LIVRO
“O SISTEMA “ De Pietro Ubaldi
IMPRESSÃO
Carlos
Torres Pastorino ( Rio, 5 de julho de 1957 )
Terminada
a tradução da obra, O Sistema, de Pietro Ubaldi, feita com a
alegria imensa do garimpeiro que vai descobrindo em cada nova linha
uma pepita de ouro do mais puro, não me contenho em rascunhar a
impressão que me ficou dessa leitura meditada, do estudo dessa
revelação nova trazida a nós em plena segunda metade do século
XX.
Desde
a infância, o estudo desses problemas, através das obras da
Teologia Católica, primeiramente, e mais tarde através das
publicações oficiais do Espiritismo, do Protestantismo, da
Teosofia, do Esoterismo, da Antroposofia, dos Rosa-Cruzes, das obras
mais antigas da Índia, do Egito e da China, o estudo de tudo isto
deu-me uma impressão de incerteza e de tateamento, ou então de
afirmativas sem bases no campo racional. Não há, em todas essas
doutrinas, respeitabilíssimas sem dúvida, porque representam o
labor da mente concreta que busca o conhecimento através de suas
próprias forças – não há uma unidade completa que una tudo numa
única visão de conjunto.
Por
isso, através da leitura estudada e meditada da obra de Ubaldi,
cheguei à conclusão de que o universo é de fato um todo único,
cujo centro é Deus. E, completando a maravilhosa e inspirada A
Grande Síntese com o volume Deus e Universo, vislumbrei certos
aspectos novos. No entanto, o segundo volume citado está demais
conciso e alto, não me permitindo à parca inteligência, a
compreensão total da grandiosidade ali exposta.
Neste
volume, entretanto, a explicação é cabal e acessível a todas as
inteligências, mesmo as medianas, como a de quem está escrevendo, e
as provas são de tal forma completas e irrespondíveis, que pouco
haverá que acrescentar a isso, nessa época. Talvez mais tarde se
possa dizer algo mais. Mas, no momento, não vemos o que acrescentar
ao que aqui se encontra.
O
Sistema é um livro ótimo, lógico e claro. Trata-se, em minha
insignificante opinião, de completo curso ou tratado de Teologia
cosmogônica, uma Teologia Nova, que vem cortar pela raiz todas as
elucubrações puramente humanas, esclarecendo os pontos obscuros,
revelando todos os mistérios incompreensíveis e inaceitáveis à
mente hodierna. As teologias antigas, que pararam no tempo e no
espaço, por se terem tornado dogmáticas e não mais admitirem
pesquisas, reagirão, sem dúvida, a esta intromissão em seu
terreno. Mas a humanidade está em evolução perene, e não seria
compreensível que a parte mais nobre e elevada da humanidade, que é
o pensamento e a sabedoria, parassem nos séculos remotos, enquanto a
parte inferior, material, estivesse, como está, progredindo a passos
gigantescos.
Neste
Tratado Teológico, encontramos um Deus perfeitamente aceitável por
Sua grandeza, ao invés daquele Deus mesquinho que trazia sempre
bombons na mão direita para premiar e um chicote na esquerda para
castigar, como qualquer capataz irritadiço e vulgar. Revela-nos uma
finalidade à existência, ao invés de um paraíso de ociosidade
inútil e egoísta, em que as criaturas ficarão por toda a
eternidade gozando ao ver seus entes queridos sofrendo horrorosamente
um inferno infindável.
A
teoria da queda e da reabilitação dos espíritos é tão lógica
que temos a impressão que ela guiará o mundo espiritualizado de
amanhã, esclarecendo os pontos obscuros e dando direção à
evolução da humanidade, que hoje se debate em problemas sem
solução. É um Tratado de Teologia nova e ao mesmo tempo um Tratado
de Filosofia Universalista Unitária, que nos apresenta, como um todo
único, um só corpo cuja cabeça é Cristo.
A
segurança de raciocínio jamais abandona o autor a especulações
vazias, mas o leva a provas sólidas, em matéria difícil e
complexa. É a única teoria que conhecemos, que pode satisfazer o
intelecto, a razão e mesmo o coração, porque explica logicamente
tudo o que se passa neste mundo. Filosofia, física, química,
biologia, sociologia, moral, tudo é examinado conscienciosamente,
com minúcias que esgotam o assunto, com inflexibilidade
irrespondível, com segurança e acerto.
A
parte mais alta do livro O Sistema é constituída pelo capítulo XX,
quando o autor nos dá a terceira interpretação da visão. Esta é
de uma clareza deslumbrante. Inegavelmente trata-se, nesta obra, de
uma revelação descida do Alto, que nos vem trazer luz acerca de
problemas que a mente humana, por si só não poderia resolver.
Perguntam-me
alguns confrades, como posso aceitar a teoria de Pietro Ubaldi,
sendo, como sou, espírita adepto de Allan Kardec. Confesso não ver
nenhuma contradição entre as duas teorias.
Para
quem lê Kardec superficialmente, detendo-se nas palavras impressas,
a teoria de Pietro Ubaldi pode parecer "herética". Mas aos
que lêem o mestre penetrando as entrelinhas das respostas dos
espíritos, tão sábias e profundas, nada lhes parece de
contráditório.
Em
primeiro lugar, Allan Kardec tentou penetrar nesse terreno. Todavia
os espíritos não lhe deram a resposta ansiada. Podemos encontrar no
Livro dos Espíritos a pergunta 39: "Podemos conhecer o modo de
formação dos mundos"? E a resposta dos espíritos: "Tudo
o que a esse respeito se pode dizer e podeis compreender é que os
mundos se formam pela condensação da matéria disseminada no
espaço". Não é o que diz Pietro Ubaldi, no capítulo XX? A
origem dos universos foi uma "contração", em que o
espírito ficou aprisionado dentro da matéria.
Em
segundo lugar, o próprio Kardec afirma não ter dito a última
palavra, mas apenas a primeira. E que todas as teorias por ele
trazidas deveriam ser desenvolvidas à proporção que a ciência
progredisse.
Em
terceiro lugar, Allan Kardec preocupa-se com o problema da evolução,
a partir da matéria primitiva, sem cogitar do que havia ocorrido
antes. Ou seja, começa do mesmo modo em que a Bíblia e do mesmo
ponto em que A Grande Síntese iniciaram o estudo: a subida evolutiva
dos seres encarnados. Evidentemente, partiram todos da "matéria",
ou seja, dos átomos, cuja concentração formou os universos. Nesse
ponto – o infinito negativo, o ponto de chegada da involução, a
concentração máxima do espírito – era evidente que "todos
os espíritos eram simples e ignorantes" (pergunta 115).
Entretanto,
é evidente a confusão da palavra "espírito", no sentido
de "princípio espiritual" com o sentido de espírito
humano. Mas as próprias respostas dos espíritos e Allan Kardec
classificam a origem, pesquisada agora por Pietro Ubaldi, como
"mistério": "a origem deles é mistério"
(Pergunta 81). E pouco antes: "Quanto ao modo pelo qual nos
criou e em que momento o fez, nada sabemos" (Pergunta 78).
Dentro
do próprio Livro dos Espíritos, contudo, encontramos em esboço
muito rápido e leves pinceladas, a confirmação da teoria
ubaldiana. Pergunta Kardec: "Donde vieram para a Terra os seres
vivos"? Resposta: "A Terra lhes continha os germes, que
aguardavam momento favorável para se desenvolverem. Os princípios
orgânicos se congregaram (teoria das "unidades coletivas"),
desde que cessou a atuação da força que os mantinha afastados"
(Pergunta 44). Não é o que diz Pietro Ubaldi?
Mas,
acima de tudo, está de pé a resposta à pergunta 540, no fim: "É
assim que tudo serve, tudo se encadeia na natureza, desde o átomo
primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo.
Admirável lei de harmonia, que vosso acanhado espírito ainda não
pode apreender em seu conjunto!"
Nada
mais cremos seja precioso para provar que a teoria exposta por Pietro
Ubaldi, em sua revelação, nada tem de contraditório com a doutrina
codificada por Allan Kardec. Antes, vem completá-la e explicá-la,
levantando o véu daquele mistério que, há um século, os espíritos
julgaram oportuno deixar ainda envolvendo a origem da vida. E isto
porque os homens daquela época "ainda não podiam entender"
essa origem, pois a ciência não havia demonstrado que matéria é
apenas a condensação da energia, e esta a descida das vibrações
do espírito. A frase final da resposta à pergunta nº 83 nos revela
bem que Allan Kardec, incontestável mestre codificador, não pôde
receber dos espíritos uma doutrina completa, porque o ambiente
terrestre ainda não estava preparado. Lemos aí: "É tudo o que
podemos, por agora, dizer". Então, há mais coisas a dizer, mas
não podiam ser ditas, tal como ocorreu quando Jesus disse a seus
apóstolos: "Muitas coisas vos tenho a dizer, mas não as podeis
suportar agora" (João, 16:12). Por que então condenaremos a
teoria de Pietro Ubaldi, se ela sem contradizer nem Kardec, nem
Jesus, vem trazer-nos luz a respeito de coisas que nem um nem outro
nas haviam revelado?
O
fato concreto, sob nossa vista, é que a teoria exposta mediante
revelação e inspiração por Pietro Ubaldi satisfaz integralmente a
todas as indagações científicas, psíquicas, filosóficas,
teológicas e espirituais que possamos fazer-nos. Assim sendo, temos
que lealmente aceitá-la, até prova em contrário; mas prova que
traga argumentos e fatos, experimentações e demonstrações, e não
apenas citações do "magister dixit". Hoje o método
científico tem de prevalecer para satisfazer tanto à mente concreta
quanto à abstrata, tanto à razão quanto à intuição, tanto à
inteligência quanto à sensibilidade.
A
obra é de suma importância e finca no mundo um marco que
dificilmente será removido. Poderá ser mais bem explicado e
desenvolvido seu ponto de vista, poderá mesmo ser modificado em seus
aspectos secundários. Mas o âmago do problema foi equacionado
brilhantemente, e daí poderemos partir para posteriores e maiores
pesquisas e buscas.
Compete
agora ao homem de amanhã essa parte. Mas este já encontrará uma
base onde se apoiar, um alicerce sobre o qual poderá erguer novos
edifícios. E era isto, justamente, o que faltava à humanidade de
hoje, que nada podia edificar em terrenos movediços de mistérios,
sobre abismos sem fundo de desconhecimentos confessados. Tudo, dentro
da relatividade humana, foi explicado em termos científicos e
lógicos. Foi-nos mostrado, com dificuldade por causa da pobreza da
linguagem humana, o que a mente do homem perquiria há milênios, e
que nos fora dito várias vezes, mas sempre com palavras ocultas,
cheias de subentendimentos, que a mente comum não conseguia
penetrar.
Para
a filosofia e a teologia, este volume constitui um dos mais
importantes tratados que já apareceram publicados na face da Terra.
É uma luz nova que se levanta no horizonte, um novo sol que vem
iluminar as mentes e aquecer os corações, sequiosos de sabedoria e
de amor. Porque nele se revelam, em Sua plenitude infinita, a
Sabedoria e o Amor de Deus, como centro de tudo, como Seu pensamento
a constituir atmosfera psíquica "em que vivemos, nos movemos e
existimos (…) porque Dele também somos gerados" (Atos, 17:28)
Rio, 5 de Julho de 1957
C. Torres Pastorino
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