XIII
A OFERTA
Podemos agora deter-nos em
outro momento, numa curva da história que estamos narrando A primeira fase, a do afastamento do mundo,
exposta no início do presente volume, já se encontra distante, são decorridos
35 anos (1931-1966), e o trabalho de nosso personagem no cumprimento do seu
destino se encaminha para a sua conclusão. O que era um programa agora é fato
consumado. Chegou, portanto, o instante de observar, de ver, depois do caminho
percorrido, o fruto, produto daquele primeiro impulso inicial.
Com este objetivo, vamos
transcrever a conferencia proferida pelo autor da Obra em Brasília, centro do
continente sul-americano, lida depois por um parlamentar na Câmara dos
Deputados e publicada no Diário do Congresso Nacional Brasileiro, em março de
1966, com o título:
"A NOSSA OFERTA
SIMBÓLICA AO BRASIL E AOS POVOS DA AMERICA
LATINA"
Nessa reunião, na Capital
do Brasil, participaram amigos provenientes de vários pontos do continente
sul-americano, como dos Estados Unidos, juntos, em estreita colaboração. Chegaram mensagens de adesão do Japão e de
outras partes do mundo. Eis o texto da conferência
Queridos amigos,
Contar-lhes-ei uma
estranha história. Há trinta e cinco
anos, um homem, chegado à metade de sua vida, sem preparação alguma e sem plano
de trabalho, começou a escrever obedecendo a um impulso interior. Desde o Natal
de 1931, ele nunca mais parou. Sem conhecer quais seriam os futuros
desenvolvimentos do seu labor, ele o foi executando dia após dia.
Hoje, aquele trabalho
encontra-se quase terminado e está visível na sua estrutura orgânica, no seu
desenvolvimento lógico, na sua harmônica arquitetura. Trata-se de uma Obra de
24 volumes e com cerca de 10.000 páginas. Ela explica a origem, a estrutura e o
funcionamento orgânico de nosso universo físico-dinâmico-psíquico, a nossa
posição dentro dele e o significado e finalidade de nossa vida, para chegar, no
fim, a conclusões práticas, mostrando qual deve ser a nossa conduta, se não
quisermos pagar, com sofrimento, os nossos erros.
A finalidade desta Obra é
oferecer um conhecimento que o mundo ainda não possui, necessário para se
conduzir com sabedoria e, portanto, viver de forma menos bárbara do que aquela
em que vive o assim chamado homem civilizado moderno. Nesse sentido esta Obra
contém as bases sobre as quais se poderia apoiar uma nova civilização, aquela
que, por lei de evolução, o homem deverá seguramente realizar no 3º milênio.
Trata-se de viver melhor, o que só é possível usando maior inteligência e
bondade. A finalidade maior da Obra é fazer o bem, mostrando como se pode
viver uma forma de existência menos feroz, mais civilizada e, portanto, mais
feliz
A Obra é um projeto para
ação, destinado a quem quiser executá-lo, porém não é a ação em si mesma. É uma
luz que ilumina e orienta, mas não é o movimento que realiza. Esta é outra
parte, que pertence aos executores, que poderão chegar num segundo momento. Os
que ficarem inertes, esperando que tudo caia do céu, não gozarão das vantagens
que a ascensão evolutiva contém. De resto, a divisão do trabalho, conforme a
especialização de cada um e particulares capacidades, é uma necessidade
prática. O engenheiro, que faz o projeto de um edifício, não pode fazer o
trabalho de pedreiro para construí-lo, e o pedreiro tem necessidade de encontrar
o projeto feito para saber como construir.
A posição na qual nos
encontramos hoje é a seguinte: o projeto está quase terminado, chegando à sua
última fase, com a qual fica concluído. O autor cumpriu a sua missão. Muitos
falam de missões e se dizem missionários, mas poucos conseguem chegar ao fim.
Podemos aqui falar de missão, porque ela foi cumprida. O autor terreno fez a
sua parte. Ele está ao mesmo tempo no fim de sua vida, e com ela atingiu o seu
objetivo. O primeiro ato do drama se encerra. Desce a cortina, e o autor,
satisfeito, desaparece na sombra. Ele só deseja ser esquecido ao término deste
labor. O que tem valor e utilidade é a Obra e não o operário. Neste momento,
ele pede uma graça: que lhe sejam poupadas exaltações pessoais, honras inúteis,
porque elas pertencem somente à Obra; pede que o deixem retirar-se em silêncio
da cena do mundo, para se preparar a viver o novo tipo de existência que, em
breve, o espera no além-túmulo.
A Obra permanece, é o que
mais interessa. Ela não é um produto morto, de literatura, mas uma semente viva
que agora cai no terreno do mundo para germinar. A vida a gerou para que ela
viva. As idéias da Obra foram formuladas para serem transformadas em fatos.
Eis que neste momento entra em cena outro tipo de trabalho: o dos homens de
ação, dos realizadores, aos quais pertence cumprir o segundo ato.
Hoje se realiza a passagem
do projeto das mãos do projetista para as dos construtores. O primeiro
terminou sua parte e vai-se embora. Este momento é o da entrega do projeto.
É isto que estamos fazendo, juntos, aqui
em Brasília. Hoje é o dia desta entrega. Desde este momento, a Obra entra em
sua nova fase, que se desenvolverá paulatinamente, como ocorreu no início, para
continuar em seu novo ciclo. Temos, assim, dois movimentos opostos: o autor se
retrai, afasta-se e desaparece, seguindo noutro lugar o seu destino; a Obra,
como um feto acabado de nascer, toma vida. própria e começa, por sua conta, a
caminhar pelo mundo.
Os senhores, a quem hoje
falo, são os operários aos quais a Obra está confiada. E por isso que estamos
aqui reunidos. Este encontro tem um importante significado, exatamente pelo
fato de que nele se realiza esta nossa oferta, neste lugar e momento. Trata-se
de passar das mãos do compilador às dos seus herdeiros espirituais. Oferta
gratuita, para o bem de quem a recebe. Isto acontece em Brasília, Capital do
Brasil, no coração do continente sul-americano. Como diz o título da
conferência, esta é a nossa oferta simbólica ao Brasil e aos povos da América
Latina. Aqueles que, de outros países da América do Norte, Centro e Sul, não
puderam chegar até aqui, pessoalmente, estão espiritualmente presentes nesta
hora, como testemunham cartas e mensagens por eles enviadas. Estas nossas
palavras serão levadas ao seu conhecimento no seu próprio idioma, e a distância
física não impedirá a união espiritual.
É lógico que as forças que quiseram a
realização da primeira fase do trabalho, desejem agora que se cumpra também a
sua segunda parte, sem a qual aquela não teria sentido. No período inicial,
muitas provas concretas nos demonstraram que este movimento é vontade do Alto
e que não tenciona parar, já que nenhuma força até agora teve o poder de
detê-lo. Ele não confia nos falsos métodos do mundo. Aqui não se trata de
barulhentos e rápidos sucessos, de tangíveis realizações imediatas, mas de
fenômenos de grande amplitude e por isso de lenta maturação, de realizações que
não têm pressa como ocorre como ocorre com o homem, fechado numa só vida;
trata-se de desenvolvimentos que se projetam no tempo e no espaço, não
precisando, portanto, atingir rápidas conclusões para quem enxerga somente de
perto, deles se apercebendo. É um
movimente de grandes proporções que ultrapassa o interesse do indivíduo e do
momento e que se entrosa, juntamente com outros movimentos paralelos, no
desenvolvimento da História. Então, que cada um cumpra espontaneamente a sua
parte para a qual se sinta chamado. Depois chegarão outros. O artífice de tudo
isso está no Alto e possui inesgotável reserva de instrumentos humanos. Assim
aconteceu agora e terá de ocorrer no futuro.
Eis o que significa esta
oferta: a Obra terminada e, hoje, entregue aos seus continuadores. Duas vezes
essa oferta foi feita e, em ambas, providencialmente rejeitada. Dizemos "providencialmente", porque
cada recusa lhe abriu as portas para maior expansão. A primeira, a recusa de
Roma, abriu-lhe as portas do Brasil a segunda, de alguns no Brasil, as da
América Latina. Logo, a finalidade a alcançar foi atingida. Para quê? Qual
seria essa finalidade?
Se o Comunismo representa
a idéia asiática e a democracia capitalista o sistema anglo-saxônico, eis que a
América Latina pode ter uma terceira
ideologia de cunho cristão — como cristãos são os latinos filhos de Roma —
baseada não sobre problemas de expansão territorial e predomínio econômico, o
que conduz às guerras, mas sobre princípios espirituais que afirmem e difundam
a paz. Eis por que a Obra automaticamente se dirigiu para o Brasil, dele se
espalhando pela América do Sul.
De fato, o plano da Obra é
essencialmente pacífico. As suas bases são evangélicas e as suas conclusões
levam a u'a moral de recíproca compreensão e colaboração. Tudo isso se coloca
decididamente nos antípodas do estado de guerra, no qual, em outro hemisfério,
vivem as mais poderosas nações do mundo. Na realidade, o hemisfério norte é um
campo minado e sobre ele está suspensa, como uma espada de Dâmocles, presa por
um fio, a arma atômica. Grande importância pode ter no mundo o poder bélico e
econômico, mas ele tem necessidade também de paz, sem a qual — apesar de que
com grandes trabalhadores muito se produz — tudo acabará sendo destruído.
Precisa-se de paz, sobretudo neste momento em que se vive sob contínua ameaça
de guerra nuclear.
A nossa Obra ensina a
viver outro tipo de vida, baseando-se sobre princípios de um nível biológico
mais evoluído para levar o homem ao maior grau de adiantamento, que será a nova
civilização do terceiro milênio. Pela lógica do processo evolutivo, é fatal que
se deve chegar até lá. O problema é prático, utilitário. Trata-se de ter
suficiente inteligência, para compreender a vantagem de viver, organicamente,
em ordem, em vez de luta e caos; viver com compreensão e coordenação de
esforços, em lugar de rivalidade e separatismo egoísta. Estas são as conclusões
da Obra, nela estão demonstradas as suas razões profundas, oferecendo soluções
até à origem de nosso universo. Evidencia-se claramente, sem se exigirem atos
de fé, o porquê de nossa existência, quais as leis que a regem e como a dor
surge pelo fato de não se obedecer a elas. Explica-se como funciona o imenso
organismo do todo dentro do qual estamos situados e com o qual nos devemos
coordenar, se não quisermos sofrer. Cada erro é como uma doença nesse
organismo, uma enfermidade que causa sofrimento e que percebemos, porque a dor
atinge cada célula doente daquele organismo. A enfermidade aparece quando se
sai da ordem, e com ela manifesta-se a dor. Pode-se estabelecer a seguinte
equivalência: ordem na Lei = felicidade; desordem fora da Lei = sofrimento.
Então, sabemos por que existe a dor e como evitá-la. Sua função é a de nos
fazer voltar á ordem para nosso bem, porque na ordem não existe dor.
Alcançamos, assim, u'a
moral racional, positiva, demonstrada e por isso mesmo não suscetível de
hipocrisia; moral que não é produto fideístico de um ou outro grupo político ou
religioso em seu interesse; pelo contrário, trata-se de uma ética universal,
não ligada a interesses, verdadeira em todo tempo e lugar, sem escapatórias,
como são as verdades científicas. Ninguém pensa que a lei de gravitação possa
mudar pelo fato de se pertencer a este ou àquele partido político, a esta ou
àquela religião. Assim, a Obra nos oferece u'a moral biológica que funciona
para todos, nela se acredite ou não, uma regra de vida armada de sanções,
pronta a reagir quando a violamos, à qual ninguém pode fugir, como não se pode
impedir o desencadear de uma reação química, ou de uma doença, só pelo fato de
que se professa uma fé em lugar de outra. O homem hoje, como indivíduo ou como
sociedade, sofre imensas dores em conseqüência da ignorância dessas leis, não
podendo impedir que elas existam e golpeiam quem, por não as conhecer, comete o
erro de as violar. Hoje tais conceitos podem parecer utopia, mas, muitas vezes,
o ideal de hoje torna-se realidade amanhã. O ideal é uma antecipação da
evolução, e, no mundo atual, dores imensas estão prestes a se desencadear para
apressar o desenvolvimento da mente e o amadurecimento da consciência, que são
necessários para chegar à compreensão.
Eis o conteúdo e a
finalidade da Obra que hoje, neste local, oferecemos. Uma vez que nos explica
como funciona a vida, ela não pode deixar de ser, como a ciência, imparcial e
universal. O seu objetivo não é constituir um grupo e com ele lutar contra outros
para vencê-los, como é hábito em nosso mundo. O seu método não é impor para
dominar, produzindo rivalidade e cisão, mas demonstrar para
convencer, gerando concórdia e unificação. E por isso que a Obra, hoje, não
está sendo oferecida a um grupo particular. Ela não pode ficar fechada em
nenhuma divisão humana, em nenhum setor
particular ou partido, seja político, seja religioso, como não o podem as leis
da vida e as verdades universais da ciência. Isto não significa querer
colocarmo-nos acima dos grupos humanos, em nome de Deus, como fizeram algumas
religiões. Apenas estamos fora deles. Explica-se, assim, como faliram as
tentativas dos grupos que procuraram absorvê-la para suas finalidades
particulares. Ela não constitui uma opinião particular, não é um ato de fé
cega, nem teoria para esconder e defender interesses, é simplesmente a explicação
de como funciona a Lei de Deus nos seus diferentes níveis; é tão somente um
pensamento que, expressando verdade, quer oferecer conhecimento e estado de
consciência necessários para uma vida mais elevada e, portanto, com menor
sofrimento. Por essa razão, não servem os poderes do mundo, seja político, seja
econômico, seja bélico, porque eles não são mais do que engrenagens da máquina
de Deus, da qual fazem parte como elementos subordinados, máquina que já
encontra funcionando e que não precisa do consentimento humano para atingir os
seus objetivos. Quem entendeu este mecanismo sabe aonde a vida quer chegar e,
fatalmente, acabará chegando, dirigindo, com a sua inteligência, o homem
ignorante daquelas metas.
É assim que a Obra oferecida se funde,
totalmente, no fenômeno evolutivo e no momento histórico em que se realiza,
com pleno conhecimento dos seus objetivos: ele quer e deverá alcançá-lo. Em
suma, reunindo todas as distinções humanas que produzem separações, lhes
dizemos: não entramos nesse separatismo. O nosso princípio é a unificação. Mas
não a de grupo, baseada em sectarismo e proselitismo para lutar, isto é, para
dividir e vencer alguém, e sim uma unificação com a Lei de Deus,
com a sua harmonia universal e ordem suprema. O homem só entende a unificação
como um agrupamento contra alguém. A isto, muitas vezes, se reduzem as
religiões. Por unificação, porém, entendemos uma adesão à Lei de Deus, saindo
de todos os agrupamentos humanos que acabam por dividirem-se. O homem que usa
as coisas espirituais com método sectarista, separatista e agressivo contra o
próximo revela a sua involução. O evoluído, para não entrar em luta, afasta-se
dele em silêncio, respeitando-lhe a ignorância.
Uma vez, procurando
explicar esse tipo de universalismo, responderam-me: "Entendi, trata-se de
um novo partido, o dos universalistas". Isto nos mostra como o homem não
sabe conceber coisa alguma a não ser em forma de separatismo egocêntrico. E como
é difícil para ele superá-lo em sentido universalista unitário! Mas é
exatamente nesta fundamental renovação de mente que consiste a nova
civilização do terceiro milênio, porque é dela que depende a nossa conduta e,
portanto, toda a orientação da vida na sociedade humana. O que mais interessa
ao involuído atual é a rivalidade e a luta. O que mais interessará ao
involuído de amanhã, será, ao contrário, a unificação e a colaboração. E esta
vai ser a maior revolução do novo milênio. É para ela que a Obra nos vai
preparando. Assim, desde agora, quem a compreendeu, começa a praticar este novo
método de viver, que não é uma egocêntrica vontade de sobrepor-se aos outros,
mas, sim, de entendê-los para cooperar. Trata-se de tornar, finalmente, realidade
o lema evangélico, até hoje reduzido apenas à pregação e teoria: “ama a teu
próximo como a ti mesmo”.
Com esta Obra nos
projetamos no futuro. Ela foi escrita para as gerações que chegarão e às quais
os senhores a confiarão a fim de que possam vivê-la. Os senhores têm — e elas
também terão — u'a missão: a da realização. Lembrem-se, porém, que u'a missão
não existe somente para ser proclamada, como se costuma fazer, mas para ser
cumprida. O nosso trabalho não é de palavras, mas de obras. Agora a oferta está
feita. Como foi com trabalho que se realizou a primeira fase, agora terminada,
assim será com ele que se poderá realizar a segunda, ainda a fazer. Trata-se de
construirmos a nós próprios. O edifício a levantar é interior. Mas nada cai do
céu gratuitamente. Tanto o indivíduo, como a humanidade, todos têm de subir a
montanha da evolução com as suas próprias pernas. Mudam-se os operários, e a
obra continua. Eu lhes mostrei a meta a atingir. O homem é livre e pode também
recusar. Neste caso nada colherá e, em vez de ganhar, elevando-se, ficará em
baixo, nas velhas posições atrasadas.
Para isso, hoje se trata
de uma oferta e não de uma ordem, isto é, uma dádiva que a vida oferece para o
bem da humanidade, não uma imposição a constrangê-la. É uma ajuda, uma orientação,
um convite para evoluir. A vida, nesta hora, deseja convencer quem tem
capacidade de compreender, mostrando o caminho aos homens de boa vontade Para quem não quiser entender há outros meios
mais persuasivos: a imensa destruição pela guerra. Isto não é novidade na
história da evolução. A dor foi sempre o meio clássico com o qual a vida se faz
presente àqueles que não querem compreender outra linguagem. Só assim,
para o seu bem, ela consegue fazê-los evoluir.
* * *
Estabelecemos nitidamente
a posição da Obra perante o seu futuro desenvolvimento e explicamos qual a
função que ainda tem de cumprir; mostramos qual o seu conteúdo e o significado
desta nossa simbólica oferta feita hoje, aqui, em Brasília, e dirigida ao
Brasil e aos povos da América Latina. Vamos esclarecer agora, porque todas
essas coisas aconteceram, acontecem e se concluem, hoje, neste momento e lugar.
Tudo isso corresponde às
atuais condições do mundo e aparece justamente para satisfazer uma urgente
necessidade. O desenvolvimento da técnica está pronto para fornecer o
bem-estar material. Falta, para o completar e equilibrar, um paralelo desenvolvimento
moral e espiritual que o dirija para o bem e não para o mal, que pode ser uma
ruína para todos. Se o homem não chegar a possuir estas outras qualidades, o
programa material por si só poderá levar a um desastre. Estes podem ser os
resultados de uma ciência que não seja guiada por princípios superiores. Vimos
isso com a descoberta atômica. Eis a função salvadora da terceira idéia.
Ora, esta idéia não é
somente, como acima explicamos, uma verdade válida para todos, porque
racionalmente positiva, biologicamente evolucionista, cientificamente
universal. Ela é também cristã. E o é no mais profundo sentido unitário e
substancial, porquanto nela podem, juntos, encontrar-se Catolicismo,
Protestantismo, Espiritismo e espiritualismos afins de fundo cristão, uma
idéia para a qual já se encaminham as filosofias e religiões de tipo cristão
no seu presente trabalho de atualização. Trata-se de um produto típico da
raça latina para a raça latina, irradiando de Roma, novo modelo da mesma
civilização cristã que a Cidade Eterna espalhou pelo mundo por dois milênios e
que agora se desloca para outro centro, no país que foi chamado Nova Pátria do
Evangelho. Os sintomas e os efeitos desta nova amplitude de visão encaminhada
para a unificação dos irmãos separados já apareceram em atitudes ecumênicas no
seio da mais dogmática das religiões. É evidente que esta é a tendência de
nosso tempo. Outros, menos ágeis, chegarão mais tarde, mas tendo de progredir
no mesmo sentido de unificação. Vemo-lo na política, no fato de que o mundo
está reduzido a duas ou três grandes potências ao redor das quais se agrupam
todas as demais.
Esta nova terceira idéia
aparece em um momento histórico gravíssimo. Há um século ela teria sido
considerada absurda e inaplicável. Hoje tudo se move para novas posições.
Vive-se uma febre de renovação. Em sua grande parte, só se assiste ao primeiro
momento, que é negativo, de destruição, como vemos no existencialismo e
similares. Mas isto implica a fase inversa e complementar, isto é, positiva e
reconstrutiva. Eis a função da terceira idéia. Tudo o que for deste tipo se
torna hoje de primeira necessidade, indispensável para a continuação da vida,
porque a sua velha casa, na qual os homens se abrigaram por dois mil anos,
agora está caindo de velhice, com terremotos de revoluções mundiais,
sacudindo-a até aos alicerces. Eis que a Obra oferecida está proporcionada ao
nosso tempo e este a ela. Tudo está conexo e chega na devida época, feita de
partes correspondentes que se entrosam umas nas outras.
Tudo isso deixa supor a
existência de um plano preestabelecido, tanto mais que não se podia prevê-lo
quando a Obra foi iniciada. E aparece visível só agora, depois do trabalho
terminado. Outra mente que sabia deve, portanto, ter preparado e organizado
este labor. E, se essa mente tanta coisa soube fazer até hoje, isto nos
autoriza a crer que ela continuará a sabê-lo executar também no futuro, porque
é inadmissível que quem deu prova, num determinado período, de ser inteligente
se torne de repente o oposto e se desinteresse de um trabalho tão
cuidadosamente elaborado. Com estas afirmações, ficamos aderentes aos fatos,
porque queremos ser entendidos pelas mentes racionais, permanecendo positivos,
como é necessário para quem deve realizá-los
Exatamente porque a composição da Obra foi em grande parte trabalho de
parapsicologia, tive de me impor uma disciplina mental que cumprisse um
contínuo e rígido controle; e aconselho aos que trabalhem neste terreno, fácil
de se perder em fantasias e aceitar por verdades aquilo que é produto do
subconsciente. É certo, no entanto, que, se tivesse de fazei: uma confissão,
deveria dizer que fiquei maravilhado em constatar não somente na composição da
Obra, como também nos fatos que determinaram sua difusão até aqui, a presença
de uma inteligência diretriz e de uma vontade realizadora; sem ela tudo o que
foi alcançado até hoje, até este ponto culminante em Brasília, não poderia ter
sido realizado. Também para os céticos a lógica é lógica e os fatos são fatos.
E o conhecimento pormenorizado do caminho até aqui percorrido pela Obra que me
diz e me obriga a concluir: seria absurdo
ter seguido esta trajetória, inutilmente, sem que ela continuasse a
desenvolver-se até atingir seus objetivos.
Agora que o trabalho foi
realizado, pergunto-me como foi possível executá-lo, seguindo um plano lógico
de desenvolvimento sem o conhecer com antecedência, como foi possível chegar ao
ponto conclusivo desta oferta em Brasília, no qual tudo fica confirmado,
quando não se dispunha de meios adequados para tanto. Pelo contrário, tudo
parecia em poder de discordantes vontades alheias, muitas dirigidas para
objetivos bem diferentes. Foi um caminho tortuoso, através dos mais diversos
ambientes. Porém o ponto de chegada foi atingido, sem contradições nem desvios,
sem concessões nem adaptações, caminho em substância retilíneo, apesar de ter
per corrido uma floresta cheia de obstáculos e enganos. O milagre está no fato
de os ter vencido com a sincera simplicidade de uma criança. Que longa história
vejo para trás! É a história de minha
vida
Agora observo que as
afirmações sustentadas no Cap. XIII: "A Minha Posição", num dos
primeiros livros da Obra: Ascese Mística, nunca foram
desmentidas. Foram confirmadas no livro: A Grande Batalha.
Aquele método, que parece loucura para o mundo, de se confiar sobretudo nas
forças espirituais demonstrou-se experimentalmente válido e nos levou até as
conclusões de hoje. Se não se admite uma intervenção que esteja acima dos
comuns recursos humanos, tudo isso não pode ser explicado.
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