sábado, 4 de junho de 2016

A Justiça da Lei

Ler Pietro Ubaldi exige que se mantenha  sintonia com toda a mensagem e assim aqui vai todo o capítulo 20 do livro  " A Lei de Deus" que servirá de ensinamento para aqueles que têm dificuldade em aceitar as injustiças sofridas aqui neste ambiente de lutas.



XX

A JUSTIÇA DA LEI


Contra o método de ataque e defesa, do mundo, só o da não-resistência, o do Evan­gelho, resolve. Nosso ofensor, instrumento da Justiça da Lei.


No capítulo precedente constatamos que a sa­bedoria do mundo consiste em grande parte na ar­te que praticam os astuciosos, seguidores do ca­minho mais curto, com a intenção de escapar a Lei.


Vimos que a luta nasce dessa forma de encarar a vida, e a finalidade que explica e justifica essa luta é a de desenvolver a inteligência nos seus níveis mais baixos.


Continuemos observando outros aspectos do pro­blema de nosso comportamento com respeito a Lei, para ver quais são as conseqüências de nossos dife­rentes atos e a maneira como nos conduziremos me­lhor para evitar erros e sofrimentos. Verificamos que nossa vida atual esta regida pela lei da luta, em que o mais forte vence e domina. Isto significa que a to­do momento estamos sujeitos a receber ataques. Daí a necessidade duma defesa. Que nos diz a Lei a esse respeito? Como resolve ela o problema? Quais são nossos direitos e deveres? Qual a conduta que nos conduz a resultados melhores? Qual deve ser nossa reação ao ataque? Qual o método mais sábio e van­tajoso para resolver o caso?


Este é um dos pontos onde mais ressalta a opo­sição entre o sistema do Evangelho e o do mundo. O primeiro sustenta a regra da não-resistência, o segun­do o uso da reação violenta. Já vimos, trata-se de leis pertencentes a dois níveis evolutivos diferentes, leis verdadeiras, cada uma no seu respectivo plano de vida, ao qual estão adaptadas. Trata-se de duas maneiras de conceber, em função de pontos de refe­rência diferentes.



Quando recebemos um golpe, sabemos de onde vem? Sua origem pode, em princípio, encontrar-se em uma destas três causas: 1º) O acaso; 2º) a vonta­de do agressor; 3º) a vontade de Deus. Observemo­-las:

1º) A teoria do acaso é inaceitável para quem sabe que o universo é um organismo cujo funciona­mento é regulado pela Lei. Num sistema desta natu­reza não pode haver lugar para o acaso, sobretudo no que respeita à dor, coisa tão importante, pelas suas causas e pelos seus efeitos, no destino de um homem.

2º) Temos visto que a vontade do homem está fe­chada entre limites, como a liberdade do peixe no rio ou de um carro na estrada, de onde não podem sair.


3º) Quem estabelece esses limites intransponíveis e a regra certa de todo movimento dentro deles, é a vontade de Deus, por Ele mesmo escrita na Sua Lei. Transpor esses limites dá origem à dor.


É possível, desse modo, estabelecer a causa do que nos acontece e também dos ataques recebidos.


1) Ela não está no acaso.


2) Dentro dos limites marcados pela Lei ou vonta­de de Deus, a causa está na vontade do homem. Isto porque lhe é permitido escolher entre o certo, permanecendo na ordem da Lei, e o errado, saindo dessa ordem com a desobediência. Tudo o que é de­vido a vontade do homem, poder-se-ia chamar de causa próxima. Neste ponto sua vista míope detém-se e, nada vendo mais além, acredita ter atingido o ponto final do problema.


3) Mas, além das causas encarregadas de dirigir o caso particular, deixando o homem em liberdade de maneira a que aprenda, para além dessas causas secundárias e periféricas, existe uma causa maior, principal e central, uma causa de todas as outras causas menores, que as dirige e domina. Então, aquela que se julga ser a única e primeira fonte dos acontecimentos da vida, não é senão uma causa re­lativa, momentânea e aparente, um meio em que se realiza uma causa muito mais longínqua - verdadei­ra, fundamental, absoluta e definitiva. É lógico que esta outra causa tão diferente só se possa encontrar no seio do último termo, isto é, em Deus e na sua von­tade, acima de todas as coisas.


Acontece que essa causa maior abrange e co­ordena todas as causas menores movidas pelo ho­mem, inclusive sua liberdade de oscilação entre ver­dade e erro, bem e mal etc., que têm de obedecer e estão sujeitas àquela causa maior, que é a justiça de Deus. Desse modo, o homem está livre para agir certa ou erradamente, porém, além disso sua liberdade não alcança, pois atua a outra causa que é a Lei, isto é, a justiça de Deus com as suas fatais reações contra a desobediência.


Não há dúvida, o ataque que nos golpeia é mo­vimentado por um ser, chamado, por isso, nosso inimi­go. Mas, ele é só a causa próxima e é contra esta que, em nossa miopia, começamos a lutar. Mas, co­mo se pode corrigir o fato até atingirmos suas causas profundas, nelas praticando nossa atividade corretora? Explica-se, assim, o motivo pelo qual o mundo, operando na superfície, não recolhe senão resultados superficiais. Na verdade, apesar das armas para a defesa estarem sempre em ação, os ataques voltam a surgir continuamente de todos os lados, ficando o pro­blema sem solução. E o que sempre continua perma­necendo de pé é a luta continua de todos contra todos. Mas, é lógico: não se pode curar uma doença só com o tratamento dos seus sintomas exteriores.


Assim, o mundo fica na superfície do problema. Cada um procura destruir seus inimigos, mas não a causa que gera inimigos: procura afastar os golpes mas não a causa que os produz. Para que o pro­blema seja resolvido, eliminando em definitivo os efei­tos, logicamente é necessário que seja removida não somente a causa próxima deles, mas também sua causa primeira, de que tudo deriva. Porém, o mundo dos ho­mens práticos, que ficam apegados à realidade, pre­fere cuidar das causas próximas, porque estas são consideradas positivas, tocam-se com as mãos, en­quanto se desconhecem as causas primeiras, julga­das teóricas, fora da realidade, não percebidas pelos sentidos. Mas, o fato de o problema, que nasceu com o homem e foi sempre encarado com este critério, ainda não estar resolvido, depois de tantos milênios, e ainda subsista, nos prova que neste caso esses ho­mens práticos estão errados.


Num sistema centro-periférico qual o do nosso universo, não pode haver caminho que não leve para Deus. Só n'Ele se pode encontrar a causa primeira de tudo. Mas, como pode Deus ser a causa dos golpes que recebemos? Não há dúvida, eles saem das mãos dos nossos inimigos. Mas, se existe uma Lei geral de ordem, como nos parece cabalmente demonstrado, quem foi que os deixou movimentar-se contra nós e porque de uma determinada forma e não de outra? Como pode Deus deixar que uma função tão impor­tante como a da Sua justiça fique abandonada nas mãos dos nossos agressores, a eles deixando o poder de julgar e punir, que só a Ele pode pertencer, por­que é o único que sabe o que faz? A reação da Lei tem de ser conforme a justiça, proporcionada a qua­lidade e extensão do nosso erro. Num trabalho tão importante, que exige tanto conhecimento, pode Deus, que tudo dirige, ser dirigido pelos nossos ofensores e ter de obedecer à vontade e ignorância deles? Que podem eles saber do nosso merecimento? Desabaria então todo o edifício da Lei, baseado na ordem e justiça. Seria o caos no seio de Deus. De tudo isso se segue que não pode surgir um ataque contra nós se não o tivermos merecido. O ho­mem que o executa, seja quem for, é só uma causa secundária. Qualquer indivíduo, funcionando como instrumento, pode isso realizar quando, pelas quali­dades que possui, se encontra nas condições apro­priadas. Então, aparecerá em nossa vida um ofen­sor. Se isto não for possível de um modo, acontecerá de outro. Quaisquer que sejam nossos poderes hu­manos, ninguém poderá paralisar o funcionamento da Lei no seu ponto fundamental - a justiça de Deus. Conforme esta justiça, ninguém poderá chegar até nós, se não tivermos, com nossos erros, deixado as portas abertas. Ficaremos, assim, a mercê de to­dos os atacantes, quaisquer que eles sejam, se tiver­mos merecido a reação da Lei, que os fez seus ins­trumentos.



Quando o problema está enquadrado nesses ter­mos, parece claro que a defesa que o mundo pratica, limitada só contra o ofensor, não somente é inútil, mas representa um novo erro que se junta ao velho, aumentando-o. O remédio, então, é só um: não merecer, isto é, tomar cuidado em preparar o nosso futu­ro, não errando em ir contra a Lei e não merecendo, assim, sua reação. E se a tivermos merecido, não há que fugir: é necessário pagar. Poderemos destruir com a força todos os nossos inimigos. Outros surgirão para nos perseguir, enquanto não tivermos pago tu­do. Se construirmos a casa do nosso destino sobre as areias movediças da prepotência e da injustiça, é ló­gico que ela caia sobre nós. Mas nada se desmoro­nará se colocarmos os alicerces sobre as rígidas pedras da justiça. Destarte, tudo depende de nós mesmos e na­da dos outros. O inimigo que nos agride somos nós mesmos, que com erro provocamos a reação da Lei que, por sua vez, movimenta os elementos apropria­dos para executar essa reação. Agora se pode com­preender melhor o que tantas vezes dissemos: quem faz o bem, como quem faz o mal, o faz a si mesmo. Pela justiça de Deus não pode haver um mal que não tenha sido merecido. Isto não quer dizer que a justi­ça de Deus, sozinha, por si própria, quer movimentar o ataque contra nós. A divina justiça representa ape­nas a norma que regulamenta e o poder que impõe o desencadeamento do ataque conforme a Lei, quan­do o tivermos merecido.


Por isso, nosso inimigo, contra o qual apontamos nossas armas, não tem poder algum contra nós, além daquele que nós mesmos lhe conferimos com nossas obras contra a Lei de Deus. Se nós destruirmos com a força esse inimigo, crescerá a nossa dívida peran­te a justiça da Lei e com isso concederemos, a um número maior de inimigos, poderes maiores contra nós. Que se ganha então usando o método do mun­do? Aparece aqui a necessidade lógica de praticar o método da não-resistência, porque ele é o único que representa um verdadeiro sistema de defesa; Parali­sar o inimigo não paralisa o ataque, mas piora nossa posição, porque o: verdadeiro inimigo não é aquele que vemos. Trata-se de uma ilusão dos nossos senti­dos, ilusão que cabe à inteligência desfazer.


Quem compreendeu como funciona o jogo da vi­da que estamos explicando, quando receber uma ofensa, não reage contra seu ofensor, porque sabe isto: ele não tem valor algum, a não ser o de repre­sentar um instrumento cego nas mãos de Deus. Por isso, não merece nem ódio, nem vingança. Quem isto compreendeu, ao receber o ataque, aceita-o como li­ção das mãos de Deus, Que com isso não quer vin­gar-se, nem punir, mas endireitar-nos, para que saia­mos, assim, do erro e do sofrimento. Voltamos, desse modo, a ordem da Lei; enquanto que, usando o mé­todo do mundo, saímos mais ainda para fora daque­la ordem, aumentando dívidas e sofrimentos. E, se alguém nos ofender sem o termos merecido, o ataque não nos alcança, não nos penetra, e quem nos quis fazer o mal, não o faz a nós, mas a si mesmo. Tudo volta à sua fonte. Quem é verdadeiramente inocen­te é invulnerável a todos os assaltos. Mas, encontra­-se porventura, em nosso mundo, quem seja comple­tamente inocente?



Então, quando alguém nos ataca, isso acontece conforme a justiça de Deus. Nossas contas são com Deus e não com nosso inimigo. Se ele nos faz mal, ele terá também suas contas com Deus e terá de pagá-las; mas, isso não nos pertence. Surgirão para ele outros inimigos e ataques, para que sempre se cum­pra, em relação a todos, a justiça de Deus. Quem pratica o mal, só por isso, qualquer que ele seja - apesar de funcionar como instrumento de Deus para corrigir seu irmão e se ter aproveitado da fraqueza deste, que deixou as suas portas abertas, fazendo-lhe o mal - abre por sua vez suas próprias portas, pelas quais outros inimigos estão sempre prontos a entrar, empregados por Deus como instrumentos da Sua jus­tiça. Assim, também os maus são utilizados por Deus como instrumentos da Sua justiça. Assim, também os maus são utilizados por Deus para gerar o sofri­mento, cuja tarefa é a de purificar os bons A con­clusão é que ninguém pode receber ofensa que não tenha sido merecida. Neste caso, não nos resta senão bater nos peitos, procurando, antes de tudo, pagar nossa dívida, deixando aos nossos inimigos, quando chegar sua vez, pagar igualmente suas contas pelo mal que tiverem feito, porque a Lei é igual para to­dos. Há uma Divina Providência para cada um. Mas, para ser justa, ela providencia o bem para os bons e o mal para os maus.






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