segunda-feira, 6 de abril de 2020

A DOR, O PERDÃO, A RESIGNAÇÃO, TUDO PARA NOSSA REDENÇÃO

Em algum momento de nossa existência, já devemos ter ouvido alguém mencionar que o acaso não existe e que tudo neste planeta tem uma razão de estar aqui.  

Aqueles que apreciam filmes da Marvel, aonde vemos as dificuldades enfrentadas por Thor, filho de Odin, para preservar ASGARD, o reino dos Deuses Nórdicos vai lembrar que  em um desses filmes, assistimos a destruição do plano físico em que habitavam, mas Odin fala a seus filhos que ASGARD não era a parte física aonde viviam e sim o povo que compunha o reino. 

Assim, similarmente, a mesma regra se aplica a nós, viajantes desta nave que transita pelo Universo, fazendo uma volta completa em torno do Sol em 365,26 dias a 107.000 km/h  mas lembrando que faz parte de uma galáxia que também transita a 810.000 km/h. 

Não somos da Terra, estamos aqui de passagem e, em aprendizado básico, na infância do refazimento do Espírito.

Seguindo o mesmo raciocínio, é fácil de perceber que existe em andamento um complexo projeto de ajuste por todo o planeta, incluídos aí os planos físico e extrafísico, a fim de que demônios se transformem em anjos para que o inferno se transforme em céu. 


DO LIVRO  
FRAGMENTOS DE PENSAMENTO E DE PAIXÃO
PIETRO UBALDI.

CÂNTICO DA DOR E DO PERDÃO
(1933)
No silêncio da noite imensa eu escuto o cântico de minha alma: 
um cântico que vem de muito longe e traz Consigo o sabor do infinito.

As coisas dormem e a voz canta.
Estou desperto e escuto; 
parece que a noite escuta comigo.
O mistério que está em mim é 
o mistério das coisas: 
dois infinitos olham-se, sentem-se e compreendem-se.

Lá embaixo, pelas margens distantes,
além da vida, o canto responde, 
despertam-se as sombras e todos
os seres, das profundezas, estendem-me os braços:

"Não temas a dor, não temas a morte,
 a vida é um hino que jamais tem fim"

Observo-os; e perdôo à sarça 
a inocente ferocidade de seus espinhos, 
à fera sua garra,
à dor sua investida, 
ao destino seu assédio,
ao homem sua ofensa inconsciente.

"Perdoa e ama", diz o meu cântico.
E eis que ele apresenta uma estranha magia:
todos os seres me olham fascinados
e cai o espinho, a garra, a ofensa.

E devagar, devagar, ignaros e cheios
de espanto, a magia os vence e 
comigo, lentamente, recomeçam o cântico; 
harmonia se dilata, difunde-se e
ressoa em todo o Criado.

Sobre cada espinho nasceu uma rosa,
sobre cada dor uma alegria,
sobre cada ofensa uma carícia de perdão.
Abro meus braços ao infinito e
falanges de seres me estendem seus braços.

"Canta, canta", — falam-me — 
"cantor do infinito; nós te escutamos. 
O teu cântico é a grande Lei, 
é a grande festa da vida. 
O teu cântico é luz da qual
o ódio e a dor fogem.
Canta, canta, cantor do infinito".
E eu canto.
Meu corpo está cansado e eu canto; 
meu corpo sofre e eu canto;
meu corpo morre.… e eu canto.



TRÍPTICO
(1934)
NOVEMBRO

Adeus, bosque solitário, que tanto amei.
Como é amargo teu hálito nesta tarde,
enquanto te olho dizendo adeus 
O inverno te cinge no seu sono, a voz queixosa da chuva lenta docemente te adormece.

Repousa entre as névoas o vento, repousa no silêncio a grande voz da Vida, no abandono lento das folhas mortas repousa a expressão de ser das árvores.
Triste e doce mês de novembro, no qual tudo morre lentamente por cansaço, dá-me o teu repouso.

Caminha, caminha minha alma sem parar.
Donde vens,
para onde vais, na eternidade,
oh! alma filha do mistério? 

Anda, anda!
Quão longe está a meta no infinito!

Quanta paz, oh! bosque,
neste teu recolher em silêncio,
nesta tua obediência as leis da vida,
nesta tua tranqüila expectativa 
da ressurreição da primavera

Como este sentido de morte tranqüila
se harmoniza suavemente em ti, nas
cores esmaecidas, nos mínimos sons, 
nas calmas profundas!

Qualquer coisa se apagou no Sol,
no céu, no ar;

o frêmito da vida acalma-se em vagarosa sonolência. 

Algo se extingue em mim como um longuíssimo lamento, uma dor se desalenta porque é a dor do mundo, um pranto que é o pranto da vida.

Observo e relembro.

A festa do verão, os divinos colóquios com a alma misteriosa da natureza, os êxtases dos silenciosos arcanos e a solene quietude na qual repousa o turbilhão do tempo. 
Na voz das coisas mais humildes, ouvia tremer o mistério do infinito.
E tu me olhavas, doce criatura da qual o bosque é feito, escutando comigo a longa sinfonia dos ocasos. 

E a sinfonia se desenvolvia suave, de luz em luz, até desaparecer o último esplendor nas trevas, qual uma voz que morre no silêncio.

A terra em paz contava-me calmamente,
à luz da tarde que se esvai, do sustar da luta, 
do repouso da vida exausta e como o dia,
velho ao anoitecer, era mais sábio por tê-la vivido.

Adeus, bosque solitário, pensativo como eu;

adeus, caminho que vai para o ocaso;
adeus, árvores amigas que tanto amei.

Agora o entardecer é frio e lívido;
o teu perfume, oh! terra, tem um sabor de pranto.

O teu respirar esgotado,
que eu sinto nas mãos,
parece que me responde tristemente:
adeus!

O inverno já te abala com um arrepio de
frio. 
O uivo do vento sumir-se-á em teu meio,
em longas ululações, sibilando na
tenebrosa tempestade da noite.

Pobre arvore amiga, adeus! 

Sofrendo, irei para outras plagas
levando a tua lembrança querida;
do vento receberei as tuas notícias,
para ti confiarei ao vento as minhas.

O vento me trará da primavera distante
a carícia das novas frondes; 
desfolhá-las-ei com o meu sopro para
que a carícia te enlace lá longe.
Adeus!

O bosque responde-me: Paz!


O SINO DOS MORTOS 

Soa melancolicamente um sino ao
entardecer. 
É a voz dos ciprestes e dos túmulos,
um som triste de pranto,
um lamento que se perde ao longe 
pelas campinas e, entre as folhagens
mortas, plangentemente morre.

O ar repousa. A neve inerte se condensa
em gotas de ramo em ramo. Existe neste
entardecer uma sensação de grande
abatimento na vida e a terra esta
estranhamente absorta.
Parece que se recolhe para meditar
sob o manto da neve sempre igual.

No silêncio imenso não escuto senão o
pulsar do meu pensamento que desce
profundamente, de região, em região para despertar não sei onde, sobre o limiar do mistério.

Olho dentro da terra e parece-me
desejosa de oferecer-me o amplexo que
tantas vezes lhe pedi com os braços
estendidos, chamando-me para repousar
entre os seus torrões.

Amei tanto as suas belezas, penetrei tanto em seus segredos, vivi tanto no misterioso palpitar do sua vida, trocando amores, como almas amigas.

Uma tristeza comum nos domina e nos
aproxima neste entardecer.

E como tu, oh! terra, te demoras nesta
tepidez outonal, quase retrocedendo para recordar o verão, e tão afável e
melancólica és nesta tua recordação; assim também eu me demoro no meu outono, e melancólico e afável volto-me sem magoa a recordar a vida.

Dá-me o abraço, oh! terra, que tantas
vezes pedi para ter repouso.

E parece que a terra me olhou e me
escutou, abrindo-me o seu seio. Entrego-te o meu corpo. O drama da vida esta findo. O que aconteceu ao convulso turbilhão das paixões, às tormentosas tempestades do pensamento? Será tudo disperso, como folhas ao vento, o tremendo trabalho de uma vida?

Tudo esta acabado.
Em lenta paz o corpo se dissolve.
Repousa a sua vida,
adormecida em longa sonolência.

E as estações passarão, e a vida se
transformará em corpos, docemente
golpeada, através dos torrões, ora de um calafrio de gelo, ora de uma igual umidade de chuva, ora de uma tepidez das tardes ensolaradas.

Não morrera; e todavia, sentindo-se
mudar, cantará nela as grandes notas de
cada sensação.
Apertada no amplexo tenaz da terra,
nela mergulhara vibrando,
fundindo-se na sua alma potente.

Daquela minha vida, que se dá,
os seus braços subterrâneos sustentarão as grandes arvores amigas, tateando no escuro para sorver vida;
e o seu grande  espírito pensativo exigirá sob a terra
aquilo que da terra o corpo tomou e deve restituir ao ciclo das coisas.

E surgirá lenta pelos braços subterrâneos a força da minha vida, retomada as árvores amigas, para levá-la ao Sol, onde reviva lá em cima.

A morte ressuscita.

Toma. 
Os meus despojos dou-te sem mágoa.
Retoma, ser irmão, tu que não conheces outra vida a não ser esta, aquilo que me deste por um dia, para a minha missão. 

A minha é outra vida.
A minha alma, renascida na sua dor, desejosa de fugir da crisálida, sonha com os espaços imensos de uma vida mais vasta.

Distante, em outras plagas que tu não conheces, eu aporto.

O túmulo é a minha ressurreição.

Soa sempre lá em baixo o sino dos mortos, não mais como lamento que morre entre as folhas mortas.

É hosana da vida que ressurge. 
Já sorriem no alto, para mim, as estrelas na doce e suave luz matutina. 
Vejo um outro mundo, não mais de formas que vão lançadas no turbilhão. 
Estas seguem como um canto imenso, equilibrando-se em ciclos  alternados de vida e morte, avançando para o bem e para a felicidade;
estas seguem, criando mesmo na dor uma alegria maior, contida e construída numa única força:

amor.


RESSURREIÇÃO

Ressuscita, alma, a tua dor está vencida.

Sorriem distantes as árvores na doce
primavera, sorri na sua liberdade o meu
espírito ressurto como a vida ressuscita dos despojos mortos do inverno.

Morta entre as coisas mortas esta a tua
dor lá embaixo, inútil utensílio atirado ao longe, nas plagas desertas de uma triste vida. Mas, o seu fruto está aqui e a alma o vê: trabalho, criação e glória.

No infinito, o universo canta: ressuscita, a tua dor esta vencida.

Numa nuvem de espíritos em hosanas eu vejo resplandecer Cristo.
A sua cruz é luz, a dor é redenção. Pelo Calvário elevamo-nos ao Céu, pela Cruz a Deus.

Ressuscita. 

Aquela dor inimiga é agora a tua força e a tua grandeza. O espírito a amava como suave amiga sentindo a sua
libertação. A mesma lei que te oprimia agora te salva e te eleva. 
A meta esta atingida e o mal cai, instrumento do bem; a pequena desordem temporária é reabsorta na imensa ordem suprema.

Triste e longo é o caminho de lagrima e sangue; mas, superada a prova, o destino atinge a meta.

A dor que tanto amaste com teu olhar voltado ao Cristo não é negação e treva, mas criação e luz. 

A cruz não é uma condenação da vida, mas é sua maior força; não é punição ou vingança, mas e uma festa da alma e uma bênção de Deus.

Vejo no alto o resplandecer do CRISTO.
Um raio me atinge, uma beatitude me domina e em êxtase eu grito:

"Senhor, agradeço-te por isto que é a maior maravilha da vida; que a minha dor seja a tua bênção".

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