais graves, com severas respostas espirituais
para aqueles que fugiram às suas responsabilidades, o fechamento das
portas reencarnatórias, pelo uso indevido dos contraceptivos,
contribui para desorientação das energias desencadeadas pelo êxtase
sexual.
O
contato sexual, desenvolvendo energias imensas entre os cônjuges, de
suas muitas finalidades teria o fim precípuo da atração do
Espírito reencarnante. Haveria, desse modo, o chamamento para aquele
que, sintonizado com os pais, pudesse encontrar o "caminho"
na nova mudança dimensional — motivo da realização evolutiva
individual e do ciclo familiar.
Se
os canais destinados à maternidade são neutralizados e fechados, é
claro que haverá distúrbios, principalmente no psiquismo de
profundidade, isto é, na zona inconsciente ou espiritual, onde as
energias emitidas por essas fontes não encontram correspondência em
seu ciclo. Se o Espírito encarnado emite energias para a sua própria
matéria, esta também forneceria energias a serem aproveitadas pela
zona espiritual após devida metabolização, isto é, após
adaptações. Havendo quebra desses mecanismos, por causas diversas
(pílulas anticoncepcionais, aborto delituoso), é lógico que um dos
fatores mais expressivos da vida entre em colapso, com as
consequências daí advindas. As energias em desalinho encravam-se na
tecitura espiritual do culpado, refletindo, de futuro, as desarmonias
como processo compensatório. Somente a dor, com o chamamento de suas
vibrações, teria a possibilidade de limpar os campos doentes do
Espírito desencadeados pelas infelizes atitudes dos que
transgrediram a Grande Lei. A organização do corpo físico ainda
constitui o exaustor ideal para o equilíbrio daquele que se
encontra, temporariamente, desarmonizado.
Diante
dessa assertiva, devemos compreender a importância e o necessário
cuidado avaliativo do setor sexual, e da conduta que devemos manter
diante da lógica de um entendimento mais correto possível. Com os
nossos atos menos felizes, estribados em opiniões sem critérios e
sem sedimento, não enganaremos senão a nós mesmos. As leis são
justas e perfeitas. Os homens, ainda ignorantes das grandes
finalidades da vida, encontram-se limitados e, apesar de suas
avaliações superficiais, unilateralizadas e sem profundidade,
desejam traçar rumos e ditar normas como inconcussas verdades a
serem seguidas. Leon Denis, um dos grandes vexilários da Doutrina
Espírita, afirmava que "o lar abençoado por uma prole é
templo dos pais e altar dos filhos, escola em que a humanidade
cresce, guindando o ser ao ápice da destinação para a qual
evolute: a perfeição".
*
* *
O
êxtase sexual não pode significar apenas um prazer para os sentidos
na faixa da psique de superfície ou zona consciencial. É claro que
representa um atrativo, uma necessidade e exigência do movimento
glandular da arquitetura física. Os seus campos de influência terão
que transcender a dimensão do nosso entendimento na matéria.
Vórtices de tal quilate devem alcançar as zonas nobres e
desconhecidas do psiquismo de profundidade, onde as delicadas e ainda
incompreensíveis organizações da alma se dessedentam. Esses
importantes vórtices energéticos, desencadeados pelo contato sexual
na zona material, devem atravessar todos os campos do psiquismo à
procura de sua zona central, o inconsciente puro (capítulo I). E,
nesses momentos inavaliáveis pelos sentidos, inenarráveis pelas
emoções, fica o ser procurando o que há de mais nobre no universo
onde vive e convive. Fica ansiando, em êxtase, pela Grande Energia,
pela Inteligência Máxima, pelo próprio Deus a manifestar seus
incalculáveis eflúvios pelas zonas profundas do psiquismo, na
energia crística vibrante que carregamos no inconsciente puro.
A
utilização ou não do sexo na zona física deve obedecer a
condições. Quem não estiver preparado, pela própria evolução,
não poderá dispensar ou afugentar o mecanismo sexual da zona
física. Quem ainda não tiver suplantado as fases sexuais, nas suas
duas polaridades, não terá condições de afastar-se das
necessárias realizações na romagem física. Entretanto, a
castidade pode ser desenvolvida, pela construção das energias
sexuais no bem, quando essas forças da alma estiverem mais maduras
para um direcionamento mais bem adequado.
O
sexo é organização específica por onde os mecanismos de
sublimação podem dar-se e, também, por onde o amor favorece os
impulsos que buscam sempre o equilíbrio das emoções. Na ausência
de responsabilidade, onde viceja o campo negativo da libertinagem, o
amor é desequilíbrio, é animal e puramente selvagem. O sexo só
evolui para o bem e a sua maior construção é quando se projeta
além da mente de superfície e busca, no comando mais nobre das
emoções, as vivências mais avançadas do espírito.
Os
que ainda vicejam nas paixões animais, elaborando vícios dos
sentidos, encontrarão respostas na patologia sexual, tendo muito a
lutar e a caminhar para equilíbrio de suas organizações que, por
sua vez, é liberação. Somente na conduta do bem poderá o homem
participar da harmonia que busca e anseia.
É
no relacionamento sexual equilibrado, sem a busca constante do
orgasmo passageiro, cansativo e atordoante, que as almas se refazem,
tornam-se autênticas em estado rítmicos de espiritualização. Pelo
relacionamento harmônico o ser atenderia ao Espírito reencarnante,
como, também, à alma do cônjuge ou participante, sem reflexos de
lesões no corpo físico e no perispírito.
As
forças sexuais bem dirigidas amparam as criações de ordem física,
intelectual, sentimental e espiritual. As forças do sexo,
desenvolvidas em todo o seu estuário — da parte física à zona
espiritual —, pelas permutas harmônicas renovam os campos do
Espírito e oferecem lampejos e impulsos para as grandes construções
humanas. Os que se encontram em fases involutivas, cortejando a
sensualidade barata na vulgarização dos sentidos, destroem o seu
potencial de forças criadoras, aumentando os campos de amoralidade.
As
grandes realizações estão sedimentadas na responsabilidade do
amor-equilíbrio. As mais expressivas construções na vida artística
e literária têm oferecido excelsos exemplos nesse sentido. Dante,
sem a inspiração de sua Beatriz, possivelmente não teria elaborado
a Divina Comédia. A força criativa do sexo é de tal ordem que pode
ser também transferida, em casos específicos, aos campos do
martírio e da renúncia com apagamento da personalidade. Nos atos de
autêntico heroísmo, em muitas circunstâncias, poderá haver
reflexos dessas energias profundas do psiquismo, que somente a
integridade de seus eflúvios seria capaz de motivar.
Na
ausência de amor, nas baixezas da libertinagem encontram-se os
móveis de destruição, inclusive a decadência da grei e dos povos.
Os que se perderam através das forças sexuais desequilibrantes
incorporarão, nas futuras reencarnações, energias destoantes
diversas, onde a frigidez sexual, sem explicações científicas para
determinados seres, representa uma resposta; existindo casos, pelas
informações espirituais, em que o parceiro de outrora está quase
sempre presente como cônjuge necessitado e exigente.
Nos
dias presentes, de evidentes reajustes cármicos, os reflexos
destoantes na organização sexual, como reações-respostas da Lei,
são gritantes. O número de homens e mulheres que estão
demonstrando essas reações, na frigidez sexual sem causas orgânicas
apreciáveis, é bem maior do que se possa aquilatar. O cônjuge,
tanto masculino quanto feminino, não tendo condições de
entendimento com a frigidez sexual do parceiro, inquieta-se e
desorganiza-se em face dos sentidos, pelas vorazes forças
instintivas sempre a solicitar o que não lhe pode ser dado. Em vista
desses graves desajustes, somente o conhecimento da posição
cármica, pela análise e devida avaliação, propiciará, para o
casal em desajuste, um caminho adequado num processo terapêutico de
equilíbrio.
Quase
sempre o abrir das comportas instintivas, sem medidas e mesmo
cultivando distonias, constitui grave erro para aquele que devia
preservar o patrimônio das suas forças criativas. Com seus
desequilíbrios arrastam o parceiro, prejudicando e atingindo os
componentes sexuais que se encontram relacionados com toda a
estrutura de ligação com o casal.
Por
tudo, compreendemos a necessidade de utilização das vibrações
sexuais (com ou sem utilização direta dos órgãos sexuais), com
equilíbrio e disciplina, para que haja reservas energéticas
imensamente benéficas ao metabolismo psíquico. É bem oportuna a
referência de um amigo espiritual: "A castidade funciona como
depósito de reservas energéticas, castidade que não pode ser
considerada somente como a falta de exercício sexual, mas como
método e disciplina. Castidade que não é ausência; castidade que
é apenas equilíbrio. Porque, na permuta das emoções, as almas
também se completam, os corpos se renovam; porque não somente o
processo físico, mas também a dissociação energética que se
interpenetra nos homens, nos seres, produz essa dissociação, o
intercâmbio mantenedor da própria vida. Na atualidade
espiritualista, na impossibilidade de convocar o homem a uma
disciplina que seria a ideal, é mister convocá-lo aos exercícios
mentais, para que, por intermédio deles, possa ele manter a linha
direcional de sua mente, voltada para os deveres espirituais e
complementada pela função equilibrada." Assim, situemos o sexo
na arquitetura do psiquismo como um dos pilares criativos da vida.
*
* *
Por
essa maneira de ver, avaliemos a importância do contingente dinâmico
sexual no processo evolutivo dos seres. Podemos, também, aquilatar
por que Freud percebeu essas forças, embora só as correlacionasse
na zona mais periférica ou do corpo físico. Os seus estudos estavam
afeitos à zona material e, como tal, não pôde dar o grande
mergulho na essência do espírito e sentir as forças supersexuais
que carregamos. Jung, que deu mais importância ao inconsciente no
sentido de defini-lo em "proporções coletivas", ofereceu
uma psicologia de maior profundidade, traduzindo essas forças
sexuais na dualidade: animus x anima. Os estudos desse investigador
teriam maior alcance e seriam mais bem compreendidos se na sua
psicologia fosse incluído o mecanismo palingenético, mecanismo que
proporcionaria a simplificação de muitos de seus conceitos.
Gostaríamos
de lembrar que as forças PSI-sexuais, em seus pontos mais centrais
do psiquismo, em plena zona espiritual, sendo impessoais e de
totalidade, não apresentam as múltiplas variações com que se
refletem na periferia corpórea. E um dos fatores dessa
diversificação de apresentação, que mais influência determina na
exteriorização do próprio sexo (masculino ou feminino), seria o
arcabouço psicológico de cada ser. Sabemos das inúmeras variações,
que vão ao infinito, dos indivíduos, embora possamos
arregimentá-los, segundo o seu desenvolvimento espiritual, em
infranormais, normais e supranormais. Se a estes tipos acrescentarmos
fatores de introversão e extroversão, próprios do pensamento
junguista e como os mais expressivos no biótipo psicológico,
esbarraremos numa extensa variedade de apresentação sexual no corpo
físico, mesmo obedecendo à influência direta da faixa PSI-sexual
(gravura 6) de sua própria necessidade. Consideremos, ainda, as
etapas da vida (infância, adolescência, idade adulta e velhice), os
fatores do meio ligados à alimentação, às influências
barométricas, educação intelectual e sentimental, realmente,
chegaremos à conclusão de um difícil enquadramento, onde cada
indivíduo terá o seu próprio aspecto, por apresentar, também, sua
própria condição evolutiva.
A
potencialidade bissexual que possuímos na intimidade da alma, quando
em canalização normal, na periferia consciencial, traduz a sua
tendência e grau na adequada e necessária faixa física.
Entretanto, podemos computar variações de acordo com a idade do
indivíduo, cuja personalidade pode modificar, em parte, as
tendências internas sem que isto represente variações apreciáveis.
É o caso de certas pessoas, em idade avançada, que apresentam
rasgos emotivos com decisões mais apropriadas ao sexo oposto. Por
isso, o homem velho pode apresentar-se mais delicado, sentimental e
mais submisso; acontecendo o contrário com a mulher idosa que pode
refletir um pouco dos ímpetos e arrogâncias do sexo masculino.
Além
dessas apresentações das energias sexuais, absolutamente normais,
sofrendo pequenas variações de escoamento na zona consciente,
existiriam outras oscilações também consideradas normais, onde o
indivíduo revelará, pelas atitudes emocionais, acúmulo de
tendências opostas reprimidas. Estas últimas variações são
perfeitamente percebidas na escolha entre cônjuges em que, na
maioria das vezes, a atração entre ambos está ligada a uma
desconhecida imposição; é como se houvesse entre os dois sexos a
necessidade de uma complementação emocional. Cremos que as ligações
sexuais entre cônjuges seriam mais pulsões psíquicas de atração
(simpatia, entendimento íntimo), como uma necessidade de complemento
construtivo, onde outras faixas de vibrações da vida entrariam em
jogo.
Diante
dessa conceituação, podemos dizer que a energética sexual na fonte
interna ou espiritual seria unificada por uma totalização integral,
na periferia a variação seria imensa nas suas personificações. O
escoamento periférico dessas energias variaria em face da tela
consciente de manifestação relacionada diretamente ao tipo
psicológico. Qualquer que seja a posição individual evolutiva
(infranormais, normais e supranormais), nos tipos introvertidos a
drenagem dessas energias seria maior do que nos extrovertidos.
Sabemos que o introvertido contém-se em face do objeto, solicita
maior teor emocional, enquanto que o extrovertido logo se identifica
com o objeto, não necessitando de maior carga emocional das
correntes PSI-sexuais em deságue. Esse mecanismo está bem
compreendido na conhecida lei de dualidade ou dos contrários, onde
haverá sempre necessidade de equilíbrio entre os polos do manancial
energético. Os indivíduos em suas próprias apresentações
estarão, quanto às energias sexuais, ora mais na profundidade, ora
em plena periferia consciencial. Alguns não conseguem sentir o
manancial interno como um deságue natural de energias que busca a
tela consciente; por isso, situam-se superficialmente, vivenciando as
condições que os sentidos corpóreos solicitam. São indivíduos
que vivem mais o sexo fisiológico, sem o cultivo emocional de
complemento; vivem exclusivamente para os solicitantes instintos.
Claro que, também, existem os casos intermediários em que o
indivíduo já sente a necessidade de ampliar a faixa energética
sexual para além de uma função física.
Os
que se encontram mais nos campos da profundidade espiritual, por
terem suplantado as vivências periféricas, são os mais evoluídos,
os que já sublimaram o sexo periferia. Diferem muito dos que vivem
exclusivamente na periferia (a maioria da humanidade), ainda sem as
condições evolutivas de sublimação e suplantação por maturação.
Para os dois tipos humanos, os de profundidade e os de superfície, a
força criativa da vida, envolvendo fortes conteúdos de sexualidade,
manifesta-se na faixa evolutiva em que se encontra o indivíduo.
Na
força criativa sexual de profundidade estaria um Francisco de Assis
esparzindo amor universal e, na periferia, um D. Juan no amor carnal
egoísta.
Na
profundidade espiritual estaria um Ghandi oferecendo-se em holocausto
pela liberdade do homem; na periferia, um Napoleão marchando com
seus soldados em busca da conquista egoísta de um império.
Nas
profundezas do inconsciente, como vivência, estaria Atenas no século
de Péricles a fornecer os pensamentos mais expressivos da Filosofia,
e na periferia consciencial estaria Esparta, com sua rígida
disciplina, a buscar o desenvolvimento dos músculos e a demonstração
da força física dos homens.
*
REFERÊNCIAS
André
Luiz — "No Mundo Maior". Psicografia de Francisco Cândido
Xavier. Editora FEB, 2ª edição, 1951, Rio de Janeiro.
Andréa,
Jorge — "Palingênese, a Grande Lei". Editora Caminho da
Libertação. 2ª edição, -980, Rio de Janeiro.
Ubaldi,
Pietro — "A Grande Síntese". Trad. Mário Corbioli.
Editora Lake. 2ª edição, 1951, São Paulo.
Assim
seja.
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