segunda-feira, 29 de junho de 2015

Vampirismo e ovoidização por Herculano Pires

II — PARASITAS E VAMPIROS 
 
A economia da Natureza nos revela a unidade funcional de todos os processos vitais. A Natureza, em sua infinita variedade de coisas e seres, não esbanja energias e formas, conteúdos e continentes, em suas estruturações. Do reino vegetal ao reino animal o processo criador é uno, obrigando-nos a uma concepção monista do Universo. A Fisiologia da Natureza, segundo a lei da diferenciação na unidade, mostra-se estruturada e funcionalizada, pelos mesmos sistemas adaptados a cada reino. Da seiva do vegetal ao sangue dos animais e do homem, das estruturas óticas inferiores às superiores, a organização é a mesma. Dos `sistemas de motilidade e percepção e de alimentação e assimilação das plantas, ao homem o sistema de funcionalidade só varia no tocante às adaptações específicas. Da mesma maneira e pela mesma razão, o parasitismo vegetal se desenvolve na direção do parasitismo animal e do vampirismo hominal-espiritual. E assim como o parasitismo influi no desenvolvimento das plantas e no comportamento dos animais, o vampirismo influi no comportamento humano individual e social. Entre os vários elementos, coisas e seres 'que agem sobre o comportamento humano, o mais perturbador e. o que mais profundamente ameaça as estruturas físicas e espirituais do ser humano é o vampirismo, porque é a atuação consciente de um ser sobre outro, para deformar-lhe os sentimentos e as idéias, conturbar-lhe a mente e levá-lo a práticas e atitudes contrárias ao seu equilíbrio orgânico e psíquico. No parasitismo, mesmo no espiritual, há uma tendência de acomodação do parasita na vítima. A lei é a mesma do parasitismo vegetal e animal. A entidade espiritual parasitária procura ajustar-se ao parasitado, na posição de uma subpersonalidade afim. Ambos vivem em sintonia, mas o parasita às custas das energias do parasitado, cujo desgaste naturalmente aumenta de maneira pro-gressiva. Ambos ganham e perdem nessa conjugação nefasta. O parasitado sofre duplo desgaste de suas energias mentais e vitais e o parasita cai na sua dependência, perdendo a sua capacidade individual de sobrevivência e conservação. A morte do parasitado afeta o parasita, que morre sugestivamente com ele, pois perdeu a capacidade de viver, sentir e pensar por si mesmo. Os casos de pessoas dependentes, excessivamente tímidas, desanimadas, inaptas para a vida normal, essas de que se diz que "passaram pela vida, mas não viveram", são tipicamente casos de parasitismo. As próprias condições orgânicas dessas pessoas, que não reagem devidamente aos socorros medicamentosos, à alimentação e aos estímulos do meio, de práticas espirituais ou físicas, decorrem de deficiências orgânicas mas também da sobrecarga invisível do parasitismo espiritual. As medicações estimulantes e os tratamentos psicológicos raramente produzem os efeitos desejados. Mas a conjugação desses recursos habituais com o tratamento espiritual para a expulsão do parasita, que representa no organismo da vítima uma forma de subvida consumidora, geralmente produzem efeitos surpreendentes. As causas dessa situação mórbida decorrem de processos kármicos originados por associações criminosas em vidas anteriores dos comparsas. Os recursos espirituais são os passes espíritas, a freqüência regular a reuniões mediúnicas, o estudo e a leitura dos livros espíritas básicos, a prática da prece individual diária pelo parasitado em favor do parasita ou parasitas.

Todas essas providências devem ser orientadas por pessoas conhecedoras do Espiritismo, desprentensiosas e dotadas de bom-senso, o que permitirá o controle do processo de cura. Todas as práticas exorcistas, queima de ingredientes, queima de defumadores, aplicação ginástica de passes formalizados, uso de plantas supostamente milagrosas ou objetos de magia só poderá agravar a situação. O espírito parasitário é uma criatura humana com os
direitos comuns da espécie humana e deve ser sempre encarado como parceiro dos sofrimentos do parasitado. Nesses tratamentos não se deve desprezar o concurso médico, pois os efeitos negativos do parasitismo espiritual, depauperando o organismo da vítima, propiciam também a infiltração dos parasitas do meio físico, que devem ser combatidos com os medicamentos específicos. Embora a ação espiritual das entidades protetoras possa também ajudar o reequilíbrio orgânico, a presença de um médico, se possível espírita, se faz necessária. Enganam-se os que se voltam contra a Medicina nessas ocasiões, pois as leis e os recursos do meio físico são mais apropriados nesses casos. Cada plano da Natureza tem as suas exigências específicas, que precisamos respeitar. Existem também os Espíritos da Natureza, que trabalham no plano físico. Essas entidades semimateriais, de corpos perispiríticos, estão em ascensão evolutiva para o plano hominal. São os chamados elementares da concepção teosófica, derivada das doutrinas espiritualistas da Índia. As funções dessas entidades na Natureza são de grande responsabilidade. O Espiritismo põe sua ênfase no estudo e na investigação dos espíritos humanos, que são os do nosso plano evolutivo, dotados de consciência e inteligência racional mais desenvolvida. Os parasitas já pertencem ao plano humano. São considerados na Teosofia e em outras correntes espiritualistas como larvas astrais. Na verdade não são larvas nem elementares, são entidades que necessitam da ajuda da doutrinação. Os teosofistas atribuem também as comunicações espíritas aos chamados cascões astrais, que são para eles invólucros espirituais, perispíritos abandonados pelos mortos e de que se servem os elementares ou espíritos brincalhões para se manifestarem nas sessões mediúnicas como sendo os espíritos desses mortos. A teoria dos cascões foi criada por Mme. Blavatski, após uma sessão mediúnica que assistiu em New York. O Sr. Sinet declara em seu livro Incidentes da Vida da Sra. Blavatski que ela cometeu então um engano de observação, ao qual nunca mais se referiu. Sinet, teósofo de projeção e companheiro de Blavatski, discorda dos teosofistas que continuam a aceitar essa falsa teoria. André Luiz refere-se a ovóides, espíritos que perderam o seu corpo espiritual e se vêem fechados em si mesmos, envoltos numa espécie de membrana. Isso lembra a teoria de Sartre sobre o em si, forma anterior do ser espiritual, que a rompe ao se projetar na existência por necessidade de comunicação. A ação vampiresca desses ovóides é aceita por muitos espíritas amantes de novidades. Mas essa novidade não tem condições científicas nem respaldo metodológico para ser integrada na doutrina. Não passa de uma informação isolada de um espírito. Nenhuma pesquisa séria, por pesquisadores competentes, provou a realidade dessa teoria. Não basta o conceito do médium para validá-la. As exigências doutrinárias são muito mais rigorosas no, tocante . à aceitação de novidades. O Espiritismo estaria sujeito à mais completa deformação, se os espíritas se entregassem ao delírio dos caçadores de novidades. André Luiz manifesta-se como um neófito empolgado pela doutrina, empregando às vezes termos que destoam da terminologia doutrinária e conceitos que nem sempre se ajustam aos princípios espíritas. A ampla liberdade que o Espiritismo faculta aos adeptos tem os seus limites rigorosamente fixados na metodologia kardeciana.
No caso do parasitismo e do vampirismo todo rigor é pouco, pois os erros e os enganos de interpretação podem levar os trabalhos de cura a descaminhos perigosos.
Se não encararmos o parasitismo e o vampirismo em termos rigorosamente doutrinários, no devido respeito ao método kardeciano, estaremos sujeitos a ser enganados por espíritos mistificadores que passarão a nos vampirizar. Porque o vampirismo é um fenômeno típico das relações interpessoais. Na vida material como na vida espiritual o vampirismo é um processo comum e universal do relacionamento afetivo e mental das criaturas. E vampiro o sacerdote que fanatiza um crente e o submete às suas exigências para explorá-lo com a promessa do Céu, como é vampiro o demagogo político que fascina os adeptos de suas idéias e os leva ao sacrifício inútil e brutal da revolta e do terrorismo. E vampiro o espírita
e o médium que fascina os ingênuos com a falsificação de poderes que não possui, revelando-lhes supostas reencarnações deslumbrantes e conduzindo-os ao delírio das suas ambições de grandeza. E vampiro o negocista esperto que suga as economias de seus clientes com falsas promessas para um futuro improvável. E vampiro o galanteador donjuanesco que se apossa da afeição das mulheres inseguras para explorá-las. E vampiro o alcoólatra ou o toxicômano que semeia a desgraça em seu redor. E vampiro o espírito sagaz ou vingativo que suga as energias das criaturas humanas e subjuga outros espíritos para agir na conquista e dominação de outras, e assim por diante, na imensa e variada pauta do vampirismo material e espiritual.
Por tudo isso, a cura do vampirismo não é mais do que um processo de separação dos implicados, de afastamento do vampiro da órbita de sua vítima. Mas não basta esse primeiro passo. E necessária a persuasão dos implicados pela doutrinação espírita. A doutrinação é a transmissão do conhecimento doutrinário às duas partes. Sem essa transmissão o processo não se completa e a cura será apenas uma suspensão do vampirismo por algum tempo. Como ensinou Jesus (e vemos nos Evangelhos) podemos afastar os valentões que se apossaram da casa, limpá-la e arrumá-la. Mas se ela ficar vazia os valentões convidarão outros parceiros e a retomarão. Nesse caso, o estado da habitação será pior do que antes. Conforme o grau de compromissos e responsabilidades mútuas entre os vampiros e suas vítimas, o tratamento será mais ou menos prolongado. Os vam-piros são teimosos, insistentes, pois o vampirismo é para eles o meio de se manterem na rotina de seus vícios. A vítima, por sua vez, está sovada no vampirismo e acostumada na entrega de si mesma sem relutância. A freqüência regular da vítima aos passes e às sessões mediúnicas é o único meio possível de fortalecê-la para a resistência necessária. Não nos iludamos com as melhoras instantâneas. Os vampiros não largam facilmente as suas vítimas. Afastam-se estrategicamente e voltam com mais fúria na primeira oportunidade favorável. E necessário que as vítimas curadas estejam convencidas disso e preparadas para repeli-los em suas investidas manhosas. Apesar dessas dificuldades, em trabalhos bem dirigidos conseguem-se não raro resultados relativamente rápidos, que permitem maiores possibilidades na consolidação da cura.
A falência da Psiquiatria, com todos os seus métodos modernos, decorre da falta de consideração desses fatores espirituais nos diversos tipos de perturbações mentais e desequilíbrios emocionais. Impotentes ante os casos mais graves, como os de inversões e desvios sexuais, os psiquiatras mais atualizados adotaram uma tática de persuasão protelatória, considerando normais essas anormalidades. Consideram perigosa a resistência aos impulsos inferiores da libido, alegando que a repressão resulta em complexos irreversíveis. Os psiquiatras espíritas, que hoje felizmente já são numerosos, não podem aceitar essa tática de capitulação, que os transformaria em cúmplices das entidades vampirescas. Eles estão no dever indeclinável, profissional e consciencial, de se organizarem em associações de pesquisas, fundamentadas na Ciência Espírita e na Psiquiatria, para o enfrentamento necessário desses meios de abastardamento da espécie.
A sexualidade é o fundamento da vida e o sexo é a sua forma de manifestação. Os psiquiatras ingênuos ou ignorantes, brincam hoje com fogo em seus consultórios e suas clínicas e estão incendiando o mundo. Partem para o sofisma em defesa própria, alegando a impossibilidade de se caracterizar o que é normal e o que é anormal. Com isso pretendem declarar normais as anormalidades mais aviltantes. Mas a normalidade se define por si mesma no meio social. O sexo masculino define a personalidade normal do homem nas suas funções criadoras. O sexo feminino define a personalidade normal da mulher. Confundir alhos com bugalhos é tática de negociantes fraudulentos e inescrupulosos. Dizer a um adolescente que se sente dominado por impulsos negativos e procura livrar-se deles: "Isso é normal, arranje um parceiro", é atirar o infeliz na roda viva de um futuro vergonhoso. Não é essa a função do médico ante o doente que o procura. Já existem consultórios e clínicas dotados de leitos ocultos, para os quais são convidadas consulentes desesperadas para uma terapêutica libertina. O médico, no caso, receita-se a si mesmo como medicamento salvador. A chamada terapia de grupo se transforma em gigolismo científico, em que mulheres desnorteadas são apresentadas pelos médicos a homens insatisfeitos que podem adornar a fronte dos maridos com base no receituário.

Contou-nos um médico espiritualista uma anedota que afirmou não ser anedota: "O Sr. B., importante figura social, tinha o hábito de pegar pontas de cigarro nas ruas e encher com elas os bolsos. O psiquiatra que consultou submeteu-o a tratamento moderníssimo. Encontrando-o mais tarde, o médico espiritualista perguntou se havia se curado. Sim, respondeu o figurão empavonado. Continuo a pegar as pontas de cigarro, mas agora não tenho nenhum constrangimento. Faço-o com naturalidade. As técnicas psiquiátricas mais modernas, como se vê, procedem da remota fase grega dos sofistas, dos quais Sócrates se desligou para poder encontrar a Verdade. 
........................................ xxx....................................................................... 

Capítulo 2 do Livro  Vampirismo, de Herculano Pires.

Nenhum comentário:

Postar um comentário