quarta-feira, 1 de maio de 2019

Reflexão

E  trago este trabalho de Pietro Ubaldi para que possamos refletir sobre a importância do respeito recíproco, em todos os níveis, em todas as relações interpessoais, inclusive as do trabalho, que nos tempos atuais anda ficando escasso, onde assistimos pessoas (que abriam portas e serviam como olhos do dono) serem substituídas por um prego aonde a partir de então se penduram as chaves.


Ubaldi, em Princípios de uma Nova Ética comentando  sobre gênero, sexualidade e complementaridade biológica (Yin e Yang do Tao ou Animus e Anima de Carl Jung) :

"São os dois tipos complementares da atividade humana: no homem, a força para vencer, e na mulher, o amor para gerar. No primeiro, temos o chamado sexo forte, e no segundo, o belo sexo. De fato, o que é mais apreciado no homem é a força, enquanto na mulher é a beleza. Estas são às qualidades mais procuradas entre os dois sexos. Conforme estas suas qualidades, cada um dos dois tipos, pelo seu egocentrismo, gostaria de impor-se dominando o outro. Isto porque quanto mais evoluídos tanto mais são aliados, quanto mais involuídos tanto mais são rivais, como em nosso mundo inferior. Para o macho, o ser da força, o amor se torna um ato de conquista; para a fêmea, o ser do amor, a conquista se torna um ato de amor. Assim, o amor é uma luta e o macho se apossa dele com a força, enquanto a mulher busca esse amor com as armas da beleza e da bondade. Desse modo, os dois biótipos, apesar de raciocinarem com formas mentais opostas, como antípodas, atraem-se e se unem fora do próprio raciocínio; mesmo sem se compreenderem permutam o amor, conseguindo atingir uma fusão em que ambos ficam satisfeitos, porque cada um pode compensar o outro na sua complementaridade, cedendo e recebendo aquilo que um tem demais e o outro de menos. Estes são os dois modelos que a vida nos oferece em nosso planeta em relação ao fenômeno do sexo, inclusive o da raça humana. Neste terreno, derivam dois tipos fundamentais da ética:
 1) a ética masculina da força, de natureza sexófoba. 2)  a  ética  feminina do amor, de natureza  sexófila.
      
Trata-se de dois aspectos inversos e complementares da ética humana do sexo e a razão de sua estrutura. A história da humanidade desenvolveu-se seguindo ora um, ora outro, destes dois tipos de ética. E houve e há povos e raças do 1° tipo, com a respectiva forma mental, amarrados à ética sexófoba; e houve e há povos e raças do 2° tipo, com a respectiva forma mental, amarrados à ética sexófila. Agora que observamos as origens, a natureza e a razão desse fenômeno, podemos compreender o problema do sexo e da sua ética.(...) No mundo, encontramos povos de diversas naturezas:                                 os guerreiros conquistadores, com virtudes masculinas de força, trabalho e inteligência, e uma forma mental que despreza o amor, da qual deriva uma ética sexófoba;                                                e os povos pacíficos, sensíveis, com virtudes femininas de bondade, tranquilidade e sentimento e uma forma mental que aprecia o amor, da qual deriva uma ética sexófila.                                    Essa distribuição que encontramos no espaço, também a encontramos no tempo. A história oferece-nos períodos masculinos e femininos.                      O ser humano vai oscilando alternadamente de um pólo a outro do fenômeno. Ora prevalece, desenvolvendo-se um lado, ora outro, enquanto o seu contrário fica à espera. Trata-se de posições e qualidades opostas e complementares. O povo ou o tempo que desenvolve uma, não pode desenvolver a outra. Elas têm que funcionar em rodízio, uma de cada vez. Nos períodos de paz, o ser trabalha em sentido feminino (requinte, sexualidade, arte, exterioridade religiosa etc.).                                Nos períodos de guerra, ele trabalha em sentido masculino (agressividade, conquistas, expansão política e comercial, inteligência e progresso no conhecimento etc.).
 No primeiro caso, o modelo é a mulher, e o homem torna-se efeminado (como no século XVIII). 
No segundo caso, o modelo é o homem, e a mulher se masculiniza (como no tempo atual de emancipação e independência feminina).                 No primeiro período, o espírito feminino domina tudo, inclusive o homem.                                               No segundo período, o espírito masculino domina tudo, inclusive a mulher.                                        A mulher vence e prevalece e o homem vive em função dela (como amante). Ou o homem vence e prevalece e a mulher vive em função dele (reduzida a máquina para gerar guerreiros). Os dois pólos do dualismo lutam um contra o outro para prevalecer. Logo que um, por ter funcionado, se esgota, o outro leva vantagem sobre ele, e ao contrário. Vive em contínua oscilação ou compensação, o que se perde de um lado ganha-se do outro, e ao contrário. Não se pode existir na plenitude duma posição, sem que isto gere um vazio correspondente na posição oposta. Não se pode triunfar em cheio em ambos os pólos, opostos, ao mesmo tempo. Ou um, ou outro. Quando é a mulher que domina, o homem perde a sua virilidade, as suas qualidades de luta, trabalho e agressividade (tipo Luís XV e XVI na França). Quando é o homem que domina, a mulher perde a sua feminilidade para tornar-se masculinizada, trabalhadora, independente, lutadora ao lado do homem, é até contra ele. Assim acontece nos períodos revolucionários ou bélicos, destrutivos-reconstrutivos, em que se realiza o maior esforço evolutivo. O contrário ocorre nos períodos opostos. Depois de ter realizado o seu esforço, cada tipo repousa, enquanto funciona o tipo contrário, gozando neste intervalo dos frutos do seu trabalho precedente, para depois iniciar novo período, como antes, assim por diante. Desse modo, nesta forma alternativa continua o trabalho de ambos, trabalho em que cada um dos dois tipos, complementares, compensa e corrige o outro. Se assim não fosse, o princípio feminino, sozinho, acabaria apodrecendo na estagnação da inércia; enquanto o princípio masculino, sozinho (não compensado pelo seu oposto), acabaria destruindo tudo. Como se vê, logo que colocamos tudo em seu devido lugar, aparece a sua razão de existir, a sua função lógica que o justifica. Nada há de errado nas leis da vida, cada um tem a sua tarefa a realizar. Não se pode falar de superioridade ou inferioridade, basta observar a inteligente divisão de trabalho. Por isso, não há lugar para desprezo ou condenações. Ao completarem-se na diversidade, todos têm razão. Aqui, procuramos mais descobrir e explicar a realidade dos fatos do que impor conclusões e opiniões. Afirmamos acima que em geral, os povos guerreiros e conquistadores seguem uma ética sexófoba, enquanto os pacifistas e sentimentais seguem uma ética sexófila. Perguntamos: por que acontece isso? Acontece então que, quanto mais o ser se torna poderoso e é exuberante de um dos lados, tanto mais se enfraquece e sente falta do outro. A vida completa essas unilateralidades opostas, espalhadas no espaço e no tempo, compensando reciprocamente a complementação de ambos os termos. Ela atinge o equilíbrio e a ordem num conjunto completo, permitindo que funcionem as duas qualidades opostas, alternadamente. Foi assim que à corrupção do reinado de Luís XV, com a sua ética sexófila dirigida para o prazer, seguiu-se a revolução francesa com o feroz puritanismo de Robespierre e o período guerreiro napoleônico, com a sua ética sexófoba voltada para a conquista. A vida acordou e renovou aquela sociedade, que de outro modo teria apodrecido na inércia. Trata-se de dois impulsos fundamentais, dirigidos por dois caminhos diferentes, para a defesa e a conservação da vida. Trata-se de duas qualidades complementares: fortalecer os instintos de agressividade, enfraquecendo os eróticos, e ao contrário. Por isso, nas sociedades militaristas e imperialistas, o que vale e domina é a força, não as qualidades do amor, desprezado como fraqueza feminina. Nos povos e tempos em que vigora a ética sexófoba, a guerra e o trabalho são as coisas mais importantes e o amor vale menos. Nos povos e tempos em que vigora a ética sexófila, a guerra e o trabalho são as coisas menos importantes e o amor vale mais. Quando o ser humano segue o caminho da força e agressividade, negligencia o do amor e ao contrário. Assim, os dois termos opostos, que não podem existir juntos, são: espírito de luta e abandono à sexualidade. Quando um dos dois prevalece, há a absorção de todas as energias tiradas do outro. Quem está preso ao esforço de ataque e defesa pode abandonar-se às satisfações do amor; e quem ficou enredado nestas, não pode defender-se na luta e facilmente será vencido por qualquer agressor. O espírito de luta se une à sexofobia, e com esta ética o encontramos; o amor gera a sexofilia, e com essa ética o encontramos.(...) O problema do sexo está conexo com todos os outros, os quais revelam a sua posição. O ciclo se fecha, aquela civilização de bem-estar sexófila acaba na corrupção, em favor dos novos vencedores sexófobos, até que estes completem um novo ciclo, e assim por diante. Isto é lei da vida, realiza-se tanto para os povos quanto para as classes sociais, as famílias, os indivíduos.(...) Eis como se cumpre o ciclo da transformação das duas lutas complementares. Vemos, assim, como o impulso da agressividade acaba abrindo as portas à realização do impulso da sexualidade; e como o impulso da sexualidade acaba abrindo as portas à realização do impulso da agressividade. No primeiro trecho, trabalha o homem, enquanto vigora a ética sexófoba; no segundo trabalha a mulher, enquanto vigora a ética sexófila. Cada um quer suplantar o outro, substituir-se a ele, invadir todo o terreno, e para isso ambos lutam como rivais, ao mesmo tempo que colaboram para o mesmo objetivo. A razão que funde, em unidade, os dois termos da contradição é porque eles são de natureza complementar; cada um dos dois egocentrismos opostos necessita do outro para sobreviver. O resultado final de todo o processo é que os dois opostos, conservando o seu egocentrismo, trabalham em concordância, como os dois pólos da mesma unidade, para cumprirem a metade que a cada um cabe do mesmo ciclo comum."
Princípios de uma Nova Ética, Pietro Ubald

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